Tony Ferreira está sempre bem antenado para os grandes problemas de
nosso tempo, Este sintético texto mostra claramente esta qualidade: Estamos numa fase muito avançada da crise geral do capital e,
portanto, de transição para uma civilização planetária que
deve ser conduzida na direção de umas novas formações sociais em
direção ao socialismo. A luta do capital para sobreviver é cada vez
mais cruel e violenta.
Segue o texto de Tony Ferreira
"Que
diferença existe entre os barcos de imigrantes daLíbia
agora e os navios negreiros que indignaram Castro Alves?"
(Zuenir
Ventura. "O Globo").
A
diferença, meu cândido e caro sr. Zuenir, é que, aos navios
negreiros -que alimentavam com sua carga
uma economia capitalista predominantemente agrária e escravista-,
o próprio capitalismo tinha uma alternativa melhor e mais humana,
que era, e foi, a economia capitalista predominantemente industrial e
assalariadora.
Já hoje,
os barcos de emigrantes da Líbia, apesar de também transportarem
predominantemente negros, refletem outra coisa. Refletem a miséria
existente no III Mundo, particularmente na África, resultante do
esgotamento do sistema capitalista, que já atingiu, planetariamente,
sua última configuração, na qual só há lugar bom para, no
máximo, 20% das pessoas que vivem sob esta formação
econômico-social ; que já atingiu, praticamente, CONFORME TODAS AS
ESTATÍSTICAS MOSTRAM, o grau máximo de concentração da renda (o
que, DENTRO DO CAPITALISMO, É IRREVERSÍVEL) ; que já não
possui alternativas a oferecer, a não ser empurrar esses barcos de
volta e manter-se vivo às custas de bilionárias e violentas
intervenções militares, sabotadoras e golpistas no III Mundo -onde
vive hoje o proletariado mundial-, lideradas pelos EUA, via
CIA e/ou OTAN, de modo a manter a brutal espoliação e o grande
domínio -vitais para sua manutenção,
repito- exercidos pelo I Mundo sobre ele.
Conforme,
corretamente, escreveu o desembargador do TJ e membro da Associação
Juízes para a Democracia, Siro Darlan, em "O Dia", de
16.09.15 : "O
que se vê agora na Europa é uma reação tardia à violência
sofrida secularmente pelos que se julgam os donos do mundo, que
derrubaram os governos constituídos do Iraque, Síria e Líbia,
produzindo guerras que atendiam aos seus interesses econômicos
com falsas justificativas. Agora a Europa está sendo invadida por
suas vítimas que chegam às suas fronteiras, desembarcam vivos ou
mortos em suas praias, invadem seus trens e escalam suas montanhas,
enfrentando a violência de uma polícia que tenta, sem sucesso,
fechar as fronteiras com jatos de água, cassetetes e gás
lacrimogêneo.". Exatamente
o também apontado por um dos
mais aclamados fotógrafos da atualidade, o brasileiro Sebastião
Salgado. Em entrevista ao jornal Folha
de S. Paulo,
em 4/10/15, Salgado fez uma análise da atual crise de refugiados e
atribuiu o problema às intervenções militares dos Estados Unidos e
de países da Europa.
"Quando
eu conheci o Iraque, era um país rico, onde as pessoas trabalhavam,
tinham aposentadoria, residências e viviam em paz. Um país (Estados
Unidos) atacou
o lugar e o trouxe para a idade da pedra. No Iraque hoje ninguém tem
casa, bomba explode todos os dias, é um país fisicamente destruído.
Para onde você quer que esse povo vá?”,
questionou.
É,
sr. Zuenir, como já preconizava Rosa Luxemburgo, há
mais de um século (em
uma frase que ficou famosa :"Socialismo,
ou barbárie."), a
situação atual, toda ela parida pelo já ultrapassado e
crescentemente deletério capitalismo, e sem saída dentro deste, é
de tal gravidade, que o último livro do mundialmente renomado
astrofísico britânico Martin Rees, ex-presidente da Royal Society
entre 2005 e 2010, foi intitulado, significativamente, como "Nosso
Último Século", e questiona se será possível à espécie
humana sobreviver a este próprio século em que estamos vivendo, ao
século 21 ! Posição, esta, ratificada, atualmente, por vários
cientistas e pesquisadores, entre eles, por exemplo, o húngaro
István Mészáros, professor emérito da Universidade de Sussex, na
Inglaterra:"A persistir o
capitalismo, o destino da humanidade será a sua autodestruição
através das guerras e da crise ecológica. A alternativa socialista
não é apenas possível, mas necessária para a sobrevivência da
humanidade." ("A
montanha que devemos conquistar").
E
até mesmo pelo Papa Francisco : "Reconhecemos
nós que o capitalismo impôs a lógica do lucro a todo o custo, sem
pensar na exclusão social nem na destruição da natureza ? Se
é assim – insisto – digamo-lo sem medo : Queremos uma mudança,
uma mudança real, uma mudança de estruturas. Esse sistema
capitalista é insuportável : não o suportam os camponeses, não o
suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o
suportam os povos.... E nem sequer o suporta a Terra, a irmã Mãe
Terra, como dizia São Francisco. Quando o capital se torna um
ídolo e dirige as opções dos seres humanos, quando a avidez do
dinheiro domina todo o sistema socioeconômico, arruína a sociedade,
condena o homem, transforma-o em escravo, destrói a fraternidade
inter-humana, faz lutar povo contra povo e até, como vemos, põe em
risco esta nossa casa comum. Não quero alongar-me na descrição
dos efeitos malignos desta ditadura sutil : vós conhecei-los
!" (Discurso
pronunciado na Bolívia, em 09.07.2015. Rádio Vaticano,
10.07.15.).
Sério
mas simples, né, "seu" Zuenir ? Ou a humanidade dá cabo
do capitalismo, ou ele terminará acabando com ela.
Tony
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