A formação intelectual de Theotônio se situaria entre os 12 e 20 anos de idade (1949-57). Ela se desenvolveu sob o impacto de uma situação sócio-política muito dinâmica: o período de afirmação do desenvolvimento brasileiro entre a segunda gestão do governo Vargas e o governo Kubistchek. Tratava-se também de um momento de transição cultural muito significativo no qual o Brasil se afirmava como centro cultural com capacidade de irradiar seu pensamento já a nível internacional. Em consequência, essa formação assumiu uma forma essencialmente individualista e autodidata, desenvolvida juntamente com outros jovens num debate intelectual muito forte, e em contato com algumas figuras de gerações anteriores que se formaram sob o impacto dos anos da revolução de 1930 e da afirmação do Brasil como país moderno e industrial.
Aos 12 anos, Theotônio iniciou suas leituras mais sérias. Estranhamente, vivendo no interior de Minas Gerais, conheceu autores como Pitrigrilli, um anarquista de origem italiana e Jardel Poncela, outro anarquista argentino. Em idade tão inicial, é inegável que essa visão do mundo tenha influenciado sua formação básica e sua atitude diante do mundo, do amor e do sexo. Mais tarde, descobriria que o anarquismo era uma parte importante da formação política e intelectual brasileira e latino-americana (particularmente no Cone Sul) até os anos 1920. Posteriormente conheceu os trabalhos de outro autor anarquista, Aníbal Vaz de Melo, que era professor do que seria a sua futura faculdade, a Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Theotônio estudou, aos 16 anos, com grande prazer e um forte sentimento de identificação a obra de Aníbal Vaz, Cristo, o Maior dos Anarquistas, que estabelecia um vínculo entre o anarquismo e a realidade socio-política, ampliando, dessa maneira, o seu primeiro contato com este pensamento. Apesar do interesse que o despertara, ele não deu continuidade a essa formação anarquista.
Em 1952, como estudante do internato Grambery, em Juiz de Fora, Theotônio tomou conhecimento do liberalismo norte-americano. Leu avidamente a biografia de Lincoln, bem como os livros sobre a democracia, o avanço tecnológico e outros aspectos da cultura norte-americana. Mas foi nesta época que iniciou também o contato com o pensamento de esquerda no Brasil, sobretudo através da imprensa. Lia com grande entusiasmo o Jornal de Debates, que trazia a luta interna do Partido Comunista entre 1953-54 e FLAN, um jornal nacionalista que seria uma das bases do jornal Semanário do Movimento Nacionalista Brasileiro e que se manteve até o golpe de 1964. Neste período, estabeleceu contato também com os primeiros militantes comunistas confessos que conheceu. Através destes, Theotônio começou a se interessar pelo pensamento de esquerda No Brasil.
Entre 1953 e 1955, Theotônio começou o seu estudo da realidade brasileira, sobretudo através das obras de Gilberto Freire que influenciaram muito sua visão da antropologia e da história social brasileira. Também neste período, ele conheceu as obras de Josué de Castro, Geografia da Fome e Geopolítica da Fome, que marcaram profundamente a sua concepção do sub-desenvolvimento. Da mesma forma, José Honório Rodrigues ensinou-o a importância da pesquisa histórica e seu método; Arthur Ramos colocou-o a questão da antropologia; Sérgio Buarque de Holanda abriu-lhe o caminho da história brasileira; Costa Pinto ajudou-o nos estudos sobre as classes sociais.
Por conta própria, Theotônio estabeleceu contato com os Cadernos de Nosso Tempo, onde estava Hélio Jaguaribe e outros autores que viriam a formar a base do ISEB- Instituto Superior de Estudos Brasileiros bem como a revista Sociologia e a Revista Brasileira de Economia. Foi nesta época, ainda estudante secundário, Theotônio iniciou seu contato com Guerreiro Ramos, cuja obra estudou detalhadamente e cuja amizade foi uma fonte permanente de orientação intelectual. Foi nesse período também que leu obras de Joaquim Nabuco, Euclides da Cunha, Oliveira Viana e Guimarães Rosa, que formavam o substrato dos estudos brasileiros.
Foi também num plano extra-escolar e autodidata que Theotônio iniciou a sua formação literária, destacando-se o romance e a poesia. Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, João Cabral de Melo Neto e o grupo concretista foram suas principais influências nesses anos. Quando a autores estrangeiros, Rilke foi a inspiração mais forte e fundamental de Theotônio. No campo da narrativa, do conto, do romance e da novela, sua influência principal foi o existencialismo francês como Gide, Malraux, Sartre e Camus. Entre os ingleses destacaram-se James Joyce, Virginia Woolf e Katherine Mansfield e entre os norte-americanos, Ernest Hemingway, John Steinbeck e William Saroyan, Finalmente, como um marco fundamental, a obra de Franz Kafka, traduzida para o espanhol já que não lia o alemão. Só veio a ler Falkner, Thomas Mann e Proust nos anos de clandestinidade, entre 1964 e 1966. Por sinal, os livros de Proust que Theotônio levou consigo no momento do seu embarque para o exílio despertaram a suspeita da polícia federal que passou a revistar todos os pertences à vista atônita do secretário da embaixada chilena.
Nas artes, os impressionistas eram vistos pelos jovens como parte de um processo de desagregação da construção estética e da relação do criador estético com a natureza, relação na qual cada vez mais os instrumentos de criação se sobrepunham aos objetos representados, levando-se a uma aproximação com o abstracionismo. Esta tendência levou ao surgimento do concretismo que aguçava a imaginação estética brasileira, que se movia entre Ouro Preto e Brasília, mas que também se via questionada permanentemente pelas janelas abertas e pelas bienais. Todas estas correntes artísticas e culturais influenciaram Theotônio profundamente.
Escrevia para o suplemento cultural do Jornal do Brasil, que havia renovado a sua apresentação gráfica e se punha a serviço do concretismo e de correntes próximas. Era colaborador também dos suplementos culturais do Diário de Minas e da Folha de Minas, que refletiam estas mudanças. A colaboração de Theotônio nesses jornais já refletia também o seu interesse pela filosofia e pelas ciências sociais (sobretudo, os problemas internacionais). Ele tinha ótimos professores, principalmente Artur Versiani Veloso, que orientou-o quando era estudante do curso clássico no Colégio Estadual e depois do Colégio Marconi. Através de Artur Versiani, Theotônio conheceu Kant, o tomismo e o neo-tomismo chegando à necessidade de um estudo mais rigoroso da filosofia, iniciando por Aristóteles e Platão, passando depois para Santo Agostinho e São Tomás de Aquino para, finalmente, um estudo sistemático da filosofia moderna desde Descartes até Hegel.
Tudo isso se conjugava com os estudos de história universal e brasileira: uma longa lista de livros sobre o Mundo Antigo, a Idade Média e o Mundo Moderno; sob a influência da filosofia da história, particularmente de Toynbee que leu profundamente, mas também com o impacto de Spengler, cuja Decadência da Civilização Ocidental influenciou fortemente a formação intelectual de Theotônio. Estas influências criaram um ambiente muito adequado para ele aproximar-se do pensamento marxista, entendido como uma espécie de historicismo radical. Esta maneira de aproximar ao marxismo através dos historicistas e hegelianos e mais tarde através de Henri Lefebvre (na sua etapa crítica ao Partido Comunista) e do pouco conhecido filósofo italiano Rodolfo Mondolfo, além da influência de Sartre em seu Questões de Método, vacinaram Theotônio contra a aceitação da versão do materialismo dialético soviético e dos partidos comunistas que nunca o convenceram ou mesmo o atraíram.
Na preparação para entrar no curso de sociologia e política da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (FACE/UFMG), Theotônio começou a sistematizar seus estudos de história, que eram fundamentais para o vestibular. Depois da sua entrada na UFMG em 1958, Theotônio passou dois ou três anos estudando George Gurvitch, ao mesmo tempo em que lia Durkheim e Max Weber para, posteriormente, aprofundar-se no estudo de Marx. Passou por Merton, Parsons, Whrite Mills, Schumpeter, Dahrendorf, Manheim, Pitirin Sorokin e Roger Bastide, entre outros. Participou pessoalmente na leitura e na discussão com os brasileiros Guerreiro Ramos, Florestan Fernandes, Hélio Jaguaribe, Álvaro Viera Pinto e Júlio Barbosa, entre outros.
No plano da história, Fernand Braudel já era conhecido no Brasil porque havia sido professor em São Paulo e havia deixado uma marca muito forte. Marc Bloch foi uma referencia fundamental sobre a metodologia histórica. Os professores de história da UFMG deram-lhe uma solida formação histórica durante o curso de sociologia e política, cobrindo desde a antigüidade aos nossos dias, tanto no plano institucional e político, como no econômico e no das idéias.
Entre 1960 e 1964, sob o impacto da militância política e da busca de compreensão da realidade brasileira e internacional, sob o impacto do ISEB e das relações que estabeleceu com Guerreiro Ramos, Theotônio iniciou um estudo sistemático do marxismo. Leu detalhadamente a Ideologia Alemã, até Anti-Dühring de Engels. Em seguida, ele partiu para os Textos Políticos e as Obras Escolhidas de Marx e Engels que formavam um acervo inigualável para compreender o pensamento político de ambos. A correspondência entre Marx e Engels foi outra fonte de leitura fundamental. Logo, tomou três anos estudando as obras de Marx sobre a economia política, desde Salário, preço e lucro até O Capital. Theotônio não descuidou de uma leitura, em geral muito abandonada: Contribuição à Critica da Economia Política que permitiu-o compreender mais seriamente a questão do valor. Contudo, a principal introdução que utilizou para o estudo da obra econômica de Marx foi o livro de Paul Sweezy, A Teoria do Desenvolvimento Capitalista.
Foram muito importantes os estudos de economia política na FACE/UFMG. Theotônio leu os textos clássicos de Adam Smith e David Ricardo, os neo-clássicos e Keynes. Estudou intensamente a história econômica (com maior ênfase na economia contemporânea), utilizando o livro de Fritz Sternberg, Le Conflit du Siècle como referencia básica para este tema. Mas o principal vínculo de Theotônio com a economia se dava através da Teoria do Desenvolvimento, tendo François Perroux, Gunar Myrdal, W.W. Rostov, Hischman, Lewis, Celso Furtado e Ignácio Rangel como guias.
No campo da ciência política, além da leitura dos clássicos de Maquiavel a Harold Laski, havia o contato com Maurice Duverger, Lasswell e vários norte-americanos. Porém, o autor que marcou-o profundamente no estudo da filosofia do Estado foi Hermann Heller com seu enfoque mais global e hegeliano do Estado. Foi forte também a influência de Goldman e Luckacs cujos História e Luta de Classe e Assalto à Razão foram livros fundamentais na visão de Theotônio sobre a ideologia e a consciência de classe. Ao se formar da UFMG em 1961, Theotônio já podia se considerar realmente um marxista no sentido de que sua formação teórica em Marx e Engels estava quase completa e em geral se identificava com a sua démarche teórica.
Theotônio iniciou também um estudo da história do movimento operário e das revoluções sociais modernas, acompanhado de uma voluptuosa leitura dos marxistas clássicos desde Kautsky, Rosa Luxemburgo, Plekanov, Lenin, Trotski, Bukharin, Preobrajenski e outros. Leu também Bernstein e outros pensadores da corrente “revisionista”, sobretudo o austro-marxismo, incluindo-se aí as obras de Hilferding, Adler e outros. Durante 1962-1964, quando Theotônio realizava seu Mestrado em Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), ele se fez paralelamente e definitivamente um especialista em história do marxismo.
Esta formação marxista se aliava a uma compreensão e a um estudo profundo da realidade brasileira, cuja literatura interpretativa ele dominava quase que completamente. Ainda aluno da FACE/UFMG, Theotônio estudou as teorias brasileiras do desenvolvimento, lendo toda a obra de Celso Furtado, Roberto Simonsen, Caio Prado Júnior e Nelson Werneck Sodré. Posteriormente Theotônio foi aluno de Sodré no curso de mestrado da Universidade de Brasília, onde ele ministrou uma disciplina sobre civilização brasileira.
Na pós-graduação da UnB, Theotônio também fez um curso com a CEPAL— Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (que firmou um acordo com a UnB para oferecer uma visão sintética do curso a CEPAL realizava em sua sede em Santiago, Chile). Ele dialogava com o chefe do Departamento de Ciência Política da UnB, Victor Nunes Leal, autor de Coronelismo, Enxada e Voto, e grande pensador da ciência política e do direito. A UnB foi uma experiência extremamente rica no campo pedagógico, mas também pelo contato com o que havia de mais ousado na intelectualidade brasileira. Foi na UnB também que Theotônio conheceu André Gunder Frank, com quem iniciou uma colaboração de décadas. Junto com Ruy Mauro Marini e Vânia Bambirra, então esposa de Theotônio, formaram um trio polemizado no mundo inteiro.
Em 1959, no começo da sua participação partidária, Theotônio aproximou-se com Paul Singer (um dos fundadores da Política Operária) que colocou-o em contato com a obra de Paul Baran, ponto de referencia fundamental na visão de Theotônio sobre o problema do desenvolvimento. No Congresso Brasileiro de Sociologia, que se realizou em Belo Horizonte em 1960, Theotônio fez seus primeiros contatos com Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, Otávio Ianni, Luís Pereira e tantos outros com os quais ele mantinha contato seja em São Paulo entre 1964-66, quando lá vivia na clandestinidade, depois de ser demitido sumariamente da UnB, imediatamente após o golpe de Estado de 1964, seja no exílio, onde desenvolveu uma ampla colaboração intelectual com Fernando Henrique Cardoso e Francisco Weffort, sobretudo, no Chile.
Em 1961, havia fundado junto com companheiros da Juventude Trabalhista de Minas Gerais, da Juventude Socialista do Rio de Janeiro, de São Paulo e da Bahia e outros grupos como a Liga Socialista de São Paulo, a Organização Revolucionária Marxista, “Política Operária” que ficará conhecida como POLOP. A POLOP marcou profundamente a evolução da vida política brasileira e latino-americana e representou a crítica de esquerda mais radical ao stalinismo e aos partidos comunistas, ao mesmo tempo em que superava também os limites do trostkismo, totalmente prisioneiro da experiência soviética e do confronto Trotsky-Stalin. A POLOP se voltava para a experiência política contemporânea, particularmente no Terceiro Mundo e na América Latina e se inscrevia claramente no processo gerado pela revolução cubana em curso e pelas tentativas internacionais e locais de detê-la.
Neste período, Theotônio iniciou também um estudo do desenvolvimento da contra-insurreição no continente que conduziu ao golpe de Estado no Brasil. A crítica ao movimento de esquerda se concentrava em sua incompreensão do caráter capitalista da economia brasileira, ainda que dependente. Daí a impossibilidade de superar os obstáculos ao desenvolvimento do mercado interno que exigia a reforma agrária e a superação das relações internacionais de dependência, sem um governo de trabalhadores da cidade e do campo, que não se limitaria a transformações democráticas e capitalistas no país, mas o levaria a um processo socialista revolucionário. Theotônio assumiu a direção nacional da POLOP em 1964, se envolveu numa ativa militância política nos movimentos estudantil, sindical, de favelas e camponês, além da participação em campanhas eleitorais e no debate ideológico. Foi neste contexto de amplo debate ideológico e militância política que Theotônio iniciou a sua atividade científica.
Rumo a uma Teoria da Dependência
Depois do golpe de 1964, Theotônio foi demitido sumariamente da Universidade de Brasília e teve que se retirar à clandestinidade, na qual viveu entre 1964 e 1966. Iniciou então um trabalho sobre as origens do golpe de 1964, que se concentrou na tentativa de explicar a crise cíclica que o Brasil vivia desde 1961. Theotônio mostrou que durante um longo período histórico, as crises econômicas brasileiras se explicavam, sobretudo, pelos movimentos cíclicos mundiais. A partir da década de 50, começavam a manifestar-se novos ciclos econômicos de 10 e 4 anos, como resultado do desenvolvimento industrial do país e da instalação de uma indústria de maquinarias. Enfim, o Brasil tinha um ciclo econômico interno do tipo encontrado nos países capitalistas desenvolvidos. Ao mesmo tempo, o processo de desenvolvimento capitalista conduzia a uma crise estrutural caracterizada pela incapacidade de ampliar os mercados internos e externos para assegurar a continuidade da acumulação capitalista.
Dessa forma, Theotônio situou o processo político de 1961-64 dentro do processo de acumulação capitalista, das lutas sociais nela enraizadas e das propostas de várias classes sociais para solucionar a grande crise que estava em curso. Ele mostrou também que a política representada pelo golpe de Estado de 1964 estava fundada sobretudo na hegemonia do grande capital internacional sobre a economia brasileira e que essa hegemonia assumiu a forma da repressão, do terror, da eliminação física, moral e psíquica do adversário dentro de um contexto similar ao que conduzira a Alemanha, por exemplo, ao nazismo e a Itália, ao fascismo.
Estas análises conduziram Theotônio a escrever os primeiros artigos que saíram na imprensa brasileira sobre a questão do fascismo 4, tema retomado por vários autores posteriormente. Este conjunto de trabalhos levou-o à preparação de um livro intitulado Crise Econômica e Crise Política, que não pôde ser publicado no Brasil e que só foi publicado no Chile, com importantes transformações, inscrevendo o caso brasileiro dentro da realidade latino-americana. Theotônio procurou mostrar que o golpe de Estado no Brasil era o início de um ciclo golpista, cujo conteúdo seria similar, e levaria à formação de governos identificados com o grande capital internacional, ao mesmo tempo modernizadores, concentradores e repressivos, que atendiam às necessidades da acumulação do capital na região. Theotônio apontou também os limites da proposta fascista, prevendo mesmo sua radicalização, através da radicalização dos métodos de repressão, entre outras coisas devido a estreiteza de sua base social.
No livro que publicou em 1968 sobre o Socialismo ou Fascismo: o Dilema da América Latina,
Theotônio afirmava: “Como conclusão podemos dizer que se existe uma ameaça fascista crescente no país ela está limitada por poderosas contradições internas que desorientam sua estratégia e sua tática política. Vimos também que o matrimônio entre interesses tão contraditórios abortaria um regime monstruosamente incapaz e só sobreviveria na incubadora do imperialismo.”
Este enfoque levou a conclusão de que para vencer o fascismo e para implantar uma alternativa democrática na região, era necessário agrupar as forças sociais por ele excluídas, entre as quais tinham especial papel os trabalhadores. Por isto, acreditava-se que a tendência daqueles que lutassem contra este fascismo dependente seria a de propor uma política econômica contra o grande capital nacional e internacional que exigiria uma evolução para o socialismo.
Dessa forma, o socialismo aparecia como a única alternativa viável para o fascismo. Isso de forma alguma negava a possibilidade de um processo de transição democrática. Mas no desenvolvimento da democracia em uma sociedade altamente concentrada economicamente e produzindo uma marginalidade e uma dependência econômica crescente, dificilmente poderia manter-se sem provocar profundas contradições entre o voto das maiorias e os interesses das minorias que controlavam esses países.
Esta era a temática do livro Socialismo ou Fascismo: o Dilema da América Latina, que foi editado em diversos países e produziu um debate enorme na América Latina, passando a ser um ponto de referência fundamental das Ciências Sociais na região. Além disso, ele lançava várias teses novas e reorientava o pensamento social latino-americano para uma temática completamente diferente daquela que predominava até 1964-66.
Vale ressaltar aqui o artigo publicado na revista norte-americana The Insurgent Sociologist, comparando o livro de Theotônio, Socialismo ou Fascismo e o de Nikos Poulantzas sobre o mesmo tema analisando os casos da Grécia e dos países do sul da Europa 5. Esse estudo comparativo mostra a retomada da temática do fascismo num momento histórico em que as articulações e ações na direção de um fascismo a nível mundial se agudizavam cada vez mais, o que de fato ocorreu até o golpe de Estado no Chile, em 1973, que marcou um ponto crucial de reversão do processo (apesar de que ainda em 1975, na Argentina, houve um novo momento de avanço do fascismo). Não há dúvida, contudo, que a partir de 1973, o quadro mundial começa a reverter-se e começam a cair, pouco a pouco, os regimes fascistas, até a sua extinção total na década de 80.
Ao lado desse trabalho, Theotônio participou de um estudo sobre a estrutura industrial do Chile, organizado pelo Centro de Estudos Sócio-Econômicos, da Universidade do Chile (onde ele se incorporou em 1966), através de questionários aplicados aos empresários chilenos. Ao mesmo tempo, aprofundava os estudos sobre a classe empresarial e a estrutura industrial brasileira. Como conseqüência desses esses estudos, ele formulou as teses fundamentais do livro O Novo Caráter da Dependência (Cuadernos del CESO, Santiago, 1967) no qual chamava atenção para o fato de que as Ciências Sociais estavam trabalhando com uma imagem da América Latina baseada numa realidade já superada. Pensava-se uma América Latina agrária quando o setor industrial já era o pólo dinâmico na região. Portanto, era necessário estudar esse processo de industrialização que tinha características bastante específicas. Em, primeiro lugar, porque era um processo de industrialização que se fazia em grande parte com capital internacional e não com capital local. Em segundo lugar, este processo se fazia a partir de uma tecnologia já altamente concentrada e que absorvia pouca mão-de-obra; uma tecnologia de alta sofisticação que se dirigia à produção de produtos para um padrão de consumo de um setor muito minoritário. Tudo isso conduzia a uma grande concentração econômica e a um reduzido impacto ocupacional.
Em 1967, Theotônio criou no CESO da Universidade do Chile uma equipe de pesquisa sobre a dependência econômica da América Latina. Em 1968, ele produziu um texto de conteúdo metodológico sobre a crise da teoria do desenvolvimento e as relações de dependência na América Latina, publicado junto a outros autores (Hélio Jaguaribe, Aldo Ferrer, Miguel Wionczek e Theotônio dos Santos, La Dependência Político-Econômica de América Latina) pela editora Siglo XXI (publicaram-se mais de dez edições) e que foi a base do grande debate do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais que se reuniu no Peru, em 1968. O texto de Theotônio também foi publicado na França, na Inglaterra e na Itália, entre várias outras edições. Há inclusive uma edição do livro citado em português, Edições Loyola, Cortez & Moraes, 1976 que, ao que parece, não teve a mesma repercussão do que em outros países.
A partir dessas considerações metodológicas, a temática foi sendo abordada sistematicamente por mais e mais autores. Theotônio voltou-se para a análise dos Estados Unidos e produziu um livro A Crise Norte-americana e a América Latina, no qual retomava o conceito das ondas longas de Kondratiev para explicar o movimento econômico que vai da crise de 1914-18 até o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945 e, em seguida, o crescimento econômico acelerado de 1945 até 1967. Esta visão das ondas longas permitiu-o prever o início de uma nova crise de longo prazo que se anunciava em 1967 e que explicava os grandes movimentos sociais de 1968. Em 1973, a crise do ajuste do preço do petróleo também provocou novos debates a nível internacional e definiu-se uma situação de depressão econômica entre 1973 e 1975. Em seguida, analisou como as crises se manifestam nos países dependentes, mostrando como as crises surgiram, sob o impacto do setor externo, nas economias exportadoras.
A Crise Norte-americana e América Latina foi publicado no Chile, na Argentina e na Colombia bem como em edições não autorizadas em outras países. Foi também a base para um livro que Theotônio publicou em italiano, sobre a crise do capital. Estes estudos foram paralelos às pesquisas que fez sobre as empresas multinacionais, sobretudo nas viagens que realizou aos Estados Unidos, em 1969 e 1970. Primeiro, como professor visitante da Northern Illinois University, depois como conferencista na Associação Norte-americana de Economia. Nesse período, Theotônio realizou um amplo estudo sobre as multinacionais tendo acesso a vasto material empírico. Raymund Vernon, da Universidade de Harvard, muito gentilmente mostrou-o sua ampla pesquisa sobre as corporações multinacionais. Utilizou também a biblioteca da Harvard Business School. Teve acesso ainda à documentação do Senado e do Congresso norte-americano assim como da biblioteca da Exchange Comission, onde ele analisou os balanços das principais multinacionais.
De volta ao Chile no segundo semestre de 1969, Theotônio levou consigo grande parte do material arrecadado nos Estados Unidos, auxiliado por uma pequena bolsa Rabinovitz Foundation que Paul Sweezy e Harry Magdof conseguiram-lhe. Sweezy tinha convidado Theotônio a apresentar um paper sobre a dependência econômica na Comissão sobre Economia Política do Imperialismo que ele organizou no Congresso Norte-americano de Economia. Este paper foi publicado na American Economic Review, e foi reproduzido em vários readers, tornando-se o texto básico para a definição das relações de dependência em todos os tratados e manuais sobe economia e política internacional. Este artigo sintetizava os avanços teóricos realizados nestes anos e da equipe de pesquisa sobre dependência que formara no CESO.
A pesquisa que Theotônio conduzia sobre as relações de dependência no CESO deu origem a vários trabalhos dos pesquisadores que trabalhavam com ele. Em primeiro lugar, destaca-se o estudo de Orlando Caputo e Roberto Pizarro sobre As Relações de Dependência e as Relações Econômicas Internacionais, que se transformou também num marco das Ciências Sociais latino-americanas, com publicação no Chile e na Costa Rica e tradução para vários idiomas. Eles demonstravam com clareza e ampla documentação empírica o papel dominante do movimento de capitais para explicar as relações de dependência e mostravam que a crise da dívida externa seria o ponto crucial e a síntese destas relações como de fato ocorreu na década de 80.
Em seguida, dentro da pesquisa, estava o estudo de Vânia Bambirra sobre a tipologia da dependência na América Latina. Ela propunha uma tipologia baseada nos graus de industrialização, nos períodos históricos em que se deram os processos de industrialização na região. Expunha as bases de um processo de reprodução dependente que permitia entender as modalidades da dependência e a passagem da dependência do setor primário-exportador para o setor secundário, ligada à lógica do processo de industrialização. Esse trabalho foi publicado em espanhol no México, no Chile e em vários países da América Latina, bem como em italiano e vários outros idiomas e foi também um ponto de referencia muito fundamental nos estudos sobre a dependência da região.
Depois de dirigiu a parte de pesquisa e docência do CESO durante um longo período, Theotônio assumiu a direção geral do CESO, e conseguiu formar uma pleide de cientistas sociais do mais alto nível, com seminários extremamente importantes sobre vários temas. Em torno do CESO estiveram vários autores, além dos citados, entre os quais destacam-se Andre Gunder Frank, Ruy Mauro Marini, Tomas Vasconi, Marta Hannecker, Marco Aurélio Garcia, Emir Sader, Pio Garcia, Clarisa Hardy, Alejandro Scherman, Cristina Hurtado, Christopher Kay, Álvaro Briones, Guillermo Labarca, Laureano Ladrón de Guerra e muitos outros, como o Padre Arroyo que se juntou a nós num período pequeno e Régis Debray que participou de seminários de CESO depois da saída da prisão na Bolívia.
Durante esse período, Theotônio completou também alguns trabalhos de nível conceitual e metodológico, que aprofundavam a temática da dependência. Publicou pelo CESO em co-edição com o editoral PLA: Imperialismo e Corporações Multinacionais, traduzido para o português de Portugal e do Brasil em duas edições distintas (Centelha em Portugal e Paz e Terra no Brasil). Publicou também neste período Dependência y Cambio Social, pela mesma editora chilena. Como os outros livros, este foi também publicado na Argentina e na Venezuela. Uma outra parte dessa produção se perdeu durante o golpe de Estado de 1973. Theotônio e sua equipe também iniciou um estudo sistemático sobre o capitalismo contemporâneo analisando a problemática da concentração tecnológica, da concentração econômica e industrial, da monopolização, da centralização financeira, do capitalismo de Estado e do processo de internacionalização de capital. Este estudo se completava com a análise do processo de trabalho, do emprego e desemprego, da evolução da sociedade capitalista contemporânea, do ponto de vista das relações de classe, da ideologia e do sistema de poder. Embasando nas teorias marxistas-leninistas, principalmente, nas teses apresentadas por Sweezy e Baran, Theotônio e seus colegas fundaram a escola da Nova Dependência, uma nova vertente da Teoria da Dependência, que preconiza a inevitabilidade do socialismo como a única alternativa viável para a situação da dependência. Em torno dessa temática desenvolveram um conjunto de cursos na Faculdade de Economia da Universidade do Chile, além dos seminários que realizaram no próprio CESO.
É importante assinalar que estes estudos sobre a dependência tiveram um impacto político muito grande porque influenciaram muito fortemente a formulação do programa de governo da Unidade Popular no Chile. Este programa assimilava uma das teses centrais da teoria da dependência ao definir o Chile como uma economia já capitalista, com um alto grau de monopolização e concentração. Em conseqüência o governo da Unidade Popular não se propunha somente a realizar um desenvolvimento capitalista que eliminasse os bloqueios pré-capitalistas ao desenvolvimento, mas propunha-se a enfrentar os monopólios nacionais e internacionais criados pelo próprio desenvolvimento capitalista dependente. A reforma agrária (que estava se realizando no campo desde o governo da Democracia Cristã e que se aprofundou durante a Unidade Popular) e a nacionalização do cobre (que se realizou durante este governo) foram mudanças que sobreviveram ao regime ditatorial. Mas a reforma agrária e a nacionalização do cobre eram insuficientes para garantir o desenvolvimento capitalista independente do país, e não eram capazes de atender as necessidades da população e enraizar uma democracia profunda no país. Daí a necessidade de que o governo também interviesse no setor capitalista industrial, de caráter monopolista e concentrador, e o orientasse a serviço da maioria da população. Este programa desembocaria, inevitavelmente, num regime econômico de tipo socialista e por isso, a Unidade Popular não propunha somente uma modernização do capitalismo no Chile e sim uma transição para o socialismo.
Foi a primeira vez na história em que uma força política chegava ao poder propondo a transição para o socialismo dentro dos marcos legais e políticos existentes numa democracia liberal. Por isso, a experiência chilena causou um grande interesse mundial, o que levou o CESO a realizar, em outubro de 1971, um simpósio sobre a “A transição ao socialismo e o governo da Unidade Popular”. Esse simpósio atraiu alguns dos mais importantes pensadores e pesquisadores sobre o capitalismo contemporâneo e o socialismo como Paul Sweezy, Lelio Basso, Rossana Rosanda. O simpósio deram origem a um livro publicado no Chile pouco antes do golpe de Estado de setembro de 1973, quando teve sua edição apreendida. O livro foi publicado também em italiano, em português de Portugal e em espanhol. Este simpósio representou talvez a avaliação mais profunda sobre as possibilidades e os limites do projeto da Unidade Popular: De fato, historicamente, a limitação pequeno-burguesa dos processos revolucionários não levou à consolidação do projeto pequeno-burguês mas ao fascismo. As vacilações da social-democracia alemã, dos socialistas italianos, da República Espanhola, não levaram senão ao fascismo. A moderação pequeno-burguesa freqüentemente convertia-se na ante-sala do extremismo fascista. No Chile, a história se repetiu.
Dentro dessa mesma linha, criaram o seminário Chile Hoy, dirigido por Marta Hannecker. Chile Hoy analisou e debateu todos os problemas vinculados à experiência chilena na sua dimensão histórica, política e econômica, nacional e internacional. Theotônio Publicou vários artigos de análise desta experiência que foram recolhidos em várias publicações. Esses trabalhos o projetavam na vanguarda do debate intelectual chileno e latino-americano, mas encontrariam o seu ponto de inflexão com o golpe de Estado em setembro de 1973 quando Theotônio foi incluído na primeira lista dos perseguidos políticos chilenos (não como estrangeiro, mas como chileno mesmo). Isto mostra o grau de identificação a que Theotônio chegou com aquele processo político não somente nas suas dimensões intelectuais e científicas. O golpe de Estado significou sua demissão do CESO e o segundo exílio. Desta vez, ele foi para o México, onde encontrou uma acolhida extremamente favorável e onde iniciou uma nova fase do trabalho intelectual.
Um Momento de grande tensão entre o teórico e o prático
Primeiramente, o grupo das potências centrais, que deram origem à expansão industrial moderna e que se colocavam no centro do sistema mundial como forças imperialistas que se projetavam sob o resto do mundo, seja para obter recursos para processos produtivos, seja para comandar o processo produtivo mundial ou seja para extrair excedentes econômicos, também a nível mundial, através da exploração da força de trabalho existente no mundo. Isso realizava-se basicamente através do movimento de capitais, dando origem às corporações multinacionais que Theotônio definia como a célula do capitalismo contemporâneo. Ele compreendeu este capitalismo contemporâneo como um resultado histórico da acumulação de capital e da sua dinâmica econômica. Claro que este processo estava associado ao avanço da ciência, da tecnologia e da intervenção do Estado como organizador do processo produtivo e refletia também os interesses em jogo dos grupos e classes sociais.
O segundo grupo, os países dependentes, como uma formação social diferente, produto deste processo de expansão mundial. Eles se diversificavam de acordo com variações civilizacionais e com o grau de desenvolvimento de uma classe ou grupo social local, que era capaz de conduzir sua relação com a expansão do sistema capitalista mundial, seja no sentido de submeter-se ou seja no sentido de resistir a ela. Colocava-se, então, a temática da dependência como fenômeno estrutural que afetava a formação histórica e o comportamento de todas as classes, grupos, setores e interesses sociais que se articulavam nesta “situação de dependência”. As análises das leis de funcionamento da economia, da sociedade, da política e da superestrutura ideológica numa situação de dependência estrutural deram origem a uma teoria da dependência, assim como o esforço de compreender o processo de expansão mundial do primeiro grupo de países centrais deu origem a uma teoria do imperialismo e do capitalismo contemporâneo.
O terceiro grupo de formações sociais era os países socialistas. Eles variavam entre si porque partiam de bases sociais completamente distintas. Entre eles se encontrava, por exemplo, a União Soviética, que já dispunha contudo de uma importante base industrial moderna e de um alto grau de desagregação das estruturas tradicionais ao iniciar sua transição para o socialismo. No caso da China, ela representa a maior concentração humana no planeta e a mais antiga experiência histórica de continuidade civilizacional. Colocava-se no campo de análise a situação cubana antes da revolução, onde se encontrava uma economia já capitalista bastante avançada, mas orientada para o setor agrário exportador e de caracter tipicamente dependente. Theotônio também incluiu alguns países da África nesse grupo que lutavam pelo socialismo com uma economia tribal já destruída por relações capitalistas sem ter-se gerado um substituto viável. Restava ainda por analisar as outras experiências asiáticas como a Coréia do Norte e o Vietnam, o Laos e em parte a Cambodia— economias comunitárias de base agrícola, mas onde já se desenvolvia também um artesanato e um embrião de manufaturas e um comércio forte antes da transição para o socialismo. Apesar dessas origens tão diversificadas, este grupo de formações sociais enfrentavam problemas comuns: a pressão da guerra fria e do sistema mundial que se negava a aceitar uma diversidade de caminhos e alianças para alcançar a modernização e o desenvolvimento.
A idéia de analisar essas três grupos de formações sociais conduziu à necessidade metodológica de colocá-las como parte de um sistema mundial único. Um esforço que Theotonio iria realizar às vezes paralelamente às vezes conjuntamente, com colegas e amigos como Andre Gunder Frank, Samir Amin e Immanuel Wallerstein, que também concentraram seu esforço intelectual na década de 70 em provar a existência de um sistema mundial que teria se desenvolvido a partir da expansão européia dos séculos XV e XVI.
Raul Prebisch também fez uma grande elaboração intelectual na década de 70 para repensar o sistema “centro-periferia”, que havia imaginado ainda de forma intuitiva nas décadas de 40 e 50. Agora, porém, o impacto da teoria da dependência levou a repensar esse sistema mundial, que no seu caso tinha relação inclusive com a evolução do seu pensamento do plano latino-americano para o plano mundial com a formação da UNCTAD, que era uma afirmação do Terceiro Mundo dentro da economia mundial.
Desde a chegada de Theotônio ao México, no seu segundo exílio, em 1974, ele se empenhou na elaboração de uma teoria do sistema mundial, uma fase superior à teoria da dependência. O notável avanço dos “tigres asiáticos” na década de 80 tem sido apresentado como um caso de superação da situação de dependência dentro do capitalismo. Contudo, há vários elementos de excepcionalidade na sua situação especial dentro da guerra fria, além de haverem realizado uma reforma agrária com apoio internacional que os diferencia drasticamente dos países dependentes em geral.
A situação de Theotônio depois do golpe de Estado do Chile era bastante particular. Nesta época sentiu-se um duplo exilado: exilado do Brasil e exilado do Chile. Também exigia um grande esforço intelectual e político para explicar a onda fascista na América Latina, que alcançou seu máximo em 1975 com os golpes de Estado no Uruguai e no Chile chegando a ser radical e extremamente violenta na Argentina, com o golpe de 1975.
Neste momento a América Latina estava essencialmente sob a dominação de regimes militares à serviço de uma modernização capitalista sob a égide do capital internacional. Esta era a caracterização essencial desses regimes militares por Theotônio no seu livro Socialismo ou Fascismo: O Dilema da América Latina, aperfeiçoado posteriormente com a integração da análise da nova dependência, passando a se chamar Socialismo ou fascismo: O Dilema da América Latina e o Novo Caráter da Dependência.
Esta realidade fez Theotonio repensar o trabalho que havia feito até o momento. Ele organizou uma
reedição atualizada de Socialismo ou Fascismo, publicada no México em 1976, com um prefácio novo resituando este debate. Procurou sistematizar sua produção intelectual entre 1967 e 1973, retomando os livros sobre a crise norte-americana e a América Latina, sobre a dependência e mudança social e sobre imperialismo e corporações multinacionais e os refez dentro desta nova visão globalizadora no livro Imperialismo e Dependência, editado por Era e reeditado em pelo menos quadro edições durante este período e a década de 80.
Com estes livros, Theotônio alcançou um nível interpretativo bastante significativo da realidade contemporânea. Esta preocupação se completou com seus estudos sistemáticos sobre a estratégia e tática socialista. Isto deu origem ao livro que escreveu junto com Vânia Bambirra, A Estratégia e Tática Socialista, de Marx e Engels a Lenin. Eles ministraram vários cursos e seminários na Faculdade de Ciências políticas e Sociais da UNAM (Universidade Autônoma do México) que tiveram uma repercussão muito importante através de várias teses de doutorado que resultaram desses seminários.
Durante os anos no México, além desses trabalhos centrais, Theotônio retomou a análise do capitalismo contemporâneo e os estudos da revolução científico-técnica. Na Pós-Graduação de Economia da UNAM, ele coordenava uma equipe de pesquisa sobre a “A Economia Política da Ciência e Tecnologia” e iniciou um seminário com alunos de mestrado e de doutorado sobre a revolução científico-técnica e a sua implicação no comportamento do capitalismo contemporâneo. Theotônio se dedicou na análise técnico-metodológica sobre a relação entre as forças produtivas e as relações de produção. Esse trabalho iniciado no México seria por fim publicado no Brasil na década de 80.
No campo mais específico da relação entre a revolução científico-técnica e o capitalismo contemporâneo, Theotônio publicou vários artigos no México e na imprensa internacional, buscando analisar o impacto dessas transformações no comportamento do capitalismo contemporâneo. Publicou no México o texto “A Revolução Científico-Técnica: Tendências e Perspectivas”, onde avançou grande parte das idéias que constituíram a base para livros publicados no Brasil já na década de 80.
Neste período, Theotônio também se relacionou com a Associação Internacional de Estudos Sobre a Paz (IPRA, international Peace Research Association), sediada na Finlândia, que tomava como referência central os trabalhos de Theotônio e de Andre Gunder Frank. Em 1977, Theotônio organizou no México, um congresso da IPRA que deu origem à criação do Conselho Latino-americano de Estudos sobre a Paz, dando assim origem aos estudos sobre a Paz na América Latina. Havia então, um preconceito muito grande sobre esta temática, porém os pesquisadores mostraram que o estudo sobre a paz não se limitava a um debate sobre o pacifismo em si, mas sim num estudo profundo das causas da guerra e das perspectivas da superação da mesma. Esta temática constitui um dos pontos chaves da preocupação intelectual de Theotônio, que continuou colaborando com o IPRA, de cujo conselho diretivo passou a fazer parte neste período. Na sua volta ao Brasil, ele constituiu a Associação Brasileira de Estudos sobre a Paz, e colaborou também nos estudos sobre a paz na UNESCO e na Universidade das Nações Unidas. Foi neste contexto também que Theotônio viajou para o Japão em 1980, para proferir um dos discursos centrais do encontro sobre a Paz e desenvolvimento que serviu de marco à criação da Associação Asiática de Pesquisas sobreae a Paz, sob a direção do Professor Sakamoto. Theotônio afirmou que sua visita a Hiroshima, nesta oportunidade, por convite da Universidade de Hiroshima foi um momento crucial para sua formação humanística.
Nesta época, Theotônio participou das mesas redondas anuais de Cavtat, na Iugoslávia, sobre “o Socialismo no Mundo”, que permitiam ao acompanhamento do pensamento socialista mundial. Era aí em Cavtat, a única mesa onde a União Soviética e a China se sentavam para um debate comum sobre os destinos do socialismo. Criou-se um clima intelectual completamente novo, que ficou conhecido como o “espírito de Cavtat”. Nestas mesas redondas, sob a inspiração dos intelectuais e políticos iugoslavos, socialistas, movimentos de libertação nacional, social-democratas, comunistas se propunham a fazer um esforço para que se pudesse compreender realmente as tendências e a evolução da economia e política mundial e das questões nacionais na década de 70, até a metade da década de 80.
Estas mesas redondas deram origem à revista Socialism in the World (suspensa no início da década de 90, por razões evidentes da guerra civil vivida pela Iugoslávia), da qual Theotônio fazia parte do conselho editor e com a qual colaborou desde 1976 até 1986.
Nesta fase, Theotônio também se dedicou aos estudos sobre o Brasil e sobre a América Latina. No Chile, ele havia escrito um balanço histórico sobre a evolução socio-econômica e política do Brasil para integrar uma coleção de estudos sobre a América Latina, organizada por Ronald Chilcote e Joel Edelstein sob o título de Latin America’s Struggle with Dependency and Beyond, que teve a sua primeira publicação em 1974 e depois várias outras edições. No México, Theotônio tomou este material juntamente com outros artigos que publicara sobre o Brasil e utilizou-os como base para a elaboração do livro Brasil: La Evolucion Histórica y la Crisis del Milagro Econômico, publicado pelo Editora Nueva Imagem, México, em 1978.
Como já vimos, a produção mexicana de Theotônio abrangia diversas temáticas: o campo da teoria econômica, a analise do capitalismo contemporâneo e das formas de transição ao socialismo, o impacto econômico-social da ciência e tecnologia, teoria da dependência, os problemas do desenvolvimento da América Latina e a economia mundial. O seu trabalho se estendia ao nível internacional através da sua participação direta ou indireta nos debates da IPRA; da Associação de Economistas do Terceiro Mundo; das mesas redondas sobre o socialismo no mundo em Cavtat; da Comissão sobre Imperialismo e Movimentos Nacionais, dirigida por Abdel Malek da Associação Internacional de Sociologia; do Seminário Permanente Latino-americano que Theotonio fundou e coordenou no México; da Unidad de Investigacion Latinoamericana em Canadá...
Nesta época, Theotônio foi convidado como professor visitante do departamento de sociologia da State University of New York at Binghamton, nos Estados Unidos, onde tivera um contato estreito com o Instituto Fernand Braudel, voltado fundamentalmente para a história econômica a partir do estudo das ondas longas. Tanto o departamento de sociologia quanto o Instituto Fernand Braudel eram dirigidos por Immanuel Wallerstein. Essa oportunidade nova de voltar aos Estados Unidos, depois do período em que lá esteve como professor visitante da Northern Illinois University, o que possibilitou-o de retomar o contato com o grupo de Wallerstein e com os principais pensadores norte-americanos sobre esses temas.
Em 1979, com a anistia, Theotônio decidiu regressar ao Brasil. Voltou inicialmente para o estabelecimento de contatos do qual resultou a sua volta definitiva em janeiro de 1980. Essa volta ao Brasil é o começo de uma nova fase em que buscava criar aqui um instituto de pesquisa e docência com o enfoque do sistema econômico mundial, para estudar as formações sociais e o desenvolvimento econômico da América Latina e do Brasil em particular.
Ainda em 1979, no México, Theotônio havia organizado, na Divisão de Pós-graduação de Economia da UNAM, um debate sobre a volta da democracia no Brasil em que trouxe vários cientistas sociais brasileiros. Neste debate, Theotônio começou a sentir que sua volta não seria tão bem recebida... Havia grandes divergências entre a sua visão do processo de democratização brsileira e das implicações econômico-sociais, e àquela que vinha presidindo grande parte dos pensadores sociais no Brasil. Essas divergências foram manifestadas sobretudo no artigo de Fernando Henrique Cardoso e José Serra criticando o pensamento de Ruy Mauro Marini, onde Theotonio era apontado como uma expressão menos radical da Teoria da Dependência. Este artigo terminava inclusive com uma afirmação muito dura de que era preciso fechar à chave estas idéias para que não penetrassem na juventude brasileira. Era uma reação à influência internacional da escola Nova Dependência da qual Ruy Mauro Marini, Vânia Bambirra e Theotônio eram considerados como as figuras mais destacadas. Theotônio e seus colegas tinham uma visão profunda sobre os limites de uma economia dependente na condução do Brasil ao desenvolvimento e à democracia. A visão crítica marxista-leninista de Ruy, Theotônio e Vânia não soava bem num Brasil que queria se democratizar sem transformar a sua estrutura sócio-econômica e que, portanto, tentava um projeto de democracia extremamente limitada. Soava como uma voz distoante, a crítica da escola Nova Dependência sobre os limites de um desenvolvimento dependente, sobre suas tendências concentradoras e marginalizadoras, sobre o impacto social deste tipo de desenvolvimento.
Esta talvez tenha sido a razão principal pela qual Theotonio encontrou, na volta ao Brasil, extemas restrições para a sua rearticulação dentro da realidade brasileira.
De volta ao Brasil, Theotônio e Vânia integraram-se na Universidade Católica de Minas Gerais em entendimentos com o reitor para aí criar um Instituto de Pesquisa e Docência sobre os problemas do desenvolvimento contemporâneo. Entre 1980 e 1981, ele se dedicou a criar as condições para este Instituto. Trouxe para o Brasil a missão da FLACSO – Faculdade Latino-americano de Ciências Sociais que desenvolveria um curso junto a este Instituto. Contudo, por razões até hoje não explicadas, a Universidade Católica de Minas Gerais, logo quando o reitor, Dom Serafim, se retirou para dedicar-se a outras funções, o novo reitor resolveu abandonar o projeto. Daí, Theotônio e a esposa Vânia se retiraram desta universidade e passaram a se dedicarem à pesquisa.
Com o apoio do CNPq, Theotônio se integrou na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais, a sua faculdade de origem, onde ele se concentrou na viabilização da pesquisa que já vinha realizando no México sobre a revolução cientifico-técnica e o capitalismo contemporâneo, sob o título mais geral de: “Economia e Política da Ciência e Tecnologia”.
Posteriormente, como diretor de treinamento da FESP – Fundação Escola de Serviço Publico de Rio de Janeiro, Theotônio deu seguimento ao estudo sobre os movimentos sociais no Brasil, cujos resultados foram publicados no número dois da revista Política e Sociedade, que era editada pela própria FESP.
Durante a década de 80, Theotônio foi chamado pelo CNPq para realizar uma consultoria sobre o desenvolvimento cultural e científico e as suas relações e interrelações. Um trabalho desta consultoria foi apresentado numa reunião da UNESCO, que posteriormente, solicitou Theotônio um estudo sobre a introdução dos estudos sobre a Paz nas universidades brasileiras. Este trabalho de consultoria se desdobrou em seminários sobre os estudos e a educação para a Paz. Theotônio realizou ainda para a Universidade das Nações Unidas um estudo sobre os direitos humanos e a educação para a Paz na América Latina em co-autoria com Gustavo Senechal.
Por ocasião do Congresso do IPRA, realizado no Brasil, Theotônio publicou um artigo na revista da Universidade de Brasília, colocando a inevitabilidade de encontrar uma saída a curto prazo para o terror nuclear e de criar as condições para uma civilização planetária. Paralelamente, realizou um conjunto de seminários e cursos que visavam trazer para o Brasil esta problemática. Como diretor da FESP, Theotônio organizou, em 1984, o primeiro congresso internacional sobre “Política Econômica: Alternativas para a Crise”, que contou com a participação de um grupo de cientistas sociais e economistas de grande renome internacional e foi objeto de ampla cobertura pela imprensa nacional e internacional. Nessa ocasião, fizeram um balanço da crise econômica internacional que reforçava a tese de que o mundo estava na fase b do quarto ciclo longo de Kondratiev, segundo um consenso cada vez mais extenso. Neste momento, ele já buscava avançar além da análise das características fundamentais dessa crise econômica e tentava discutir as perspectivas de uma recuperação da economia mundial nos meados da década de 90, chamando atenção para as conseqüências da crise da dívida externa dos países do Terceiro Mundo e dos países socialistas. Parte dos resultados deste congresso foram publicados no primeiro número de Política e Administração, a revista da FESP, e outra parte na revista Terra Firme, sob a direção de Vânia Bambirra.
Em 1985, organizou e coordenou também na FESP, o seminário “Ciência e Tecnologia e Reestruturação da Economia Mundial”, que prolongou as discussões sobre o tema e o seu impacto sobre as políticas científico-tecnológicas. Este seminário foi realizado sob a égide do Conselho Latino-americano de Poltica Científico-Tecnológica, tendo na figura de Leonel Corona a sua principal expressão.
Ainda em 1985, organizou com Ruy Mauro Marini, o curso comemorativo de “Trinta Anos de Bandung”. Este curso, que foi patrocinado pela Universidade das Nações Unidas (UNU), trazendo uma pleide de economistas que deram cursos para estudantes brasileiros, latino-americanos, africanos e asiáticos. Através do curso, a UNU visava repensar a problemática economia do mundo contemporâneo à luz do papel histórico representado pela conferência de Bandung.
Ainda na direção da FESP, organizou um curso de pós-graduação lato sensu, sobre América Latina, que contou com o apoio do CNPq e foi feito em conjunto com a FLACSO – Faculdade Latinoamericano de Ciências Sociais, além de ter trazido um conjunto de pensadores latino-americanos e de outros regiões que muito influenciaram o repensar da posição da região na economia e política mundial.
Em 1986, participando das pesquisa da Universidade das Nações Unidas sobre as perspectivas latino-americanas, Theotônio organizou quatro reuniões regionais sobre movimentos sociais no Brasil, que deram origem à publicação de pelo menos dois livros: um coordenado por Emir Sader sobre os movimentos sociais em São Paulo e outro coordenado pelo Departamento de Ciência Política da UFMG, sobre os movimentos sociais naquele estado. Essas reuniões que Theotônio organizou e presidiu culminaram de certa forma na realização do Congresso Latino-americano de Sociologia em 1986, ocasião em que ele foi eleito presidente da Associação Latino-americana de Sociologia. Este Congresso representou um grande debate sobre a questão da democracia na região.
Em 1989, Theotônio organizou na UnB o X Seminário sobre “Sistema Econômico Mundial” que tratou da crise financeira internacional e dando continuidade ao conjunto de debates sobre este tema. Ao lado deste seminário, e aproveitando a presença de vários especialistas no país, ele organizou um ciclo de palestras junto à Associação de Economistas de Brasília, o chamado “I Seminário sobre Economia Mundial”. Aproveitou também os latino-americanos presentes para armar junto à Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados o seminário “A integração Latino-americana” que se realizou na Sub-comissão da América Latina com o objetivo de assessorar a discussão da questão da dívida externa brasileira junto à Câmara dos Deputados.
Theotônio participou dos outros seminários latino-americanos sobre a crise da dívida externa e seus efeitos. Participou em 1985, como convidado de Fidel Castro, do “Encontro de Personalidades Latino-americanas sobre a Divida Externa”, realizado em Havana. Posteriormente, também em 1985, ele participou de um fórum organizado pela Prensa Latina sobre a situação financeira internacional que tinha como objetivo discutir o problema da dívida externa com especialistas de toda região. Em ambas ocasiões, Theotônio teve oportunidade de discutir com Fidel Castro e altos dirigentes de Cuba sobre as perspectivas da crise econômica e sobre a política científico-técnica de Cuba que já naquela época orientava-se para a pesquisa de ponta na bio-tecnologia.
Ainda em 1985, Theotônio foi aos Estados Unidos para a realização de uma conferência sobre América Latina no Centro de Pós-graduação da City University of New York (CUNY). Ele retornou também à State University of New York in Binghamton, onde proferiu também uma palestra. Em Washington, realizou várias palestras entre as quais se destaca uma sobre a situação política da América Latina na Escola Nacional de Diplomatas em Washington, D.C. Esta viagem foi muito importante para Theotônio, pois esteve em contato com senadores, deputados e autoridades do governo, discutindo não só as relações entre o Brasil e os Estados Unidos, como também a política norte-americana em relação ao mundo e à América Latina.
Em 1988-89, Theotônio realizou uma viagem de dois meses à Europa no contexto de uma pesquisa sobre a revolução científico técnica e o processo de regionalização da economia mundial. Foi conferencista na Maison des Sciences de l’Homme em Paris, onde realizou várias reuniões com responsáveis da política francesa e européia e visitou diversos centros de estudos sobre o desenvolvimento da OCDE e o GEMDEV, onde Theotônio proferiu palestras para o público formado de grandes estudiosos da economia mundial. Esteve também em Genebra na UNCTAD e no GATT e em Bruxelas onde Ricardo Petrella apresentou-lhe as pesquisas do FAST e da comunidade Européia.
Em seguida, visitou a União Soviética no momento crucial das eleições parlamentares em que Yeltsin se elegeu como deputado federal por Moscou. Theotônio participou do comício final de Yeltsin e percebeu a extensão da debacle do Partido Comunista Russo. Por estas e outras observações, voltou convicto da queda do muro de Berlim e da autonomia da Europa Oriental por ação consciente e decisiva da liderança política soviética com um forte apoio do povo russo. Durante o ciclo de conferencias que realizou na Academia de Ciências a convite de Volsky, diretor perpétuo do Instituto de América Latina e velho amigo de muitos anos, Theotônio percebeu a profundidade das mudanças em curso no país. Conversou e entrevistou altas figuras da administração do país e compreendeu a extensão das mudanças em marcha. A crise da União Soviética modificou e aprofundou sua visão sobre o socialismo.
Os debates nesse período ajudaram Theotônio avançar nas suas concepções iniciadas no CESO, no fim da década de 60 e o da década de 70, quando ele formulou o projeto de estudar as três grandes formações sociais contemporâneas: o capitalismo monopolista central e sua projeção imperialista, o capitalismo dependente e sua transição para o socialismo. Theotônio publicou o livro La Crise Internacional del Capitalismo y los Nuevos Modelos de Desarrollo, que não foi editado em português mas somente em espanhol, pela editora Contrapunto de Buenos Aires, Argentina, em 1987. Os textos reunidos neste livro faziam parta da tese que ele apresentou, e com a qual foi aprovado, no concurso para professor titular da Faculdade de Economia da UFMG, em 1985. Nesta oportunidade Theotônio recebeu também o doutorado por notório saber desta mesma faculdade, consolidando, portanto, o nível doutoral que já havia alcançado no Chile em 1967, no concurso para professor titular da Faculdade de Economia que, por sua vez, foi reafirmado, em 1977, no México, no concurso que fez para professor titular na UNAM. Sem esquecer também que na França, ele havia obtido o direito de apresentar a tese de doutorado na Universidade de Paris X, o que por dificuldades de tradução, acabou adiando, sine die.
Esses textos tentaram captar a essência das mudanças em curso na economia mundial e no sistema político mundial deste período. Em 1987, Theotônio se transferiu para a Universidade de Brasília, como conseqüência da anistia administrativa a que teve direito a partir da lei votada em 1985. Ao se integrar à UnB, uma das principais atividades foi a organização de uma equipe de pesquisa da qual resultou um conjunto de trabalhos sobre a economia mundial de 1988 até 1993. Como consultor do SELA, publicou um estudo sobre as mudanças na economia mundial e as condições políticas da integração latino-americana. Publicou também o livro sobre a revolução científico-técnica e a nova divisão internacional do trabalho: Democracia e Socialismo no Capitalismo Dependente, editado pela editora Vozes (Petrópolis, 1991).
Entre 1990 e 1992, Theotônio lecionou como professor visitante da Universidade de Ritsumeikan, em Kyoto, Japão e da Universidade de Paris VIII, na França. Durante o período, ele aprofundou os estudos sobre os processos de regionalização na Europa e na Ásia. De volta ao Brasil, no começo de 1992, continuou o contato com a região asiática, organizou um encontro entre pesquisadores japoneses e brasileiros na Universidade Federal Fluminense (UFF) juntamente com Luis Carlos Prado. Em novembro de 1992, Theotônio aceitou um convite para ir à China para participar de um seminário sobre o “Terceiro Mundo na Década de 90”. Além de realizar conferências em várias instituições chinesas, ele encontrou uma acolhida extremamente favorável que se expressaram na realização de entrevista para o principal periódico chinês de política internacional e a tradução e a posterior publicação do seu livro Imperialismo e Dependência em chinês. É interessante constatar que este mesmo livro já tinha sido publicado em japonês em 1985 mostrando que a temática do imperialismo e da dependência continua a despertar a atenção e a imaginação oriental quando querem enterrá-la no Ocidente. Esteve também de volta no Japão para realizar novas palestras e novos contatos.
Dessas atividades resultaram alguns trabalhos novos dos quais destaca-se o livro Economia Mundial, Integração Regional e Desenvolvimento Sustentável, editado pela Vozes em 1993, que reflete a visão de Theotônio sobre as novas tendências da economia mundial e a integração latino-americana. Vale ressaltar que as temáticas globais e regionais não afastou Theotônio dos estudos sobre o Brasil. Em 1994, publicou o livro A Evolução Histórica do Brasil – Da Colônia à Crise da Nova República, pela Editora Vozes, Petrópolis.
Também em 1994, Theotônio fez o concurso público e foi nomeado professor Titular da UFF. Montou uma equipe de pesquisa na Faculdade de Economia da UFF, o GREMIMT- Grupo de Estudos sobre a Economia Mundial, a Integração Regional e o Mercado de Trabalho. Theotônio propôs à UNESCO e à Universidade das Nações Unidas a criação de uma rede de estudos sobre a economia global e o desenvolvimento sustentável. A proposta foi aprovada e o trabalho iniciou-se em 1997. Uma séries de conferencias foram realizadas. Como resultado, ele ampliou o livro Economia Mundial, Integração Regional e Desenvolvimento Sustentável (editora Vozes, 1993), acrescentou um posfácio na 4a edição de 1999. Publicou também uma coleção de textos, América Latina ante la Crisis Mundial (Lima, Peru: Ediciones Mundo, 1999). Em 2000, Theotônio publicou A teoria da dependência, balanço e perspectivas (RJ: Civilização Brasileira). No meio do combate ao liberalismo, Theotônio publicou o livro Do terror à Esperança: Auge e Declínio do Neoliberalismo (São Paulo: Idéias & Letras, 2004).
Combate ao Neo-liberalismo
Desde os anos 1980, avançou o neo-liberalismo. Intensificaram-se as tentativas de privitizações dentro da economia mundial e os ataques ao papel do Estado. Theotônio não achou contraditório o avanço desta tendência neste período porque reflete uma reação à grande concentração de poder econômico nas mãos do Estado nas décadas de 60 e 70. Durante estas duas décadas, no Terceiro Mundo, por exemplo, estatizou-se todo o sistema petroleiro, o cobre e outras produções básicas, ao mesmo tempo em que houve a estatização do setor financeiro no México, em Portugal, na França, na Espanha e na Itália. A intervenção do Estado sobre a economia norte-americana se agigantou com o aumento do déficit publico de cerca de 50 bilhões de dólares no começo da década de 80, para 270 bilhões no final desta mesma década, quando a economia mundial passou a girar em torno do mercado interno norte-americano criado por enormes gastos estatais.
Uma das características mais negativas do movimento ideológico que inspirou a retomada conservadora do liberalismo clássico—o neoliberalismo— é a descrença na capacidade humana de produzir seu futuro. Segundo Theotônio, o objetivo final das políticas econômicas neoliberais é alcançar o equilíbrio das variáveis macroeconômicas. O equilíbrio é um fim em si mesmo. Assegura o funcionamento pleno do mercado que, por sua vez, é uma espécie de estado ótimo da vida humana, no qual as instituições se ajustam à natureza humana. O neoliberalismo nega sistematicamente o papel do planejamento, da autoconsciência coletiva voltada para o alcance dos fins que a humanidade se propõe. O ceticismo de seus teóricos diante desses valores, desejos e vontades é radical. Uma das teses mais queridas do neoliberalismo é o fim das ideologias, o fim da história, a racionalidade ou a adequação definitiva dos meios aos fins, o pleno desenvolvimento da ciência objetiva e instrumental que prescinde definitivamente dos valores e se concentra totalmente no desenvolvimento de um instrumento neutro.
“Nada mais tedioso do que essa proposta. Nada mais limitador e destrutivo, moral e emocionalmente. Fica ainda mais grave quando se percebe que só é possível alcançar o equilíbrio em pauta para um setor restrito da população mundial. O equilíbrio, quando é alcançado, é localizado, e só se efetiva se ignorar o destino das massas enormes de excluídos nos centros da economia mundial e particularmente nas zonas periféricas. E não há nenhuma força ou razão para que esse equilíbrio, já em si discutível, se generalize para todo o planeta.”6
A ofensiva neoliberal avançou agressivamente no Brasil durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Theotônio considerou extremamente positivo que o Brasil tenha eleito, em 1994, um presidente da República nascido da oposição à ditadura militar, instaurada em 1964, que é também um cientista social, estudioso da realidade brasileira, seja no plano sócio-econômico, seja no plano político e institucional. Contudo, FHC renegou o que tinha escrito ao abrir caminho à sua candidatura presidencial. Faz alguns anos que Fernando Henrique e seus seguidores falam sobre o fim da teoria da dependência, no sentido de negar as teses que ela levantou na década de 1960. A posição de FHC se embasa nas seguintes teses:
(a)existe a possibilidade de amenizar os efeitos desestruturadores das contradições criadas pela dependência, pela concentração da renda e do poder e pela marginalização social, por intermédio de políticas sociais;
(b)a acumulação capitalista dependente não é necessariamente mais contraditória que a dos países capitalistas centrais e nada obriga a que continue a se basear na super-exploração do trabalho, como propõe Ruy Mauro Marini em seu Dialética da Dependência;
(c)há possibilidade de conciliar o desenvolvimento capitalista dependente com regimes políticos liberais e democráticos;
(d)os regimes “autoritários –burocráticos” instituídos na América Latina no período 1960-1980 não foram formas de fascismo. Eles podiam—e de fato eram—ser substituídos sem violência por regimes democráticos viáveis e passíveis de consolidação histórica. Segundo essa tese, os inimigos do desenvolvimento são o populismo e o corporativismo, seja do Estado ou das instituições da sociedade civil. Voltou-se assim às teses dualistas, pré-teoria da dependência, que colocavam a questão do subdesenvolvimento como conseqüência do atraso de nossas sociedades tradicionais e não do caráter de dependência do nosso desenvolvimento capitalista;
(e)Em conseqüência, a consolidação da democracia no continente não depende de um rompimento da dependência, de uma destruição do poder hegemônico do capital monopolista, nem de uma reforma agrária ou qualquer mudança de formas de propriedade.7
Foram estas teses que fundamentaram a atuação política de FHC e do seu governo— um pragmatismo de origem direitista e conservador. Sem querem advogar uma crise social e política, nem mesmo prever para curto prazo uma comoção política revolucionária, Theotônio contestou a possibilidade de que o conservadorismo do governo FHC conduziria a uma atenuação das contradições sociais e políticas a médio e longo prazos. Apesar de que houve e ainda há espaço político para um conservadorismo reformista, mas, na opinião de Theotônio, “nada indica, portanto, que nosso crescimento como exportadores industriais venha reverter a tendência ao subemprego, à marginalidade e à exclusão social. Os dados vêm confirmando o aprofundamento dessa situação... O desenvolvimento do capitalismo dependente, particularmente nossa conversão em grandes exportadores industriais, não assegura maior absorção de mão-de-obra que no passado. Ao contrário, tudo parece indicar que as massas de desempregados, subempregados e marginalizados aumentarão nas nossas economias, em termos absolutos e relativos... Não há um limite econômico absoluto para o pleno desenvolvimento das forças produtivas no capitalismo dependente. Os limites são políticos. E a mudança das condições políticas e geopolíticas mundiais ou regionais pode alterar as condições políticas nacionais ou locais desses países, superando sua condição dependente. Em 1964, no Brasil, se o enfrentamento entre os setores nacional-democráticos e os setores liberais tivesse se mantido somente no plano interno, o golpe de Estado de 1964 fracassaria claramente, como fracassaram todas as tentativas anteriores de golpe. Dois fatores desestabilizaram a correlação de forças: a ação conspiratória do grande capital internacional investido no Brasil, que formou o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), e a ameaça direta de invasão de tropas norte-americanas, hoje plenamente reconhecida com a abertura dos papéis de Lyndon Johnson.”8
No combate às práticas neoliberais do governo FHC, Theotônio ressalta que a crise da dívida externa demonstrou claramente nossa condição de exportadores do excedente econômico para os centros da economia mundial. Este fato não poderia deixar de reacender as questões propostas pela teoria da dependência. Sob intervencionismo estatal perverso e autodestrutivo, os tecnocratas que comandam o Estado brasileiro chegam ao absurdo de emitir papeis sobre papeis de dívida pública para pagar os absurdos juros de uma divida publica artificialmente alimentada. Tudo isso em nome de uma “teoria” econômica segundo a qual a liberdade do mercado financeiro levaria a uma “explosão de consumo”, e eliminaria a poupança. Que direito têm de impor ao povo brasileiro esse brutal ônus fiscal em nome de uma tutela tecnocrática sobre nossa economia?
Os resultados dessa política são criminosos. Ela aprofunda a desigualdade social, reforçando a concentração da renda nacional na mão de um pequeno grupo. Ela privilegia um setor financeiro totalmente inútil. Os bancos não emprestam mais para nenhuma atividade econômica, pois seus recursos estão totalmente orientados para a especulação com a dívida pública. Ao mesmo tempo, os juros altos atraem os investimentos especulativos internacionais, provocando, de imediato, um alívio cambial mas, a médio e longo prazos, uma sangria brutal de recursos, como se pôde perceber claramente em 1997-1998 durante a crise financeira asiática e em todo o período do governo FHC.
Contudo, o mais grave é o efeito das altíssimas taxas de juros que chegaram a passar de 50% ao ano, num momento de valorização do Real e de baixa da inflação. Com a taxa média de juros que o governo assegura, a taxa de lucros terá de ser superior aos 60%, o que representa, em conseqüência, mais de seis vezes a média mundial, e nos preços têm de estar 30 a 40% mais altos que os do mercado internacional. Por isso, a desvalorização cambial em 1998 não provocou um aumento significativo das exportações.
Essa perversidade na renda nacional chegou a ser pelo menos cinco vezes maior que numa economia desenvolvida. Ela permite ainda que o Brasil recebe US$ 23 bilhões em 1994 e mais de 70 bilhões em 1995 para investir em títulos públicos que pagam juros de 50% ao ano ou que podem especular, com pouco risco, na bolsa de valores, obtendo mais de 100% ao ano. Em todo o período de FHC, de 1994 a 2002, os investidores estrangeiros lucraram no Brasil, em operações sem risco ou especulativas, o equivalente às reservas cambiais brasileiras conquistadas à custa da miséria da maioria do povo brasileiro. Somente uma pequena parte das divisas que ingressaram no Brasil se destinou a investimentos no setor produtivo. O grosso se destinou à especulação, à compra de empresas privitizadas e de algumas empresas nacionais, com ênfase crescente na internacionalização do sistema bancário brasileiro.
As políticas neoliberais de FHC demonstraram que, sem profundas reformas estruturais, países como o Brasil não poderão caminhar para a paz social, o equilíbrio econômico e uma solução pacífica de suas contradições. Pressionado pelas tomadas de fazendas lideradas pelo Movimento dos Sem Terra, FHC colocou um novo presidente do INCRA, mais liberal, que caiu em seguida. Aos trancos e barrancos, conseguiu sustentar posteriormente um quadro mais positivo no setor, mas não demonstrou qualquer vontade política de enfrentar essa questão vital, apesar de Ter o apoio da Igreja, e mesmo do capital internacional para uma reforma moderada. O governo de Fernando Henrique Cardoso foi se comprometendo cada vez mais com o programa de direita, visando conservar a situação da dependência, da concentração de renda e da exclusão social. Na opinião de Theotônio, “é simplesmente insano negar a gravidade dos problemas sociais que se acumulam no mundo moderno, a partir de duvidosos equilíbrios macro-econômicos obtidos muito a curto prazo, à custa de outros desequilibrios muito mais sérios.”9
Um Intelectual Planetário
A concentração da renda, do conhecimento e do poder se realiza de um lado da sociedade enquanto se produz o caos e a marginalização de milhões de seres humanos. De alguma forma a comunidade internacional foi tomando consciência desta problemática. A cúpula da humanidade para o desenvolvimento sustentável e o meio ambiente, a Rio-92, mostrou que as ameaças globais ao nosso planeta e à sobrevivência da humanidade são demasiado sérias. A possibilidade do holocausto nuclear (ainda em superação), as guerras inter-étnicas e de imposição de interesses econômicos, as agressões ao meio ambiente, a pobreza e a miséria da maior parte da população do planeta, o desenvolvimento da criminalidade e das atividades clandestinas e ilegais são tendências destrutivas, demasiado fortes para serem superadas sem uma ação consciente de toda humanidade. Por trás, de todas estas mazelas está o desemprego e a marginalização social. Ele surge diretamente da idéia de superioridade do mercado como alocador de recursos e como princípio orientador da vida econômica e social.
Na oportunidade da Rio-92, e em vários outros momentos das relações internacionais contemporâneas, a humanidade vem reafirmando a necessidade de uma ação consciente de planificação, baseada no pleno emprego, em oposição à retórica neoliberal que pretende entregar o destino da humanidade a entidades fantasmas como as “forças do mercado”.
Nas décadas de 80 e 90, os esforços acadêmicos de Theotônio se concentram na elaboração do conceito do sistema econômico mundial e do sistema mundial por trás da análise das três formações sociais contemporâneas. Os estudos e pesquisas sobre a Paz ampliaram a sua concepção sobre o papel da cultura e das civilizações sobre o sistema-mundo e seus componentes. A crise estrutural do capitalismo mundial mostrava também que o sistema mundial se encontrava num ponto crucial em que ele tinha que evoluir para mudanças mais radicais que exigiam um marco de análise mais amplo, um conceito que introduzisse a dimensão civilizatória. A grande crise internacional atual era não só uma crise econômica, política, social e até cultural, mas verdadeiramente uma crise civilizacional, no sentido de que a humanidade está caminhando para uma civilização planetária e que cabe à humanidade preparar os elementos políticos, econômicos, diplomáticos, institucionais e culturais que lhe permitam dar o salto para uma civilização planetária. Não uma civilização que fosse simplesmente a expressão da expansão capitalista e da expansão européia, mas sim uma expressão da pluralidade de civilizações que são o substrato dessa civilização planetária. Uma civilização pluralista, capaz de articular esta herança civilizacional que está no centro, inclusive da revisão do próprio conceito de desenvolvimento. Estas novas concepções se expressaram de forma especial durante a realização da UNCED (Rio 92). Os primórdios dessa civilização planetária se manifestaram na primeira reunião de chefes de Estado de toda a humanidade, a mais ampla, a mais importante, onde o conceito de desenvolvimento sustentado aparece como resultado dessa busca de uma dimensão planetária do mundo contemporâneo, um mundo que não pode mais ser visto simplesmente através de perspectivas nacionais, locais ou regionais; um mundo que tem que ser visto desde uma perspectiva planetária, pós-eurocentrista, pós-positivista, pós todas essas visões restritivas que impedem que a dimensão planetária seja um elemento fundamental da reflexão e da ação da humanidade.
Na comemoração dos 60 anos de aniversário de Theotônio, em 1998, a UNESCO publicou o livro Los Retos de la Globalización, Ensayos en Homenaje a Theotônio dos Santos (CRESALC—UNESCO, Caracas), que reuniu artigos de vários autores importantes para discutir os problemas da globalização, em homenagem ao seu renomado colaborador. Nesse livro, ele foi elogiado como um “intelectual planetário”. Em 2001, a Academia Chinesa de Ciências Sociais publicou a versão chinesa do livro pela editora Social Sciences Documentation Publishing House (de cujo Conselho Editorial participa Theotônio). Na “Apresentação da Tradução”, o coordenador da tradução Bai Fengsen comentou que Theotônio estudou, ao longo da sua carreira, os problemas do sub-desenvolvimento dos países dependentes, sempre buscando desvendar as leis do desenvolvimento capitalista. “Theotônio dos Santos é reconhecido no mundo inteiro como um dos principais fundadores da Teoria da Dependência, um pensamento muito importante na América Latina.”
Em resumo, recorremos ao comentário de Yuan Xingchang, pesquisador da Academia Chinesa das Ciências Sociais, na sua introdução da edição chinesa do Imperialismo y Dependência: Theotônio é um verdadeiro marxista-leninista. Ele aprofundou e desenvolveu as teorias marxistas-leninistas através da sua elaboração da Teoria de Dependência, e ao mesmo tempo, aplicou essas teorias brilhantemente nas análises sobre as realidades brasileira e latino-americana.
No presente, Theotônio está trabalhando para montar um Instituto Virtual das Relações Internacionais, com objetivo de articular os especialistas e os institutos de ensino e pesquisa sobre os problemas do desenvolvimento contemporâneo e das relações econômicas e políticas internacionais. Mais um esforço ele já vinha fazendo desde 1980 quando voltou definitivamente ao Brasil. Todo indica que, desta vez, ele conseguirá realizar o seu sonho de duas décadas.
Notas:
1- Professor recém doutor do IFCS/UFRJ. O autor foi orientado pelo professor Theotônio dos Santos no seu mestrado em Economia da Universidade Federal Fluminense, de 1995 a 1998, durante o período, trabalhou para o Grupo de Estudos sobre a Economia Mundial, a Integração Regional e o Mercado de Trabalho (GREMIMT), coordenado por Theotônio.
2- Nesse trabalho, todas as informações biográficas do Theotônio dos Santos procedem do Memorial do mesmo, preparado em 1994 para o concurso público de Professor Titular da Faculdade de Economia, Universidade Federal Fluminense.
3- Este artigo, acompanhado de uma seleção de textos de Marx sobre o conceito de classes sociais, serviu de base para o seu livro com o mesmo título que foi publicado em vários países latino-americanos e posteriormente em português.
4- Diversos artigos publicados na revista e depois no jornal Política Operária, sob o pseudônimo de Antônio Frederico Palmares.
5- Maria Patrícia Fernandez Kelly, “Dos Santos and Poulantzas on Fascism, Imperialism and the State”, The Insurgent Sociologist, vol.7, no.11. 1977.
6- Theotônio dos Santos, Do Terror à Esperança, auge e declínio do neoliberalismo. São Paulo: Idéias & Letras, 2004, p.70.
7- Theotônio dos Santos, A Teoria da Dependência: Balanço e Perspectivas. RJ: Civilização Brasileira, 2000.
8- Theotônio dos Santos, A Teoria da Dependência, balanço e perspectiva. RJ: civilização Brasileira, 2000, pp.136-137.
9- Idem. P.157.