A importância do debate sobre ciclo econômico e onda longa e, por sua vez, da vinculação entre as teses de onda longa e teorização a respeito do desenvolvimento econômico sob o Capitalismo na atual conjuntura ganhou uma suma importância.
No início dos anos 1920, o economista russo Nicolai Kondratiev, pioneiramente produziu um estudo sobre a regularidade do desenvolvimento da economia capitalista e definiu com base em análises estatísticas que a uma fase dinâmica de expansão segue-se outra de contração. Freqüentemente marxistas, e mesmo não-marxistas, costumam analisar a dinâmica de longo prazo do capitalismo a partir da teoria das “ondas longas” de Kondratiev. Atualmente, o pensamento de Kondratiev, está sendo revisitada com a crise econômica mundial aparecida em 2007, finalizando um forte ciclo de prosperidade vivida pelo mundo desde o inicio da década de 2000.
A questão do desenvolvimento econômico e vários aspectos da dinâmica econômica, especialmente quanto ao longo prazo e a sua dimensão mundial, não puderam se desenvolvidas por Marx e Engels - embora constasse no escopo do plano de redação dO Capital. O que abriu uma lacuna para um longo e agudo debate sobre a concepção marxista sobre o fenômeno do desenvolvimento do capitalismo mundial. O confronto entre os marxistas e as correntes não-burguesas, ou mesmo no interior do marxismo sobre desenvolvimento do capitalismo, muitas vezes deu-se a partir da perspectiva da dinâmica de longo prazo do sistema e a questão das crises. Nesse sentido, o tema dos ciclos econômicos, especialmente no longo prazo, onde as "ondas longas" do capitalismo é uma das principais versões, é um importante pano-de-fundo do debate.
A partir de um breve resumo feitos com extratos do artigo “Crises Econômicas e Ondas Longas na Economia Mundial” (Universidade Federal Fluminense - Faculdade de Economia – GREMIMT. TD Série 1, Nº 5, 2002) veremos o que são a relação entre crise econômica, ciclos de longo prazo e economia mundial capitalista, segundo Theotonio dos Santos.
“Entre os temas que preocupam o mundo contemporâneo desde o século XIX, dos formuladores de política aos analistas econômicos, está a questão do ciclo econômico, das flutuações econômicas e das crises econômicas que se manifestam em períodos mais ou menos sucessivos e identificáveis nas economias nacionais e na economia mundial, seja nos países mais desenvolvidos, ou seja, no conjunto da economia mundial.”
“Devemos, contudo, constatar que a teoria da crise econômica e do ciclo econômico tem sua origem basicamente no pensamento marxista, passando por influências muito decisivas de historiadores econômicos que foram focalizando o fenômeno e buscando explicações para eles. Na verdade, a questão da crise e do ciclo econômico passou a ser fundamental para o pensamento marxista. Também o foi para alguns teóricos que seguiram um caminho mais próximo da história e dos fatos econômicos, como este conjunto de economistas que ficariam conhecidos como a Escola do Pensamento Institucional, e que tem em Schumpeter sua principal figura.”
“A questão das ondas longas se articula com uma visão mais global do funcionamento da economia mundial. Na sucessão dessas ondas longas identificam-se cada vez mais os períodos de retomada e crescimento econômico”. “As teorias dos ciclos econômicos longos ou ondas longas mostra que há mudanças estruturais no final de cada ciclo longo, dando às crises dessa fase final um caráter estrutural, que as vinculam também com a introdução de novos paradigmas produtivos e organizativos que se identificam não somente pela predominância de novos setores e ramos de produção dentro da economia, como também por mudanças no próprio processo de trabalho, no próprio sistema de produção.” Esta visão permite pensar o próprio ciclo no longo prazo como aquele que traz no seu interior o desenvolvimento do capitalismo.
“Contudo, quem vai incorporar a problemática da crise no interior do seu sistema de pensamento será Marx. Isto justifica realizar uma revisão, ainda que geral, sobre o enfoque marxista das crises econômicas, que conduzem inclusive à idéia dos ciclos e flutuações econômicas mais ou menos permanentes, e com a temporalidade.”
“O esquema teórico de Marx, portanto, parte dessa noção de que o próprio processo de circulação carrega dentro de si a possibilidade da crise, possibilidade que se fez real na história em várias circunstâncias. Mas o que nos interessa não é a possibilidade da crise em geral (que existe em todo sistema mercantil), mas de um tipo de crise que se repete sistematicamente e que está associada aos processos de produção, reprodução e de circulação.” “Essa visão nos permite pensar o próprio movimento do capital como aquele que traz no seu interior as possibilidades da crise.”
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