quarta-feira, 1 de julho de 2009

Conferência no Centro Internacional Miranda - "Crise internacional: estrutural e conjuntural"

Crise e pensamento crítico – atividades de 20 a 27 de junho

por Theotonio dos Santos

Dia seguinte, segunda-feira 21, realizei conferência no Centro Internacional Miranda (CIM), em Caracas Venezuela, sobre a crise na qual reafirmei os seguintes pontos essenciais do enfoque que venho dando à crise internacional.

Primeiramente, que é necessário distinguir a crise conjuntural e estrutural embora ambas estão intrinsecamente ligada.

A crise estrutural remota à I Guerra Mundial, quando se consolida o caráter defensivo assumido pelo capitalismo em sua fase imperialista-monopólica (concentração de capital, monopólio, capitalismo de estado, contradição inter-imperialista, destruição das forças produtivas pela guerra, crise do pensamento burguês, do liberalismo e da modernidade, revolução russa, mexicana, etc).
Mesmo quando ao final da II Guerra e do ciclo descendente (fase B de kondratiev), quando se inicia a superação desse ciclo negativo e começa uma nova fase A do capitalismo, encontramos um processo de crise estrutural do capitalismo.
Este momento se caracterizou por dois grandes fenômenos contraditórios: a expansão do capitalismo de estado, a partir do gasto militar e do gasto social, ao mesmo tempo do aparecimento da descolonização na África e Ásia e a ascensão nacional-democrática na América Latina.

Durante a fase descendente de 1966-1994 encontramos outra vez uma forte expansão do capitalismo de estado, cujos elementos progressistas são contidos por uma política de golpes de estados e repressão social e retida das conquistas sociais, articuladas pelo neoliberalismo e pensamento único.

Contudo, apesar das aparentes vitórias da política contra-revolucionárias da década de 1980, que culminaram com a auto-destruição da URSS, o capitalismo como sistema econômico e o centro hegemônico, EUA, não logra estabilizar-se, pelo contrário, aumenta a crise, a participação do Estado, a contestação dos movimentos social à nível planetário e a expansão do setor financeiro apoiado em enorme transferência de recursos públicos para especulação financeira.

A atual crise conjuntural iniciada em 2008 reflete o aumento das contradições gerais do sistema e obriga a elite dirigente do grande capital e obriga o aumento da participação do Estado para resolver a gravidade da crise.

Concluímos que esta operação estatizante tem duas limitações fundamentais: promove gigantescas transferências de recursos do Estado ao mercado financeiro e a setores decadentes do capital, mantendo assim a crise estrutural. Por sua vez, esses recursos, a intervenção estatal, desmoralizam o sistema ideológico montado pelo capitalismo nas duas últimas décadas.

Desta forma a expansão econômica iniciada em 1994 está marcada por recorrentes e sucessivas fortes crises financeiras – 94 México, 97 Ásia, 98 Rússia, 99 Brasil, 2000 Argentina e 2007 crise bursátil e financeira dos EUA e internacional.

Todo esse esquema está assentado no impacto da revolução científica-técnica em suas várias fases, com seu forte impacto na geração de vultosos excedentes econômicos absorvidos pelo capital e pelo capitalismo de estado, pela reestruturação da matriz setorial do capitalismo e uma nova divisão internacional do trabalho.

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