quarta-feira, 1 de julho de 2009

(Neoliberalismo) Os dados são teimosos

Theotonio dos Santos*

www.monitormercantil.com.br - 16/03/2007 - 17:03

A produção de dados sobre a economia mundial é cada vez mais abundante e precisa. Eles têm, entretanto, uma característica permanente: apesar de o FMI e o Banco Mundial e várias instituições internacionais comprometidas com o pensamento único terem grande responsabilidade em sua elaboração, classificação e uso para comparações internacionais, eles desmentem sistematicamente as análises e previsões desses organismos e seus pretendidos "teóricos".

Dedicamos nosso último livro (Do Terror à Esperança: Auge e Declínio do Neoliberalismo - Idéias e Letras, Aparecida, SP, 2004 ) a demonstrar o rebaixamento do nível da teoria econômica que produziu a tentativa de voltar aos temas e métodos de análise do Século XVIII.

Mais grave ainda tem sido a tentativa de apresentar este caminho reacionário como expressão da pós-modernidade, da superação da modernidade, associada esta ao Estado de bem-estar e ao socialismo. É este mundo invertido e irracional que entra em crise cada vez mais com o fracasso do neoliberalismo como política econômica e como paradigma teórico.

A crueldade dos dados fica cada vez mais evidente. Não bastam as informações sobre o crescimento da pobreza nos países centrais e dependentes ou semidependentes. Nos Estados Unidos aumentou em 26% a pobreza extrema (isto é, famílias com menos de US$ 10 mil anuais de renda) durante os governos Bush.

Os dados dos países periféricos são por demais conhecidos e alarmantes. A percepção desta realidade no momento de maior crescimento da economia mundial obriga a expor sua superação como tarefa fundamental de nosso tempo.

Mas o único lugar do mundo onde massas enormes de pobres são retiradas dessa condição é na República Popular da China, através sobretudo de suas altas taxas de crescimento. No momento atual, o Partido Comunista chinês chama a uma luta geral e ampla contra a pobreza em seu país, além da distribuição de renda, o Estado se propõe a aumentar os investimentos em educação, habitação e outras ações de combate à pobreza.

Do outro lado, depois de mais de duas décadas de políticas de equilíbrio macroeconômico, o único que encontramos é um discurso cada vez mais substancial contra os impactos sociais negativos das políticas de pretendido fortalecimento do "livre mercado". Na prática estas políticas têm reforçado um capitalismo de Estado a serviço do capital financeiro internacional.

O mecanismo mais importante de proteção ao capital financeiro - cada vez mais afogado em uma sobrevalorização dos ativos mundiais - é exatamente o aumento das dívidas públicas geradas pelo pagamento de juros exorbitantes e por gastos indefensáveis para os povos como o aumento dos gastos militares.


(*)Diretor da Cátedra Unesco-UNU sobre Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (www.reggen.org.br). Autor de Teoria da Dependência: Balanço e Perspectiva (Civilização Brasileira) e Economia Mundial e Integración Latinoamericana (Plaza y Janés, México).

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