Emilio casou-se com minha prima Marly na França e terminou vindo para o Brasil onde teve que lutar muito pelo seu reconhecimento como músico e compositor. Depois de trabalhar para Associação Nacional de Músicos ensinando os nossos autores populares a escrever suas músicas ou mesmo fazendo-o para eles, passou pela Universidade do Piahui, que meu colega e amigo Elcio montou como mais uma iniciativa de transformar o nordeste num polo académico à altura do que foi no plano do direito com a escola de pernambuco e com a escola bahiana, de onde saíram excelentes intelectuais e artistas, entre outros.
Depois, terminou na Universidade de Brasília onde meu colega e amigo Cláudio Santoro conseguiu manter uma escola de música revolucionária, para a qual contribuiu enormemente o talento de pedagogo de Emilio. A nota da UNB que reproduzimos abaixo dá uma idéia sintética de sua importância.
Para mim a ida de Emilio é também e sobretudo a morte de um amigo brigão, sempre revoltado, como o formou este grande filósofo anarquista argentino José Ingenieros, encantado com suas descobertas pedagógicas e com seu universo musical tão amplo desde os clássicos até a música popular.
Morre o maestro e compositor Emilio Terraza
Professor aposentado do Departamento de Música e autor de dezenas de peças para piano, o músico sofria de enfisema pulmonar
Ana Lúcia Moura - Da Secretaria de Comunicação da UnB
Morreu nesta sexta-feira, 14 de janeiro, aos 82 anos, o pianista e compositor Emilio Terraza. Autor de dezenas de peças para piano, quartetos de cordas e obras para conjunto de câmara, o professor aposentado do Departamento de Música da Universidade de Brasília sofria de enfisema pulmonar. Estava internado há mais de uma semana na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital São Lucas, na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, onde morava desde 2006.
Antes de ingressar na UnB, em 1969, Emilio Terraza foi diretor suplente da Orquestra Sinfônica Universitária do Rio de Janeiro, professor do Instituto Villa-Lobos, e organizou o Serviço de Documentação Musical da Ordem dos Músicos do Brasil, entidade onde atuou também como conselheiro.
Nascido na Argentina em 1929, o músico permaneceu na UnB até 1972, quando mais de duas centenas de professores se demitiram. Recomeçou a vida acadêmica na Universidade Federal do Piauí, onde criou e coordenou o Setor de Artes e Departamento de Música. Em 1975, ele retornou à UnB, criando e dirigindo a disciplina Oficina Básica de Música, antes implantada no Instituto Villa-Lobos. A atividade despertou o interesse de músicos do Brasil e do exterior, motivo pelo qual Emilio Terraza foi frequentemente convidado a ministrar palestras.
Colega de Emilio Terraza desde 1965, o professor Jorge Antunes, do Departamento de Música da UnB, lembra que a disciplina “abriu pedagogicamente centenas de cabeças jovens para a experimentação da música de vanguarda erudita”. “Realizamos vários trabalhos juntos, formando orquestras, grupos de câmara e participando de enriquecedoras discussões estéticas”, conta. Ele descreve Emilio Terraza como “o homem baixinho, simpático e falador, o amigo elétrico e afável, o tangueiro virtuose, o compositor criativo”, e que, mesmo depois de 52 anos no Brasil, nunca largou o sotaque porteño. “Ele nos deixa muita saudade”, afirma.
SAÚDE FRÁGIL – Emilio Terraza chegou ao Brasil em 1958, quando se casou com a pianista brasileira Marly Terraza, falecida em 2006. Na Argentina, estudou piano com R. Ehrlich e composição com J. Ficher. Em Paris, como bolsista dos governos da Argentina e da França, foi aluno de Toni Aubin. Além de peças para piano, duos e trios, compôs dois quartetos de cordas e obras para conjunto de câmara. Sua Pequena Marcha Infantil, para orquestra, de 1952, foi estreada no Rio de Janeiro em 1960.
Quando se mudou de Brasília para Natal, já não fazia mais apresentações públicas. “Ele fumava muito e ao longo dos anos foi ficando com a saúde cada vez mais frágil, com sérias dificuldades de respirar”, conta um dos três filhos, também chamado Emilio Terraza. "Nos últimos três meses, entrou e saiu do hospital várias vezes”, revela. Emilio descreve que chegava com os dois irmãos para visitar o pai quando os médicos informaram sobre a morte. “Nem chegamos a vê-lo vivo", lamenta, lembrando, em seguida, da última memória que tem do pai tocando em público, em Pirenópolis.
Todos os textos e fotos podem ser utilizados e reproduzidos desde que a fonte seja citada. Textos: UnB Agência. Fotos: nome do fotógrafo/UnB Agência.
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