sexta-feira, 30 de março de 2012

Israel versus Irã: Apocalipse now! (1ª parte)

Meu velho companheiro Moniz Bandeira nos entrega uma análise muito bem fundamentada sobre a situação no Oriente Médio. Recomendo a leitura. Segunda publicaremos a 2° parte.

Israel versus Irã: Apocalipse now! (1ª parte)

Publicado pela agência Carta Maior


Mesmo com o respaldo da esquadra, estacionada no Golfo Pérsico, e a participação de tropas dos Estados Unidos, uma guerra contra o Irã, desencadeada por Israel, seria uma guerra extremamente difícil e sangrenta. Um ataque de Israel ao Irã mataria milhares de civis e arrasaria cidades, sem garantia de destruir completamente o programa de enriquecimento de urânio. Por outro lado, o Irã logo retaliaria com uma chuva de mísseis, provocando milhares de mortes em Israel. A análise é de Luiz Alberto Moniz Bandeira.

Luiz Alberto Moniz Bandeira

Em meados de 2010, os jornalistas Karen DeYoung e Greg Jaffe, do Washington Post, revelaram que as Special Operations Forces (SOF) dos Estados Unidos estavam a operar em 75 países, 60 a mais do que no fim do governo de George W. Bush , e o coronel Tim Nye, porta-voz do U.S. Special Operations Command, declarou que o número chegaria a 120. Esses números indicam que o presidente Barack Obama intensificou as shadow wars em cerca de 60% das nações do mundo e expandiu globalmente a guerra contra a al-Qa’ida, além do Afeganistão e do Iraque, mediante atividades clandestinas das SOF, no Iêmen e em toda a parte do Oriente Médio, África e Central [1]. E ainda solicitou aumento de 5,7%, no orçamento das SOF para 2011, elevando-o a US$6,3 bilhões, mais um fundo de contingência adicional de U$ 3,5 bilhões em 2010 [2]. Seus contingentes, em 2010, eram de 13.000 efetivos, operando em diversos países, e eventualmente 9.000, divididos entre o Iraque e Afeganistão.

Com esse “way of war”, os Estados Unidos passaram a empregar high-tech killing machines, como os drones (UAV), aviões não tripulados e manejados à distância pela CIA, que disparam mísseis ar-terra do tipo AGM-114 Hellfire, ou equipes do Joint Special Operations Command (JSOC), como o Navy SEALs [3], para assassinar, sumariamente, e/ou capturar (Kill/Capture) chefes da al-Qa’ida e Talibans, no Paquistão, Afeganistão, Iêmen, Somália e em toda a Península Árabe [4]. O número de civis mortos por drones, desde 2004, situou-se, somente no Paquistão, entre 2.347 e 2.956 (dos quais 175 crianças), mais do que militantes [5].

Cerca de pelo menos 253 ataques foram ordenados pelo presidente Barack Obama [6]. E no início de 2012 os Estados Unidos dispunham de mais de 7.000 sistemas aéreos não-tripulados (Unmanned Vehicle Systems), i. e., os chamados drones, mais 12.000 no solo, até centenas de operações de ataque, cobertas e encobertas em, pelo menos, em seis países [7]. O mercado de drones, em 2011, estava avaliado US$ 5.9 bilhões e esperava-se que dobrasse na próxima década. Esses aviões não tripulados custam milhões de dólares e existem dos mais diversos tipos, como MQ-1 Predator e o MQ-9 Reaper. algumas variedades mais sofisticadas, como o Parrot AR.Drone, que custa cerca de US$300,00 e pode ser manejado, inclusive, por iPhone [8].

O presidente Barack Obama, em 2011, determinou a construção de uma constelação de bases, no Corno da África, Etiópia, Djibouti e até em uma das ilhas do arquipélago das Seychelles, no Oceano Índico, para uma agressiva campanha operações com drones, contra o grupo fundamentalista radical Harakat al-Shabaab al-Mujahideen (HSM), aliado de al’Qa’ida, baseado na Somália [9]. A CIA passou a constituir cada vez mais uma força paramilitar, além dos trabalhos de espionagem e coleta de inteligência, e, juntamente com as SOF, participa de quase todas as operações, travadas nas mais diversas regiões. E com esse way of war, ao qual o presidente Barack Obama, justificando o Prêmio Nobel da Paz, recorreu mais do que o presidente George W. Bush, ele se coloca por cima das leis nacionais e internacionais. Basta assinar uma Executive Order (EO) ou um finding [10], autorizando assassinatos (killing targets) e outras operações encobertas, sem ter de consultar o Congresso. E assim as guerras se multiplicaram e se multiplicam.

Barômetro de Conflitos

O Barômetro de Conflitos (Konfliktbarometer) divulgado pelo Instituto de Heidelberg de Pesquisa Internacional de Conflitos (Heidelberger Institut für Internationale Konfliktforschung - HIIK), órgão do Instituto de Ciência Política de Universidade de Heidelberg, mostrou que, em apenas um ano, 2011, o número de guerras e conflitos, no mundo triplicou e foi o mais alto, desde 1945: saltou de seis guerras, e 161 conflitos armados, em 2010, para 20 guerras e 166 conflitos em 2011, tendo como cenário, sobretudo, o Oriente Médio, África e Cáucaso [11]. E a previsão do prof. Christoph Trinn, diretor do HIIK, é de que esse número aumentará ainda em 2012 [12].

É provável. Segundo o presidente Jimmy Carter (1977–1981), revelou em entrevista à imprensa, Israel, em 2008, possuía um arsenal nuclear da ordem de 150 ogivas nucleares [13]. Em fevereiro de 2012, Patrick "Pat" Buchanan, um paleoconservador (linha tradicional) do Partido Republicano e ex-comentarista político da televisão MSNBC (canal a cabo dos Estados Unidos), estimou que Israel tem cerca de 300 ogivas nucleares e advertiu que uma guerra no Oriente Médio seria desastrosa para os Estados Unidos e a economia mundial [14].

No fim dos anos 1990, a comunidade de inteligência dos Estados Unidos havia calculado que Israel possuía entre 75-130 armas nucleares, baseada nas estimativas de produção [15]. O arsenal incluía ogivas para mísseis Jericho-1 e Jericho-2, ademais de bombas para os aviões e outras armas táticas. Conforme outros cálculo, Israel poderia ter, àquele tempo, cerca de 400 armas nucleares, mas o número parece exagerado e seu último inventário incluiu menos de 100 artefatos [16].

O arsenal de Israel pode ser de 150 a 300 ogivas nucleares e a Israeli Defense Force – Air Force (IDF/AF) possuir 1.000 aeronaves, cerca de 350 jatos de combate contando com 125 F-15s avançados, e esquadrões de F-16s, especificamente modificados para empreender ataques estratégicos a longa distância, ademais de uma frota de Heron TP [17], drones, i.e. aeronaves não tripuladas (UAV), que podem atingir 40.000 pés de altura e voar pelo menos 20 horas, até alcançar o Golfo Pérsico. A Israeli Defense Force – Air Force (IDF/AF) talvez seja maior do que a do Reino Unido e da Alemanha [18]. Contudo afigura-se muito limitada a possibilidade de sua utilização para deflagrar uma guerra contra o Irã, com a segurança de vitória.

Alguns, em Israel, crêem que o ataque ao reator Osirak (Operation Opera), no
Iraque (1981) constituiu um sucesso histórico, um precedente para o uso da força militar para impedir a proliferação de armas nucleares. Porém, oficiais do Pentágono entendem que um ataque às instalações nucleares no Irã seria uma operação muito complexa, muito diferente dos ataques “cirúrgicos” realizados por Israel ao reator Osirak, no Iraque, e ao reator da Síria (Operation Orchard), na região de Deir ez-Zor, em 6 de setembro de 2007, com um total de oito aviões F-15I Strike Eagle, F-16 Fighting Falcon e uma aeronave de inteligência [19].

A fim de atacar o Irã, no entanto, Israel necessitaria de ao menos 100 bombardeiros F-15, com bombas anti-bunker GBU-28 (laser-guided), das quais consta que dispõe apenas de 30, escoltados por caças a jato F-16 Fighting Falcon, e voar uma distância de 1,600 km (cerca de 1.000 milhas) sobre um espaço aéreo hostil, devendo ser reabastecidos no ar por outros aviões [20]. Segundo o antigo diretor da CIA Michael Hayden, Israel não seria capaz de efetuar ataques aéreos que seriamente afetasse o programa nuclear do Irã. Teria sérios problemas de alcanças as maiores usinas de enriquecimento de urânio em Natanz e Fordo, e a planta de conversão de urânio em Isfaham. Dentro do establishment de Israel, porém, há poucas vozes isoladas que duvidam do sucesso de uma larga investida contra o Irã, mas o consenso é de que seria uma operação complexa e difícil, para a capacidade da IAF [21].

O auto-Holocausto

A posse de armamentos nucleares não torna Israel uma potência. Esse poderio militar não corresponde à sua extensão territorial, à sua dimensão demográfica nem aos seus recursos materiais e humanos [22]. E os cenários que se delineiam, em caso de um ataque ao Irã, com ou sem o respaldo dos Estados Unidos, são realmente apocalípicos. Basta comparar os dados geográficos e demográficas, bem como de suas forças armadas convencionais, para avaliar a catástrofe que levaria ao fim o Estado de Israel, com um Holocausto provocado pelo seu próprio primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Um auto-Holocausto. É o que também prevê o presidente da Rússia Vladimir Putin [23].

O território de Israel é de apenas 20.770 km2, cercado pelo Egito, a Faixa de Gaza, Líbano, Síria e pela Cisjordânia (West Bank). Sua população atual é de 7,5 milhões de habitantes (2012), dos quais mais ou menos 6 milhões, cerca 75%, são judeus e 25%, i. e., 1,5 milhão são árabes muçulmanos, alguns cristãos e druzos. Na Faixa de Gaza, há 1.6 milhões de palestinos; na Cisjordânia, há cerca 2,3 milhões de palestinos. Aproximadamente dentro de todos o território da Palestina (incluindo Israel) o número de árabes é da ordem de mais de 5,5 milhões de palestinos, número quase igual ao dos judeus em Israel, e o fato do governo de Binyamin Netanyahu continuar autorizando construções na Cisjordânia (mais 700 foram autorizadas em fevereiro de 2012), desrespeitando o princípio da criação de dois Estados, pode levá-los a uma violenta explosão, nas circunstâncias de uma guerra contra o Irã.

Ao contrário de Israel, o Irã ocupa o décimo-sexto maior território do mundo, ao sudoeste da Ásia, com uma larga extensão de 1.648.195 km2 e fronteiras com oito países, e mais de 2.440 km (1.516) do litoral entre o Golfo Pérsico e o Golfo de Omã, interligados pelo estratégico Estreito de Hormuz. Sua população é de 78,8 milhões de habitantes (2012 est.), cerca de dez vezes maior do que a de Israel. O diretor do Military Balance Project, na Universidade de Tel Aviv, coronel Yiftah Shapir, admitiu que Israel poderia lançar um ataque contra o Irã e causar muitos danos, inabilitando seu programa nuclear, porém teria de bombardear o país e não poderia fazê-lo sozinho [24]. Ele reconhece que o máximo Israel que pode conseguir é atrasar seu programa nuclear por “some months” e, no máximo quanto possível, cinco anos [25]. Tanto o general (r) Nathan Sharony, chefe do Council for Peace and Security, composto por 1.000 altos oficiais de segurança de Israel, quanto ex-chefe do Mossad (2002-2010), Meir Dagan, também pensam que o ataque ao Irã não compensaria, não seria favorável a Israel [26].

Na Hebrew University, Meir Dagan qualificou um ataque militar ao Irã como “a stupid idea” e, na Tel Aviv University, disse que isto provocaria uma guerra regional, impossível para Israel enfrentar, e daria à república islâmica razão para prosseguir com seu programa nuclear [27]. Posteriormente, em novembro de 2011, falou no Club de Indústria e Comércio de Tel Aviv que Israel não devia atacar o Irã e previu uma Katastrophe, se ocorresse [28]. Por sua vez, o general (r) David Fridovich, ex-comandante ajunto do Special Operations Command e atualmente diretor de Defesa e Estratégia no Jewish Institute for National Security Affairs, declarou ao diário israelense que um ataque de Israel ao Irã poderia ser “counterproductive” [29].

A mesma opinião manifestou o general James Cartwright, do Marine Corps, acentuando inclusive que persuadiria mais os iranianos a apoiar o programa nuclear e convencê-los que por isso o país deve ter os armamentos. Um ataque – acrescentou - poderia destruir as instalações, mas, mas não “uninvent” a tecnologia e o capital intelectual continuaria a existir [30]. E Shlomo Gazit, ex-chefe da Intelligence and National Security, da Israeli Defense Force, acentuou, claramente, que um ataque ao Irã teria conseqüência oposta, i. e., resultaria na “liquidation of Israel” [31]. E acentuou: We will cease to exist after such an attack” [32]. Daí que o general Martin Dempsey, chefe do Estado Maior das Forças Armadas dos Estados Unidos, declarou à CNN que “We think that it's not prudent at this point to decide to attack Iran" [33].

Instalações nucleares
O Irã possui cerca de 12 a 20 instalações nucleares, espalhadas por diversas regiões. Alguns agentes de inteligência da França, Reino Unido e Estados Unidos suspeitam que, em Fordo, com 3.000 reatores, os cientistas iranianos estejam tentando enriquecer o urânio com uma concentração superior a 20% de pureza, o que capacitaria o governo de produzir artefatos nucleares, se fosse estocada quantidade suficiente para o uso militar. Essa usina está construída parcialmente dentro de uma montanha, a nordeste da mesquita de cidade de Qom, altamente protegida, com uma bateria de mísseis anti-aéreo, montada pela Guarda Islâmica Revolucionária [34].

A de Natanz, na província de Isfaham, distante de Israel quase 1.609 km. encontra-se cerca de oito metros abaixo do nível do solo, protegida por várias camadas de cimento. Lá operam aproximadamente 5.000 centrífugas, alimentadas com urânio hexafluoride. E, segundo o coronel reformado da USAF, Rick Pyatt, seria muito difícil o ataque ao Irã. Os aviões de Israel teriam de voar sobre um território estrangeiro hostil, porquanto os alvos estão 1.700 km distantes, devendo ser reabastecidos no ar, os mísseis Jericho-2 ou Jericho-3 teriam ogivas de peso limitado, provavelmente menos de 1.000 libras, e é muito duvidoso que elas pudessem penetrar bastante fundo para alcançar o nível determinado de destruição [35].

Se o Irã tiver ou tivesse o projeto de enriquecer urânio para fabricar artefatos nucleares, o que muitos suspeitam existir experimentos, inclusive na base militar de Parchim, outras usinas devem ser também subterrâneas, dentro de cavernas, difíceis de detectar com satélites e aviões. A topografia do Irã, a configuração do seu relevo, apresenta enorme dificuldade para ataques aéreos. É muito similar à do Afeganistão, muito escarpada e difícil de mapear, com aviões, inclusive porque os vôos têm de ser baixos e a república islâmica possui ótimo sistema de defesa antiaérea, com inúmeros mísseis terra-ar.

Uma operação aérea contra instalações nucleares do Irã teria de ser, provavelmente, acompanhada por tropas terrestres. Mas Israel conta apenas com 176.500 homens no serviço ativo, dos quais 133.000 no exército, e 565.000 na reserva, enquanto o Irã tem mais do que 523.000 no serviço ativo, dos quais 350.000 no exército, e cerca de 125.000, nos corpos da poderosa Guarda Revolucionária Islâmica [36]. Ademais, o Irã tem excelente sistema de defesa naval, montado com mísseis Sunburn, importados da Rússia e da China, o míssil mais letal contra qualquer navio, desenhado para voar 1.500 milhas por hora, nove pés acima do solo e da água [37]. O desequilíbrio de forças convencionais entre os dois países é enorme. Também possui submarinos e modernos barcos de patrulha, equipados com mísseis, e teria capacidade de interditar a estratégica de linha comunicação marítima, através do Golfo Pérsico [38], e controlar a passagem dos carregamentos de petróleo.

Mesmo com o respaldo da esquadra dos Estados Unidos, estacionada no Golfo Pérsico, e a participação de tropas dos Estados Unidos, uma guerra contra o Irã, desencadeada por Israel, seria uma guerra extremamente difícil e sangrenta. Também, conforme os analistas do Pentágono, um ataque aéreo dos Estados Unidos às instalações nucleares do Irã não seria bastante para destruir todos os reatores para enriquecimento de urânio, embora fosse mais amplo, menos arriscado e provavelmente lhes causasse muito mais danos que se realizado por Israel [39]. Poderia somente atrasar o programa, mas não impedir que o Irã produzisse armas atômicas [40].

A população do Irã é superior à soma das populações do Iraque e do Afeganistão e grande parte está concentrada nas montanhas, que configuram um cinturão estendido entre Zagros e Elbroz e uma linha entre o litoral do Mar Caspio e o Estreito de Hormuz. Outra parte da população está algumas cidades e no nordeste, em Mashhad, cidade com 2,83 milhões de habitantes, próxima à fronteira com o Afeganistão e o Turcomenistão, onde se encontra a tumba do imã al-Rida (765-c.818), um dos sucessores do profeta Muhammad, venerado pelos xiitas e visitado por cerca de 20.000 pessoas. O resto do país é muito pouco povoado. Com três lados cercados por montanhas e dois pelo Mar Cáspio e o Golfo Pérsico, o tamanho e a topografia tornam do Irã uma fortaleza, muito difícil de ser invadida e, ainda mais, ser conquistada [41].

Um ataque de Israel ao Irã seria um desastre. Mataria milhares de civis, arrasaria cidades, porém não poderia aniquilar 78,8 milhões de iranianos nem devastar um território de 1.648.195 km2. Porém nenhuma segurança teria de destruir completamente seu programa de enriquecimento de urânio. Por outro lado, o Irã logo retaliaria e, se lançasse seguidamente uma chuva de mísseis Shahab, Gahdr-3ª ou Sejji, com bombas de fragmentação, cuja sub-munição (bomblet), cerca de 202 explosivos, pode atingir entre 200 e 400 metros e alcançar até 149 km, demoliria muitas cidades de Israel, inclusive Tel Aviv, e dizimaria milhares de seus habitantes. Certamente, o Hamas (sunita), na Faixa de Gaza, e o Hisbollah (xiita), no Líbano, aproveitariam para também atacar Israel com mísseis Katyusha, Fadjr-5, Urgan, Khaibar e outros de que as duas organizações paramilitares dispõem.

Seria extremamente difícil, quase impossível, o governo de Benjamin Netanyahu resistir aos bombardeios e ao levante da população palestina dentro de Israel (1,5 milhão), na Faixa de Gaza (1.6 milhão) [42] e na Cisjordânia (2,3 milhões). Dentro de todo o território da Palestina (incluindo Israel) o número de palestinos é da ordem de mais de 5,5 milhões, contra mais ou menos 6 milhões de judeus. Seria uma guerra híbrida, de alta e baixa intensidade. Da população de Israel, de mais ou menos 6 milhões de judeus, 1,5 milhão poderia ser, em larga medida, aniquilada.

(*) Luiz Alberto Moniz Bandeira é cientista político e historiador, professor titular de história da política exterior do Brasil (aposentado) da Universidade de Brasília e autor de mais de 20 obras, entre as quais Formação do Império Americano (Da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque).

NOTAS
[1] Karen DeYoung & Greg Jaffe. “U.S. 'secret war' expands globally as Special Operations forces take larger role”. Washington Post. Friday, June 4, 2010
Nick Turse. “A secret war in 120 countries. The Pentagon’s new power elite”. Le Monde diplomatique,18 August, 2011.

[2] Karen DeYoung & Greg Jaffe. “U.S. 'secret war' expands globally as Special Operations forces take larger role”. Washington Post. Friday, June 4, 2010

[3] Navy SEALs é uma unidade especial do United States Naval Special Warfare Command (NAVSPECWARCOM), cujo quartel-general é Coronado, na California, a integra o US Special Operations Command (USSOCOM). Foi um comando do Navy SEALs que executou bin Ladin no Paquistão. SEAL é um acrônimo de Sea, Air e Land (SEAL)

[4] Priest, Dana & William M. Arkin. Top Secret America. The Rise of the New American Security State. Nova York-Londres: Little Brown & Company, 2011, p. 251.

[5] Chris Woods “Drone War Exposed – the complete picture of CIA strikes in Pakistan”. Bureau of Investigative Journalism. August 10th, 2011. http://www.thebureauinvestigates.com/2011/08/10/most-complete-picture-yet-of-cia-drone-strikes/ Benjamin Wittes “Civilian Deaths from Drone Strikes”. Lawfare - Hard National Security Choices. http://www.lawfareblog.com/2011/08/civilian-deaths-from-drone-strikes/

[6] Ibid.

[7] Peter W. Singer. “Do Drones Undermine Democracy?”. The New York Times. Sunday Review. January 21, 2012. Peter W. Singer é diretor da 21st Century Defense Initiative na Brookings Institution e autor da obra Wired for War: The Robotics Revolution and Conflict in the 21st Century.

[8] Nick Wingfield & Somini Sengupta. “Drones Set Sights on U.S. Skies”. The New York Times, February 17, 2012

[9] Craig Whitlock & Greg Miller “U.S. assembling secret drone bases in Africa, Arabian Peninsula”. The Washington Post, September 21 2011.

[10] Autorização dada pelo presidente dos Estados Unidos, quase sempre por escrito, na qual ele acha (find) que uma operação encoberta (covert action) é importante para a segurança nacional. O finding é o mais secreto entre os documentos do governo americano.

[11] "Conflict Barometer 2011" - http://hiik.de/de/konfliktbarometer/

[12] Ibid.

[13] “Israel: Carter Offers Details on Nuclear Arsenal” - Reuters. New York Times. May 27, 2008. “Israel tem 150 armas nucleares, diz ex-presidente dos EUA”. BBC.Brasil. 26 de maio, 2008 - 19h46 GMT (16h46 Brasília)

[14] Pat Buchanan: “300 Nukes in Israel Yet Iran a Threat?” - http://buchanan.org/blog/video-pat-buchanan-300-nukes-in-israel-yet-iran-a-threat-5022
“300 ojivas nucleares israelíes, una amenaza mundial”. HispanTV 29/02/2012 09:39 www.hispantv.ir/detail.aspx?id=175279. Mark Whittington- “Pat Buchanan Oddly Thinks Israel is a Bigger Threat Than Iran” Yahoo! Contributor Network – Wed, Feb 22, 2012. Jeff Poor – “Buchanan: Who is a bigger threat — Iran or Israel?” The Daily Caller - 02/22/2012 - http://dailycaller.com/2012/02/22/buchanan-who-is-a-bigger-threat-iran-or-israel/

[15] A comunidade de inteligência dos Estados Unidos calculava, em 1999, que Israel tinha então entre 75 e 150 ogivas nucleares, conforme em boletim da Federation of American Scientists (FAS). Scarborough,Rowan. Rumsfeld's War. Washington, D.C.: Regnery Publishing, 2004, pp. 194-223.

[16] “Nuclear Weapons – Israel”. Federation of American Scientists (FAS). University of St. Andrew – 8.Jan.2007. www.fas.org/nuke/guide/israel/nuke/

[17] Os vants Heron TP, fabricados pela IAI (Israel Aerospace Industries), podem voar a uma altura de até 13.000 metros, acima da altitude da aviação comercial. Os Estados Unidos têm outro modelo, o MQ-1 Predator, usado para matar supostos terroristas, em operações chamadas de “3D”: “dull”, i. e., operações sombrias.

[18] Anshel Pfeffer – “Israel could strike Iran's nuclear facilities, but it won't be easy. Haaretz – Israel, 20.02.12.

[19] “Report: U.S. officials say Israel would need at least 100”. Ha’aretz – Israel, 20.02.12

[20] Ibid. Michael Kelley. “US Offers Israel Advanced Weapons In Exchange For Not Attacking Iran”. Business Insider – Military & Defense. March 08, 2012.

[21] Anshel Pfeffer – “Israel could strike Iran's nuclear facilities, but it won't be easy. Haaretz – Israel, 20.02.12.

[22] “O status de potência pode ser estimado pela sua extensão territorial e o número de sua população, bem como pelos recursos materiais e humanos que um Estado tem condições de usar a fim predizer quão vitorioso pode ser em uma guerra com outro Estado, se usa seus recursos como vantagem.
Karl W. Deutsch, “On the concepts of politics and power,” in John C. Farrel e Asa P. Smith (eds.), Theory and Reality in International Relations, Nova York, Columbia University Press, 1966, p. 52. Gramsci, Antônio. Maquiavel, a política e o Estado moderno, 2ª ed., Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1976, p. 191.

[23] Stephen Bierman & Ilya Arkhipov. “Putin Says Iran Military Strike to Be ‘Truly Catastrophic’”. Bloomberg Businessweek. February 27, 2012. http://www.businessweek.com/news/2012-02-27/putin-says-iran-military-strike-to-be-truly-catastrophic-.html

[24] "Israel May Lack Capability for Effective Strike on Iran Nuclear Facilities” -

[25] Larry Derfner - “Security expert: Attacking Iran isn’t worth it. +972 is an independent, blog-based web magazine. February 6 2012|- http://972mag.com/warriors-against-war-with-iran/34831/

[26] Ibid.

[27] Ethan Bronner - “A Former Spy Chief Questions the Judgment of Israeli Leaders”. The New York Times, June 3, 2011.

[28] Bergman, Ronen & Mittelstaedt, Juliane von. “Dagans Bombe”. Der Spiegel. 07.11.2011.

[29] Hilary Leila Krieger & Jpost Correspondent. 'Strike on Iran could be counterproductive'. Jerusalem Post. Thu, Mar 15, 2012.

[30] Kristina Wong “Attacking Iran’s nuke sites may only slow progress”. The Washington Times, Monday, February 27, 2012

[31] ‘An Attack on Iran Will End Israel as We Know It’. Tikun Olam-תיקון עולם: Make the World a Better Place -Promoting Israeli democracy, exposing secrets of the national security state http://www.richardsilverstein.com/tikun_olam/2011/06/10/an-attack-on-iran-will-end-israel-as-we-know-it/

[32] Ibid.

[33] David Jackson, “Obama to meet Israel's Netanyahu on March 5” - USA TODAY Feb 20, 2012.

[34] Julian Borger (New York) & Patrick Wintour (Pittsburgh). “Why Iran confessed to secret nuclear site built inside mountain”. The Guardian, 26.09.2009

[35] David Isenberg (Cato Institute). “Israeli Attack on Iran’s Nuclear Facilities Easier Said Than Done”. Inter Press Service, Washington, Feb 13 2012 (IPS). Rick Francona. “Iran - Israel's Air Strike Options Update”

[36] “Factbox: How Israel and Iran shape up militarily” – Reuters. 03.11.2011.

[37] “Iran's Arsenal Of Sunburn Missiles Is More Than Enough To Close The Strait”. Business Insider - Russ Winter| - February 08, 2012|

[38] Anthony H. Cordesman & Alexander Wilner – “Iran and the Gulf Military Balance I: The Conventional and Asymmetric Dimensions”. Center for Center for Estrategic & International Studies (CSIS) Mar 6, 2012.

[39] Mark Landler. “Obama Says Iran Strike Is an Option, but Warns Israel”. The New York Times, March 2, 2012

[40] Ibid.

[41] “The Geopolitics of Iran: Holding the Center of a Mountain Fortress”. Stratfor – Global Intelligence, December 16, 2011.

[42] Cerca de 45 foguetes e um número quase igual de bombas foram disparadas desde Gaza sobre Israel em 24 horas, no dia 9 de março, como represália das milícias palestinas pelo assassinato do secretário-geral dos Comitês Populares de Resistência, Zuhair Al Qaisi, com foguetes de Israel. “Em 24 horas, 45 foguetes palestinos atingiram Israel”. Folha de São Paulo, 10.03.2012.

Técnico do IPEA compara debate nas universidades americanas ( "rico") com o debate na academia brasileira (não-existente, segundo ele)‏

Há muito chamamos a atenção para esta situação dramática e perigosa sobretudo quando o Brasil pretende ter um papel internacional mais importante. Nossa Academia tem que estar à altura da geração de conhecimento sobre o mundo contemporâneo.

O rico debate da academia americana

17/03/2012 por Mansueto Almeida (IPEA)

Depois de duas viagens aos EUA (volto hoje para o Brasil) em menos de duas semanas para dois debates sobre política industrial, um no BID e outro no MIT, tenho certeza de uma coisa. Não há nada parecido no Brasil seja nas universidades seja nos institutos de pesquisa. Isso eu já sabia, mas essa percepção foi reforçada.

A primeira grande diferença é que, no Brasil, as pessoas tem o péssimo hábito de achar que o Brasil é o centro do mundo. As discussões sempre giram em torno do Brasil com pouco ou nenhuma comparação com resto do mundo e muitas vezes nem mesmo com América Latina. Isso porque a academia brasileira ainda tem o péssimo hábito de não estimular que seus alunos façam pesquisa de campo e teses em outros países. As teses são feita sobre o Brasil e no Brasil. Aqui nos EUA, os alunos são incentivados com bolsas para ir a China, Vietnam, Malásia, Singapura, Índia, Brasil, etc. para fazer pesquisa de campo e suas teses.

Nas universidades grandes como MIT e Harvard se encontram pessoas que estão viajando para diferentes locais do mundo, professores nos departamentos que são especialistas em certos países e que efetivamente viajam frequentemente para esses países e falam a língua do país. Eu não conheço nada parecido no Brasil. Quais são os professores da USP, UNICAMP, FGV ou PUC que estudam China, têm escrito sobre a China e falam chinês fluentemente? Ou quais são aqueles que estudam o México ou Argentina? Quais livros eles publicaram sobre esses países?

Segundo, há outra grande diferença aqui na academia americana. No Brasil, nos seminários internacionais há uma preocupação enorme com “propaganda”. Várias instituições de pesquisa, inclusive o IPEA do qual participo, organizam seminários internacionais no qual as pessoas se encontram em um dia e depois todas perdem o contato. Esses seminários não resultam de um projeto de pesquisa conjunto nem tampouco dão origem a um projeto de pesquisa conjunto. É um encontro no qual os convidados mostram seus trabalhos e vão embora. Aqui nos EUA é diferente.

Os seminários na academia entre diversas instituições internacionais tem o objetivo real de promover estudos comparativos, como o que participei ontem. É isso que falta ao Brasil. Dado o interesse crescente do mundo pelo Brasil, era para os pesquisadores de um grande centro de pesquisa no Brasil estar com uma agenda de viagens lotadas e com vários trabalhos comparativos em andamento. Mas não é isso que vejo em nenhum instituto de pesquisa do Brasil. Há exceções individuais de pesquisadores que conseguem fazer esses vínculos, mas são muito mais exceções que confirmam a regra.

É triste reconhecer isso, mas espero que a academia brasileira e as instituições de pesquisa no Brasil comecem a pensar um pouco mais em entender o Brasil estudando outros países, caso contrário, nunca vamos chegar próximo da qualidade de pesquisa que é feita aqui nos EUA.

Uma terceira diferença é que nos EUA, mais do que respostas imediatas, a academia está preocupada em formular perguntas. Em um bom debate como o que participei ontem (e depois vou resumir neste blog) os pesquisadores saíram do debate com várias perguntas para as quais não tinham respostas. Todos nós apresentamos papers quase na sua versão final, mas todos saíamos com perguntas para as quais não tínhamos as respostas. No Brasil, há um viés excessivo em ter respostas imediatas para tudo.

Ontem soube conversando aqui com os professores que a presidenta Dilma vai fazer uma visita ao MIT e Harvard agora em abril ou maio. Espero que os bons ventos aqui de Cambridge (MA) sirvam de inspiração para a presidenta entender que, para o Brasil ser grande, precisa olhar para fora e não apenas para o “nosso quintal”.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Astrojildo Pereira e a gênese do comunismo no Brasil

A cada dia se fortalece a percepção da generosa contribuição de Astrogildo Pereira e de tantos outros companheiros para a criação de uma tradição política e intelectual fundada na experiência revolucionária da classe operária brasileira. Este artigo tão amoroso e respeitoso de Augusto Buonicore revela que podemos admirar com muito carrinho estes dedicados pioneiros, independentemente de diferenças políticas e teóricas.


Astrojildo Pereira e a gênese do comunismo no Brasil *

Por Augusto C. Buonicore **

Astrojildo Pereira foi o secretário-geral do Partido Comunista do Brasil (PCB) nos oito primeiros anos de vida desta agremiação política (1922-1930). Tarefa que realizou com dedicação e com relativo sucesso, tendo em vista as difíceis condições da época. Mas, as disputas políticas que abalaram o movimento comunista em nosso país levaram a uma minimização do seu papel. Este artigo visa a resgatar um pouco das contribuições desse importante dirigente, que muitos intitulam fundador do comunismo brasileiro.


Astrojildo nasceu em 1890 no pequeno município de Rio Bonito (RJ). Ainda adolescente, mudou-se para Niterói e estudou no Colégio Anchieta, dirigido por rígidos jesuítas. Depois se transferiu para o Colégio Abílio. Aos quatorze anos pensou em se tornar frade e, aos quinze, já decepcionado com a igreja, começou a abraçar o ateísmo. Na onda contestatória juvenil, abandonou também o colégio onde estudava. Sem religião e sem escola, tornou-se um autodidata.
Podemos dizer que Astrojildo entrou para a história do Brasil pelas mãos do autor de Os Sertões, Euclides da Cunha. Este, num artigo tratando das últimas horas do grande romancista Machado de Assis, escreveu: “Ouviram-se tímidas pancadas na porta principal da entrada. Abriram-na. Apareceu um desconhecido, um adolescente de dezesseis ou dezoito anos no máximo (...). Ninguém o conhecia, não conhecia por sua vez ninguém; não conhecia o próprio dono da casa, a não ser pela leitura de seus livros, que o encantavam (...). E o anônimo jovem – vindo de noite – foi conduzido ao quarto do doente. Chegou. Não disse uma palavra. Ajoelhou-se. Tomou a mão do mestre; beijou-a num belo gesto de carinho filial (...). Levantou-se e, sem dizer palavra, saiu (...). Qualquer que seja o destino desta criança, ela nunca subirá tanto na vida. Naquele meio segundo (...) aquele menino foi o maior homem de sua terra”. Mais tarde seria revelado aquele adolescente anônimo: Astrojildo Pereira.
Seu primeiro envolvimento com a luta política se deu na “campanha civilista”, ocorrida em 1910, que tentava levar o advogado baiano Ruy Barbosa à presidência da República. A vitória do marechal Hermes da Fonseca o decepcionou profundamente. Naquele mesmo ano outro acontecimento contribuiu para dar novo rumo à sua vida: a repressão contra a Revolta da Chibata. O desencanto com a religião e a educação formal transbordaria para o desencanto com o regime liberal-oligárquico e com o próprio capitalismo. Assim, estava semeado o terreno no qual brotariam suas novas ideias libertárias.
Certo dia seu pai levou lhe jornais e folhetos anarquistas, aos quais passou a devorar com sua curiosidade juvenil. A linguagem antirreligiosa, antioligárquica e anticapitalista se encaixava como uma luva às novas preocupações daquele jovem. Num desses jornais achou o endereço de um centro anarquista e foi conhecê-lo. Assim, tiveram início seus primeiros contatos – ainda tímidos – com o movimento operário brasileiro.
Em 1911 seguiu para a França, onde pretendia trabalhar e estudar. Sem dinheiro e sem ter como sobreviver, acabou sendo ajudado por um grupo de brasileiros que vivia na Europa. A viagem somente não foi um desastre completo porque conseguiu trazer na bagagem um bom número de publicações libertárias. Iniciava-se uma nova fase de sua vida: a de líder anarquista. Dois anos depois, em 1913, estaria entre os organizadores do 2º Congresso Operário Brasileiro.
O ano de 1917 foi importante em sua vida e refletiria nas opções estratégicas que faria. Em julho ocorreu a greve geral operária em São Paulo. Na Rússia, em novembro, eclodiu a revolução socialista que teve um grande impacto em todo o mundo.
Astrojildo foi um dos militantes anarquistas mais entusiasmados com o feito dos operários russos, dirigidos pelos bolcheviques, e logo se transformou no principal propagandista daquele movimento no país. Escreveu inúmeros artigos desmentindo as calúnias divulgadas pela imprensa burguesa. Logo, a sua nova paixão o levaria a ter que ajustar contas com sua consciência anarquista.
O exemplo da revolução socialista vitoriosa povoava os sonhos de nossas lideranças operárias. A greve geral de 1917 lhes parecia apenas o ensaio-geral de um movimento mais amplo e radical. Dentro desse espírito, no ano seguinte, os anarquistas do Rio de Janeiro planejaram realizar um levante operário e popular. O complô foi descoberto e Astrojildo Pereira acabou sendo preso.
Muitos acreditavam que o bolchevismo era uma tendência libertária. A confusão política e ideológica era tão grande que lideranças anarquistas resolveram realizar um congresso para fundar o Partido Comunista do Brasil. Desta insólita reunião, realizada em 1919, participaram representantes de cinco estados brasileiros. Esta foi a demonstração mais pungente do impacto causado pela Revolução Russa nas fileiras proletárias. O engano logo foi descoberto e aquele primeiro partido comunista de viés anarquista se desfez.
A partir daí os anarquistas romperam com a frente-única em torno da defesa da Revolução Russa. Os artigos contra Lênin e os bolcheviques se multiplicavam na imprensa libertária. Isso desagradou profundamente a Astrojildo e a inúmeros líderes operários. Entre o anarquismo e a Revolução Russa, optariam pela segunda. Assim, uma cisão no movimento operário brasileiro era quase inevitável.
Os defensores daquele processo revolucionário empreenderam um esforço gigantesco para organizar um verdadeiro Partido Comunista no Brasil. Em 7 de novembro de 1921, Astrojildo fundou o Grupo Comunista no Rio de Janeiro, integrado inicialmente por 12 pessoas. Este pequeno agrupamento conseguiu a façanha de lançar dois meses depois uma revista, intitulada Movimento Comunista.
O próximo passo foi tentar reunir os representantes dos diversos agrupamentos comunistas que existiam espalhados pelo país e constituir um partido unificado, vinculado à Internacional Comunista. O esforço foi vitorioso. No dia 25 de março de 1922 teve início o congresso de fundação do PC do Brasil. Dele participaram nove delegados representando apenas 73 comunistas. Um começo modesto, mas bastante promissor.
Embora fosse o principal expoente da nova organização, Astrojildo defendeu que a secretaria-geral fosse ocupada por Abílio de Nequete, representante do primeiro núcleo comunista brasileiro – a União Maximalista de Porto Alegre –, e que mantinha relação com os membros da Internacional Comunista no Uruguai. Além disso, Nequete era um dos poucos não oriundos das fileiras anarquistas. Naquele momento tal condição pesava-lhe favoravelmente.
O Partido Comunista gozou de poucos meses de vida legal. Em julho, após o levante do Forte de Copacabana, foi decretado Estado de Sítio e ele acabou sendo colocado na ilegalidade. Nequete foi preso, espancado e se afastou da secretaria-geral. Astrojildo assumiu o cargo no qual permaneceu até final de 1930. Caberia a ele comandar o Partido Comunista durante os heroicos anos de sua formação. Esteve à frente dos três primeiros congressos, que se realizaram num prazo de menos de 10 anos – uma verdadeira façanha da democracia partidária. Segundo vários depoimentos, Astrojildo foi um dirigente democrático e que respeitava seus camaradas.
Em 1924 o PCB enviou-o para Moscou com o objetivo de participar do V Congresso da Internacional Comunista e garantir o reconhecimento do partido brasileiro como membro efetivo daquela organização. A missão foi cumprida com êxito, o que permitiu que o Partido Comunista pudesse ostentar o honroso título de “seção brasileira da Internacional Comunista”. Voltando ao país, ao lado de Octávio Brandão, dedicou-se à criação do jornal A Classe Operária, lançado em maio de 1925.
Antes de partir para Moscou ele havia articulado uma aliança dos comunistas com a Confederação-Cooperativista Brasileira – de caráter reformista – o que permitiu ao PCB ocupar um espaço permanente num jornal de grande circulação: O Paiz. Através da seção intitulada “No meio operário”, Astrojildo publicou suas Cartas da Rússia, correspondências enviadas quando estava em Moscou. O acordo, bastante criticado pelos anarquistas, foi amplamente favorável ao Partido Comunista naqueles primeiros anos, ajudando a colocá-lo fora do gueto político e social.
Astrojildo também foi um dos responsáveis pelo acordo com o líder socialista-positivista Leônidas de Rezende, que deu aos comunistas a direção do jornal A Nação, em janeiro de 1927. Pela primeira vez os comunistas tinham sob sua influência um diário, e de expressiva circulação. Nele, por exemplo, foi lançado o apelo à formação do Bloco Operário (depois Intitulado Bloco Operário e Camponês, BOC) –, tentativa pioneira de organização de uma frente-única operária e socialista para concorrer às eleições no país.
No final daquele mesmo ano esteve com Luiz Carlos Prestes no seu exílio boliviano e entregou-lhe documentos do PCB e alguns livros marxistas. Tornou-se, ao lado de Octávio Brandão, defensor ardoroso de uma aliança estratégica com a pequena-burguesia revolucionária.
Os dois advogaram a tese pouco ortodoxa de que a revolução brasileira seria democrático-pequeno-burguesa devido à destacada participação política das classes médias urbanas. Acreditavam ainda que ocorreria uma terceira revolta tenentista – as duas primeiras foram as de 1922 e 1924. Brandão escreveu: “Se os revoltosos pequeno-burgueses souberem explorar a rivalidade imperialista anglo-americana e a luta entre os agrários e os industriais, se procurarem uma base de classe para a sua ação, se o proletariado entrar na batalha e se essas contradições coincidirem com a luta presidencial e as complicações financeiras, será possível o esmagamento dos agrários”.
Foi dentro desse esquema teórico que Astrojildo Pereira elaborou o Relatório sobre a situação brasileira, que foi enviado ao Secretariado Sul-Americano da Internacional Comunista em 1928. Vejamos o que diziam os comunistas brasileiros: “a situação econômica e política do país, objetivamente examinada, faz prever uma conjuntura francamente revolucionária, que resultará da coincidência dos seguintes fatores: 1) Crise econômica resultante de uma catástrofe na política cafeeira (...); 2) crise política vinculada ao problema da sucessão presidencial no Brasil (1930); 3) possibilidade de uma repetição de um novo 5 de julho”. Estas apreciações sobre o quadro político que se abria eram quase como premonição do que ocorreria em 1930.
No início de 1929, eleito para a direção da Internacional Comunista, partiu para Moscou e ali trabalhou no Secretariado para a América Latina. Chegou na “Meca do socialismo” num momento em que o movimento comunista pendia perigosamente para a esquerda. Ao lado do esquerdismo, começavam a predominar práticas autoritárias e sectárias – a política leninista de proletarização se transformava em desvio obreirista, pelo qual a origem social proletária se sobrepunha absolutamente sobre os elementos ideológicos na composição das direções partidárias.
Nesse ambiente, marcado pela intolerância, é que foram analisadas a tática e a estratégia dos comunistas brasileiros desenvolvidas nos primeiros anos. Suas teses foram duramente criticadas e consideradas mencheviques. Astrojildo teve de voltar ao Brasil com a missão de corrigir os rumos do Partido e adequá-los às novas diretivas da Internacional Comunista. O primeiro passo foi afastar do secretariado do Comitê Central vários dirigentes importantes, como Paulo de Lacerda, Octávio Brandão e Leôncio Basbaum –, sob a argumentação de que eram intelectuais e de estarem obstruindo o processo de proletarização.
Na Conferência de Partidos Comunistas da América do Sul, realizada entre abril e maio de 1930, os brasileiros foram acusados de tentar subordinar o proletariado à pequena-burguesia e de procurar dissolver o Partido Comunista no Bloco Operário e Camponês, considerado uma espécie de Kuomintang brasileiro. Uma gravíssima acusação, após os trágicos acontecimentos ocorridos na China em 1927. Naquele ano a direção do Kuomintang – frente hegemonizada pela burguesia e na qual atuava o PC chinês – traiu todos os acordos e massacrou milhares de operários e comunistas na cidade de Xangai, iniciando uma nova guerra civil.
A partir daí abandonou-se a proposta de aliança preferencial com a pequena-burguesia urbana, através do movimento tenentista, e fechou-se o Bloco Operário e Camponês. As reflexões originais sobre a formação econômica e social brasileira foram abandonadas e substituídas por esquemas e modelos mais rígidos produzidos no interior da Internacional Comunista. As posições recém-adotadas pelo PCB o levaram a ficar à margem do grande movimento cívico-militar que culminou na Revolução de 1930. Ela foi considerada um simples choque entre oligarquias rivais apoiadas pelo imperialismo britânico ou estadunidense.
Ao final, Astrojildo Pereira acabou sendo destituído da secretaria-geral e enviado para São Paulo, onde deveria se reabilitar através do trabalho nas bases partidárias. Nos meses que se seguiram ao afastamento, uma avalanche de acusações recaiu sobre ele. Antes que fosse formalmente expulso, bastante deprimido, solicitou seu afastamento do Partido que ajudara a fundar. O PCB mergulhou numa profunda crise de direção. Nos quatro anos após a sua destituição, o Partido teve seis secretários-gerais.
Entre 1931 e 1945, afastado do PCB, tornou-se comerciante de frutas no Rio de Janeiro e escreveu artigos de críticas literárias para o Diário de Notícias. Esta atividade o mantinha em contato com a nata da cultura brasileira daquele tempo. Relações que, no futuro, seriam muito úteis ao partido comunista.
Mesmo longe do Partido, continuou sendo um ardoroso defensor da União Soviética e do PCB. Num texto de 1934 escreveu: “Na situação brasileira atual (...) só há um caminho de salvação para as massas operárias e camponesas. É o caminho indicado pelo Partido Comunista”. No seu exílio interno ainda publicou várias coletâneas de artigos, como URSS, Itália, Brasil (1935) e Interpretações (1944). Neste último livro seria publicado o importante artigo “Posições e tarefas da inteligência”.
No entanto, o “astrojildismo” continuou sinônimo de revisionismo brasileiro. No relatório da direção do PCB ao 7º Congresso da Internacional, realizado em 1935, ainda se podia ler sobre “a enérgica luta (travada pelo Partido) contra a pobre linha menchevista de seu antigo secretário-geral, o renegado Astrojildo Pereira”. Este era o último suspiro de uma política sectária que aquele congresso internacional iria sepultar, pelo menos por alguns anos.
A vitória sobre o nazifascismo criou um novo ambiente político. Vários antigos militantes regressaram ao Partido, entre eles Astrojildo Pereira. Desde então se dedicou, fundamentalmente, a organizar o trabalho comunista entre os intelectuais. Foi diretor das revistas Literatura e Estudos Sociais e ajudou a organizar o Congresso que fundou a Associação Brasileira dos Escritores, da qual foi seu diretor.
Sendo o militante mais antigo, coube a ele fazer a Abertura do 4º Congresso do PCB em 1954. Dois anos depois quando chegaram as notícias sobre o 20º Congresso do PCUS – especialmente sobre o conteúdo do relatório “secreto” de Kruschev, no qual revelava as violações de Stálin à legalidade socialista –, o movimento comunista no Brasil entrou numa profunda crise. Travou-se uma intensa luta política e ideológica em seu interior e inúmeros experientes dirigentes – como Amazonas, Grabois e Arruda – foram afastados de seus postos.
Astrojildo teve uma posição bastante digna nesse debate acalorado, não utilizando anátemas muito comuns naquela época. Também não fugiu de suas responsabilidades enquanto militante comunista. Escreveu: “incluo-me, cem por cento, entre aqueles que mais entusiasticamente participaram do culto à personalidade de Stálin”.
Durante o período de crise, continuou seu trabalho incansável de organização da intelectualidade progressista. Em 1959 já havia lançado o seu principal trabalho de crítica literária, Machado de Assis. Entre 1960 e 1961, manteve uma coluna sobre livros no semanário comunista Novos Rumos. Muitos desses artigos e notas seriam publicados em Crítica Impura (1963). Em 1961 sofreu um enfarte e foi se tratar na URSS.
No início de 1962, quando a crise interna teve seu desfecho com a cisão dos comunistas brasileiros, Astrojildo optou por ficar com o grupo liderado por Prestes. No mesmo ano lançou o livro Formação do PCB – coletânea de artigos sobre os primeiros anos de vida do Partido Comunista no Brasil. Por um longo tempo foi a principal referência bibliográfica sobre este período obscuro da história dos comunistas brasileiros.
Após o golpe militar de 1964, Astrojildo foi incluído em vários inquéritos policiais militares (IPMs). Sua casa foi invadida e parte de seu rico arquivo pessoal saqueada. Em 9 de outubro, aos 74 anos de idade, foi preso depois de se apresentar voluntariamente. Seu crime: ter ajudado a fundar havia mais de 40 anos o Partido Comunista do Brasil e ter tentado convencer Luiz Carlos Prestes a ingressar nele. Realmente, crimes muito sérios naqueles anos de obscurantismo.
Ficou cerca de três meses encarcerado, mas teve de ser libertado, pois seu estado de saúde agravou-se. Em maio de 1965 a Revista Civilização Brasileira publicou um dos seus últimos artigos – a primeira (e única) parte do que deveria ser sua biografia. A perseguição, os maus tratos, as notícias aterradoras de prisões de companheiros ajudaram a debilitar ainda mais seu frágil organismo e, no dia 20 de novembro, o coração do velho combatente deixou de bater.
Respondendo a um jogo de perguntas e respostas, nos tempos que ainda era secretário-geral, Astrojildo afirmou que a sua ideia de felicidade era “paixão amorosa e paixão política ao mesmo tempo. Um doce amor de mulher em meio a uma bravia luta política”. A sua grande paixão política foi o Partido que ajudou a fundar e a grande paixão amorosa Inez Dias, com quem se casou no início da década de 1930.
Quando seu caixão descia ao túmulo, uma voz feminina – firme e decidida – foi ouvida: Viva Astrojildo Pereira! Naquele momento mágico, as suas duas paixões se fundiram – e se confundiram – na bravia luta popular contra a opressão. Hoje, ao comemorarem os 90 anos de sua existência, os comunistas ainda ecoam o brado de Inez Dias e respondem: Viva o camarada Astrojildo! Viva o povo brasileiro!

** Augusto César Buonicore, Historiador, secretário geral da Fundação Maurício Grabois e membro do Comitê Central do PCdoB.


* Versão modificada de artigo inicialmente publicado no sítio Vermelho quando da passagem dos 40 anos da morte de Astrojildo Pereira.

Bibliografia

FEIJÓ, Martin Cezar. O revolucionário Cordial. São Paulo: Boitempo, 2001.
GUEDES, Roberto. Viva Astrojildo Pereira, manuscrito inédito.
KONDER, Leandro. Intelectuais brasileiros e marxismo. Belo Horizonte (MG): Oficina de Livros, 1991.
MEMÓRIA E História, n. 1. Astrojildo Pereira. São Paulo: Ciências Humanas, 1981.
PEREIRA, Astrojildo. Construindo o PCB (1922-1924). São Paulo: Ciências Humanas, 1980.
__________________. Crítica Impura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963.
__________________. Ensaios Históricos e Políticos. São Paulo: Alfa-Ômega, 1979.
__________________. Formação do PCB (1922-1928). Lisboa: Prelo, 1976.
__________________. Machado de Assis: ensaios e apontamentos avulsos. Belo Horizonte (MG): Oficina de Livros, 1991.
__________________. URSS, Itália, Brasil. São Paulo: Novos Rumos, 1985.

Artigo de Monica Bruckmann

O artigo de Monica Bruckmann sobre a importância das lutas internacionais em torno das reservas mundiais de água saiu publicado primeiramente em espanhol durante a reunião internacional sobre o tema. Em seguida saiu a edição em português e agora a tradução ao inglês nas vésperas do dia internacional da água. Há uma versão mais ampla que saiu na revista da ALAI. Para ler o artigo na Carta Maior, clique aqui. Para ler o artigo mais completo de Monica Bruckmann, clique aqui.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Propuestas de los Pueblos Indígenas Andinos para Río+20

O movimento indígena avança para uma concepção cada vez mais madura dos seus direitos básicos, de sua contribuição civilizacional e da ordem mundial mais adequada ao pleno desenvolvimento da humanidade. Pela sua radicalidade, este programa se choca completamente com as tendências atuais de expansão do capitalismo mundial cujas leis de desenvolvimento comandam o destino atual da humanidade. Contudo, ao contrario do socialismo utópico do século XIX que partia da economia agrícola européia em decadência Diane da expansão capitalista, o enfoque do movimento indígena conflui com a luta contra a ameaça capitalista à sobrevivência da humanidade, o que lhe dá um conteúdo civilizatório poderoso no debate sobre a implantação de uma civilização planetária que terá de reconhecer a contribuição de todas as experiências civilizatórias na próxima etapa de evolução da humanidade. Como sabemos agora - com a descoberta da civilização Caral - que estes povos indígenas conservam e desenvolvem uma experiência de 5.000 anos, que liga as Américas ao nascimento das principais civilizações antigas, temos que tomar com grande cuidado esta concentração de sabedoria ancestral. Mais do que nunca necessitamos de uma visão dialética do processo civilizatório que respeite o papel da longa duração, dos gigantescos processos históricos que foram usados pela chamada civilização ocidental para justificar sua arrasadora conquista do planeta. A superação desta violenta imposição que se apoiava num desenvolvimento tecnológico voltado fundamentalmente para a expansão das formas de poder, apoiadas na acumulação econômica impulsionada pelo capital, mas particularmente fincada na base militar dos descobrimentos tecnológicos que se torna cada vez mais o próprio objetivo da acumulação capitalista, sra um processo longo que exigirá uma reflexão complexa e generosa de todos os povos, etnias, gêneros, classes sociais e experiências civilizatórias. Aqui está um programa de debates fundamentais para projetar nosso futuro.
Estudemos com respeito as aportações cada vez mais ricas e articuladas de nossos irmãos indígenas.


Propuestas de los Pueblos Indígenas Andinos para Río+20


Rechazo a la economía verde que mercantiliza la Madre Tierra y fortalecimiento del Buen Vivir como alternativa a la crisis de civilización.

El rechazo al modelo de economía verde, que profundiza la mercantilización de la Madre Tierra, y la apuesta por la profundización del Buen Vivir como alternativa al cambio climático y la crisis de civilización, fue la conclusión central del Seminario de Discusión sobre Cambio Climático y Río+20 desarrollado por la Coordinadora Andina de Organizaciones Indígenas (CAOI) los días 14 y 15 de marzo en Lima.

Los participantes, líderes, dirigentes y autoridades de los pueblos indígenas de Bolivia, Ecuador, Colombia y Perú, discutieron durante dos días los alcances y acuerdos de las conferencias mundiales sobre medio ambiente y desarrollo realizadas hasta le fecha, en particular lo relacionado con los compromisos internacionales frente a los pueblos indígenas, así como los temas centrales de Río+20: desarrollo sustentable y economía verde. Con estos insumos, construyeron las propuestas que la CAOI llevará a Río+20.

El Seminario discutió y aprobó las propuestas que la CAOI compartirá con los pueblos indígenas del Abya Yala y otros continentes para incidir en el enriquecimiento del Borrador Cero del documento que será discutido y aprobado en Río+20, titulado El futuro que queremos.

Buen Vivir

El primer compromiso emanado del Seminario fuel el de globalizar la propuesta de los pueblos indígenas del Buen Vivir (Sumak Kawsay, Sumak Qamaña, Allin Kawsay) frente al cambio climático, el problema más visible de la crisis de civilización, y las falsas soluciones basadas en los mecanismos de mercado con las que se pretende enfrentarlo.

Asimismo, formular un llamado a la comunidad internacional para reflexionar sobre las causas de fondo de la crisis, al fin de alcanzar una visión holística de los problemas. Porque desde la visión de los pueblos indígenas no es posible una salida exclusivamente técnica o exclusivamente económica a la crisis ambiental: la solución debe ser integral porque todo está interrelacionado, todo es un solo cuerpo, un solo ecosistema.

En ese marco, los pueblos indígenas afirmamos que la biodiversidad natural y la biodiversidad cultural están ligadas y deben protegerse en la misma medida. Esto implica el respeto de las culturas, sus conocimientos y sus prácticas, así como el fortalecimiento a la gestión de los pueblos y comunidades que habitan en zonas de alta biodiversidad, incluidos todos sus bienes naturales.

Conocimientos ancestrales

El Borrador Cero, concluyó el Seminario, debe reconocer y proteger los conocimientos ancestrales de los pueblos indígenas y proteger sus sitios sagrados. La recuperación y protección de saberes ancestrales colectivos de los pueblos indígenas debe contar con las salvaguardas necesarias.

Además, se debe explicitar que estos saberes no podrán ser violentados por ningún acuerdo normativo de protección de la propiedad intelectual a favor de empresas privadas. Y ninguna medida de protección de la propiedad intelectual debe ser un obstáculo para la transferencia de tecnología, que es una obligación de los países del Norte.

Otros puntos claves ausentes en el Borrador Cero son la necesidad de conservación de las fuentes hídricas, glaciares, páramos y cabeceras de cuenca; la urgencia de que los Estados acuerden acciones para garantizar tanto la seguridad como la soberanía alimentaria; y la implementación de políticas claras de bioseguridad.

Enfoque de derechos

La garantía a la participación de todos los pueblos y culturas en el ciclo de las políticas vinculadas a la economía verde y el desarrollo sostenible deben ser expresamente reconocidos.

Además, deben establecerse sistemas de salvaguarda, basados en la Declaración sobre los Derechos de los Pueblos Indígenas de las Naciones Unidas, para el proceso de implementación y financiamiento de políticas y programas de desarrollo sostenible y de economía verde. En particular, reafirmar el consentimiento previo, libre e informado de los pueblos indígenas y comunidades locales involucrados. Por ello, el documento también tiene que hacer explícito el Convenio 169 de la OIT y no solo la citada Declaración de Naciones Unidas.

El documento hace referencia a la Pachamama, pero no hace explícita la necesidad de una Declaración de los Derechos de la Madre Tierra. Esto debe ser vinculado a un instrumento jurídico como el Tribunal de Justicia Climática que sancione los actos que vulneren los derechos de la Madre Tierra.

Equidad de género

La Coordinación de las Mujeres de la CAOI realizó una reunión previa de las líderes indígenas de sus organizaciones integrantes (CONAMAQ, ECUARUNARI, ONIC y CONACAMI), la misma que llevó sus propuestas al Seminario.

Estas propuestas se resumen en la necesidad de que el Borrador Cero contenga la visión de mujeres, infancia y juventud de forma transversal. 

Incluir el reconocimiento de la mujer indígena como transmisora de los saberes indígenas a través de la lengua materna. Hacer explícitos los efectos del cambio climático para la mujer (migraciones, más responsabilidades) y acordar medidas para afrontar estos problemas. Y garantizar el derecho al acceso a los territorios de las mujeres para asegurar la supervivencia de los pueblos.

* Ver aquí el pronunciamiento del Seminario:

Lima, 16 de marzo del 2012,

Comunicaciones CAOI

Mais repercussões dos trabalhos de Monica Bruckmann

O padre D´Escoto foi ministro das relações exteriores da Nicarágua sandinista e presidente da Assembléia Geral das Nações Unidas até recentemente, desde onde criou a comissão de estudo sobre a crise capitalista mundial dirigida por Joseph Stiglitz, ainda em curso.

Managua, 7 diciembre 2011

Estimada señora Monica Bruckmann,

Reciba atentos saludos desde Managua, Nicaragua. Mi nombre es Jeanne Laurent, asistente del Padre Miguel d’Escoto Brockmann. Es con sus instrucciones que le estoy escribiendo esta nota. Su dirección electrónica la hemos obtenido a través de Internet y ojalá funcione.

El lunes 5 diciembre, el Padre d’Escoto vio el programa “Dossier”, dirigido por Walter Martínez, sobre los recursos naturales –en relación con Estados Unidos. Ahí se mostraron gráficos y se mencionó su nombre. Buscando más información en Internet encontramos su libro, “Recursos naturales y geopolítica de la integración Sudamericana”. Existe una versión que se puede bajar e imprimir, pero la letra es muy chiquita y muy difícil de leer para el Padre d’Escoto. Y es esta la razón de esta nota. ¿Sería posible que usted le mandara su libro por correo electrónico, para imprimirlo en letra más grande? Tal vez nos pueda indicar cómo o dónde conseguir una versión impresa y que tenga letra más grande.

El Padre Miguel d’Escoto le manda saludos fraternos y, de antemano, le está muy agradecido por su respuesta.

Atentamente,
Jeanne Laurent

Entrevista na Venezuela

Como sempre, faz parte das atividades em nossas viagens internacionais, entrevistas com jornalistas bem informados. Poucas chegam até mim, sempre por iniciativas dos jornalistas ou dos amigos. Esta entrevista no jornal Ciudad Caracas chega gratuitamente aos usuários do metrô de Caracas. E, em geral são lidas numa sociedade que se alfabetizou recentemente convertendo-se em mais um país latino-americano livre do analfabetismo, sempre com a ajuda substancial e desinteressada de Cuba. Que inveja! 

Podes ler a entrevista acessando este link. A entrevista está na última página do jornal.

Querido Theo,


Hoy salió una entrevista que te hicieron en el periódico Ciudad Caracas: www.ciudadccs.org.ve y en el portal Aporrea: www.aporrea.org
Traté de enviártelas pero no supe hacerlo


Cuando entras a la página de Ciudad Caracas hay la posibilidad de bajar en PDF la edición impresa donde la entrevista sale en mayor tamaño. Está en la última página. Además saliste joven y buen mozo


Que la disfrutes


Un abrazo
Carmen

domingo, 18 de março de 2012

Maria Prestes

Maria Prestes é uma expressão das milhões de mulheres de nosso povo cuja vida de luta, trabalho e sofrimento, resistência e amor necessitam servir de exemplo à nossa juventude carente de modelos éticos, sob o domínio de um ambiente cultural onde predominam as “estrelas” superficiais, cheias de desprezo pela sorte das grandes maiorias de nosso povo. Conheci a Maria quando passei a freqüentar a casa de Luis Carlos Prestes nos anos 80s e tive a honra de ajudar a que se incorporasse ao projeto histórico do Partido Democrático Trabalhista, ao qual pertenceu como Presidente de Honra, ao lado de Leonel Brizola, no auge de um governo do estado de Rio de Janeiro que deve servir de exemplo para o avanço democrático e popular do povo brasileiro. Esperemos que a companheira Dilma Rouseff que compartilhava conosco esta luta desde o Rio Grande do Sul, se mantenha firme e decidida como se revelou desde que assumiu suas tarefas no governo federal, sem negar em nenhum momento seu passado de lutas.
As propostas em marcha feitas por companheiros que estiveram nas mais diferentes posições partidárias dentro das lutas populares brasileiras mostram que as diferenças que tivemos e ainda temos sobre questões estratégicas e táticas não nos deve fazer perder esta solidariedade e companheirismo que unifica nossos valores e nossas bandeiras fundamentais.
Que bom se conseguirmos homenagear nossos heróis e colocar no seu lugar os agentes do atraso e da exploração de nosso povo como Filinto Müller.
Estou 100% de acordo com estas mulheres que avançam no governo de nosso país e na vanguarda de nossas lutas populares.



A pedido de Maria Prestes o senador Inácio Arruda (PCdoB) apresenta projeto para anular cassação de Prestes em 1948

O senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) anunciou, em discurso ontem (13), a apresentação de projeto de resolução para que o Senado corrija um erro histórico: declare nula a Resolução da Mesa adotada em 9 de janeiro de 1948, que extinguiu o mandato do senador Luís Carlos Prestes (1898-1990) e de seu suplente, após a cassação do registro do Partido Comunista do Brasil, então PCB.

O pedido foi feito pela viúva do ex-senador, Maria Prestes, durante a cerimônia de premiação do Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz. Maria Prestes, por indicação de Arruda, foi uma das agraciadas com o prêmio, e pediu aos parlamentares tal reparação. Sugestão que foi acatada.

Em aparte, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) sugeriu ainda que na próxima reunião da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), os senadores também sugiram a aprovação de outra proposta: a que modifica o nome de uma das alas do Senado de Filinto Müller para Luís Carlos Prestes. Em vez de homenagear Filinto Müller (1900-1973), que foi chefe da polícia política entre 1933 e 1942, durante a ditadura de Getúlio Vargas, e deu apoio, como senador, ao regime militar (de 1964 a 1985), a ala do Senado teria o nome do líder comunista Luís Carlos Prestes. O projeto é de autoria da senadora Ana Rita (PT-ES).


Maria Prestes se encontra com mulheres do PCdoBrasil



Maria Prestes, ou Altamira Rodrigues Sobral, seu nome original, é filha de camponeses pernambucanos, com quem, ainda na infância, teve suas primeiras lições sobre a causa comunista. E foi na militância política juvenil que conheceu o “Cavaleiro da esperança”, Luiz Carlos Prestes, com quem viveu por quarenta anos. De lá pra cá, nunca abandonou seu aprendizado e, aos 82 anos, ainda mantém viva e pulsante a convicção militante.

No final do evento, Maria Prestes foi abraçada pelas comunistas


Para comemorar os 90 anos do Partido Comunista e também a passagem do Dia Internacional da Mulher, a direção do PCdoB/DF realizou a palestra “As mulheres e os 90 anos do PCdoB”, que contou, justamente, com este ícone comunista que foi Maria Prestes, além das comunistas, a deputada federal Jô Moraes e da Secretária da Mulher do Governo do Distrito Federal, Olgamir Amancia. Simbolizando as gerações de mulheres comunistas, a mesa foi dirigida pela militante Patrícia de Matos, a mais jovem integrante do Comitê Estadual do PCdoB.

Maria Prestes falou com a simplicidade da camponesa e com a sabedoria e vivência de quem dedicou sua vida ao socialismo. Relatou em detalhes passagens de sua vida ao lado de Prestes, empolgando e emocionando a plateia que lotou o auditório da sede do PCdoB/DF.

Nascida em Recife, em 1930, muito cedo foi morar na Bahia, num pedaço de terra onde o pai plantava uma roça que servia para sustentar o jornal do Partido. Foi com o pai que aprendeu o “beabá” da ideologia comunista. Aos 17 anos, quando militava na Juventude Comunista, enfrentou a primeira fase de repressões porque viveu o país e, tendo que viver na clandestinidade, fugiu para São Paulo.

Junto com seus companheiros de militância juvenil teve a tarefa de cuidar da segurança de Prestes e assim o viu pela primeira vez. Tempos depois foi designada a tomar conta de um “aparelho”, ou seja, uma casa onde ela sequer sabia quem seria o morador. Descobriu que era o “Velho”, como ficou conhecido Luiz Carlos Prestes. Ali nasceu o romance que se transformou num casamento de mais de quarenta anos.

“Pergunte aos meus filhos: nunca tivemos nenhuma briga”, conta Maria, ao relatar uma passagem interessante que arrancou aplausos do plenário. “Não sou supersticiosa, mas na adolescência uma vizinha que era ‘macumbeira’ me levou no terreiro e disse que ‘fecharam meu corpo’ com Santa Bárbara (Yansã). Depois, em São Paulo uma moça pediu para ler minha mão e falou que eu ia conhecer um homem importante e com ele iria atravessar mares, sobrevoar montanhas, mas que não teria riquezas. Não dei bola. Mas, por coincidência ou não, conheci o Velho no dia 04 de dezembro, dia de Santa Bárbara”.

Mas, foram os relatos de suas atividades militantes, de convicção inabalável que mais chamou a atenção. Maria passou por ditaduras, enfrentou períodos de repressão, clandestinidade e o exílio. E mesmo em meio a monstruosas diversidades, criou nove filhos (sete com Prestes e dois do seu primeiro casamento), sempre convicta de seu papel, de modo especial, no cuidado com a segurança do “Cavaleiro da esperança”. “A polícia não adivinha nada. Quando ela vai num lugar é porque alguém delatou. E eu tinha que tomar muito cuidado, pois se algo acontecesse ao Velho, todos achariam que eu o havia entregue”.

Maria encerrou sua fala chamando a atenção para bandeiras que ela considera fundamentais para a luta do povo, como, de modo especial, a reforma agrária. Também disse que é preciso resgatar a juventude e a intelectualidade progressista para unir-se em torno da causa do socialismo.

Convicção militante renovada

A Deputada Jô Moraes destacou que a fala de Maria estava carregada do sentido de “ser comunista”, ou seja, de viver com e para o povo, ajudando-o a encontrar as soluções para seus problemas. “A força da simplicidade, a capacidade de resistir, a fraternidade e a camaradagem esboçada nesta palestra da Maria nos fortalece e renova nossa convicção militante”, destacou a parlamentar.

Olgamir Amancia, Secretária da Mulher do Governo do Distrito Federal enfatizou que a história de Maria Prestes é emblemática para a luta das mulheres, também sobre a ótica do papel das mulheres, muitas vezes dando suporte para que outros pudessem desempenhar outros papéis, como no caso de Prestes.

A Secretária comunista também advertiu que a fala de Maria trazia a reflexão sobre os avanços da ciência e da tecnologia e a serviço de quem estaria este avanço. “Não se constrói socialismo sem o sentido básico da ética comunista e da solidariedade de classe. Ela retoma a bandeira da utopia possível, da referência comunista, no momento em que se nega esta utopia”, falou Olgamir.

Senado homenageia Maria Prestes

Na tarde de ontem o Senado Federal homenageou mulheres de destaque, entre elas, Maria Prestes e a Presidenta Dilma, que receberam o Diploma Mulher Cidadã Bertha Lutz. Ao falar sobre Maria, a presidenta destacou que “Maria Prestes, a militante, teve como destino acompanhar um líder das lutas democráticas no Brasil ao longo de uma História difícil.

Participou ao seu lado, na condição fundamental, oferecendo apoio político e na criação de seus filhos. A relevância histórica deste livro deve ser uma recomendação para sua leitura”.
Na oportunidade, Maria entregou aos Senadores uma solicitação para a revogação da cassação do mandato de Senador de Luiz Carlos Prestes, ocorrido por perseguição política, enquanto muitos corruptos que lesam o povo seguem exercendo mandato e realizando manobras jurídicas para evitar a cassação.

Nesta terça-feira, o Senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) apresentou requerimento para a revogação da cassação do mandato de Senador do “Cavaleiro da esperança”.

De Brasília,
Sônia Correa

sexta-feira, 16 de março de 2012

Venezuela: cinco dias na linha de fogo

Entre os dias 9 e 14 de março, estive na Venezuela convidado pelo Banco Central para lançar a co-edição feita por esta entidade e a Biblioteca Ayacucho de meu livro Imperialismo e Dependência, editado originalmente em 1978 pela Editorial Era, do México. Esse livro foi objeto de debate muito amplo e foi editado em japonês (em 1983) e posteriormente na China (em 1992, pela Academia de Ciências Sociais e reeditado em 2000 e 2005). A cuidadosa edição venezuelana tem um prólogo de Carlos Eduardo Martins que discute a atualidade do livro que fez parte de uma nova coleção dos clássicos que compõem a Biblioteca Ayacucho, intitulada Chaves Políticas da América, "que tem por propósito mostrar o mais significativo da história dos movimentos e processos políticos ocorridos no nosso continente. Aborda sua matéria a partir das lideranças históricas dos nomes e movimentos coletivos em torno aos quais se forjaram processo importantes em seus países de origem, mas que devem ser entendidos como conjunto dentro da história política e social latino-americana e caribenha".







No dia 10 de março inauguramos a sala Horácio Quiroga, da VIII Feira Internacional do Livro da Venezuela. Fizemos uma apresentação do livro supracitado com debate, sobretudo sobre a vigência das teses nele defendidas. No dia 13, fizemos uma sessão de autógrafos desse mesmo livro e da obra Do Terror à Esperança: auge e decadência do neoliberalismo, editado originalmente no Brasil pela Idéias&Letras em 2004, e em espanhol em co-edição entre o Banco Central da Venezuela (BCV) e a Editora Monte Ávila. Nesta oportunidade se lançou a reedição do livro. A primeira edição contava com um prólogo de Domingo F. Maza  Zavala, antigo diretor do Banco Central, grande economista venezuelano recém-falecido. A edição chinesa acaba de sair em Pequim pela Editora da Academia de Ciências Sociais chinesa.







Chama a atenção o fato de que os principais jornais venezuelanos, propriedade da oligarquia oposta ao governo de Chávez (El Nacional e El Universal) ignoraram sumariamente essa feira, que contava com 267 editoras e um público de cerca de 250 mil visitantes (até o seu terceiro dia). Isto nos mostra a violência e a falta de qualquer ética jornalista da oposição venezuelana. É incrível que junto com eles toda a chamada grande imprensa da América Latina ignorou totalmente a feira. Como se vê não somente gozam da mais extrema liberdade de imprensa na Venezuela como se dão ao luxo de esconder totalmente a realidade do país. Esta imprensa está voltada exclusivamente para desenvolver uma campanha de boatos sobre a saúde do presidente Hugo Chávez. Tivemos, contudo, publicado um anúncio de nossa participação na Feira, feito pelo BCV no Últimas Notícias, que mantém uma linha independente capaz de saber que existe uma feira do livro de grandes proporções.




Sobre a saúde de Chávez podemos dizer que assistimos na televisão estatal, já que a privada ignora, a reunião em Havana do ministério da República Bolivariana da Venezuela com o seu presidente. Nesta oportunidade, além de demonstrar excelente saúde, durante as cinco horas sucessivas de programa mostraram-se várias reportagens ao vivo sobre a inauguração de um hospital regional de alta tecnologia chinesa que faz parte dos 21 convênios estabelecidos entre Venezuela e China, nos quais se estabelece a troca de petróleo venezuelano por maquinários de alta tecnologia para a instalação de serviços e empresas venezuelanas. Isto nos faz pensar como se desperdiça grandes possibilidades de intercâmbio comercial com a China quando ao invés de submeter esse intercâmbio a objetivos estratégicos de nossos países se deixam os mesmos ao sabor de um mercado "consumidor de quinquilharias". E, ainda por cima, critica os resultados desse enfoque neoliberal.
Na feira do livro visitamos particularmente os estandes da Biblioteca Ayacucho, cuja sala mais interessante é a que corresponde ao livro virtual. A versão digital da maioria das obras se encontra na Biblioteca Ayacucho Digital. É muito surpreendente também o projeto desenvolvido com o Ministério de Educação que distribuiu cerca de um milhão de computadores simples para os estudantes de secundário, cujo conteúdo pedagógico foi organizado por essa biblioteca. Ressalto também a criativa sala especial dedicada ao mangá venezuelano. Aí se organizaram aulas e oficinas para o ensino do estilo japonês de quadrinhos (mangá). Numa outra sala apresenta a Biblioteca Ayacucho os ganhadores do prêmio à confecção de clássicos latino-americanos apresentados como histórias em quadrinhos. Esta preocupação com a ampla divulgação dos clássicos latino-americanos está no coração mesmo da revolução bolivariana. Contudo, a editora da presidência da república publicou um milhão de exemplares do Dom Quixote de Cervantes e outro milhão dos Miseráveis de Victor Hugo. As editoras da presidência e a editora El Perro y la Rana vem publicando textos que são distribuídos diretamente nas bibliotecas comunitárias. O meu livro Conceito de Classes Sociais foi editado em 60 mil exemplares. Segundo se calcula a Venezuela é hoje um dos países de mais alto nível de leitura no mundo.
Um exemplo dessa política é a edição do meu livro Bendita Crisis! - socialismo y democracia en el Chile de Allende, que é vendido por dois bolivares, isto é, por menos de um dólar.






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