Quantos nos deixaram nas últimas semanas... Já dedicamos nossas homenagens a Ernesto Laclau e Norman Girvan. Mas a despedida do nosso querido Gabo exigiria muita elaboração para refletir a riqueza emocional, intelectual, moral e ética de cada minuto que passei com ele. Militávamos juntos no Comitê de Solidariedade Latino Americano que reunia os intelectuais de toda América Latina que se encontravam no México durante os duros anos dos golpes de Estado das décadas de 60 e 70. Gabo ainda não tinha ganho o Prêmio Nobel, mas era sempre o centro das atenções nas reuniões do Comitê. Lembro-me, por exemplo, do conto sobre sua mudança de status na imigração mexicana. Ele vivera muitos anos clandestino já que era muito difícil regularizar sua situação como escritor, profissão pouco institucionalizada antes do "boom" da Literatura Latino Americana. Já famoso, ele se encontra com o Presidente Echeverría numa recepção. Como é comum nos políticos mexicanos, Echeverría estendeu-se longamente nas suas declarações de admiração pela produção literária de Gabo. Até que a conversa chegou na questão emigratoria e Echeverría lhe perguntou qual era a sua condição emigratoria no México e Gabo se viu obrigado a responder: Clandestino. O Presidente se assustou e disse que isso não podia existir e que ele se ocuparia de regularizar imediatamente a sua situação. Já no dia seguinte Gabo foi ao Ministério de Governo para regularizar esta estranha situação e é recebido pelo próprio Ministro no seu belo Gabinete e levado imediatamente para uma sala de recepção aonde estava todo o pessoal do Ministério com um coquetel para receber o ilegal emigrante, agora transformado em quase um cidadão mexicano. Gabo contava essas histórias cercado de vários outros emigrantes ilegais, já que seu público era em grande parte formado de intelectuais de institucionalidade duvidosa, nos ríamos e nos divertíamos com essas situações paradoxais criadas pelos herdeiros da Revolução Mexicana.
Me lembro também de outra história do Gabo muito deliciosa: sua mãe - que foi personagem dos seus livros - acendia uma vela toda vez que ele viajava de avião com o objetivo de evitar a sua queda. Gabo lhe contestava o sentido e utilidade deste ritual: mãe, você não vê que a chama de uma vela não pode manter um avião no espaço, pergunta. Resposta da mãe: caiu alguma vez algum dos aviões que eu protegi ?
Lembro-me muito da entrevista que fizemos para o Pasquim com Gabriel García Marques e entre os entrevistadores estava o Betinho que sempre era um fator de humor em deliciosas perguntas. Creio que essa entrevista deveria ser republicada pelos sobreviventes do Pasquim.
Gabo se prestou a uma intromissão minha no seu mundo profissional quando lhe passei os textos literários do filho de um amigo mexicano. Ele não somente recebeu o jovem e comentou positivamente seus trabalhos, como aceitou o convite dos pais maravilhados com a sua gentileza para junto com Mercedes deliciarmo-nos com um mole poblano preparado por uma indígena mexicana trazida especialmente para esta ocasião.
Mas entre todas essas recordações sempre me assalta a pretensão de aceitar as recomendações de Gabo para incorporar-me à empresa da sua agente literária que ele considerava um gênio comercial. É verdade e por isso mesmo Carmem Barcels jamais se preocupou do agenciamento dos meus livros pois best seller literário não tem competidor no campo das Ciências Sociais.
Uma das últimas vezes que estivemos juntos foi em 1982 no concurso sobre as ditaduras militares latino americanas estabelecido pela revista mexicana Proceso. Éramos jurados, além de nós dois, Cortasar, Ariel Dorfman, Pablo Gonzales Casanova, Carlos Quijano, entre outros.
Me lembro que defendi com veemência a obra plástica de um importante pintor e desenhista colombiano, mas infelizmente a maioria votou por um artista plástico boliviano. Gabo apoiou totalmente meu candidato e posteriormente me enviou um desenho com o agradecimento do pintor colombiano.
Gentilezas, carinhos, histórias típicas da nossa realidade latino americana são todas recordações profundas.
Por isto, reproduzo abaixo a homenagem da Rede de Redes em Defesa da Humanidade na qual também estivemos juntos desde sua primeira reunião no México para transformar-se em seguida numa Instituição venezuelana e cubana que se projeta para toda região.
Nesta luta não podia faltar nosso querido amigo:
El
Gabo
              se queda en Macondo.
              
              No para de caer agua de lluvia en
              Macondo, la tierra mojada impone su aroma a todos los
              corazones arrugados. Un
              jueves santo, tal como Úrsula Iguarán, partió físicamente
              Gabriel García
              Márquez, el Gabo. Ese gigante de la literatura
              latinoamericana y universal llegó
              a esta tierra un 6 de Marzo de 1927, en Aracataca, el
              Macondo de verdad; a
              partir de ahí cogería vuelo una de las plumas más
              comprometidas con la realidad
              latinoamericana, una de las que mejor supo plasmarla en
              todas sus
              dimensiones.  
              
              El Gabo supo convertir hechos
              cotidianos en situaciones extraordinarias, su pluma hizo
              del relato de un
              náufrago una apasionante historia, que atrapó y atrapa a
              generaciones. De esa
              manera nos enseñó que en este continente lo ordinario se
              hace extraordinario si
              aprendemos a verlo con los ojos correctos. Pero también
              nos trajo un Simón
              Bolívar de carne y hueso, vivo, cercano, no el de los
              mármoles en los serios
              libros de historia, sino el compañero soñador en la etapa
              más difícil de su vida.
              Así también los dolores de las guerras intestinas en
              nuestro continente vieron
              luz en su obra, cuando aquel coronel envejecido caminaba
              todos los viernes a
              buscar la carta que nadie le escribía. 
              
              Gabriel García Márquez no fue
              genial por ser de izquierda, fue de izquierda porque su
              genialidad consistió en
              comprender y vivir la realidad latinoamericana. Supo
              palpitar al ritmo de los
              pueblos, de manera que nunca dejó de acompañar sus luchas,
              que fue reflejada en
              sus textos, crónicas y cuentos. Desde la aventura política
              de Miguel Littin
              hasta su acercamiento a “Los dos Chávez”. Su palabra
              expresó cada una de las
              heridas en el corazón de Nuestra América, desde las
              masacres bananeras hasta el
              relato del exilio. Fue entrañable amigo de Fidel Castro y
              de esa manera
              compañero defensor de la Revolución Cubana.
              
              Miles de jóvenes de todas las
              generaciones hoy están huérfanos de aquel padre que los
              tomó de la mano para
              llevarlos a las puertas de la literatura universal, pero
              que nunca los dejó
              olvidar el tacto de los pies sobre este barro. García
              Márquez fue para muchos
              la iniciación a la lectura, a la vez que el descubrimiento
              de que tenemos voz
              propia, un lenguaje destinado a descubrir la magia que nos
              constituye. El Gabo
              nos hizo sentir orgullosos de lo que somos, sabiendo que
              desde nuestra palabra
              podemos hacer aportes a la humanidad. 
              
              La Red de Intelectuales, Artistas
              y Movimientos Sociales se siente profundamente orgullosa
              de contar con el
              nombre de Gabriel García Márquez entre sus fundadores, a
              su vez expresa su
              profundo pesar ante esta partida. Extendemos nuestras
              condolencias a sus
              familiares y amigos, recordando que sus letras vivirán por
              siempre entre
              nosotros. En esta hora recordamos las palabras del
              Comandante Eterno Hugo
              Chávez en la fundación de la CELAC:
“A nosotros, pareciera que alguien
                nos condenó a 100 años de Soledad, y a 100 más. Pero
                quizás, porque fuimos
                condenados quizá a esos cien primeros, y a esos cien
                segundos, entonces alguien
                nos dio una segunda oportunidad”
Red de Intelectuales, Artistas y Movimientos Sociales
en defensa de la Humanidad
 
 
 
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