sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Mais debate sobre a carta aberta.

Caro Victor



Já esbocei alguma resposta num e-mail para Ceci. Talvez ficou por explicar porque FHC zerou as divisas. Simplesmente porque as remessas dos investidores para o exterior esgotou as divisas em 1999. A ajuda de 35 bilhões que conseguiu Clinton (tesouro dos EE.UU., +FMI, +BIRD+BID) não tinha respaldo. No caso mexicano, por exemplo, se tinha as exportações petroleiras para EE.UU. Seria necessário obter superávit cambial que não veio. O governo brasileiro ficou de pires na mão pois não podia pagar os compromissos assumidos com a dívida recente. Por isto Fernando teve que pedir os candidatos a presidente que respaldassem a sua dívida diante do FMI. Tudo isto não teve nada que ver com a ameaça da vitória de Lula como se vê. O único candidato que não aceitou firmar esta capitulação vergonhosa foi Garotinho e eu me sinto honrado de ser seu secretário de Relações Internacionais naquele momento. Ele pagou um preço muito alto por não conceder aos absurdos da política econômica do FHC e seus aliados do capital financeiro. Isto pode ser uma atitude quixotesca mas a política não se faz só com movidas de subordinação ao poder vigente. Elas são necessárias mas deve-se medir em cada situação se são necessárias e quanto.



Como explico no e-mail anterior temos que colocar o governo Lula neste parâmetro. Ele pôde governar devido a estas concessões que tiveram um alto custo para seu governo. Mas ele soube contornar em parte os efeitos negativos desta concessão com a ajuda da competência da Dilma, do BNDES de Luciano Coutinho e da flexibilidade do Mantega alem de uma conjuntura internacional favorável.



Mas FHC também teve uma conjuntura favorável pois entre 1994 e 2000 a economia mundial teve uma das mais altas taxas de crescimento da história.



A maioria do povo brasileiro pensa assim e com razão. A popularidade não é demagogia como os reacionários querem fazer crer para justificar seu recurso à força e ao autoritarismo quando perdem o controle da informação. Nenhum marxista sério pode ignorar o papel da democracia para o avanço real das revoluções. Duvidar disto é extremamente grave. Que o digam os companheiros soviéticos que terminaram passando para o outro lado. Contra o seu próprio povo que não queria o avanço democrático para entregar-se à rapina dos altos funcionários da KGB que se apropriaram do patrimônio do Estado soviético e portanto do povo soviético. Claro que para avançar se necessita do apoio popular e é muito importante saber submeter-se honestamente ao juízo das grandes maiorias sociais. Todo este papo de demagogia é da reação. Dos liberais que falam muito em democracia mas estão buscando todo tempo mecanismos para impedir o genuíno pronunciamento das massas. Claro que este pronunciamento não se restringe ao plano eleitoral. Ele tem que se assentar num forte desenvolvimento das organizações populares e da consciência do povo.



Eu voto em Dilma porque ela é honesta, firme e competente e jamais trairá nosso povo. Poderá, como todos nós, errar na dose de concessões, no julgamento de situações concretas. Todos estão sujeitos a isto. Mas o que importa é a honestidade política e a disposição de escutar a voz das maiorias defendendo suas necessidades. É isto que dói tanto para a direita.



Quanto as decepções comigo e o direito ou não de submeter-me ao debate, estou contigo. Quem está na chuva é para se molhar.



Theotonio dos Santos


Um comentário:

Thiago Quintella de Mattos disse...

"Mas o que importa é a honestidade política e a disposição de escutar a voz das maiorias defendendo suas necessidades. É isto que dói tanto para a direita". Ah, mas dói muito, irrita ao extremo, dá inveja! Eles não podem errar... já o erro é permitido à direita!

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