O
GOVERNO BRASILEIRO PREFERE SEGUIR O "PENSAMENTO ECONÔMICO"
DA TURMA NEOLIBERAL QUE NOS CONDUZ AO FRACASSO E AO DESESPERO. E
REJEITA O ARGUMENTO DOS MAIS AVANÇADOS PENSADORES DE NOSSO TEMPO.
PORQUE? LEIAM A ENTREVISTA DE STIGLITZ E NOS EXPLIQUEM QUEM PROVOU OU
MESMO DEMONSTROU LÓGICAMENTE QUE OS CHAMADOS AJUSTES FISCAIS SÃO
NECESSÁRIOS COMO QUEREM NOS FAZER CRER. E COMO OS ADOTAM PARA
DESESPERO DO POVO BRASILEIRO...
THEOTONIO
DOS SANTOS - PREMIO MUNDIAL DE ECONOMIA MARXIANA DE 2013 DA
ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE ECONOMIA POLÍTICA.
AJUSTE FISCAL PODE REDUZIR PIB DO BRASIL NO FUTURO, DIZ JOSEPH STIGLITZ (NOBEL DE ECONOMIA)
03.11.2015
Ajuste
fiscal pode reduzir PIB do Brasil no futuro, diz Nobel de economia
GIULIANA
VALLONE
DE
SÃO PAULO/FSP
O ajuste fiscal no
Brasil pode levar a um desempenho econômico mais fraco no futuro,
afirma o Prêmio Nobel de Economia Joseph
Stiglitz. Para ele, a prioridade do governo deve ser reduzir a
inflação e, como consequência, os juros, que prejudicam os
investimentos.
Autor do ensaio "Do
1%, pelo 1%, para o 1%", que inspirou o movimento Occupy Wall
Street, o economista ajudou a trazer a desigualdade para o centro do
debate mundial. E defende que cortar os programas sociais no Brasil
como parte do ajuste seria um erro.
Contrário a
políticas de austeridade adotadas em todo o mundo, Stiglitz defende
iniciativas como o Banco dos Brics para estimular investimentos e a
economia global. Ele afirma ainda que os Estados Unidos devem apoiar
essas instituições e aceitar, finalmente, que não serão mais o
poder econômico dominante no cenário mundial.
Stiglitz participa
nesta quarta (4) do ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento,
em São Paulo.*
Folha - O senhor
é um crítico feroz da austeridade na zona do euro e, especialmente,
na Grécia. Mas quando o Syriza [o partido de esquerda] tentou mudar
as regras do jogo, o tiro parece ter saído pela culatra. O que
poderia ter sido feito?
Joseph
Stiglitz - O [primeiro-ministro grego] Alexis Tsipras fez
uma avaliação política de que era melhor permanecer em depressão
econômica e se submeter às políticas de austeridade do que sair da
zona do euro, ainda a maioria da população desaprovasse as medidas.
Como economista, eu
acho eles deveriam ter saído do euro e há vários colegas que
concordam comigo. Era possível fazê-lo, não sem um grau de
agitação, e isso teria tirado o país da recessão atual.
Se a Grécia
tivesse rejeitado a austeridade e se concentrado em políticas
voltadas ao crescimento econômico, o país estaria melhor agora?
Com certeza, mas
eles não tiveram essa escolha. A Grécia, por si só, não podia
fazer nada, e a Europa não ajudou o país a ter qualquer tipo de
política para o crescimento. O resultado é a depressão econômica
em que estão, basicamente, desde 2010.
A Europa está
condenada pelos próximos anos?
Sim. Se as demandas
da Alemanha por austeridade continuarem e tudo aponta para isso,
a recessão também continuará. O que me surpreende é que o
[ministro das Finanças alemão, Wolfgang] Schäuble veio a Columbia
e disse, basicamente, que temos de nos acostumar com o baixo
crescimento, esse é o novo mundo.
Não há nenhuma
razão para isso, exceto as políticas impostas por eles. Não há
natureza herdada, não é uma consequência inevitável da forma como
o mundo foi constituído. São as políticas que a Alemanha e os EUA
estão implementando.
Há chances de
mudança?
Bom, nos Estados
Unidos há uma paralisação no Congresso. E se o Partido Republicano
mantiver o controle da Câmara dos Deputados após as eleições de
2016, vamos continuar paralisados e com austeridade moderada.
A Europa vai
continuar em austeridade, mesmo que reduzida, e a China vai
desacelerar. Para onde quer que olhemos, veremos crescimento lento.
Há quem acredite que 2016 pode ser melhor, mas não vejo fundamento
para esse tipo de otimismo.
Iniciativas de
financiamento de países emergentes, como o Banco Asiático de
Investimento em Infraestrutura [AIIB] e o Banco dos Brics, podem
melhorar o cenário global, por meio de novos investimentos?
Eu estou bastante
animado com essas iniciativas. Elas são uma forma de utilizar parte
das reservas desses países para investir em infraestrutura na Ásia,
na África e em outros emergentes e acho que vão contribuir. Mas a
escala é muito pequena para trazer de volta o crescimento global.
Os Estados
Unidos não parecem tão animados...
Eu fiquei bastante
desapontado quando os Estados Unidos tentaram se opor ao AIIB, foi um
erro geopolítico de enorme magnitude. Os EUA têm tido muita
dificuldade de aceitar que não serão mais o poder econômico
dominante eles ainda serão o poder militar, mas mesmo essa
influência é limitada.
Infelizmente, o
presidente Barack Obama e os políticos republicanos estão achando
difícil aceitar essa nova realidade geopolítica. Em vez de reagir
de forma construtiva, estão lidando com isso de maneira bastante
improdutiva. O TTP [Tratado Transpacífico] é outro exemplo disso.
Por que o TTP?
Porque ele é um
acordo comercial bastante ruim. E, para promovê-lo, o presidente
defendeu que os EUA precisam escrever as regras da economia global,
não a China. Isso está errado.
As regras estão
sendo escritas pelas grandes corporações americanas para si
próprias, não para a população dos EUA ou de outros países do
Tratado. E a China, como o maior consumidor global, tem que ser
ouvida, e será. A ideia de que eles não terão voz é absurda.
O sr. defende
que os EUA se preocupam demais com o deficit do governo. Isso se
aplica a outras economias?
É diferente para
cada país e cada situação econômica. Nos EUA, é possível fazer
empréstimos com juros reais negativos, e nós temos uma necessidade
enorme de investimentos em infraestrutura e tecnologia. Com a
economia fraca, é um erro não investir.
No caso de outros
países, acredito que se você pode pegar empréstimos e investir com
retorno maior que os custos do capital, deveria fazer isso. Há um
fetiche excessivo em torno do deficit. Quando você pensa em um país
como uma empresa, você quer olhar para o balanço: a dívida, o
passivo e os bens.
O governo
brasileiro prevê neste ano um deficit primário de R$ 52 bilhões.
No caso do país, considerando que temos uma das mais altas taxas de
juros do mundo e uma retração de 3% projetada para 2015, o deficit
é preocupante?
Há algo bastante
peculiar sobre o Brasil: o fato de o país ter juros tão altos. Isso
mostra que o setor financeiro não está funcionando como deveria.
Quando você pega dinheiro emprestado com um juro tão alto,
obviamente a dívida cresce muito rápido.
Quando o governo
tentou baixar os juros, que chegaram a 7,25% ao ano em 2012, a
inflação voltou a ficar acima da meta.
Sim, tem algo
especial sobre o processo inflacionário no Brasil e isso pode
requerer uma cooperação maior entre trabalhadores e empresas,
alguns acordos de congelamento de preços e salários, para quebrar o
ciclo inflacionário. O Brasil está pagando um preço muito alto por
isso, um ciclo bastante incomum entre os países emergentes.
Dados os efeitos
contracionistas, o sr. acredita que o ajuste fiscal é a melhor
solução para a crise brasileira?
Muito provavelmente
não, porque o país já está passando por uma recessão e a
austeridade vai piorar isso. Essas políticas irão, muito
provavelmente, reduzir ainda mais o crescimento econômico.
E o que mais me
preocupa é que uma recessão afeta não só o resultado hoje, mas
tende a levar a um crescimento fraco no futuro, porque você não
está investindo no capital humano, em novas tecnologias. Por isso,
os efeitos são de longo prazo.
Se o Brasil
conseguisse baixar a inflação, seria possível ter uma taxa de
juros menor e isso permitiria crescer mais rápido. Além disso, se o
governo precisar tomar dinheiro emprestado, o peso da dívida não
será tão grande.
O governo
considera cortar recursos gastos com programas sociais como parte do
ajuste. É uma boa ideia?
Cortar programas
sociais no meio de uma recessão é particularmente preocupante,
porque os beneficiados são também as pessoas que serão mais
afetadas. Uma das conquistas do Brasil, de que se fala em todo o
mundo, é o sucesso na redução da pobreza e da desigualdade nos
últimos 20 anos. Se você corta programas sociais, está
prejudicando isso.
O Federal
Reserve [o banco central dos EUA] sinalizou que pode elevar os juros
em dezembro. É a hora de fazê-lo?
Há um amplo
consenso de que a economia americana não está tão forte. O melhor
sintoma de um mercado fraco é o que está acontecendo com a renda,
que estagnou. E não há pressões inflacionárias, então é
bastante difícil que só esse cenário justifique um aumento nos
juros. Além disso, pesa a situação da economia global.
Agora, acho que
eles podem, sim, elevar os juros em dezembro. Se o fizerem, vão
parar em seguida, sem novo aumento, porque a economia não vai estar
em boa forma. E não vejo no horizonte nada que possa trazê-la de
volta a um cenário mais normal.
O senhor defende
que a atuação do Fed contribui para o aumento da desigualdade nos
EUA. Como isso acontece?
O Fed contribuiu
para a desigualdade, historicamente, por concentrar sua atuação na
inflação, e não no desemprego. Isso fez com que a autoridade
monetária aumentasse os juros sempre que os salários começassem a
subir.
Você tem o chamado
efeito catraca: quando entra em recessão, os salários não
acompanham a inflação e a renda real cai. Assim que eles começam a
recuperar, o Fed aumenta os juros. E esse efeito é parte de um
processo pelo qual a renda real não acompanha o crescimento da
produtividade, e isso tem papel importante no aumento da
desigualdade.
Além disso, quando
você tem juros muito baixos, as empresas investem mais em
tecnologias de capital intensivo [baseadas no uso de máquinas e na
automação], substituindo trabalhadores de baixa renda. E o
resultado disso no médio prazo é uma retomada sem empregos.
O também Prêmio
Nobel de Economia Paul Krugman disse à Folha que a mudança
climática é o problema mais grave da atualidade, não a
desigualdade. O sr. concorda?
Concordo com o
Paul, porque a mudança climática pode destruir a viabilidade de
todo o sistema global. É uma questão existencial, a nossa
existência está ameaçada, e acho que as duas coisas estão
bastante conectadas. Os mais pobres serão os mais afetados pelo
aquecimento global. Dito isso, os dois problemas são terríveis e
não há razão para que não consigamos lidar com os dois.
Do ponto de
vista econômico, o que pode ser feito para lidar com aquecimento
global?
Para mim, a melhor
abordagem é impor um preço para o carbono. Há um custo social
quando você emite carbono. Façamos, então, com que governos,
empresas e famílias que contribuem para essas emissões paguem pelo
custo social de suas ações. Eu tenho alguma confiança no mercado,
e acredito que quando as pessoas se depararem com os custos, vão
reagir emitindo menos.
No curto prazo, é
preciso acelerar o processo. Sou a favor de proibir novas usinas que
utilizem carvão, acho que devem ser totalmente banidas ao redor do
mundo. E também deve-se expandir as pesquisas para energias
renováveis.
*
RAIO-X
Joseph Stiglitz
Joseph Stiglitz
ORIGEM
Nasceu nos Estados Unidos em 9 de fevereiro de 1943
Nasceu nos Estados Unidos em 9 de fevereiro de 1943
FORMAÇÃO
Formado pela Faculdade Amherst (EUA) e PhD em Economia pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts)
Formado pela Faculdade Amherst (EUA) e PhD em Economia pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts)
CARREIRA
É professor da Universidade Columbia, em Nova York (EUA), e foi economista-chefe do Banco Mundial entre 1997 e 2000; recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 2001
É professor da Universidade Columbia, em Nova York (EUA), e foi economista-chefe do Banco Mundial entre 1997 e 2000; recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 2001
Um comentário:
Muy interesante agradecemos envìo del Profesor Dos Santos - No comprendemos bien el texto en portuguès- Agradeceremos envìo el texto del profesor norteamericano en inglès lengua que manejamos mejor- Le rogamos asì lo haga pues mucho nos interesa- Muchas Gracias querido profesor- Queremos comentar a Ud que no nos han prestado atenciòn a nuestro proyecto BLINDAJE BAJAR TASAS- Y EL RESULTADO ESTÀ A LA VISTA HAY INFLACIÒN QUE SUPERA LAS PARITARIAS Y LOS ESFUERZOS DEL GOBIERNO NO ALCANZAN PARA CONTROLAR LAS VARIABLES MACROECONÓMICAS ESTAMOS CORRIENDO EL RIESGO DE PERDER LAS ELECCIONES POR NO HACER ESA CORRECCIÒN
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