quinta-feira, 9 de julho de 2009

Novas reflexões sobre a China

Theotonio dos Santos *


O impressionante crescimento econômico da China, associado ao grande crescimento asiático, formula novas questões sobre o futuro da economia mundial e particularmente sobre os sistemas econômicos que orientarão este futuro.


Nesse contexto se situa o debate sobre o marxismo e a experiência chinesa no qual temos participado na Renmin University of China (Universidade Chinesa do Povo), considerada uma das principais do país. A presença de sete professores convidados dos Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, Alemanha e Brasil e de sete professores chineses permitiu uma interessante troca de experiências sobre o marxismo e a experiência do desenvolvimento chinês.


Em primeiro lugar está a questão do debate sobre o tema em si mesmo. Como mostramos em artigo anterior, o Partido Comunista reivindica, contra toda a grande imprensa ocidental, a arquitetura e a gestão desta grande mudança que ocorre no país e que atinge na atualidade todo o planeta.


A China se converteu na segunda potência mundial com um ímpeto que desafia todas as potências existentes. E os dirigentes deste país consideram que estes resultados são consequência da gestão deste processo pelo Estado chinês sob a direção do Partido Comunista. Quanto ao sucesso desta gestão, poucos poderão questioná-lo, mas certamente os capitalistas que investem na China devem acreditar que esta gestão deve ser mediatizada.


É interessante ver como neste novo contexto se repensa a questão da competição entre os sistemas econômicos. O professor Wu Shuqing, ex-reitor da Universidade de Pequim, apresentou, em sua exposição sobre a orientação socialista das reformas chinesas, os fatores que permitiram este sucesso.


Segundo ele, esta é a principal diferença entre o modelo chinês e o soviético. Enquanto os chineses sabiam claramente aonde pretendiam ir e estabeleceram os ritmos e as dimensões da introdução da propriedade privada no país, os soviéticos se deixaram levar pelas propostas ideológicas ocidentais da transição para o capitalismo e o método dos choques de política econômica, perdendo o controle sobre as mudanças.


É interessante ver também como entende esta situação o professor Cheng Enfu, da Universidade de Xangai. Segundo ele, estaria se desenvolvendo uma grande competição internacional sobre a direção da economia mundial, entre os princípios do planejamento, sob a direção do Estado e do Partido, que utiliza o mercado como instrumento de desenvolvimento econômico e os princípios liberais que entregam ao mercado a direção do processo.


Até o momento, segundo ele e seus confiantes colegas, o princípio da direção consciente do processo de desenvolvimento se revelou mais eficiente, em condições de disputa pacífica entre os princípios do livre mercado e os de um mercado dirigido ou administrado.


O Dr. Enfu está organizando, em Xangai, um grande encontro internacional para criar uma Associação Internacional de Economia Política, que teria seu próximo encontro no Japão. É interessante considerar que os melhores economistas japoneses insistem na superioridade da economia dirigida em permanente luta contra os princípios neoliberais.


Deve-se assinalar também o aparecimento recente do livro do professor norte-americano Rifkin, demonstrando as debilidades do chamado modelo capitalista anglo-saxão frente ao modelo social europeu. Todos estes debates fazem parte da crise do pensamento único liberal, mas no caso da China, trazem o peso de um processo econômico extremamente bem sucedido e de orientação socialista.


É interessante observar que criamos no Brasil há, mais ou menos, oito anos uma Associação Brasileira de Economia Política que desenvolveu com sucesso uma aproximação temática entre marxistas, neokeynesianos e institucionalistas, schumpeterianos ou de outras origens. Em toda a América Latina, na Europa e nos Estados Unidos há experiências similares.


O fato é que as limitadas teses neoliberais se encontram em pleno retrocesso no plano teórico, político e social. No plano das relações internacionais é interessante notar como está nascendo na China o conceito de competição pacífica entre diferentes regimes econômicos, ao mesmo tempo em que o professor Li Junru nos fala de um crescimento ou expansão pacífica da China como um novo caminho do desenvolvimento. O professor Li Gang fala de um caminho de reformas com características chinesas.


Pode-se imaginar que esta visão ofensiva e cada vez mais otimista encontre fortes objeções e um ambiente cético muito forte nos meios acadêmicos e tecnocráticos, principalmente na América Latina, região onde os neoliberais incrustados nos bancos centrais e outros organismos altamente centralizados do Estado resistem cegamente a sucessivas derrotas eleitorais e a grandes movimentos de massa contra suas políticas macroeconômicas.


Mas não deixa de ser interessante participar deste debate teórico e político cada vez mais atual. É interessante constatar a enorme quantidade de jovens que frequentam estes encontros fazendo crer que o debate deverá prosseguir até seu pleno desenvolvimento. Causou-me também uma agradável surpresa a informação de que se esgotaram meus livros publicados na China.


Acredito não ser muito pretensioso ao afirmar que em todos estes anos resisti com muita força às modas intelectuais e ao terror ideológico imposto pelo "pensamento único". Essa não foi uma tarefa fácil, mas vemos com satisfação os resultados, ainda que estes sejam mais evidentes num país tão distante de nosso centro de atuação mais imediato que é a América Latina. Mas a História escreve suas verdades só através de tortuosas linhas.

(*) www.monitormercantil.com.br - 29/06/2005 - 16:06

Um comentário:

mamvas disse...

Don Theotonio
lo felicito por su blog, y es admirable que Usted se anime a la tarea de escribir sus ideas sobre el acontecer económico con la grandeza que tiene su visión y su perspectiva del mundo.
Quienes conocemos su trabajo sobre la Teoría de la dependencia y sus aportes junto a Ruy Mauro Marini y Enzo Faletto, sin duda que nos alegramos de este importante esfuerzo suyo. Si Keynes y Marx estuvieran vivos, sin duda que también realizarían esta notable tarea de escribir abiertamente para que el mundo sepa lo que ocurre.
Soy un economista chileno y tengo mi blog desde el año 2007, en Jaque al neoliberalismo planteo las falencias del modelo económico neoliberal que nos ha terminado arrastrando a esta grave crisis.
Estamos conectados

un gran saludo

Marco Antonio Moreno

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