Reproduzo e-mail recebido pela economista doutora Ceci Juruá, que chama a atenção e a mobilização
diante de mais uma ofensiva tucana para privatizar ao máximo o
país para assim poder saqueá-lo legalmente, como faz atualmente o sistema financeiro cujos donos não aparecem
como tais nos meios de comunicação. As poucas famílias que o
controlam recebem tranquilamente a metade do gasto público e
obrigam - por lei e por exercício criminoso da "ciencia"
económica - que toda a população trabalhe para eles.Texto de Najla Passos.
Mobilização
faz Senado adiar votação
do PL que abre nova onda de
privatizações
Projeto tucano quer rever função social das empresas públicas e transformá-las em sociedades anônimas com ações ordinárias disponíveis nas bolsas.
Najla
Passos
Mobilizados
no Dia Nacional de Luta em Defesa das Empresas Públicas, os
trabalhadores das empresas estatais brasileiras conseguiram, nesta
quarta (3), evitar que o presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), colocasse em votação no plenário o Projeto de Lei
555/2015, que dá uma nova roupagem à velha aspiração neoliberal
de entregar o patrimônio público do país ao mercado, a partir da
privatização de estatais como Petrobrás, Caixa Econômica Federal
(CEF), BNDES, Embrapa e Correios, dentre outras.
Com a
articulação dos servidores, a votação da matéria, que tramita em
caráter de urgência, foi adiada para o próximo dia 16. Mas com o
carnaval absorvendo a atenção quase que exclusiva dos brasileiros,
eles sabem que o tempo será curto para que possam colocar o tema na
agenda pública e convencer os parlamentares a rechaçar a proposta
tucana, que conta com o apoio da maior parte do PMDB e até de
setores do governo.
“Nós conseguimos um fôlego extra, mas não ganhamos a guerra e precisamos continuar mobilizados”, resume o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (Sinpaf), Julio de Farias Guerra, que fez parte do grupo que passou esta quarta (3) percorrendo os gabinetes dos senadores para tentar sensibilizá-los para a importância de se retirar o caráter de urgência da matéria e discuti-la com a sociedade.
“Nós conseguimos um fôlego extra, mas não ganhamos a guerra e precisamos continuar mobilizados”, resume o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (Sinpaf), Julio de Farias Guerra, que fez parte do grupo que passou esta quarta (3) percorrendo os gabinetes dos senadores para tentar sensibilizá-los para a importância de se retirar o caráter de urgência da matéria e discuti-la com a sociedade.
“A
impressão que nós tivemos é que há, infelizmente, uma tendência
pela aprovação do projeto, mas a maioria dos senadores está mal
informada sobre o conteúdo e não sabe o quanto ele será
prejudicial ao país ou então está conivente com essa proposta,
embora afirme o contrário”, afirma.
Neoliberais
à espreita
De acordo
com Guerra, o tema começou a ser discutido pela casa a partir de um
projeto de lei apresentado pelo senador Roberto Requião (PMDB-PR),
em 2015, que visava dar mais transparência à gestão das estatais e
pelo qual os sindicalistas nutriram bastante simpatia. Entretanto, em
setembro do ano passado, foi incluído na Agenda Brasil proposta pelo
presidente da casa, e acabou sendo completamente desvirtuado da sua
finalidade original.
Na esteira
da instabilidade política que mobilizava as atenções para o
processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff e para as
investigações da Operação Lava Jato, a tramitação ocorreu à
toque de caixa. O PL foi avaliado por uma única comissão, mista,
formada por membros do Senado e da Câmara, e, na sequência, já
disponibilizado para votação do plenário em regime de urgência.
“Como o
presidente da Comissão era o senador Tarso Jereissati (PSDB- CE),
entraram em cena também os senadores José Serra (PSDB-SP) e Aécio
Neves (PSDB-MG). O resultado foi a inversão total da proposta do
Requião. O substitutivo apresentado por Jereissati é um projeto
privatista, que visa à redução do tamanho do Estado, no melhor
estilo neoliberal”, esclarece. “Com aquele discurso fácil de que
é preciso abrir às estatais para o mercado para captar mais
recursos, eles querem acabar com empresas estratégicas para o país”,
denuncia.
Contra a
visão de estado mínimo
Presidente
da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa
Econômica Federal (CEF), Jair Pedro Ferreira também avalia que o
projeto é temerário para o país, especialmente para os mais pobres
que dependem das políticas públicas. “Nós estamos mais uma vez
lutando contra aquela visão de estado mínimo do PSDB, que acha que
as estatais não tem serventia nenhuma para o país e podem ser
entregues nas mãos do mercado”, denuncia.
De acordo
com ele, só uma Caixa 100% pública é capaz de oferecer a execução
de programas de vital importância para o povo brasileiro, como o
Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, a custos bem menores do
que os praticados pelo mercado, dada a capilaridade que possui em
todo o território nacional. “Se o banco for privatizado, não terá
mais o mesmo compromisso com a execução das políticas públicas,
porque sua finalidade deixará de ser atender a população e passará
a ser gerar lucro para seus acionistas”, explica.
Ferreira
lembra que a Caixa possui hoje 4.050 agências no país, inclusive
nas regiões mais remotas. “Hoje, a Caixa mantém uma agência-barco
na Amazônia que é deficitária, mas é a única opção de banco
para aquela comunidade. Um banco privado só vai querer manter as
agências que geram lucro. O mesmo acontece com as políticas
públicas desenvolvidas pelas outras estatais. Hoje, em uma situação
de surto, os Correios podem entregar remédios rapidamente em todo o
país. Se for privatizado, só restarão as agências lucrativas”,
exemplifica.
Seguindo o
mesmo raciocínio, Guerra faz a defesa da Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Empraba) 100% pública. “Hoje, mesmo com
déficit de funcionários, nós conseguimos realizar pesquisas
importantíssimas para garantir que tenhamos uma tecnologia
agropecuária limpa, livre de transgênicos. Se a Embrapa for
colocada à venda, quem irá comprá-la são justamente as
multinacionais de sementes, de pesticidas, que advogam um outro
modelo de agricultura. E elas só aprovaram as pesquisas que
interessam a este modelo. Nossa capacidade de resposta à sociedade
ficará comprometida”, esclarece.
Olhos de
mercado e lógica privatista
Assessor
parlamentar do Senado, especialista em Políticas Públicas e Gestão
Governamental, o advogado e professor da FGV Luiz Alberto dos Santos,
vem estudando a matéria a fundo e é categórico ao afirmar que a
proposta é muito ruim em vários sentidos.
Dentre
eles, destaca a exigência de que todas as estatais sejam
transformadas em sociedades anônimas, ou seja, disponibilizem ações
para compra e venda nas bolsas de valores, e também a falta de
especificação da função social das estatais que, a partir daí,
podem deixar de atender aos interesses estratégicos do país e ao
interesse público para se fixarem nos do mercado.
O assessor
parlamentar critica ainda o fato de que a proposta criminaliza a
atividade política e sindical, ao proibir que pessoas filiadas a
partidos políticos e sindicalistas ocupem cargos nos conselhos das
empresas. Aliás, o projeto fecha a possibilidade de participação
nos conselhos para um nicho bem restrito de executivos, a ponto de
exigir 10 anos de experiência no mercado para os postulantes aos
cargos.
Efeito
direto é o fato de que, se aprovado o projeto, nem mesmo um
acadêmico conceituado na área de atuação de determinada estatal
não poderá vir a ocupar estes postos, como ocorreu, por exemplo, em
2003, quando o economista e professor da UFRJ, Carlos Lessa, assumiu
a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES). “É um projeto com olhos de mercado e lógica
privatista”, resume.
Na luta
contra a privataria
No
movimento sindical, o repúdio ao PL 555/2015 é praticamente
consenso entre todos os sindicatos e centrais sindicais de luta.
Participam da Frente Ampla em Defesa das Empresas Públicas a CUT,
CTB, CSP-Conlutas, Intersindical, FUP, Contraf, Fanae e
representantes dos Conselhos de Administração da Caixa, BNDES,
Banco do Brasil e Chesf.
No Senado,
os trabalhadores contam com o apoio dos parlamentares mais
progressistas. Na terça (2), uma comissão formada pelos senadores
Roberto Requião (PMDB-PR), Gleise Hoffmann (PT-SC), Lindberg Farias
(PT-RJ), Fátima Bezerra (PT-RN) e o líder do PT na Casa, Humberto
Costa (PE), se comprometeram com os trabalhadores a lutar contra a
aprovação do projeto.
A
estratégia definida pelos parlamentares é apresentar ao senador
Tarso Jereissati um substitutivo construído em consenso com os
trabalhadores, que garanta principalmente a função social e
preserve o caráter público das estatais.
Créditos da foto: Pedro França / Agência Senado
Créditos da foto: Pedro França / Agência Senado
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