Marcos de Oliveira / Sérgio Souto - www.monitormercantil.com.br - 22/06/2009
Controle
Dirigentes políticos de todo o mundo se reunirão na sede da ONU em Nova York, entre quarta e sexta-feira próximas, para analisar a mais grave recessão econômica mundial desde a Grande Depressão. O objetivo do encontro, segundo a Organização das Nações Unidas, é identificar medidas de curto e longo prazo que atenuem os efeitos da crise e iniciar o processo de transformação da arquitetura financeira internacional. Estima-se que mais de 100 milhões de pessoas sejam lançadas na pobreza extrema, por ano, enquanto a crise durar. Mais informações sobre a conferência em www.un.org/ga/econcrisissummit
Supranacional
Ao comentar a reforma do sistema financeiro nos EUA, o professor Theotonio dos Santos, da UFF, fez coro aos analistas ouvidos pelo MM, que cobram uma supervisão supranacional para a movimentação de capitais entre países. "O setor financeiro sempre foi dependente do Estado, mas as transferências sem controle devem ser restringidas", frisou.
Articulação
Santos, que é integrante do Conselho Editorial do MM, prevê o fortalecimento do capitalismo de Estado no mundo inteiro, inclusive no sistema financeiro. "Os controles vão aumentar, mas os mecanismos não estão claros. É preciso haver uma instância na qual os bancos centrais se reúnam para atuar em conjunto. Os presidentes de bancos centrais e ministros da economia devem ser os principais articuladores da nova ordem mundial", disse, acrescentando que os EUA já procuraram a China para pedir uma política comum.
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terça-feira, 30 de junho de 2009
Energia renovável dá poder de negociação muito forte ao Brasil
www.monitormercantil.com.br - 05/07/2007 - 22:07
O Brasil assinou acordo de diálogo sobre política energética com a União Européia (UE), tornando-se, segundo o porta-voz europeu de Energia, Ferran Tarradellas, um "país-chave" para o bloco. A União Européia já mantém esse tipo de parceria com a Argélia e a Ucrânia e tenta se aproximar da Rússia.
Apesar das críticas dos presidentes Fidel Castro (Cuba) e Hugo Chavez (Venezuela) de que a produção de combustível renovável tira terra para o plantio de alimentos, o coordenador da Cátedra e Rede Unesco/ONU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen), Theotonio dos Santos, pondera que a energia renovável deu ao Brasil um poder de negociação muito forte, que não deve ser desprezado.
"O país tem tecnologia de ponta, clima e território ideais para a produção. A tese de Fidel e Chavez faz sentido nos EUA, onde o álcool é produzido a partir do milho. Atualmente, a produção de álcool de cana ocupa apenas 0,5% das terras agricultáveis no Brasil, podendo tranqüilamente chegar a 2%", afirma o cientista social, lembrando que a África também pode ser beneficiada.
"O Sudão é a maior reserva agrícola do planeta. O Brasil deve liderar a criação de algo similar à Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep) no campo da biomassa e fundar uma empresa estatal, a partir da Petrobras, voltada exclusivamente para o biodiesel", lembra.
Chicago ditará preços
Sobre a receptividade oferecida ao presidente dos EUA, George W. Bush, Theotonio destaca que a idéia dos norte-americanos é fazer do álcool uma commoditie. "Assim os preços serão ditados pelo sistema financeiro, em Chicago", alerta, criticando a falta de investimentos em pesquisa no setor.
"Pagando R$ 160 bilhões de juros por ano não sobra dinheiro para nada. Essa empulhação exige a reformulação do papel do Estado como gestor do desenvolvimento. O dinheiro que entra por causa dos juros apenas obriga o Estado a gastar mais, já que não vai para a produção", finaliza.
O Brasil assinou acordo de diálogo sobre política energética com a União Européia (UE), tornando-se, segundo o porta-voz europeu de Energia, Ferran Tarradellas, um "país-chave" para o bloco. A União Européia já mantém esse tipo de parceria com a Argélia e a Ucrânia e tenta se aproximar da Rússia.
Apesar das críticas dos presidentes Fidel Castro (Cuba) e Hugo Chavez (Venezuela) de que a produção de combustível renovável tira terra para o plantio de alimentos, o coordenador da Cátedra e Rede Unesco/ONU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen), Theotonio dos Santos, pondera que a energia renovável deu ao Brasil um poder de negociação muito forte, que não deve ser desprezado.
"O país tem tecnologia de ponta, clima e território ideais para a produção. A tese de Fidel e Chavez faz sentido nos EUA, onde o álcool é produzido a partir do milho. Atualmente, a produção de álcool de cana ocupa apenas 0,5% das terras agricultáveis no Brasil, podendo tranqüilamente chegar a 2%", afirma o cientista social, lembrando que a África também pode ser beneficiada.
"O Sudão é a maior reserva agrícola do planeta. O Brasil deve liderar a criação de algo similar à Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep) no campo da biomassa e fundar uma empresa estatal, a partir da Petrobras, voltada exclusivamente para o biodiesel", lembra.
Chicago ditará preços
Sobre a receptividade oferecida ao presidente dos EUA, George W. Bush, Theotonio destaca que a idéia dos norte-americanos é fazer do álcool uma commoditie. "Assim os preços serão ditados pelo sistema financeiro, em Chicago", alerta, criticando a falta de investimentos em pesquisa no setor.
"Pagando R$ 160 bilhões de juros por ano não sobra dinheiro para nada. Essa empulhação exige a reformulação do papel do Estado como gestor do desenvolvimento. O dinheiro que entra por causa dos juros apenas obriga o Estado a gastar mais, já que não vai para a produção", finaliza.
segunda-feira, 29 de junho de 2009
Conceptos de Clases Sociales
Programa da Blip TV Escuela de Cuadros - neste programa aprofundam o tema das classes sociais sob a ótica marxista e revolucionária a partir de um livro clássico de Theotonio Dos Santos "Conceitos de Classes Sociais" (re-editado recentemente na Venezuela pela editora El Perro y la Rana Editorial. Os apresentadores e expositores falam em espanhol.
As obras de Marx inspiraram as numerosas organizações políticas comprometidas em superar o Capitalismo; mas antes de superar um sistema há que se analizar sob quais condições surgiu este, em qual perspectiva e contexto histórico. Theotonio Dos Santos, apoyado em O Capital de Marx, assume a tarefa de analizar e pôr às claras diversos aspectos que dão vida à “luta de clases, (…) chave para compreender as classes sociais” que “está relacionada diretamente com a superação de uma determinada formação social (modo de produção, mais modo político e cultural)”. O que é então a “conciência de classe”, como tem estado relacionada com o surgimento das classes sociais ao longo da história?
As obras de Marx inspiraram as numerosas organizações políticas comprometidas em superar o Capitalismo; mas antes de superar um sistema há que se analizar sob quais condições surgiu este, em qual perspectiva e contexto histórico. Theotonio Dos Santos, apoyado em O Capital de Marx, assume a tarefa de analizar e pôr às claras diversos aspectos que dão vida à “luta de clases, (…) chave para compreender as classes sociais” que “está relacionada diretamente com a superação de uma determinada formação social (modo de produção, mais modo político e cultural)”. O que é então a “conciência de classe”, como tem estado relacionada com o surgimento das classes sociais ao longo da história?
Monitor Mercantil entrevista de Theotonio dos Santos em 2007
www.monitormercantil.com.br - 14/12/2007 - 20:12
Theotônio dos Santos/Cientista social
Classe média cresceu 137% na Venezuela com Hugo Chávez
A classe média aumentou em 137% sua participação na sociedade daquele país desde o início do governo Chávez. O dado é citado pelo cientista social Theotônio dos Santos para ilustrar as transformações em curso na América Latina. Embora seja um dado público, ela, porém, teve pouca divulgação na mídia.
Intelectual brasileiro com destacada participação na formulação da Teoria da Dependência, Santos salienta que os últimos prêmios Jabuti de Literatura - atualmente o mais tradicional e importante prêmio literário do país - anunciam a volta da América Latina ao mundo editorial brasileiro.
Coordenador da Cátedra e Rede Unesco/UNU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen) e integrante do Conselho Editorial do MM, ele pondera nesta entrevista exclusiva que todo esse processo mostra que "estamos avançando muito ideologicamente", voltando a discutir questões estiveram apagadas pelo pensamento único nos últimos anos.
"Os responsáveis por esse tipo de postura, agora, nos acusam de pensamento único e de ditadores, quando foram justamente eles os principais responsáveis por isso", critica, observando que "esse tipo de tergiversação tem pernas curtas".
O governo venezuelano garante que a participação da classe média na sociedade daquele país cresceu 137% no governo Chávez . O senhor referenda essa afirmação?
Sim. As classes mais baixas são os setores que estão ganhando mais. Há um grande desenvolvimento das comunidades, que estão se auto-dirigindo e programando amplamente o desenvolvimento, atuando em mais de 15 áreas, com recursos do governo. A classe média alta não tem vida comunitária forte, não é diretamente afetada pelo processo. Ademais, há preconceito e medo de perder certas vantagens, o que os mantêm em posição mais contrária ao governo.
Qual sua análise da vitória, ainda que apertada, do "não" no plebiscito sobre a reforma constitucional na Venezuela?
Creio que a discussão do plebiscito mostrou que dentro do apoio ao governo Chávez existem duas facções: uma que pretende levar mais longe o processo que está em curso e uma mais moderada. Essa divisão levou à vitória do "não", além de um grande segmento que não compareceu por estar confuso pela própria divisão no interior do governo. O processo de transformação, mesmo de maneira mais moderada, conta hoje com apoio de 65% a 70% da população. E, com isso, a oposição também está dividida entre os que querem partir para o confronto e os que aceitam o uso do voto. Pode agora surgir uma força de centro, mas creio que o apoio da população ao governo fará com que esse grupo continue girando em torno das teses de Chávez.
O que muda, então?
Quem tem feito a agenda é o Executivo. A partir de agora, essa tarefa caberá, principalmente, ao partido socialista. É uma situação nova, pois o governo, agora, conta com dois elementos de organização: comunitária e partidária, além das corporativas. Exercerá um papel aglutinador e o processo vai ganhar profundidade. Não ter conseguido passar todo o programa de reformas atrasa um pouco, mas a direção continua clara. É algo difícil de medir, a população calibrou a velocidade. Mas é um processo altamente democrático, com debate de idéias muito forte, já que o governo trabalha com discussão permanente com a população.
Essa participação se estende à esfera cultural?
Sim. E a edição de livros faz parte dessa nova fase de debates que a população está vivendo, bem como os setores intelectuais.
A imagem negativa que se vende de Hugo Chávez pode prejudicar o processo de integração regional?
Pelo menos da parte da Venezuela, o desejo (de integração) é muito forte. Há setores da própria classe dominante que estão interessados. Acho difícil que um grupinho atrasado possa conter uma vontade tão forte.
O senhor tem sublinhado que os temas latino-americanos e do desenvolvimento voltaram a ocupar um papel protagônico na produção cientifica brasileira. Acredita que nossa mídia acompanhará um dia esse processo?
A mídia vem devagar, porque tem um grupo conservador muito forte que controla os editoriais. Esse grupo continua sendo o principal dentro da mídia, mas vem perdendo legitimidade. O país está se voltando para a necessidade de retomar o desenvolvimento e esse pessoal aparece com mil questionamentos, porque representam um pensamento cujos anos de poder se traduziram em estagnação, exclusão social, aumento da desigualdade, da dependência. Trata-se de uma contra-revolução. Estão querendo voltar ao passado liberal superado desde a crise de 1929. É engraçado apresentarem esse retorno como se fosse a modernidade. Esse é o aspecto mais ridículo.
Há participação sua nos dois livros ganhadores do Prêmio Jabuti. Qual sua opinião sobre eles?
São duas publicações muito importantes. Enciclopédia Latino-americana (Editora Boitempo), melhor livro de não-ficção, que reúne autores da região e traz uma novidade grande, porque pega todos os aspectos, culturais inclusive, que permitem visão de bastante profundidade sobre região.
O outro, Celso Furtado e o Século XXI (Manole), homenageia nosso grande pensador sobre a questão do desenvolvimento, é uma produção conjunta da UFRJ e da Rede Celso Furtado, uma instituição latino-americana e européia. Trata do problema do desenvolvimento tal como se apresenta hoje. Meu artigo é mais voltado para a questão da aliança política que sustenta essa volta ao desenvolvimento, que uniu segmentos produtivos que estão sendo devorados pelo setor financeiro, e segmentos mais populares.
Acredita na vitória da produção sobre o rentismo?
Há muito tempo venho mostrando que desde os anos 90 o mundo retomou uma trajetória de crescimento que permite desenvolvimento mais aberto e que deve ser bem aproveitado. Criamos um grande excedente que está paralisado nesse momento na forma de reservas que, entretanto, podem permitir um grande avanço em termos de investimento, de uso dos recursos para absorção de tecnologia. Com esses recursos, poderemos entrar numa dinâmica forte de crescimento. E setores da própria classe dominante se beneficiarão também.
Há mudança de rumos no governo governo Lula?
Sim, mas ainda não é radical. O Banco Central (BC) continua na mão do mesmo grupo que destina 30% dos recursos do país para pagar juros. Não se pode nem mais dizer que é para atrair capitais, porque temos excedentes. Agora, a desculpa é de que precisamos segurar a inflação, mas a taxa de juros praticada hoje é inflacionaria. Quanto mais os juros caírem, deixando de ser instrumento de concentração de riqueza em alocações inúteis, a queda da taxa será deflacionária.
Rogério Lessa
Theotônio dos Santos/Cientista social
Classe média cresceu 137% na Venezuela com Hugo Chávez
A classe média aumentou em 137% sua participação na sociedade daquele país desde o início do governo Chávez. O dado é citado pelo cientista social Theotônio dos Santos para ilustrar as transformações em curso na América Latina. Embora seja um dado público, ela, porém, teve pouca divulgação na mídia.
Intelectual brasileiro com destacada participação na formulação da Teoria da Dependência, Santos salienta que os últimos prêmios Jabuti de Literatura - atualmente o mais tradicional e importante prêmio literário do país - anunciam a volta da América Latina ao mundo editorial brasileiro.
Coordenador da Cátedra e Rede Unesco/UNU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen) e integrante do Conselho Editorial do MM, ele pondera nesta entrevista exclusiva que todo esse processo mostra que "estamos avançando muito ideologicamente", voltando a discutir questões estiveram apagadas pelo pensamento único nos últimos anos.
"Os responsáveis por esse tipo de postura, agora, nos acusam de pensamento único e de ditadores, quando foram justamente eles os principais responsáveis por isso", critica, observando que "esse tipo de tergiversação tem pernas curtas".
O governo venezuelano garante que a participação da classe média na sociedade daquele país cresceu 137% no governo Chávez . O senhor referenda essa afirmação?
Sim. As classes mais baixas são os setores que estão ganhando mais. Há um grande desenvolvimento das comunidades, que estão se auto-dirigindo e programando amplamente o desenvolvimento, atuando em mais de 15 áreas, com recursos do governo. A classe média alta não tem vida comunitária forte, não é diretamente afetada pelo processo. Ademais, há preconceito e medo de perder certas vantagens, o que os mantêm em posição mais contrária ao governo.
Qual sua análise da vitória, ainda que apertada, do "não" no plebiscito sobre a reforma constitucional na Venezuela?
Creio que a discussão do plebiscito mostrou que dentro do apoio ao governo Chávez existem duas facções: uma que pretende levar mais longe o processo que está em curso e uma mais moderada. Essa divisão levou à vitória do "não", além de um grande segmento que não compareceu por estar confuso pela própria divisão no interior do governo. O processo de transformação, mesmo de maneira mais moderada, conta hoje com apoio de 65% a 70% da população. E, com isso, a oposição também está dividida entre os que querem partir para o confronto e os que aceitam o uso do voto. Pode agora surgir uma força de centro, mas creio que o apoio da população ao governo fará com que esse grupo continue girando em torno das teses de Chávez.
O que muda, então?
Quem tem feito a agenda é o Executivo. A partir de agora, essa tarefa caberá, principalmente, ao partido socialista. É uma situação nova, pois o governo, agora, conta com dois elementos de organização: comunitária e partidária, além das corporativas. Exercerá um papel aglutinador e o processo vai ganhar profundidade. Não ter conseguido passar todo o programa de reformas atrasa um pouco, mas a direção continua clara. É algo difícil de medir, a população calibrou a velocidade. Mas é um processo altamente democrático, com debate de idéias muito forte, já que o governo trabalha com discussão permanente com a população.
Essa participação se estende à esfera cultural?
Sim. E a edição de livros faz parte dessa nova fase de debates que a população está vivendo, bem como os setores intelectuais.
A imagem negativa que se vende de Hugo Chávez pode prejudicar o processo de integração regional?
Pelo menos da parte da Venezuela, o desejo (de integração) é muito forte. Há setores da própria classe dominante que estão interessados. Acho difícil que um grupinho atrasado possa conter uma vontade tão forte.
O senhor tem sublinhado que os temas latino-americanos e do desenvolvimento voltaram a ocupar um papel protagônico na produção cientifica brasileira. Acredita que nossa mídia acompanhará um dia esse processo?
A mídia vem devagar, porque tem um grupo conservador muito forte que controla os editoriais. Esse grupo continua sendo o principal dentro da mídia, mas vem perdendo legitimidade. O país está se voltando para a necessidade de retomar o desenvolvimento e esse pessoal aparece com mil questionamentos, porque representam um pensamento cujos anos de poder se traduziram em estagnação, exclusão social, aumento da desigualdade, da dependência. Trata-se de uma contra-revolução. Estão querendo voltar ao passado liberal superado desde a crise de 1929. É engraçado apresentarem esse retorno como se fosse a modernidade. Esse é o aspecto mais ridículo.
Há participação sua nos dois livros ganhadores do Prêmio Jabuti. Qual sua opinião sobre eles?
São duas publicações muito importantes. Enciclopédia Latino-americana (Editora Boitempo), melhor livro de não-ficção, que reúne autores da região e traz uma novidade grande, porque pega todos os aspectos, culturais inclusive, que permitem visão de bastante profundidade sobre região.
O outro, Celso Furtado e o Século XXI (Manole), homenageia nosso grande pensador sobre a questão do desenvolvimento, é uma produção conjunta da UFRJ e da Rede Celso Furtado, uma instituição latino-americana e européia. Trata do problema do desenvolvimento tal como se apresenta hoje. Meu artigo é mais voltado para a questão da aliança política que sustenta essa volta ao desenvolvimento, que uniu segmentos produtivos que estão sendo devorados pelo setor financeiro, e segmentos mais populares.
Acredita na vitória da produção sobre o rentismo?
Há muito tempo venho mostrando que desde os anos 90 o mundo retomou uma trajetória de crescimento que permite desenvolvimento mais aberto e que deve ser bem aproveitado. Criamos um grande excedente que está paralisado nesse momento na forma de reservas que, entretanto, podem permitir um grande avanço em termos de investimento, de uso dos recursos para absorção de tecnologia. Com esses recursos, poderemos entrar numa dinâmica forte de crescimento. E setores da própria classe dominante se beneficiarão também.
Há mudança de rumos no governo governo Lula?
Sim, mas ainda não é radical. O Banco Central (BC) continua na mão do mesmo grupo que destina 30% dos recursos do país para pagar juros. Não se pode nem mais dizer que é para atrair capitais, porque temos excedentes. Agora, a desculpa é de que precisamos segurar a inflação, mas a taxa de juros praticada hoje é inflacionaria. Quanto mais os juros caírem, deixando de ser instrumento de concentração de riqueza em alocações inúteis, a queda da taxa será deflacionária.
Rogério Lessa
domingo, 28 de junho de 2009
Desenvolvimento regional volta à pauta
www.monitormercantil.com.br -14/12/2007 - 21:12
O cientista social Theotônio dos Santos tem destacado que os temas latino-americanos e do desenvolvimento voltaram a ocupar o papel de protagonista na produção cientifica brasileira. Mas avalia que a mídia ainda vai demorar um tempo para acompanhar esse processo. "A mídia vem devagar, porque existe um grupo conservador muito forte que controla os editoriais. Esse grupo continua sendo o principal dentro da mídia, mas vem perdendo legitimidade".
O coordenador da Cátedra e Rede Unesco/UNU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen) afirma que o país está se voltando para a necessidade de retomar o desenvolvimento. "Mas esse pessoal aparece com mil questionamentos, porque representam um pensamento cujos anos de poder se traduziram em estagnação, exclusão social, aumento da desigualdade, da dependência. É engraçado apresentarem esse retorno como se fosse a modernidade. Este é o aspecto mais ridículo", disse.
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O cientista social Theotônio dos Santos tem destacado que os temas latino-americanos e do desenvolvimento voltaram a ocupar o papel de protagonista na produção cientifica brasileira. Mas avalia que a mídia ainda vai demorar um tempo para acompanhar esse processo. "A mídia vem devagar, porque existe um grupo conservador muito forte que controla os editoriais. Esse grupo continua sendo o principal dentro da mídia, mas vem perdendo legitimidade".
O coordenador da Cátedra e Rede Unesco/UNU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen) afirma que o país está se voltando para a necessidade de retomar o desenvolvimento. "Mas esse pessoal aparece com mil questionamentos, porque representam um pensamento cujos anos de poder se traduziram em estagnação, exclusão social, aumento da desigualdade, da dependência. É engraçado apresentarem esse retorno como se fosse a modernidade. Este é o aspecto mais ridículo", disse.
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sábado, 27 de junho de 2009
Sem liquidez EUA perdem hegemonia
www.monitormercantil.com.br - 19/09/2008 - 20:09
Mais do que uma volta à regulação do sistema financeiro global, o mundo caminha para o compartilhamento da hegemonia, com aumento da influência do euro e, mais adiante, do iuan, em detrimento do poder absoluto do dólar. O diagnóstico é do coordenador da Cátedra e Rede UNESCO/UNU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen), Theotonio dos Santos.
Para Santos, integrante do Conselho Editorial do MM, os países ricos não terão como barrar a compra de suas empresas por fundos soberanos de países emergentes, sobretudo asiáticos e árabes.
"A crise é de liquidez e muitos emergentes, liderados pela China, têm essa liquidez. Daqui para frente, a questão é política: a reconstrução de uma nova ordem pode se dar pela compra de ativos no mundo desenvolvido ou pelos investimentos na África e na América Latina. A decisão está na mão de quem tem liquidez", afirma, em entrevista exclusiva ao MM.
Mais do que uma volta à regulação do sistema financeiro global, o mundo caminha para o compartilhamento da hegemonia, com aumento da influência do euro e, mais adiante, do iuan, em detrimento do poder absoluto do dólar. O diagnóstico é do coordenador da Cátedra e Rede UNESCO/UNU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen), Theotonio dos Santos.
Para Santos, integrante do Conselho Editorial do MM, os países ricos não terão como barrar a compra de suas empresas por fundos soberanos de países emergentes, sobretudo asiáticos e árabes.
"A crise é de liquidez e muitos emergentes, liderados pela China, têm essa liquidez. Daqui para frente, a questão é política: a reconstrução de uma nova ordem pode se dar pela compra de ativos no mundo desenvolvido ou pelos investimentos na África e na América Latina. A decisão está na mão de quem tem liquidez", afirma, em entrevista exclusiva ao MM.
sexta-feira, 26 de junho de 2009
István Mészáros é ganhador do Prêmio Libertador al Pensamiento Crítico
Caracas, Venezuela, 25 Jun. - Con su obra El desafío y la carga del tiempo histórico. El socialismo en el siglo XXI, el húngaro István Mészáros, considerado uno de los principales pensadores marxistas de la actualidad, resultó este jueves como ganador del Premio Libertador al Pensamiento Crítico 2008.
Mészáros profesor emérito de la Universidad de Sussex (Inglaterra), pensador radical, discípulo y colaborador del filósofo Georg Lukács, con quien trabajó en la Universidad de Budapest de 1954 hasta la represión soviética en 1956. Asimismo, Mészáros es profundo conocedor de la larga tradición de los estudios marxistas y autor de obras clásicas como La teoría de la alienación y El poder de la ideología. Su obra de mayor envergadura y densidad es el estudio Para más allá del capital, publicado en Brasil en el año 2002.
Con su obra El desafío y la carga del tiempo histórico. El socialismo en el siglo XXI, el húngaro István Mészáros, considerado uno de los principales pensadores marxistas de la actualidad, resultó este jueves como ganador del Premio Libertador al Pensamiento Crítico 2008.
La decisión fue anunciada en el hotel Alba Caracas, por el jurado conformado por el ganador de la tercera edición, Renán Vega Cantor (Colombia), el economista e investigador Theotonio Dos Santos (Brasil), el sociólogo Bernard Duterme (Bélgica), y los escritores Judith Valencia y Juan Antonio Calzadilla (Venezuela).
La cuarta edición de este premio, cuya convocatoria reunió a más de un centenar de obras, entregará al ganador 150 mil dólares, una pieza escultórica representativa, un acta certificada y la publicación de su obra por parte del Ministerio del Poder Popular para la Cultura.
Mészáros profesor emérito de la Universidad de Sussex (Inglaterra), pensador radical, discípulo y colaborador del filósofo Georg Lukács, con quien trabajó en la Universidad de Budapest de 1954 hasta la represión soviética en 1956. Asimismo, Mészáros es profundo conocedor de la larga tradición de los estudios marxistas y autor de obras clásicas como La teoría de la alienación y El poder de la ideología. Su obra de mayor envergadura y densidad es el estudio Para más allá del capital, publicado en Brasil en el año 2002.
Con su obra El desafío y la carga del tiempo histórico. El socialismo en el siglo XXI, el húngaro István Mészáros, considerado uno de los principales pensadores marxistas de la actualidad, resultó este jueves como ganador del Premio Libertador al Pensamiento Crítico 2008.
La decisión fue anunciada en el hotel Alba Caracas, por el jurado conformado por el ganador de la tercera edición, Renán Vega Cantor (Colombia), el economista e investigador Theotonio Dos Santos (Brasil), el sociólogo Bernard Duterme (Bélgica), y los escritores Judith Valencia y Juan Antonio Calzadilla (Venezuela).
La cuarta edición de este premio, cuya convocatoria reunió a más de un centenar de obras, entregará al ganador 150 mil dólares, una pieza escultórica representativa, un acta certificada y la publicación de su obra por parte del Ministerio del Poder Popular para la Cultura.
BCs independentes viram linhas auxiliares da especulação global
www.momitormercantil.com.br - 19/09/2008 - 20:09
Para o coordenador da Cátedra e Rede UNESCO/UNU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen), Theotonio dos Santos, a independência dos bancos centrais transformou o setor público em linha auxiliar da especulação financeira: "A crise financeira que estamos presenciando começou a ser construída no final da década de 70, quando o setor privado conseguiu impor mecanismos de desregulamentação fortes, tendo os BCs como principal suporte."
Ele frisa que a crise atual é de liquidez e que alguns países emergentes asiáticos e árabes, liderados pela China, hoje detêm essa liquidez e estão em condições políticas de alterar a correlação de forças mundial:
"A causa do problema não é apenas falta de regulação, mas o uso de recursos do Estado para apoiar a especulação financeira", disse, lembrando que os bancos japoneses na década de 80 se tornaram os dez maiores do mundo, "mas quebraram e o Estado japonês converteu-se num dos mais endividados do mundo, com dívida pública de 100% do PIB, de US$ 3 trilhões."
O coordenador do Reggen avalia que, ao contrário do que pregam os defensores da independência dos BCs, essas instituições devem estar sob forte influência política: "A sociedade tem de ter voz para condicionar os recursos do Tesouro. Esse controle da população vai contra todos esses anos de neoliberalismo, quando a palavra investimento ganhou novo significado: cassino de jogos econômicos, na bolsa e em títulos públicos. E um cassino de cartas marcadas, porque o Estado sustenta."
De acordo com Theotonio, só quem corre risco nesse jogo são os "trouxas", que compram produtos financeiros que os bancos criam: "O sujeito que quebrou o Lehman Brothers saiu com US$ 500 milhões. O pior é que essas pessoas quebram países, com o Estado subsidiando."
Dólar
Para o coordenador do Reggen, que integra o Conselho Editorial do MM, neste momento o dólar já não é a única moeda de referência mundial, dividindo com o euro esse papel. Ele acrescenta que, no futuro próximo, o iuan se juntará a essa cesta de moedas de referência.
"Na década de 80, o dólar chegou a cair 40%, mas os bancos japoneses compraram títulos norte-americanos e reduziram essa desvalorização para 20%. Agora, países com enormes reservas em dólar procuram novamente minimizar essa queda, ofuscando a verdadeira dimensão da crise. Mas a recuperação do dólar que vem ocorrendo nos últimos meses é apenas temporária", observou.
Theotônio frisou que, na Ásia, o iuan já é a moeda de referência, inclusive para o Japão, que tem na China seu maior mercado, tendo superado as importações dos EUA.
Ele lembra que o iuan não se valorizou no mesmo ritmo do euro e, portanto, ainda tem muito a subir. No entanto, os chineses ainda não abriram espaço para investimentos financeiros porque as exportações ainda eram o carro-chefe do crescimento. Hoje, no entanto, o país está reorientando o dinamismo para o mercado interno.
Brasil
A fragilidade do Brasil, segundo o coordenador do Reggen, estaria no curtíssimo prazo de rolagem dos títulos públicos, extremamente concentrados em vencimentos até 90 dias: "E ainda criaram uma reversão - swap reverso - que garante o ganho do especulador até quando o dólar cai. O Banco Central (BC) brasileiro está numa posição de total ilegalidade", frisou.
Isso porque, frisou, apesar da Lei De Responsabilidade Fiscal (LRF), a política monetária "não dá satisfação a ninguém". E o governo, segundo Theotônio, "tem de arrumar dinheiro para cobrir" - fazendo superávit primário. "Mas se um governador construir uma escola sem base orçamentária vai preso", acrescentou.
Regulação
Theotonio está certo de que algo deverá ser proposto para regular o sistema financeiro, mas haverá conflito com os BCs independentes: "Está claro que os BCs protegem a especulação e, no estouro da boiada, tiram dinheiro do Tesouro e impõem taxas de juros que travam o crescimento e políticas de prelo emprego."
Para ele, a regulação deve estar sob estrito condicionamento político, mas essa decisão contará com a resistência da Europa também: "A Europa também faz parte do império e tem feito política contrária ao próprio desenvolvimento. Essa postura ajuda a financiar gastos militares e representa fator negativo para o ordenamento da economia mundial", criticou.
Nova ordem
Se a crise atual é de liquidez, Theotonio salientou que, "quem tem liquidez, está em condição de sair pelo mundo comprando ativos". Ele espera que surja uma nova ordem mundial, mas avalia que os detentores do poder (liquidez) ainda não têm muita clareza sobre como atuar no campo financeiro.
"Entrar como supridor de liquidez neste momento é um poder enorme, que poderá fazer os países ricos abrirem mão das restrições à venda de suas empresas. Mas o pensamento marxista nesse setor é mais crítico do que operacional. Os chineses de repente têm US$ 2 trilhões na mão, mais liquidez do que EUA e Europa juntos, porque os US$ 500 bilhões de ajuda para bancos não serão usados, são apenas para compor fundos, contabilmente, pois se fossem usados, provocariam uma inflação colossal."
O coordenador do Reggen avalia que essa é uma questão para a transição do capitalismo para um sistema mais próximo do socialismo, o que exigiria uma teoria para o "capitalismo de Estado".
Ele destacou que, excetuando as dez primeiras, as estatais se tornaram as maiores empresas do mundo: "O capitalismo de Estado está se tornando uma força multinacional. Esse excedente está nos fundos soberanos também. A questão é decidir onde alocar esses recursos, pois ainda não houve uma clara associação dos interesses de asiáticos, árabes e russos, que detêm mais volume de capital."
Ele lembrou que a China está investindo na África, enquanto os árabes aportam a maior parte dos recursos na própria Ásia: "Com US$ 50 bilhões, se faz uma transformação radical na África. A América Latina também tem grande potencial de crescimento, até porque o FMI não tem mais condições de controlar a política econômica na região. Então, quem tem liquidez pode optar sobre que mundo vai querer construir", resumiu.
(...)
Rogério Lessa
Para o coordenador da Cátedra e Rede UNESCO/UNU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen), Theotonio dos Santos, a independência dos bancos centrais transformou o setor público em linha auxiliar da especulação financeira: "A crise financeira que estamos presenciando começou a ser construída no final da década de 70, quando o setor privado conseguiu impor mecanismos de desregulamentação fortes, tendo os BCs como principal suporte."
Ele frisa que a crise atual é de liquidez e que alguns países emergentes asiáticos e árabes, liderados pela China, hoje detêm essa liquidez e estão em condições políticas de alterar a correlação de forças mundial:
"A causa do problema não é apenas falta de regulação, mas o uso de recursos do Estado para apoiar a especulação financeira", disse, lembrando que os bancos japoneses na década de 80 se tornaram os dez maiores do mundo, "mas quebraram e o Estado japonês converteu-se num dos mais endividados do mundo, com dívida pública de 100% do PIB, de US$ 3 trilhões."
O coordenador do Reggen avalia que, ao contrário do que pregam os defensores da independência dos BCs, essas instituições devem estar sob forte influência política: "A sociedade tem de ter voz para condicionar os recursos do Tesouro. Esse controle da população vai contra todos esses anos de neoliberalismo, quando a palavra investimento ganhou novo significado: cassino de jogos econômicos, na bolsa e em títulos públicos. E um cassino de cartas marcadas, porque o Estado sustenta."
De acordo com Theotonio, só quem corre risco nesse jogo são os "trouxas", que compram produtos financeiros que os bancos criam: "O sujeito que quebrou o Lehman Brothers saiu com US$ 500 milhões. O pior é que essas pessoas quebram países, com o Estado subsidiando."
Dólar
Para o coordenador do Reggen, que integra o Conselho Editorial do MM, neste momento o dólar já não é a única moeda de referência mundial, dividindo com o euro esse papel. Ele acrescenta que, no futuro próximo, o iuan se juntará a essa cesta de moedas de referência.
"Na década de 80, o dólar chegou a cair 40%, mas os bancos japoneses compraram títulos norte-americanos e reduziram essa desvalorização para 20%. Agora, países com enormes reservas em dólar procuram novamente minimizar essa queda, ofuscando a verdadeira dimensão da crise. Mas a recuperação do dólar que vem ocorrendo nos últimos meses é apenas temporária", observou.
Theotônio frisou que, na Ásia, o iuan já é a moeda de referência, inclusive para o Japão, que tem na China seu maior mercado, tendo superado as importações dos EUA.
Ele lembra que o iuan não se valorizou no mesmo ritmo do euro e, portanto, ainda tem muito a subir. No entanto, os chineses ainda não abriram espaço para investimentos financeiros porque as exportações ainda eram o carro-chefe do crescimento. Hoje, no entanto, o país está reorientando o dinamismo para o mercado interno.
Brasil
A fragilidade do Brasil, segundo o coordenador do Reggen, estaria no curtíssimo prazo de rolagem dos títulos públicos, extremamente concentrados em vencimentos até 90 dias: "E ainda criaram uma reversão - swap reverso - que garante o ganho do especulador até quando o dólar cai. O Banco Central (BC) brasileiro está numa posição de total ilegalidade", frisou.
Isso porque, frisou, apesar da Lei De Responsabilidade Fiscal (LRF), a política monetária "não dá satisfação a ninguém". E o governo, segundo Theotônio, "tem de arrumar dinheiro para cobrir" - fazendo superávit primário. "Mas se um governador construir uma escola sem base orçamentária vai preso", acrescentou.
Regulação
Theotonio está certo de que algo deverá ser proposto para regular o sistema financeiro, mas haverá conflito com os BCs independentes: "Está claro que os BCs protegem a especulação e, no estouro da boiada, tiram dinheiro do Tesouro e impõem taxas de juros que travam o crescimento e políticas de prelo emprego."
Para ele, a regulação deve estar sob estrito condicionamento político, mas essa decisão contará com a resistência da Europa também: "A Europa também faz parte do império e tem feito política contrária ao próprio desenvolvimento. Essa postura ajuda a financiar gastos militares e representa fator negativo para o ordenamento da economia mundial", criticou.
Nova ordem
Se a crise atual é de liquidez, Theotonio salientou que, "quem tem liquidez, está em condição de sair pelo mundo comprando ativos". Ele espera que surja uma nova ordem mundial, mas avalia que os detentores do poder (liquidez) ainda não têm muita clareza sobre como atuar no campo financeiro.
"Entrar como supridor de liquidez neste momento é um poder enorme, que poderá fazer os países ricos abrirem mão das restrições à venda de suas empresas. Mas o pensamento marxista nesse setor é mais crítico do que operacional. Os chineses de repente têm US$ 2 trilhões na mão, mais liquidez do que EUA e Europa juntos, porque os US$ 500 bilhões de ajuda para bancos não serão usados, são apenas para compor fundos, contabilmente, pois se fossem usados, provocariam uma inflação colossal."
O coordenador do Reggen avalia que essa é uma questão para a transição do capitalismo para um sistema mais próximo do socialismo, o que exigiria uma teoria para o "capitalismo de Estado".
Ele destacou que, excetuando as dez primeiras, as estatais se tornaram as maiores empresas do mundo: "O capitalismo de Estado está se tornando uma força multinacional. Esse excedente está nos fundos soberanos também. A questão é decidir onde alocar esses recursos, pois ainda não houve uma clara associação dos interesses de asiáticos, árabes e russos, que detêm mais volume de capital."
Ele lembrou que a China está investindo na África, enquanto os árabes aportam a maior parte dos recursos na própria Ásia: "Com US$ 50 bilhões, se faz uma transformação radical na África. A América Latina também tem grande potencial de crescimento, até porque o FMI não tem mais condições de controlar a política econômica na região. Então, quem tem liquidez pode optar sobre que mundo vai querer construir", resumiu.
(...)
Rogério Lessa
quinta-feira, 25 de junho de 2009
Multinacionais concentram 30% do comércio do mundo
www.monitormercantil.com.br - 20/08/2004 - 23:08
O comércio entre filiais de multinacionais espalhadas pelo mundo já representa 30% do fluxo mundial de trocas. O dado foi citado pelo professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Theotônio dos Santos para demonstrar que o livre mercado perseguido pelos economistas clássicos é uma utopia: "Hoje os interesses de monopólios e oligopólios predominam no mercado que, talvez, tenha sido livre apenas no século XIX", observa Santos, que integra o Conselho Editorial do MM.
Ele destaca que os Estados Unidos mantêm sua hegemonia, mesmo com déficit comercial de US$ 600 bilhões em 2004, por deterem a moeda mundial.
"Mas agora surgiu o euro, com grandes possibilidades de ser uma nova referência. Será difícil para os EUA manterem sua hegemonia com o colossal déficit comercial e custos externos extras, como o da guerra no Iraque que já custou US$ 150 bilhões", contabiliza, acrescentando que os gastos militares dos EUA totalizam US$ 800 bilhões anuais.
"A dívida externa do Brasil, que há poucos anos era a maior do planeta, foi largamente superada pela dos EUA, que hoje equivalem a US$ 1 trilhão", observa.
Na América Latina, o economista também avalia que o neoliberalismo não foi adotado na prática: "Diz-se que o Brasil tem fundamentos macroeconômicos fortes, mas seu risco soberano é um dos maiores do mundo. O Estado aumentou brutalmente a participação na economia, com a arrecadação saltando de 26% para 40% do PIB, mas o superávit primário de 4,5% do PIB não cobre os 12% gastos com o serviço da dívida interna. E a diferença é coberta com mais dívida."
Santos destaca também que o real foi a moeda que mais se desvalorizou no mundo desde 1998: "A inflação baixou no mundo todo. Apenas em três países supera os 10%", disse.
O comércio entre filiais de multinacionais espalhadas pelo mundo já representa 30% do fluxo mundial de trocas. O dado foi citado pelo professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Theotônio dos Santos para demonstrar que o livre mercado perseguido pelos economistas clássicos é uma utopia: "Hoje os interesses de monopólios e oligopólios predominam no mercado que, talvez, tenha sido livre apenas no século XIX", observa Santos, que integra o Conselho Editorial do MM.
Ele destaca que os Estados Unidos mantêm sua hegemonia, mesmo com déficit comercial de US$ 600 bilhões em 2004, por deterem a moeda mundial.
"Mas agora surgiu o euro, com grandes possibilidades de ser uma nova referência. Será difícil para os EUA manterem sua hegemonia com o colossal déficit comercial e custos externos extras, como o da guerra no Iraque que já custou US$ 150 bilhões", contabiliza, acrescentando que os gastos militares dos EUA totalizam US$ 800 bilhões anuais.
"A dívida externa do Brasil, que há poucos anos era a maior do planeta, foi largamente superada pela dos EUA, que hoje equivalem a US$ 1 trilhão", observa.
Na América Latina, o economista também avalia que o neoliberalismo não foi adotado na prática: "Diz-se que o Brasil tem fundamentos macroeconômicos fortes, mas seu risco soberano é um dos maiores do mundo. O Estado aumentou brutalmente a participação na economia, com a arrecadação saltando de 26% para 40% do PIB, mas o superávit primário de 4,5% do PIB não cobre os 12% gastos com o serviço da dívida interna. E a diferença é coberta com mais dívida."
Santos destaca também que o real foi a moeda que mais se desvalorizou no mundo desde 1998: "A inflação baixou no mundo todo. Apenas em três países supera os 10%", disse.
Dica de livro: "Países emergentes e os novos caminhos da modernidade"
É da Editora da Unesco o livro Países Emergentes e os Novos Caminhos da Modernidade, organizado a partir de coletânea artigos de autores de referência no campo das relações internacionais como Giovanni Arrighi, Theotonio dos Santos, Kinhide Mushakoji e Jean Kregel.
O livro aborda três temas centrais: sistema mundial e alternativas de desenvolvimento; cultura e modernidades alternativas e movimentos sociais; e os novos caminhos para a modernidade.
O livro é coordenado pelo cientista político Theotonio dos Santos e organizado por Carlos Eduardo Martins e Mónica Bruckmann.
O livro aborda três temas centrais: sistema mundial e alternativas de desenvolvimento; cultura e modernidades alternativas e movimentos sociais; e os novos caminhos para a modernidade.
O livro é coordenado pelo cientista político Theotonio dos Santos e organizado por Carlos Eduardo Martins e Mónica Bruckmann.
quarta-feira, 24 de junho de 2009
A força da China e as diferenças com o Brasil
www.monitormercantil.com.br - 02/12/2008 - 18:12
Iuan: moeda de referência na Ásia
"O iuan pode ser a moeda de referência na Ásia, pois a região procura ficar menos dependente do dólar. Estuda-se também a criação de uma moeda regional". A informação é do coordenador da Cátedra e Rede Unesco/UNU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen), Theotonio dos Santos. Recém-chegado da China, ele disse também que o Japão já exporta mais para os chineses do que para os EUA. "É um dado absolutamente definitivo para mostrar a importância que a China passa a adquirir para a região e se reflete no aspecto financeiro", acrescenta.
Do ponto de vista social, Santos revelou ao MONITOR MERCANTIL (MM) que há preocupação com a distribuição da renda, porque a prioridade passou a ser o mercado interno. "Os chineses continuarão estimulando o setor de mais baixa renda. Entre 2005 e 2006, o crescimento da renda agrícola foi superior a 10%. A renda do setor urbano subiu cerca de 20%. E para desespero do Meirelles (Henrique Meirelles, presidente do BC brasileiro) esse aumento de renda teve como efeito uma queda nos preços", ironizou, esclarecendo que o setor que mais cresceu foi o de capital fixo.
"Portanto, houve mais produtividade e preços mais baixos. Aqui no Brasil, aumenta a demanda, mas ninguém obriga o setor produtivo a avançar tecnologicamente e vender a preços mais baixos", criticou. O coordenador do Reggen, que integra o Conselho Editorial do MM, reprovou, no entanto, a iniciativa chinesa de apoiar uma reestruturação do FMI, em vez de criar um novo órgão regulador multilateral: "O FMI regula para obrigar a desregular. Todos os bancos centrais operam no sentido de reforçar o lucro do setor financeiro. Pressionaram a China para entrar nessa do banco central independente, mas não conseguiram", ressalvou.
Iuan: moeda de referência na Ásia
"O iuan pode ser a moeda de referência na Ásia, pois a região procura ficar menos dependente do dólar. Estuda-se também a criação de uma moeda regional". A informação é do coordenador da Cátedra e Rede Unesco/UNU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen), Theotonio dos Santos. Recém-chegado da China, ele disse também que o Japão já exporta mais para os chineses do que para os EUA. "É um dado absolutamente definitivo para mostrar a importância que a China passa a adquirir para a região e se reflete no aspecto financeiro", acrescenta.
Do ponto de vista social, Santos revelou ao MONITOR MERCANTIL (MM) que há preocupação com a distribuição da renda, porque a prioridade passou a ser o mercado interno. "Os chineses continuarão estimulando o setor de mais baixa renda. Entre 2005 e 2006, o crescimento da renda agrícola foi superior a 10%. A renda do setor urbano subiu cerca de 20%. E para desespero do Meirelles (Henrique Meirelles, presidente do BC brasileiro) esse aumento de renda teve como efeito uma queda nos preços", ironizou, esclarecendo que o setor que mais cresceu foi o de capital fixo.
"Portanto, houve mais produtividade e preços mais baixos. Aqui no Brasil, aumenta a demanda, mas ninguém obriga o setor produtivo a avançar tecnologicamente e vender a preços mais baixos", criticou. O coordenador do Reggen, que integra o Conselho Editorial do MM, reprovou, no entanto, a iniciativa chinesa de apoiar uma reestruturação do FMI, em vez de criar um novo órgão regulador multilateral: "O FMI regula para obrigar a desregular. Todos os bancos centrais operam no sentido de reforçar o lucro do setor financeiro. Pressionaram a China para entrar nessa do banco central independente, mas não conseguiram", ressalvou.
terça-feira, 23 de junho de 2009
Razões do auge econômico mundial
Theotonio dos Santos
O início de 2007 está cheio de manifestações de otimismo sobre o comportamento da economia mundial, apesar dos vários alertas sobre os fatores negativos que ameaçam a continuidade do auge mantido durante quase toda a década de 90 do século passado (particularmente desde 1994), com uma curta interrupção entre 2000 e 2001.
O informe anual da Unctad, recentemente publicado, sempre de muita boa qualidade, fala de uma pequena queda da alta taxa de crescimento alcançada em 2006. Previsões similares esperam-se do informe anual do presidente dos Estados Unidos em fevereiro, preparado pelo seu conselho econômico.
O FMI, o Banco Mundial e o excelente informe das Nações Unidas devem confirmar as previsões positivas quanto ao crescimento econômico anunciadas nos estudos de conjuntura do ano passado.
Trata-se de um consenso determinado pela força dos números, pois os "cânones" da teoria econômica não sabem muito bem explicar este comportamento da economia mundial. Para aqueles que trabalham com os ciclos longos de Kondratiev, este comportamento da economia mundial era plenamente previsível, como o leitor poderá certificar-se se ler meus artigos e livros escritos desde a década de 70.
Segundo este universo teórico, desconhecido para os economistas neoliberais e muitos heterodoxos, era previsível que as forças que anunciavam uma reestruturação da economia mundial desde 1966 (quando se inicia uma crise de longo prazo de cerca de 30 anos) deveriam preparar um novo auge econômico de longo prazo. Segundo os ciclos longos de Kondratiev, este novo ciclo deveria iniciar-se em 1994 aproximadamente.
Não se trata de nenhuma mágica senão de uma boa teoria economia apoiada no estudo da história econômica e não no estabelecimento de hipóteses cheias de ideologia e empiricamente irresponsáveis, formalizações mais estéticas que efetivas e deduções puramente formais, tudo isso a serviço da manutenção da ordem econômica vigente.
De fato, a revolução científico-técnica (RCT) entrava em uma etapa nova em 1966. A expansão da economia mundial após a II Guerra Mundial encontrava limites sérios para o crescimento do mercado mundial.
O pós-guerra foi marcado por um movimento mundial a favor da reforma agrária (que se expande na China, tanto a continental como em Formosa, no Japão, na Coréia, na Indochina, na Índia e em outros casos menos importantes) que integraram ao mercado mundial milhões de camponeses.
Da mesma forma, governos progressistas (os chamados populistas!) aumentaram a participação dos trabalhadores na vida econômica de grande parte do chamado Terceiro Mundo.
Esta extensão dos mercados do Terceiro Mundo acrescentava-se à expansão dos mercados nas economias centrais alcançadas com a consolidação do Estado do Bem-estar, a fixação do dólar como moeda mundial e a expansão dos investimentos americanos pelo mundo todo.
Esta expansão, realizada por empresas multinacionais e apoiadas nas políticas estatais desenvolvimentistas, incorporavam as inovações revolucionárias nas forças produtivas acumuladas pela revolução científico-técnica que se desabrochara durante a década de 1940.
Estas inovações se fazem possíveis economicamente em consequência dos processos revolucionários que abriram espaço para a realização da vontade política dos povos e governos. Estas aspirações - expressadas em levantes e movimentos populares desenvolvidos entre as duas guerras mundiais - foram reprimidas com êxito durante a longa crise da economia mundial que prevaleceu neste período.
Elas começaram a ser desbloqueadas durante as resistências antifascistas, apoiadas na ação militar dos Aliados durante a guerra e na euforia da vitória democrática sobre a reação nazi-fascista.
O crescimento dos investimentos durante e depois da guerra permitiu criar uma base industrial nas antigas zonas agrárias do mundo. Mas estas indústrias estavam voltadas para os mercados internos que se expandiam com as reformas sociais já citadas. Mas em 30 anos de expansão foram-se alcançando áreas do mundo onde as reformas sociais já não eram bem-vindas para o sistema mundial.
As mudanças sociais ganhavam dimensões muito mais profundas que as aceitáveis pelo sistema socioeconômico dominante - o capitalismo sentia-se ameaçado pelo conteúdo antiimperialista e socializante do movimento reformista mundial. Com isto, a expansão dos mercados mundiais se fazia muito cara e perigosa.
Era mais seguro reestruturar o conjunto do sistema mundial numa outra direção. Tratava-se de oferecer o mercado dos países centrais às indústrias emergentes nas economias mais dinâmicas do Terceiro Mundo (os chamados new industrial countries - os NICs) promovendo uma nova divisão internacional do trabalho.
O que o capital internacional não poderia medir muito claramente era o fato de que a criação de núcleos industriais nessas regiões daria origem também a um novo poder de geração de tecnologias próprias que permitiria a alguns desses países iniciar uma concorrência séria com o centro do poder mundial.
Isto é o que acontece durante os anos recessivos de 1966 a 1994 (fase B dos ciclos longos de Kondratiev) quando sobretudo o Japão e em parte os tigres asiáticos inauguraram a nova fase das forças produtivas mundiais caracterizada pela incorporação dos robôs ao sistema produtivo.
A recuperação da China e da Índia as transformou, em seguida, em potências industriais exportadoras. A expansão dos centros industriais e a nova divisão internacional do trabalho que vai se armando já não pode se deter.
Poucos puderam apreciar o impacto antiinflacionário dessa mutação. Com a robotização e os novos materiais, os preços dos produtos industriais baixam drasticamente, os gastos maiores se concentram nas áreas de pesquisa e desenvolvimento, marketing e gestão. Esta situação abre caminho à cópia de produtos a preços ínfimos.
Os monopólios se vêm enfrentados a uma rebaixa drástica das barreiras de entrada. As novas potências começam a ameaçar os monopólios centrais da economia mundial e os excedentes financeiros conseguidos com os superávits comerciais substituem poderes econômicos que se pensavam totalmente estáveis. Estão asseguradas as condições para um boom econômico de médio prazo. Este é o período que se consolida de 1994 para cá.
Crescimento econômico com tendências deflacionárias e queda dos custos de investimento a nível mundial. Desvalorização da enorme massa de capital financeiro acumulado no período recessivo. Queda espetacular dos altos juros da década de 80. Luta crescente entre os velhos monopólios e os capitalismo de Estado ascendentes pelo controle da economia mundial. Os que acreditam que um longo auge econômico significa tranquilidade à vista estão muito enganados.
O início de 2007 está cheio de manifestações de otimismo sobre o comportamento da economia mundial, apesar dos vários alertas sobre os fatores negativos que ameaçam a continuidade do auge mantido durante quase toda a década de 90 do século passado (particularmente desde 1994), com uma curta interrupção entre 2000 e 2001.
O informe anual da Unctad, recentemente publicado, sempre de muita boa qualidade, fala de uma pequena queda da alta taxa de crescimento alcançada em 2006. Previsões similares esperam-se do informe anual do presidente dos Estados Unidos em fevereiro, preparado pelo seu conselho econômico.
O FMI, o Banco Mundial e o excelente informe das Nações Unidas devem confirmar as previsões positivas quanto ao crescimento econômico anunciadas nos estudos de conjuntura do ano passado.
Trata-se de um consenso determinado pela força dos números, pois os "cânones" da teoria econômica não sabem muito bem explicar este comportamento da economia mundial. Para aqueles que trabalham com os ciclos longos de Kondratiev, este comportamento da economia mundial era plenamente previsível, como o leitor poderá certificar-se se ler meus artigos e livros escritos desde a década de 70.
Segundo este universo teórico, desconhecido para os economistas neoliberais e muitos heterodoxos, era previsível que as forças que anunciavam uma reestruturação da economia mundial desde 1966 (quando se inicia uma crise de longo prazo de cerca de 30 anos) deveriam preparar um novo auge econômico de longo prazo. Segundo os ciclos longos de Kondratiev, este novo ciclo deveria iniciar-se em 1994 aproximadamente.
Não se trata de nenhuma mágica senão de uma boa teoria economia apoiada no estudo da história econômica e não no estabelecimento de hipóteses cheias de ideologia e empiricamente irresponsáveis, formalizações mais estéticas que efetivas e deduções puramente formais, tudo isso a serviço da manutenção da ordem econômica vigente.
De fato, a revolução científico-técnica (RCT) entrava em uma etapa nova em 1966. A expansão da economia mundial após a II Guerra Mundial encontrava limites sérios para o crescimento do mercado mundial.
O pós-guerra foi marcado por um movimento mundial a favor da reforma agrária (que se expande na China, tanto a continental como em Formosa, no Japão, na Coréia, na Indochina, na Índia e em outros casos menos importantes) que integraram ao mercado mundial milhões de camponeses.
Da mesma forma, governos progressistas (os chamados populistas!) aumentaram a participação dos trabalhadores na vida econômica de grande parte do chamado Terceiro Mundo.
Esta extensão dos mercados do Terceiro Mundo acrescentava-se à expansão dos mercados nas economias centrais alcançadas com a consolidação do Estado do Bem-estar, a fixação do dólar como moeda mundial e a expansão dos investimentos americanos pelo mundo todo.
Esta expansão, realizada por empresas multinacionais e apoiadas nas políticas estatais desenvolvimentistas, incorporavam as inovações revolucionárias nas forças produtivas acumuladas pela revolução científico-técnica que se desabrochara durante a década de 1940.
Estas inovações se fazem possíveis economicamente em consequência dos processos revolucionários que abriram espaço para a realização da vontade política dos povos e governos. Estas aspirações - expressadas em levantes e movimentos populares desenvolvidos entre as duas guerras mundiais - foram reprimidas com êxito durante a longa crise da economia mundial que prevaleceu neste período.
Elas começaram a ser desbloqueadas durante as resistências antifascistas, apoiadas na ação militar dos Aliados durante a guerra e na euforia da vitória democrática sobre a reação nazi-fascista.
O crescimento dos investimentos durante e depois da guerra permitiu criar uma base industrial nas antigas zonas agrárias do mundo. Mas estas indústrias estavam voltadas para os mercados internos que se expandiam com as reformas sociais já citadas. Mas em 30 anos de expansão foram-se alcançando áreas do mundo onde as reformas sociais já não eram bem-vindas para o sistema mundial.
As mudanças sociais ganhavam dimensões muito mais profundas que as aceitáveis pelo sistema socioeconômico dominante - o capitalismo sentia-se ameaçado pelo conteúdo antiimperialista e socializante do movimento reformista mundial. Com isto, a expansão dos mercados mundiais se fazia muito cara e perigosa.
Era mais seguro reestruturar o conjunto do sistema mundial numa outra direção. Tratava-se de oferecer o mercado dos países centrais às indústrias emergentes nas economias mais dinâmicas do Terceiro Mundo (os chamados new industrial countries - os NICs) promovendo uma nova divisão internacional do trabalho.
O que o capital internacional não poderia medir muito claramente era o fato de que a criação de núcleos industriais nessas regiões daria origem também a um novo poder de geração de tecnologias próprias que permitiria a alguns desses países iniciar uma concorrência séria com o centro do poder mundial.
Isto é o que acontece durante os anos recessivos de 1966 a 1994 (fase B dos ciclos longos de Kondratiev) quando sobretudo o Japão e em parte os tigres asiáticos inauguraram a nova fase das forças produtivas mundiais caracterizada pela incorporação dos robôs ao sistema produtivo.
A recuperação da China e da Índia as transformou, em seguida, em potências industriais exportadoras. A expansão dos centros industriais e a nova divisão internacional do trabalho que vai se armando já não pode se deter.
Poucos puderam apreciar o impacto antiinflacionário dessa mutação. Com a robotização e os novos materiais, os preços dos produtos industriais baixam drasticamente, os gastos maiores se concentram nas áreas de pesquisa e desenvolvimento, marketing e gestão. Esta situação abre caminho à cópia de produtos a preços ínfimos.
Os monopólios se vêm enfrentados a uma rebaixa drástica das barreiras de entrada. As novas potências começam a ameaçar os monopólios centrais da economia mundial e os excedentes financeiros conseguidos com os superávits comerciais substituem poderes econômicos que se pensavam totalmente estáveis. Estão asseguradas as condições para um boom econômico de médio prazo. Este é o período que se consolida de 1994 para cá.
Crescimento econômico com tendências deflacionárias e queda dos custos de investimento a nível mundial. Desvalorização da enorme massa de capital financeiro acumulado no período recessivo. Queda espetacular dos altos juros da década de 80. Luta crescente entre os velhos monopólios e os capitalismo de Estado ascendentes pelo controle da economia mundial. Os que acreditam que um longo auge econômico significa tranquilidade à vista estão muito enganados.
(neoliberalismo) As ilusões do poder
Theotonio dos Santos
Em 1982, a televisão brasileira dominou de forma até então desconhecida a mente de sua população. A performance sem dúvida de alta qualidade da seleção de futebol do Brasil tomou conta de toda a população. Cada jogo era antecipado por comemorações em todas as ruas do país, desenhos especiais, esculturas, todo tipo de decorações.
Tudo isso foi comandado pelas principais redes de televisão que assinavam contratos altíssimos de patrocínio da cobertura de cada jogo. O país paralisou-se em função do campeonato mundial de futebol.
Mas o espetáculo tinha um limite definitivo: havia que ganhar os jogos para chegar ao campeonato mundial. E por mais excelente que a seleção brasileira se demonstrara, sob o sábio comando de Telê Santana, veio a derrota para a Itália. Subitamente, esse gigantesco processo de manipulação da opinião pública e das emoções de 150 milhões de pessoas caiu em ruínas. A lição foi muito dura, mas estabeleceu um limite definitivo para a manipulação da opinião pública: a realidade acaba se impondo sobre sua representação.
Uma coisa similar estamos assistindo com esta fantástica mobilização da opinião pública mundial, que representou o pensamento único neoliberal e sua farsa fundamentalista, inspirada na tese do fim da História. As dificuldades de um sistema econômico social em grave crise desde 1966 foram transformadas em vitórias deste mesmo sistema poucos anos depois. A derrota militar da maior potência econômica e tecnológica em Vietnã transformou-se, poucos anos depois, em lição aprendida. Por passe de mágica televisivo, os derrotados Estados Unidos transformavam-se no incontrastável poder militar no mundo.
A retirada unilateral das tropas soviéticas do Afeganistão e da Europa Ocidental, o desarmamento unilateral desta e as mudanças políticas e ideológicas encaminhadas abertamente por seus dirigentes terminaram definitivamente com a Guerra Fria e levaram finalmente à dissolução da URSS, similar a autodissolução da Terceira Internacional durante a Segunda Guerra Mundial por Stalin.
A pesar de apresentada como uma vitória dos Estados Unidos, do Ocidente cristão e do capitalismo, é preciso recordar que a Guerra Fria foi um invento iniciado por Churchill e por Truman para "conter" seu aliado mais estreito na Segunda Guerra Mundial, tentando de forma fracassada revisar os acordos de Yalta em seu favor. O fim da Guerra Fria dificilmente poderia representar a vitória daqueles que a criaram.
O resultado da Guerra Fria não foi nada favorável para seus criadores. Pressionada, a Europa Oriental converteu-se em repúblicas populares controladas militarmente, em parte politicamente e de forma fraca ideologicamente pela URSS; a China converteu-se em uma República Popular que expulsou o Kuomitang para a pequena ilha de Formosa (conhecida em inglês como Taiwan); na Coréia, as tropas norte-americanas não conseguiram recuperar o norte do país depois de uma longa guerra.
Na Indochina, os franceses foram definitivamente derrotados pelo Vietcong, abrindo caminho para a intervenção norte-americana na região que não conseguiu manter o regime fantoche do Vietnã do Sul e depois de longa guerra perdeu toda a Indochina incluindo o Laos e a Camboja. Sem falar das várias derrotas que se acumularam em todo o mundo colonial e na América Latina que não podemos detalhar.
Ao invés de revisar profundamente sua estratégia e ajustar-se à perda da hegemonia norte-americana em andamento (tal e como o fez a Trilateral ao abrir caminho para o acordo com a China, ao criar o grupo dos Sete como expressão da Aliança dos Estados Unidos, Europa e Japão), a classe dominante estadunidense acabou aceitando (com muitas dúvidas, na verdade) a ofensiva estratégica iniciada por Reagan para recuperar a hegemonia dos Estados Unidos e fazer retroceder e ainda mesmo destruir o Argamenom, o inimigo diabólico que era a URSS e os poderes mundiais socialistas e do chamado Terceiro Mundo.
Qual não foi a sua surpresa ao ver que os dirigentes políticos do outro lado assumiam a ofensiva e liquidavam com o sistema de alianças gerado pela Guerra Fria e desarmavam totalmente o esquema ofensivo criado pela mesma. A Otan, o sistema Breton Woods, as mesmas Nações Unidas sem a China Popular em seu Conselho de Segurança, ruíam-se e desarmavam-se as peças fundamentais da hegemonia estadunidense criada no Pós-guerra. Haveria que construir um novo mundo pós Guerra Fria.
É aí onde reside o fracasso dos falcões de direita norte-americanos que se uniram em torno de George W. Bush, o jovem. O pai tinha feito a invasão da minúscula Granada, do pequeno Panamá como vice-presidente e finalmente realizou o bombardeio do Iraque (sem ocupação, pois se reconhecia o custo militar e geopolítico da mesma - com o inevitável fortalecimento do Irã).
Ao invés de tomar este fato como lição, já que os Estados Unidos operaram com recursos financeiros alheios (a guerra tinha sido financiada pela Arábia Saudita, Kuwait, Alemanha e Japão) e um poder aéreo devastador mas muito pouco poder de infantaria, os formadores da opinião pública mundial impuseram-nos a versão delirante de que os Estados Unidos se converteram em uma superpotência única. Estabeleceram-se aí as bases do delírio do unilateralismo.
Somente a imposição aos Estados Unidos de uma figura medíocre como George W. Bush poderia abrir caminho para um experimento tão delirante como seu governo. Ajudado pelo atentado ao World Trade Center em 2001, este grupo de alienados levou o mundo a uma aventura colossal sob uma aparente retomada da total hegemonia norte-americana.
O experimento militar, com uma ocupação baseada em tropas ínfimas dispersas por todo o país invadido, com um apoio interno mínimo e graves problemas logísticos, foi um reconhecido fracasso (quase unânime em nossos dias, depois de tentativas de controle mediático da opinião pública mundial a través de uma euforia baseada na versão incontrastável superioridade militar estadunidense).
O experimento diplomático foi outro fracasso devido ao total desprezo pelo apoio da opinião pública mundial. O experimento político levou à total derrota dos Estados Unidos na região e a um grave problema interno. O experimento econômico com o aumento gigantesco dos gastos militares e do déficit fiscal norte-americano acompanhado do aumento gigantesco do déficit comercial, leva a economia mundial a um dos seus mais graves desequilíbrios.
Todos esses fracassos determinam uma situação mundial extremamente difícil que exige uma profunda reavaliação dos princípios filosóficos, metodológicos, econômicos e políticos que orientaram esta ofensiva ideológica, militar, econômica, política e cultural inspirada na idéia do unilateralismo assentado no poder hegemônico estadunidense e numa vitória da ideologia do livre mercado, que fez o pensamento "científico" retroceder ao Século XVIII e instituiu o fim da História, terminando em sua negação ao descobrir a ameaça do "choque de civilizações" com o qual se quer explicar o caos gerado por esta operação fracassada de controle mundial.
O atentado ao vice-presidente dos Estados Unidos, ao revistar suas próprias tropas no Afganistao, pretensamente pacificado, mostra o grau de insegurança ao que chegou o superpoder unilateral. É hora de colocar a realidade de pé e abandonar esses delírios ideológicos.
www.monitormercantil.com.br - 06/03/2007 - 22:03
Em 1982, a televisão brasileira dominou de forma até então desconhecida a mente de sua população. A performance sem dúvida de alta qualidade da seleção de futebol do Brasil tomou conta de toda a população. Cada jogo era antecipado por comemorações em todas as ruas do país, desenhos especiais, esculturas, todo tipo de decorações.
Tudo isso foi comandado pelas principais redes de televisão que assinavam contratos altíssimos de patrocínio da cobertura de cada jogo. O país paralisou-se em função do campeonato mundial de futebol.
Mas o espetáculo tinha um limite definitivo: havia que ganhar os jogos para chegar ao campeonato mundial. E por mais excelente que a seleção brasileira se demonstrara, sob o sábio comando de Telê Santana, veio a derrota para a Itália. Subitamente, esse gigantesco processo de manipulação da opinião pública e das emoções de 150 milhões de pessoas caiu em ruínas. A lição foi muito dura, mas estabeleceu um limite definitivo para a manipulação da opinião pública: a realidade acaba se impondo sobre sua representação.
Uma coisa similar estamos assistindo com esta fantástica mobilização da opinião pública mundial, que representou o pensamento único neoliberal e sua farsa fundamentalista, inspirada na tese do fim da História. As dificuldades de um sistema econômico social em grave crise desde 1966 foram transformadas em vitórias deste mesmo sistema poucos anos depois. A derrota militar da maior potência econômica e tecnológica em Vietnã transformou-se, poucos anos depois, em lição aprendida. Por passe de mágica televisivo, os derrotados Estados Unidos transformavam-se no incontrastável poder militar no mundo.
A retirada unilateral das tropas soviéticas do Afeganistão e da Europa Ocidental, o desarmamento unilateral desta e as mudanças políticas e ideológicas encaminhadas abertamente por seus dirigentes terminaram definitivamente com a Guerra Fria e levaram finalmente à dissolução da URSS, similar a autodissolução da Terceira Internacional durante a Segunda Guerra Mundial por Stalin.
A pesar de apresentada como uma vitória dos Estados Unidos, do Ocidente cristão e do capitalismo, é preciso recordar que a Guerra Fria foi um invento iniciado por Churchill e por Truman para "conter" seu aliado mais estreito na Segunda Guerra Mundial, tentando de forma fracassada revisar os acordos de Yalta em seu favor. O fim da Guerra Fria dificilmente poderia representar a vitória daqueles que a criaram.
O resultado da Guerra Fria não foi nada favorável para seus criadores. Pressionada, a Europa Oriental converteu-se em repúblicas populares controladas militarmente, em parte politicamente e de forma fraca ideologicamente pela URSS; a China converteu-se em uma República Popular que expulsou o Kuomitang para a pequena ilha de Formosa (conhecida em inglês como Taiwan); na Coréia, as tropas norte-americanas não conseguiram recuperar o norte do país depois de uma longa guerra.
Na Indochina, os franceses foram definitivamente derrotados pelo Vietcong, abrindo caminho para a intervenção norte-americana na região que não conseguiu manter o regime fantoche do Vietnã do Sul e depois de longa guerra perdeu toda a Indochina incluindo o Laos e a Camboja. Sem falar das várias derrotas que se acumularam em todo o mundo colonial e na América Latina que não podemos detalhar.
Ao invés de revisar profundamente sua estratégia e ajustar-se à perda da hegemonia norte-americana em andamento (tal e como o fez a Trilateral ao abrir caminho para o acordo com a China, ao criar o grupo dos Sete como expressão da Aliança dos Estados Unidos, Europa e Japão), a classe dominante estadunidense acabou aceitando (com muitas dúvidas, na verdade) a ofensiva estratégica iniciada por Reagan para recuperar a hegemonia dos Estados Unidos e fazer retroceder e ainda mesmo destruir o Argamenom, o inimigo diabólico que era a URSS e os poderes mundiais socialistas e do chamado Terceiro Mundo.
Qual não foi a sua surpresa ao ver que os dirigentes políticos do outro lado assumiam a ofensiva e liquidavam com o sistema de alianças gerado pela Guerra Fria e desarmavam totalmente o esquema ofensivo criado pela mesma. A Otan, o sistema Breton Woods, as mesmas Nações Unidas sem a China Popular em seu Conselho de Segurança, ruíam-se e desarmavam-se as peças fundamentais da hegemonia estadunidense criada no Pós-guerra. Haveria que construir um novo mundo pós Guerra Fria.
É aí onde reside o fracasso dos falcões de direita norte-americanos que se uniram em torno de George W. Bush, o jovem. O pai tinha feito a invasão da minúscula Granada, do pequeno Panamá como vice-presidente e finalmente realizou o bombardeio do Iraque (sem ocupação, pois se reconhecia o custo militar e geopolítico da mesma - com o inevitável fortalecimento do Irã).
Ao invés de tomar este fato como lição, já que os Estados Unidos operaram com recursos financeiros alheios (a guerra tinha sido financiada pela Arábia Saudita, Kuwait, Alemanha e Japão) e um poder aéreo devastador mas muito pouco poder de infantaria, os formadores da opinião pública mundial impuseram-nos a versão delirante de que os Estados Unidos se converteram em uma superpotência única. Estabeleceram-se aí as bases do delírio do unilateralismo.
Somente a imposição aos Estados Unidos de uma figura medíocre como George W. Bush poderia abrir caminho para um experimento tão delirante como seu governo. Ajudado pelo atentado ao World Trade Center em 2001, este grupo de alienados levou o mundo a uma aventura colossal sob uma aparente retomada da total hegemonia norte-americana.
O experimento militar, com uma ocupação baseada em tropas ínfimas dispersas por todo o país invadido, com um apoio interno mínimo e graves problemas logísticos, foi um reconhecido fracasso (quase unânime em nossos dias, depois de tentativas de controle mediático da opinião pública mundial a través de uma euforia baseada na versão incontrastável superioridade militar estadunidense).
O experimento diplomático foi outro fracasso devido ao total desprezo pelo apoio da opinião pública mundial. O experimento político levou à total derrota dos Estados Unidos na região e a um grave problema interno. O experimento econômico com o aumento gigantesco dos gastos militares e do déficit fiscal norte-americano acompanhado do aumento gigantesco do déficit comercial, leva a economia mundial a um dos seus mais graves desequilíbrios.
Todos esses fracassos determinam uma situação mundial extremamente difícil que exige uma profunda reavaliação dos princípios filosóficos, metodológicos, econômicos e políticos que orientaram esta ofensiva ideológica, militar, econômica, política e cultural inspirada na idéia do unilateralismo assentado no poder hegemônico estadunidense e numa vitória da ideologia do livre mercado, que fez o pensamento "científico" retroceder ao Século XVIII e instituiu o fim da História, terminando em sua negação ao descobrir a ameaça do "choque de civilizações" com o qual se quer explicar o caos gerado por esta operação fracassada de controle mundial.
O atentado ao vice-presidente dos Estados Unidos, ao revistar suas próprias tropas no Afganistao, pretensamente pacificado, mostra o grau de insegurança ao que chegou o superpoder unilateral. É hora de colocar a realidade de pé e abandonar esses delírios ideológicos.
www.monitormercantil.com.br - 06/03/2007 - 22:03
Bolívia: provocações irresponsáveis!
Theotonio dos Santos - Diretor-presidente da Reggen (www.reggen.org.br)
Em artigos anteriores assinalamos a favorável conjuntura em que vivem a América Latina e os chamados países do Terceiro Mundo, caracterizada por um enorme excedente monetário, uma liquidez excepcional que se articula com um momento de forte renovação tecnológica e um rebaixamento dramático dos preços dos produtos manufaturados, inclusive das máquinas e equipamentos, das matérias-primas industrializadas e outros insumos da produção.
Neste contexto apresentam-se excelentes oportunidades para o crescimento e o desenvolvimento econômico, sobretudo se estes países fizerem fortes investimentos em ciência e tecnologia para abrir novos campos do conhecimento e da produção e aplicarem fortes recursos na educação desde uma perspectiva revolucionária, audaz e consequente que reafirme as identidades culturais dos povos que a formam.
Como sugerimos em várias oportunidades, há uma expansão impressionante da subjetividade dos povos da região, que alcança inclusive os setores de baixíssima renda. Há uma nova consciência que afirma identidades até agora bloqueadas por fortes esquemas repressivos, como o caso dos povos indígenas e, ao mesmo tempo, amplia o alcance dessas identidades criando laços continentais e universais.
Outra vez podemos usar o exemplo dos povos indígenas que recolhem uma identidade nacional e regional - há muito reprimida em sua experiência diária - para produzir agendas nacionais, regionais, continentais e universais (como a convocatória universal dos zapatistas contra a globalização) ou inclusive uma proposta de um novo paradigma cultural a partir da relação dos povos indígenas com a natureza.
O importante não é tanto a verdade histórica e científica dessas pretensões senão a audácia, a vontade política e a energia vital que elas expressam num momento em que a ideologia socialista do proletariado industrial se mostra debilitada e coloca-se à defensiva devido à diminuição do papel da indústria na dinâmica econômica mundial.
Por isso não é bom subestimar a profundidade dos movimentos atuais pela integração latino-americana. Não se trata de um movimento puramente mercantil, apesar do intercâmbio de bens estar ligado a fortes realidades culturais. Trata-se de uma vontade crescente que exprime desejos contidos por séculos de fracasso regional.
A expansão norte-americana tem dois lados contraditórios: o reconhecimento da eficácia da economia capitalista moderna, sobretudo da produção manufatureira, assalariada e mercantil, de um lado, e de outro a rejeição à imposição da submissão da região, na medida em que os Estados Unidos uniam-se aos latifundiários locais ou internacionais para nos reduzir à condição de um capitalismo dependente e subordinado a serviço de sua demanda de matérias primas e produtos agrícolas.
A América Latina uniu-se em torno da idéia do desenvolvimento regional, identificou-se culturalmente com a perspectiva de uma luta comum contra o imperialismo estadunidense, luta na qual encontrou importantes aliados dentro dos Estados Unidos, onde um forte movimento antiimperialista sempre apoiou a perspectiva dos povos do sul.
No quadro atual, no qual se apresentam possibilidades concretas de avançar no desenvolvimento regional, onde novas formas de cooperação ganham força a cada dia na região, se levantam, uma vez mais, os interesses dos aliados ao subdesenvolvimento e à dependência. Eles se alimentam das relações econômicas desiguais e temem o desenvolvimento de uma consciência coletiva regional e das ações a favor do fortalecimento de uma política regional comum e unificada.
Esta reação tem dois instrumentos: por um lado, as constantes buscas de situações contrárias à integração regional e de razões para seu fracasso. Por outro lado, a intervenção ou estímulo à divisão entre os países da região. No momento atual esta intervenção busca dividir as correntes políticas progressistas da região, com a tentativa de gerar uma falsa oposição entre os governos do Brasil e da Venezuela pela liderança da região.
No passado, lançaram sempre os argentinos contra os brasileiros com resultados favoráveis para seus objetivos. Além disso, encorajaram e apoiaram outros conflitos regionais. No momento atual, vêem, sobretudo, uma brecha nas relações entre a Bolívia e o Brasil.
Aproveitando as vantagens imorais que empresas brasileiras adquiriram na Bolívia durante o império dos negociantes corruptos, sob a inspiração da ideologia neoliberal, querem agora defendê-las sob bandeiras "nacionalistas" com o objetivo de estimular o confronto entre o governo brasileiro e o boliviano.
Mais ainda, perante as dificuldades de convencer a nação a apoiar suas ambições, querem agora se aproveitar das pretensões sediciosas das províncias bolivianas que cresceram nos últimos anos a partir dos investimentos agro-industriais, muitas vezes ligados aos mercados e capitais brasileiros.
A imprensa brasileira, particularmente o jornal O Globo, abre manchetes de primeira página para anunciar uma guerra civil na Bolívia, a partir dos departamentos de Santa Cruz, Pando, Bení e Taparija, a "meia lua" "moderna", regiões sem importante presença indígena. Ali, cerca de 12 mil homens estariam armados e sendo treinados secretamente para levantar-se contra o governo central.
Ao invés de protestar contra o perigo que representa para a América do Sul e para o Brasil um conflito como este, se regozijam e usam o testemunho de "diplomatas e "cientistas políticos" que saúdam esta situação como favorável ao Brasil ao obrigar os bolivianos, Evo Morales mais claramente, a diminuir sua pressão sobre o Brasil para que este pague um preço mais razoável por seu gás. Aproveitam estas circunstâncias para forçar o governo brasileiro a exigir um preço mais elevado para as refinarias da Petrobras nacionalizadas pelo governo boliviano.
A este grau chegaram os delírios direitistas em nosso continente e seu horror à justiça social e à defesa dos direitos dos povos. Mais grave ainda é sua provocação aos militares da região e do Brasil, em particular, ao sugerir a hipótese de uma intervenção militar da Venezuela de Hugo Chávez a favor da Bolívia.
Esses senhores estão profundamente equivocados. Os militares latino-americanos e brasileiros, em particular, não se deixarão levar por conspirações deste tipo. Todos sabemos as origens destas informações confidenciais. São as mesmas que demonstravam a existência de armas de destruição massiva no Iraque de Saddam Hussein.
Os militares se deixaram levar muitas vezes por este tipo de informações falsas e assumiram compromissos de governo e repressão que os apartaram de nossos povos e do fortalecimento de nossas nações. Hoje em dia é muito difícil se deixarem fisgar outra vez por essas conspirações.
Carlos Andrés Pérez tentou isso na Venezuela na década de 90 com resultados contrários às suas pretensões. Somente fortaleceu um militar que ele odeia: Hugo Chavéz. Esses senhores estão removendo em águas turvas. Mas podem estar convencidos de que os militares bolivianos defenderão a unidade nacional do povo boliviano e a integração latino-americana.
E podem estar convencidos também de que os militares brasileiros não irão à Bolívia para servir aos seus interesses econômicos e geopolíticos contrários à vontade de nossos povos.
www.monitormercantil.com.br - 10/05/2007 - 18:05
Em artigos anteriores assinalamos a favorável conjuntura em que vivem a América Latina e os chamados países do Terceiro Mundo, caracterizada por um enorme excedente monetário, uma liquidez excepcional que se articula com um momento de forte renovação tecnológica e um rebaixamento dramático dos preços dos produtos manufaturados, inclusive das máquinas e equipamentos, das matérias-primas industrializadas e outros insumos da produção.
Neste contexto apresentam-se excelentes oportunidades para o crescimento e o desenvolvimento econômico, sobretudo se estes países fizerem fortes investimentos em ciência e tecnologia para abrir novos campos do conhecimento e da produção e aplicarem fortes recursos na educação desde uma perspectiva revolucionária, audaz e consequente que reafirme as identidades culturais dos povos que a formam.
Como sugerimos em várias oportunidades, há uma expansão impressionante da subjetividade dos povos da região, que alcança inclusive os setores de baixíssima renda. Há uma nova consciência que afirma identidades até agora bloqueadas por fortes esquemas repressivos, como o caso dos povos indígenas e, ao mesmo tempo, amplia o alcance dessas identidades criando laços continentais e universais.
Outra vez podemos usar o exemplo dos povos indígenas que recolhem uma identidade nacional e regional - há muito reprimida em sua experiência diária - para produzir agendas nacionais, regionais, continentais e universais (como a convocatória universal dos zapatistas contra a globalização) ou inclusive uma proposta de um novo paradigma cultural a partir da relação dos povos indígenas com a natureza.
O importante não é tanto a verdade histórica e científica dessas pretensões senão a audácia, a vontade política e a energia vital que elas expressam num momento em que a ideologia socialista do proletariado industrial se mostra debilitada e coloca-se à defensiva devido à diminuição do papel da indústria na dinâmica econômica mundial.
Por isso não é bom subestimar a profundidade dos movimentos atuais pela integração latino-americana. Não se trata de um movimento puramente mercantil, apesar do intercâmbio de bens estar ligado a fortes realidades culturais. Trata-se de uma vontade crescente que exprime desejos contidos por séculos de fracasso regional.
A expansão norte-americana tem dois lados contraditórios: o reconhecimento da eficácia da economia capitalista moderna, sobretudo da produção manufatureira, assalariada e mercantil, de um lado, e de outro a rejeição à imposição da submissão da região, na medida em que os Estados Unidos uniam-se aos latifundiários locais ou internacionais para nos reduzir à condição de um capitalismo dependente e subordinado a serviço de sua demanda de matérias primas e produtos agrícolas.
A América Latina uniu-se em torno da idéia do desenvolvimento regional, identificou-se culturalmente com a perspectiva de uma luta comum contra o imperialismo estadunidense, luta na qual encontrou importantes aliados dentro dos Estados Unidos, onde um forte movimento antiimperialista sempre apoiou a perspectiva dos povos do sul.
No quadro atual, no qual se apresentam possibilidades concretas de avançar no desenvolvimento regional, onde novas formas de cooperação ganham força a cada dia na região, se levantam, uma vez mais, os interesses dos aliados ao subdesenvolvimento e à dependência. Eles se alimentam das relações econômicas desiguais e temem o desenvolvimento de uma consciência coletiva regional e das ações a favor do fortalecimento de uma política regional comum e unificada.
Esta reação tem dois instrumentos: por um lado, as constantes buscas de situações contrárias à integração regional e de razões para seu fracasso. Por outro lado, a intervenção ou estímulo à divisão entre os países da região. No momento atual esta intervenção busca dividir as correntes políticas progressistas da região, com a tentativa de gerar uma falsa oposição entre os governos do Brasil e da Venezuela pela liderança da região.
No passado, lançaram sempre os argentinos contra os brasileiros com resultados favoráveis para seus objetivos. Além disso, encorajaram e apoiaram outros conflitos regionais. No momento atual, vêem, sobretudo, uma brecha nas relações entre a Bolívia e o Brasil.
Aproveitando as vantagens imorais que empresas brasileiras adquiriram na Bolívia durante o império dos negociantes corruptos, sob a inspiração da ideologia neoliberal, querem agora defendê-las sob bandeiras "nacionalistas" com o objetivo de estimular o confronto entre o governo brasileiro e o boliviano.
Mais ainda, perante as dificuldades de convencer a nação a apoiar suas ambições, querem agora se aproveitar das pretensões sediciosas das províncias bolivianas que cresceram nos últimos anos a partir dos investimentos agro-industriais, muitas vezes ligados aos mercados e capitais brasileiros.
A imprensa brasileira, particularmente o jornal O Globo, abre manchetes de primeira página para anunciar uma guerra civil na Bolívia, a partir dos departamentos de Santa Cruz, Pando, Bení e Taparija, a "meia lua" "moderna", regiões sem importante presença indígena. Ali, cerca de 12 mil homens estariam armados e sendo treinados secretamente para levantar-se contra o governo central.
Ao invés de protestar contra o perigo que representa para a América do Sul e para o Brasil um conflito como este, se regozijam e usam o testemunho de "diplomatas e "cientistas políticos" que saúdam esta situação como favorável ao Brasil ao obrigar os bolivianos, Evo Morales mais claramente, a diminuir sua pressão sobre o Brasil para que este pague um preço mais razoável por seu gás. Aproveitam estas circunstâncias para forçar o governo brasileiro a exigir um preço mais elevado para as refinarias da Petrobras nacionalizadas pelo governo boliviano.
A este grau chegaram os delírios direitistas em nosso continente e seu horror à justiça social e à defesa dos direitos dos povos. Mais grave ainda é sua provocação aos militares da região e do Brasil, em particular, ao sugerir a hipótese de uma intervenção militar da Venezuela de Hugo Chávez a favor da Bolívia.
Esses senhores estão profundamente equivocados. Os militares latino-americanos e brasileiros, em particular, não se deixarão levar por conspirações deste tipo. Todos sabemos as origens destas informações confidenciais. São as mesmas que demonstravam a existência de armas de destruição massiva no Iraque de Saddam Hussein.
Os militares se deixaram levar muitas vezes por este tipo de informações falsas e assumiram compromissos de governo e repressão que os apartaram de nossos povos e do fortalecimento de nossas nações. Hoje em dia é muito difícil se deixarem fisgar outra vez por essas conspirações.
Carlos Andrés Pérez tentou isso na Venezuela na década de 90 com resultados contrários às suas pretensões. Somente fortaleceu um militar que ele odeia: Hugo Chavéz. Esses senhores estão removendo em águas turvas. Mas podem estar convencidos de que os militares bolivianos defenderão a unidade nacional do povo boliviano e a integração latino-americana.
E podem estar convencidos também de que os militares brasileiros não irão à Bolívia para servir aos seus interesses econômicos e geopolíticos contrários à vontade de nossos povos.
www.monitormercantil.com.br - 10/05/2007 - 18:05
Banco Central brasileiro: Esquizofrenia
www.monitormercantil.com.br - 14/11/2008 - 18:11
Esquizofrenia
O Coordenador da Cátedra e Rede Unesco/UNU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen), Theotonio dos Santos, classifica de "esquizofrênica" a tentativa do Governo Lula de conciliar medidas de política fiscal expansionista com juros elevados. Nesse sentido, Santos, que integra o Conselho Editorial do MM, considera a presença de Henrique Meirelles à frente do Banco Central um empecilho a adoção de medidas pró-ativas.
Krugman no BC
E como desconfia que o presidente Lula possa estar tendo dificuldade para encontrar "economistas corajosos" para substituir Meirelles, Santos sugere ironicamente a nomeação do Prêmio Nobel de Economia 2008, Paul Krugman para o BC: "Krugman tem dito que, no momento, o importante é ter criatividade e gastar. Todos estão nessa linha. Até os conservadores estão calados. Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI) dizem que a época é de baixar juros e aumentar a demanda via investimento estatal. O G20 também recomenda isso, menos o Brasil", criticou.
Marcos de Oliveira e Sérgio Souto
***
www.monitormercantil.com.br - 13/11/2008 - 19:11
"Ação estatal com juro alto é esquizofenia"
A postura do Banco Central (BC), que sinaliza com a manutenção ou até o aumento da taxa básica de juros (Selic), simultaneamente ao reforço ao orçamento dos bancos públicos, sinalizando uma ação anticíclica, levam o Coordenador da Cátedra e Rede UNESCO/UNU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen), Theotonio dos Santos, a crer que o governo Lula está acometido de algum grau de esquizofrenia:
"Quase todas políticas pelo mundo estão orientadas para baixar juros e aumentar a produção. Creio que Lula não se sente em condições políticas de demitir Meirelles, talvez esteja esperando que ele mesmo saia, pois será candidato ao governo de Goiás", avaliou.
Santos, que é integrante do Conselho Editorial do MM, considera que, apesar de o momento ser "um pouco difícil" para demitir Henrique Meirelles do BC, o presidente goza de grande apoio político:
"A maior parte dos empresários acha a política monetária equivocada, mas Lula tem sustentado Meirelles contra todos", disse, ponderando que o setor financeiro deveria estar preparado para uma situação "não tão favorável" como nos últimos anos. "O custo dos juros é colossal para o Estado", frisou.
Esquizofrenia
O Coordenador da Cátedra e Rede Unesco/UNU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen), Theotonio dos Santos, classifica de "esquizofrênica" a tentativa do Governo Lula de conciliar medidas de política fiscal expansionista com juros elevados. Nesse sentido, Santos, que integra o Conselho Editorial do MM, considera a presença de Henrique Meirelles à frente do Banco Central um empecilho a adoção de medidas pró-ativas.
Krugman no BC
E como desconfia que o presidente Lula possa estar tendo dificuldade para encontrar "economistas corajosos" para substituir Meirelles, Santos sugere ironicamente a nomeação do Prêmio Nobel de Economia 2008, Paul Krugman para o BC: "Krugman tem dito que, no momento, o importante é ter criatividade e gastar. Todos estão nessa linha. Até os conservadores estão calados. Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI) dizem que a época é de baixar juros e aumentar a demanda via investimento estatal. O G20 também recomenda isso, menos o Brasil", criticou.
Marcos de Oliveira e Sérgio Souto
***
www.monitormercantil.com.br - 13/11/2008 - 19:11
"Ação estatal com juro alto é esquizofenia"
A postura do Banco Central (BC), que sinaliza com a manutenção ou até o aumento da taxa básica de juros (Selic), simultaneamente ao reforço ao orçamento dos bancos públicos, sinalizando uma ação anticíclica, levam o Coordenador da Cátedra e Rede UNESCO/UNU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen), Theotonio dos Santos, a crer que o governo Lula está acometido de algum grau de esquizofrenia:
"Quase todas políticas pelo mundo estão orientadas para baixar juros e aumentar a produção. Creio que Lula não se sente em condições políticas de demitir Meirelles, talvez esteja esperando que ele mesmo saia, pois será candidato ao governo de Goiás", avaliou.
Santos, que é integrante do Conselho Editorial do MM, considera que, apesar de o momento ser "um pouco difícil" para demitir Henrique Meirelles do BC, o presidente goza de grande apoio político:
"A maior parte dos empresários acha a política monetária equivocada, mas Lula tem sustentado Meirelles contra todos", disse, ponderando que o setor financeiro deveria estar preparado para uma situação "não tão favorável" como nos últimos anos. "O custo dos juros é colossal para o Estado", frisou.
segunda-feira, 22 de junho de 2009
Brasil precisa retomar soberania com Estado protagonista global
www.monitormercantil.com.br - 12/12/2008 - 19:12
No encerramento do seminário "Alternativas para o Brasil Enfrentar a Crise", promovido pelo MM em parceria com outras entidades, semana passada, houve consenso de que o Brasil precisa resgatar sua condição de nação soberana e que o Estado precisa assumir papel protagonista nas áreas de Relações Exteriores, Defesa e Economia para que o país retome a trajetória do desenvolvimento, desta feita enfatizando a inclusão social.
(...)
Burguesia compradora
Por sua vez, o Coordenador da Cátedra e Rede Unesco/UNU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen), economista Theotonio dos Santos, integrante do Conselho Editorial do MM, destacou ser fundamental para o país assumir sua condição de nação, "contra a elite econômico-intelectual, que ridiculariza nossa ambição de participar das decisões mundiais".
Para Santos, nossa classe dominante é do tipo "burguesia compradora", que faz o papel de intermediária entre os interesses internacionais e os da manutenção de seus privilégios:
"A função dessa elite é manter um sistema macroeconômico que impede a explosão do consumo", disse, lembrando que a China cresce perto de 10% há 30 anos sem perder o controle sobre a inflação: "O PIB chinês dobra a cada seis anos. Entre 2005 e 2006, o consumo rural subiu 8%, enquanto o urbano, 16% ao ano. E não houve inflação, porque o capital fixo (meios de produção) cresceu mais de 20%".
O coordenador do Reggen lembrou que, há 30 anos, os EUA prevêem uma grande inflação na China: "São três décadas de previsões fracassadas. Aqui, além de sermos inimigos da demanda, ainda a reprimimos com taxas de juros, que passaram a ser um componente do curto-circuito."
Defendendo o que chamou de "Consenso de Pequim", Santos sublinhou que, das dez maiores empresas do mundo, seis são chinesas, todas estatais.
Ele disse ainda que os países centrais passarão longo tempo com crescimento dependente do Estado e que, por ser detentora de liquidez, a China vai ampliar sua influência no mundo, inclusive a importância de sua moeda, o iuan: "Cada vez mais, os EUA perdem condições de financiar sua hegemonia."
(...)
Rogério Lessa
No encerramento do seminário "Alternativas para o Brasil Enfrentar a Crise", promovido pelo MM em parceria com outras entidades, semana passada, houve consenso de que o Brasil precisa resgatar sua condição de nação soberana e que o Estado precisa assumir papel protagonista nas áreas de Relações Exteriores, Defesa e Economia para que o país retome a trajetória do desenvolvimento, desta feita enfatizando a inclusão social.
(...)
Burguesia compradora
Por sua vez, o Coordenador da Cátedra e Rede Unesco/UNU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen), economista Theotonio dos Santos, integrante do Conselho Editorial do MM, destacou ser fundamental para o país assumir sua condição de nação, "contra a elite econômico-intelectual, que ridiculariza nossa ambição de participar das decisões mundiais".
Para Santos, nossa classe dominante é do tipo "burguesia compradora", que faz o papel de intermediária entre os interesses internacionais e os da manutenção de seus privilégios:
"A função dessa elite é manter um sistema macroeconômico que impede a explosão do consumo", disse, lembrando que a China cresce perto de 10% há 30 anos sem perder o controle sobre a inflação: "O PIB chinês dobra a cada seis anos. Entre 2005 e 2006, o consumo rural subiu 8%, enquanto o urbano, 16% ao ano. E não houve inflação, porque o capital fixo (meios de produção) cresceu mais de 20%".
O coordenador do Reggen lembrou que, há 30 anos, os EUA prevêem uma grande inflação na China: "São três décadas de previsões fracassadas. Aqui, além de sermos inimigos da demanda, ainda a reprimimos com taxas de juros, que passaram a ser um componente do curto-circuito."
Defendendo o que chamou de "Consenso de Pequim", Santos sublinhou que, das dez maiores empresas do mundo, seis são chinesas, todas estatais.
Ele disse ainda que os países centrais passarão longo tempo com crescimento dependente do Estado e que, por ser detentora de liquidez, a China vai ampliar sua influência no mundo, inclusive a importância de sua moeda, o iuan: "Cada vez mais, os EUA perdem condições de financiar sua hegemonia."
(...)
Rogério Lessa
domingo, 21 de junho de 2009
Dólar fraco
www.monitormercantil.com.br - 26/01/2009 - 19:01 - Dólar fraco pode empurrar EUA para novas guerras
(...)
Títulos em liquidação
o coordenador da Cátedra e Rede Unesco/UNU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen), Theotonio dos Santos, destaca que o Tesouro norte-americano está vendendo títulos com deságio de quase 30%. (...), ele avalia que o dólar tende a perder o papel hegemônico, mas continuará fazendo parte de uma cesta de moedas fortes.
"Existe realmente a tendência de fuga dos títulos americanos, que atualmente são de péssima qualidade. São lastreados numa moeda em desvalorização, com taxa de juros baixíssima", comentou o coordenador do Reggen, que é também integrante do Conselho Editorial do MM. Ele classifica a dívida pública dos EUA como impagável. "A perspectiva do investidor é receber outro documento quando seu título vencer. E o Tesouro só está conseguindo vender papéis com valor de face muito baixo, pouco acima de 70%".
A explicação de Santos para a parte da demanda que ainda resiste está na esperança gerada pela mudança de governo. "Talvez exista uma expectativa que, com o fortalecimento do governo e melhora da situação econômica, esses títulos possam valorizar e permitir a revenda com lucro". Ele pondera, no entanto, que a recuperação com Barack Obama na presidência deverá acontecer "muito mais na produção do que no setor financeiro".
Para o coordenador do Reggen, o próprio governo pode estar permitindo uma desvalorização dos títulos, na ponta. "Deve estar sendo obrigado a fazer isso para poder vender. Para tanto, cria-se um sistema qualquer de promoções. Faz parte da derrocada do dólar".
Estatização mais forte
Diante desse quadro, ele não vê perspectiva imediata de solução para o crescente déficit fiscal norte-americano. "O problema fiscal está aliado ao déficit comercial e a moeda está ameaçada por isso mesmo. A recuperação parece que será feita através de déficit público, mas nem tudo será repassado ao setor produtivo, é um gasto apenas contábil. Deve haver uma estatização mais forte do setor financeiro, ainda que os bancos sejam revendidos no futuro", prevê, lembrando que Timothy F. Geithner, secretário do Tesouro nomeado pelo novo governo, tem essa linha.
"O governo vai priorizar as áreas que vão atrair capitais, mas na realidade o investimento será feito com dinheiro do Estado. Baixar o déficit público não vai, porque investimento será com dinheiro público. As contas não vão melhorar no curto prazo", resume o coordenador do Reggen, lembrando que não há espaço para um aumento geral de impostos no momento. "Aumentar imposto não dá. Porém Obama se propôs a eleva-los para os setores de mais alta renda. Talvez por aí, e cortando gastos militares, possa conseguir equilibrar a situação", conclui.
Rogério Lessa
(...)
Títulos em liquidação
o coordenador da Cátedra e Rede Unesco/UNU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen), Theotonio dos Santos, destaca que o Tesouro norte-americano está vendendo títulos com deságio de quase 30%. (...), ele avalia que o dólar tende a perder o papel hegemônico, mas continuará fazendo parte de uma cesta de moedas fortes.
"Existe realmente a tendência de fuga dos títulos americanos, que atualmente são de péssima qualidade. São lastreados numa moeda em desvalorização, com taxa de juros baixíssima", comentou o coordenador do Reggen, que é também integrante do Conselho Editorial do MM. Ele classifica a dívida pública dos EUA como impagável. "A perspectiva do investidor é receber outro documento quando seu título vencer. E o Tesouro só está conseguindo vender papéis com valor de face muito baixo, pouco acima de 70%".
A explicação de Santos para a parte da demanda que ainda resiste está na esperança gerada pela mudança de governo. "Talvez exista uma expectativa que, com o fortalecimento do governo e melhora da situação econômica, esses títulos possam valorizar e permitir a revenda com lucro". Ele pondera, no entanto, que a recuperação com Barack Obama na presidência deverá acontecer "muito mais na produção do que no setor financeiro".
Para o coordenador do Reggen, o próprio governo pode estar permitindo uma desvalorização dos títulos, na ponta. "Deve estar sendo obrigado a fazer isso para poder vender. Para tanto, cria-se um sistema qualquer de promoções. Faz parte da derrocada do dólar".
Estatização mais forte
Diante desse quadro, ele não vê perspectiva imediata de solução para o crescente déficit fiscal norte-americano. "O problema fiscal está aliado ao déficit comercial e a moeda está ameaçada por isso mesmo. A recuperação parece que será feita através de déficit público, mas nem tudo será repassado ao setor produtivo, é um gasto apenas contábil. Deve haver uma estatização mais forte do setor financeiro, ainda que os bancos sejam revendidos no futuro", prevê, lembrando que Timothy F. Geithner, secretário do Tesouro nomeado pelo novo governo, tem essa linha.
"O governo vai priorizar as áreas que vão atrair capitais, mas na realidade o investimento será feito com dinheiro do Estado. Baixar o déficit público não vai, porque investimento será com dinheiro público. As contas não vão melhorar no curto prazo", resume o coordenador do Reggen, lembrando que não há espaço para um aumento geral de impostos no momento. "Aumentar imposto não dá. Porém Obama se propôs a eleva-los para os setores de mais alta renda. Talvez por aí, e cortando gastos militares, possa conseguir equilibrar a situação", conclui.
Rogério Lessa
Theotonio dos Santos participa de seminário sobre a crise mundial promovido por PT, PCdoB e fundações
O Seminário Internacional sobre a Crise Mundial realizado nos dias 20 e 21 de junho (sábado e domingo), em São Paulo, e é promovido pela Fundação Perseu Abramo, pelo Partido dos Trabalhadores (PT), pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB), pela Fundação Maurício Grabois (FMG) e pela Rede IPES/Corint (da França).
O evento ocorrerá no Hotel Braston, rua Martins Fontes, 330 - Centro/São Paulo. A participação é aberta ao público e não haverá inscrições prévias. Abertura foi no sábado, às 9h30min, com uma conferência de Emir Sader. A participação é aberta ao público, sem a necessidade de inscrição prévia.
Hoje Theotonio participa da mesa 9h- América Latina: lutas populares e governos progressistas frente à crise
Coordenação da mesa: Valter Pomar, secretário de Relações Internacionais do PT
Crise e alternativas socialistas
Theotônio dos Santos, economista, professor da UFF
A crise e a integração latino-americana
Marco Aurélio Garcia, assessor especial de política externa da Presidência da República
O evento ocorrerá no Hotel Braston, rua Martins Fontes, 330 - Centro/São Paulo. A participação é aberta ao público e não haverá inscrições prévias. Abertura foi no sábado, às 9h30min, com uma conferência de Emir Sader. A participação é aberta ao público, sem a necessidade de inscrição prévia.
Hoje Theotonio participa da mesa 9h- América Latina: lutas populares e governos progressistas frente à crise
Coordenação da mesa: Valter Pomar, secretário de Relações Internacionais do PT
Crise e alternativas socialistas
Theotônio dos Santos, economista, professor da UFF
A crise e a integração latino-americana
Marco Aurélio Garcia, assessor especial de política externa da Presidência da República
sábado, 20 de junho de 2009
Nuevos paradigmas y nuevos actores políticos para los nuevos tiempos
Perú: Se fue al monte la utopía…
Norma Aguilar Alvarado
ALAI AMLATINA, 16/06/2009.- El presidente del Consejo de Ministros del Perú, Yehude Simon Munaro, anunció el lunes 15 de junio la derogatoria de dos de los decretos legislativos del TLC con Estados Unidos, el 1064 y el 1090, luego de sostener una reunión con organizaciones de los pueblos indígenas amazónicos de la selva central. Una decisión política que de no haber demorado más de un año hubiera evitado decenas de muertos. Es como buscar una manguera cuando ya está ardiendo toda la pradera.
Porque el jueves 11 de junio la Jornada Nacional de Protesta convocada por las organizaciones peruanas significó un conjunto de masivas movilizaciones, paros y otras medidas de protesta en todas las regiones del Perú en repudio a la masacre de Bagua del viernes 5 de junio (en cruel ironía, Día Mundial del Medio Ambiente) y exigencia de soluciones reales al conflicto en la Amazonía.
Un conflicto que no era nuevo ni sorpresivo. En agosto del año pasado la movilización amazónica ya había logrado la derogatoria de dos decretos legislativos, el 1015 y el 1073. Entonces se habló de una comisión para examinar las normas restantes. Pero nada. Es más: la derogatoria en cuestión había sido solicitada al gobierno por la Asociación Interétnica de Desarrollo de la Selva Peruana (AIDESEP) en mayo del 2008. Y el 9 de abril de 2009, cansados de esperar, los pueblos amazónicos retomaron su lucha.
La respuesta fue la misma intolerancia, soberbia y terquedad que el presidente Alan García anunció abiertamente con sus artículos sobre el “Síndrome del perro del hortelano”, en los que identificó a las comunidades andinas y amazónicas con el atraso e incluso pretendió desconocer su existencia. El Congreso dilató una y otra vez el debate de la derogatoria, recomendada por su Comisión Multipartidaria encargada de revisar los decretos e instituciones como la Defensoría del Pueblo.
El jueves 4 de junio el Congreso volvió a postergar el debate y pocas horas después se desató la masacre de Bagua. Muertos, heridos, detenidos y desaparecidos; testimonios de ocultamiento y desaparición de cadáveres, rastrillajes en las comunidades, estado de emergencia y toque de queda en la Amazonía, persecución y órdenes de captura a la dirigencia de AIDESEP, cierre de emisoras, suspensión de siete congresistas de oposición, acusaciones de complot internacional a la IV Cumbre de los Pueblos y Nacionalidades Indígenas del Abya Yala, reunida a fines de mayo en Puno… en resumen, una escalada fascista que nada tenía que envidiar a los peores momentos de la dictadura de Alberto Fujimori en los años noventa.
Escalada que motivó la respuesta inmediata de las organizaciones sociales, que se articularon en el Frente Nacional por la Vida y la Soberanía y convocaron primero a la Jornada Nacional de Protesta del 5 de junio y de inmediato al Paro Nacional Andino, Amazónico y Popular para los días 7, 8 y 9 de julio.
Las múltiples chispas prendidas en todas las regiones del país encendieron la pradera. Pero el gobierno no solo sufrió el incendio en casa. Desde todo el mundo, minuto a minuto, la Coordinadora Andina de Organizaciones Indígenas recibía y sigue recibiendo a través de sus correos electrónicos y la línea telefónica, decenas de pronunciamientos de solidaridad de todas partes del mundo: Europa, toda América Latina, África, Asia. Las cartas a Alan García y a organismos de la ONU, así como marchas y plantones ante las sedes diplomáticas peruanas, se multiplicaban y siguen multiplicándose.
La sola derogatoria de dos decretos legislativos no resuelve el problema de siglos. Se necesitan medidas más permanentes. La CAOI ha propuesto cuatro:
1- Derogatoria de todos los decretos legislativos emitidos para implementar el Tratado de Libre Comercio con Estados Unidos.
2- Derogatoria de los once decretos legislativos de la criminalización de la protesta social, emitidos en julio del 2007.
3- Carácter de Ley Nacional a la Declaración sobre Derechos de los Pueblos Indígenas de las Naciones Unidas.
4- Amnistía para los más de mil dirigentes procesados por defender sus derechos.
Nuevos actores
La lucha, entonces, no ha terminado. La convocatoria al Paro Nacional se ha ratificado y el mundo continúa alerta a los sucesos en el Perú. La pregunta es: ¿cómo pudo un movimiento regional convocar la solidaridad y el compromiso nacional e internacional de una magnitud pocas veces antes vista? La agenda de los pueblos indígenas, su plataforma y sus propuestas, más allá de la reivindicación puntual de la derogatoria de normas inconstitucionales, se posicionó en la diversidad de movimientos sociales del Perú y el mundo. Sindicatos, ONGs, partidos políticos de izquierda, depusieron afanes protagónicos para hacer un frente común por los derechos de los pueblos indígenas.
Lo que sucede es que el movimiento indígena no solo se ha visibilizado: está siendo, por primera vez, comprendido y su liderazgo aceptado. El mundo está entendiendo que no se trata de grupos incivilizados, violentos, pasadistas, manipulados –estigmatización racista y excluyente- sino de pueblos organizados que conservan su modo de vida, sus autoridades, su cultura, sus principios y prácticas ancestrales de equidad, reciprocidad, complementariedad. En suma, el Buen Vivir. Una opción que no pretende volver al pasado sino rescatar la armonía entre los hombres, los pueblos y la naturaleza, frente a la amenaza de la hecatombe climática y la crisis de la civilización occidental.
Lo que ocurre es que el mundo está comprendiendo que no estamos ante una crisis económica o financiera más. Todos los paradigmas del capitalismo: libre mercado, estado uninacional, etcétera, se están derrumbando. Incluso los sectores más reacios de la izquierda, que no admitían más paradigmas que los de la lucha de clases y la vanguardia del movimiento obrero, empiezan a aceptar que los nuevos tiempos exigen nuevos liderazgos políticos. Y ya hablan también de Buen Vivir y Estado Plurinacional.
No se trata de excluir o negar a los demás movimientos sociales. Los pueblos indígenas, secularmente excluidos, no pueden hacer algo así. Se trata de consolidar alianzas para construir un mundo realmente nuevo, para todos y todas. Para la paz y la hermandad.
- Norma Aguilar Alvarado, periodista peruana, es responsable de Prensa CAOI (Coordinadora Andina de Organizaciones Indígenas)
Más información: http://alainet.org
Norma Aguilar Alvarado
ALAI AMLATINA, 16/06/2009.- El presidente del Consejo de Ministros del Perú, Yehude Simon Munaro, anunció el lunes 15 de junio la derogatoria de dos de los decretos legislativos del TLC con Estados Unidos, el 1064 y el 1090, luego de sostener una reunión con organizaciones de los pueblos indígenas amazónicos de la selva central. Una decisión política que de no haber demorado más de un año hubiera evitado decenas de muertos. Es como buscar una manguera cuando ya está ardiendo toda la pradera.
Porque el jueves 11 de junio la Jornada Nacional de Protesta convocada por las organizaciones peruanas significó un conjunto de masivas movilizaciones, paros y otras medidas de protesta en todas las regiones del Perú en repudio a la masacre de Bagua del viernes 5 de junio (en cruel ironía, Día Mundial del Medio Ambiente) y exigencia de soluciones reales al conflicto en la Amazonía.
Un conflicto que no era nuevo ni sorpresivo. En agosto del año pasado la movilización amazónica ya había logrado la derogatoria de dos decretos legislativos, el 1015 y el 1073. Entonces se habló de una comisión para examinar las normas restantes. Pero nada. Es más: la derogatoria en cuestión había sido solicitada al gobierno por la Asociación Interétnica de Desarrollo de la Selva Peruana (AIDESEP) en mayo del 2008. Y el 9 de abril de 2009, cansados de esperar, los pueblos amazónicos retomaron su lucha.
La respuesta fue la misma intolerancia, soberbia y terquedad que el presidente Alan García anunció abiertamente con sus artículos sobre el “Síndrome del perro del hortelano”, en los que identificó a las comunidades andinas y amazónicas con el atraso e incluso pretendió desconocer su existencia. El Congreso dilató una y otra vez el debate de la derogatoria, recomendada por su Comisión Multipartidaria encargada de revisar los decretos e instituciones como la Defensoría del Pueblo.
El jueves 4 de junio el Congreso volvió a postergar el debate y pocas horas después se desató la masacre de Bagua. Muertos, heridos, detenidos y desaparecidos; testimonios de ocultamiento y desaparición de cadáveres, rastrillajes en las comunidades, estado de emergencia y toque de queda en la Amazonía, persecución y órdenes de captura a la dirigencia de AIDESEP, cierre de emisoras, suspensión de siete congresistas de oposición, acusaciones de complot internacional a la IV Cumbre de los Pueblos y Nacionalidades Indígenas del Abya Yala, reunida a fines de mayo en Puno… en resumen, una escalada fascista que nada tenía que envidiar a los peores momentos de la dictadura de Alberto Fujimori en los años noventa.
Escalada que motivó la respuesta inmediata de las organizaciones sociales, que se articularon en el Frente Nacional por la Vida y la Soberanía y convocaron primero a la Jornada Nacional de Protesta del 5 de junio y de inmediato al Paro Nacional Andino, Amazónico y Popular para los días 7, 8 y 9 de julio.
Las múltiples chispas prendidas en todas las regiones del país encendieron la pradera. Pero el gobierno no solo sufrió el incendio en casa. Desde todo el mundo, minuto a minuto, la Coordinadora Andina de Organizaciones Indígenas recibía y sigue recibiendo a través de sus correos electrónicos y la línea telefónica, decenas de pronunciamientos de solidaridad de todas partes del mundo: Europa, toda América Latina, África, Asia. Las cartas a Alan García y a organismos de la ONU, así como marchas y plantones ante las sedes diplomáticas peruanas, se multiplicaban y siguen multiplicándose.
La sola derogatoria de dos decretos legislativos no resuelve el problema de siglos. Se necesitan medidas más permanentes. La CAOI ha propuesto cuatro:
1- Derogatoria de todos los decretos legislativos emitidos para implementar el Tratado de Libre Comercio con Estados Unidos.
2- Derogatoria de los once decretos legislativos de la criminalización de la protesta social, emitidos en julio del 2007.
3- Carácter de Ley Nacional a la Declaración sobre Derechos de los Pueblos Indígenas de las Naciones Unidas.
4- Amnistía para los más de mil dirigentes procesados por defender sus derechos.
Nuevos actores
La lucha, entonces, no ha terminado. La convocatoria al Paro Nacional se ha ratificado y el mundo continúa alerta a los sucesos en el Perú. La pregunta es: ¿cómo pudo un movimiento regional convocar la solidaridad y el compromiso nacional e internacional de una magnitud pocas veces antes vista? La agenda de los pueblos indígenas, su plataforma y sus propuestas, más allá de la reivindicación puntual de la derogatoria de normas inconstitucionales, se posicionó en la diversidad de movimientos sociales del Perú y el mundo. Sindicatos, ONGs, partidos políticos de izquierda, depusieron afanes protagónicos para hacer un frente común por los derechos de los pueblos indígenas.
Lo que sucede es que el movimiento indígena no solo se ha visibilizado: está siendo, por primera vez, comprendido y su liderazgo aceptado. El mundo está entendiendo que no se trata de grupos incivilizados, violentos, pasadistas, manipulados –estigmatización racista y excluyente- sino de pueblos organizados que conservan su modo de vida, sus autoridades, su cultura, sus principios y prácticas ancestrales de equidad, reciprocidad, complementariedad. En suma, el Buen Vivir. Una opción que no pretende volver al pasado sino rescatar la armonía entre los hombres, los pueblos y la naturaleza, frente a la amenaza de la hecatombe climática y la crisis de la civilización occidental.
Lo que ocurre es que el mundo está comprendiendo que no estamos ante una crisis económica o financiera más. Todos los paradigmas del capitalismo: libre mercado, estado uninacional, etcétera, se están derrumbando. Incluso los sectores más reacios de la izquierda, que no admitían más paradigmas que los de la lucha de clases y la vanguardia del movimiento obrero, empiezan a aceptar que los nuevos tiempos exigen nuevos liderazgos políticos. Y ya hablan también de Buen Vivir y Estado Plurinacional.
No se trata de excluir o negar a los demás movimientos sociales. Los pueblos indígenas, secularmente excluidos, no pueden hacer algo así. Se trata de consolidar alianzas para construir un mundo realmente nuevo, para todos y todas. Para la paz y la hermandad.
- Norma Aguilar Alvarado, periodista peruana, es responsable de Prensa CAOI (Coordinadora Andina de Organizaciones Indígenas)
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Brics já estudam ter alternativas ao dólar
www.monitormercantil.com.br - 16/06/2009 - 21:06
Na declaração final de sua primeira reunião de cúpula, os líderes de Brasil, Rússia, Índia e China (Brics) defenderam alternativas ao dólar como moeda para reserva internacional. Os Brics querem também uma nova arquitetura para o sistema financeiro mundial, que inclua a reforma das instituições multilaterais.
Para o coordenador da Cátedra e Rede Unesco/UNU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen), Theotonio dos Santos, a tendência é que os continentes se aglutinem em torno da moeda regional mais forte.
No entanto, ele voltou a criticar as esperanças depositadas pelos Brics em instituições multilaterais de histórico neoliberal.
"Os chineses estão colocando US$ 50 bilhões no FMI, mas a mesma quantia será destinada ao Banco da Ásia. Seguramente, irão exigir participação maior nos votos, mas o FMI tem um grupo difícil de mudar. Não podemos nos apoiar nos estudos deles, por causa de sua visão de mundo", criticou Santos, do Conselho Editorial do MM.
No Banco Mundial (Bird), admite, os chineses conseguiram aumentar sua influência, como na escolha do diretor de estudos da instituição. "No entanto, apesar de seus colegas o considerarem competente, concluiu seus estudos em Chicago", ressalvou.
Santos disse, ainda, que os Brics devem ter cautela em relação ao dólar, pois seus excedentes estão aplicados na moeda e nos títulos públicos dos EUA. Mas concordou que no comércio entre eles, o dólar pode ser substituído por uma moeda referência, que pode ser apenas contábil, como já fazem Brasil e Argentina.
Na declaração final de sua primeira reunião de cúpula, os líderes de Brasil, Rússia, Índia e China (Brics) defenderam alternativas ao dólar como moeda para reserva internacional. Os Brics querem também uma nova arquitetura para o sistema financeiro mundial, que inclua a reforma das instituições multilaterais.
Para o coordenador da Cátedra e Rede Unesco/UNU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen), Theotonio dos Santos, a tendência é que os continentes se aglutinem em torno da moeda regional mais forte.
No entanto, ele voltou a criticar as esperanças depositadas pelos Brics em instituições multilaterais de histórico neoliberal.
"Os chineses estão colocando US$ 50 bilhões no FMI, mas a mesma quantia será destinada ao Banco da Ásia. Seguramente, irão exigir participação maior nos votos, mas o FMI tem um grupo difícil de mudar. Não podemos nos apoiar nos estudos deles, por causa de sua visão de mundo", criticou Santos, do Conselho Editorial do MM.
No Banco Mundial (Bird), admite, os chineses conseguiram aumentar sua influência, como na escolha do diretor de estudos da instituição. "No entanto, apesar de seus colegas o considerarem competente, concluiu seus estudos em Chicago", ressalvou.
Santos disse, ainda, que os Brics devem ter cautela em relação ao dólar, pois seus excedentes estão aplicados na moeda e nos títulos públicos dos EUA. Mas concordou que no comércio entre eles, o dólar pode ser substituído por uma moeda referência, que pode ser apenas contábil, como já fazem Brasil e Argentina.
sexta-feira, 19 de junho de 2009
Governo não faz aqui o que prega lá fora
www.monitormercantil.com.br - 31/03/2009 - 22:03
Santos: governo não faz aqui o que prega lá fora
Levantamento da consultoria de recursos humanos Mercer concluiu que 20% das 171 empresas pesquisadas pretendem demitir funcionários até o fim do ano. A redução média prevista varia de 10% a 20% dos empregados.
Para o Coordenador da Cátedra e Rede Unesco/UNU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen), Theotônio dos Santos, os últimos governos brasileiros têm contrariado os próprios discursos que fazem no exterior: não reprimem demissões em massa, elevam juros, comprimem gastos e mantêm a conta financeira aberta à especulação.
"As empresas buscam o lucro e seus dirigentes são cada vez mais privilegiados com uma renda que não se deixa afetar pelas oscilações da economia. Não adianta apenas fazer recomendações, pois eles não deixarão de demitir", disse, lembrando que o presidente dos EUA, Barak Obama, obrigou presidente da GM a deixar o cargo.
Às vésperas da reunião do G-20, o presidente Lula defendeu mais regulação no sistema financeiro, que não adota no Brasil. No mesmo dia, o governo anunciou aumento do corte no Orçamento, de R$ 21 bilhões para R$ 25 bilhões. "As medidas do governo estão muito aquém de uma verdadeira mudança na política macroeconômica, que seria decisiva para ingressar na resistência à queda das exportações", disse Santos, do Conselho Editorial do MM.
Santos: governo não faz aqui o que prega lá fora
Levantamento da consultoria de recursos humanos Mercer concluiu que 20% das 171 empresas pesquisadas pretendem demitir funcionários até o fim do ano. A redução média prevista varia de 10% a 20% dos empregados.
Para o Coordenador da Cátedra e Rede Unesco/UNU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen), Theotônio dos Santos, os últimos governos brasileiros têm contrariado os próprios discursos que fazem no exterior: não reprimem demissões em massa, elevam juros, comprimem gastos e mantêm a conta financeira aberta à especulação.
"As empresas buscam o lucro e seus dirigentes são cada vez mais privilegiados com uma renda que não se deixa afetar pelas oscilações da economia. Não adianta apenas fazer recomendações, pois eles não deixarão de demitir", disse, lembrando que o presidente dos EUA, Barak Obama, obrigou presidente da GM a deixar o cargo.
Às vésperas da reunião do G-20, o presidente Lula defendeu mais regulação no sistema financeiro, que não adota no Brasil. No mesmo dia, o governo anunciou aumento do corte no Orçamento, de R$ 21 bilhões para R$ 25 bilhões. "As medidas do governo estão muito aquém de uma verdadeira mudança na política macroeconômica, que seria decisiva para ingressar na resistência à queda das exportações", disse Santos, do Conselho Editorial do MM.
quinta-feira, 18 de junho de 2009
A atualidade da teoria da dependência
www.monitormercantil.com.br - 20/11/2000 - 16:11
"Nunca fomos externos ao capitalismo e cumprimos um papel importante na evolução do sistema de comércio atual". A frase é de Teothônio dos Santos, autor da Teoria da Dependência, formulada em meados da década de 60, que vê a expansão da economia capitalista mundial como geradora, simultaneamente, de desenvolvimento e subdesenvolvimento e que rompeu com a visão dominante no pós-guerra, segundo a qual as economias das antigas colônias, subdesenvolvidas, se encontrariam em estágio feudal ou pré-capitalista, necessitando passar por uma revolução industrial para chegarem à "modernidade".
A Teoria da Dependência, que tem em Theotônio dos Santos, do Conselho Editorial do MONITOR MERCANTIL, um dos principais pensadores, analisa os países hegemônicos (desenvolvidos) como captadores dos excedentes econômicos das nações periféricas (subdesenvolvidas). Essa teoria conta, inclusive, com o sociólogo Fernando Henrique entre seus mais destacados adeptos. No entanto, no livro Teoria da Dependência - Balanço e Perspectivas, que Theotônio dos Santos acaba de lançar pela editora Civilização Brasileira, o autor, ao tempo em que faz um balanço e uma atualização do tema, deixa claras suas profundas divergências com as conclusões de FH.
MONITOR MERCANTIL - Como surgiu a Teoria da Dependência?
Theotônio dos Santos - A teoria foi formulada nos anos 60, quando o golpe de Estado no Brasil chamou a atenção para questões fundamentais. As aspirações por um desenvolvimento nacional independente como conseqüência do desenvolvimento industrial da região latino-americana, que vinha se industrializando da década de 30 para cá, foram frustadas devido ao aumento da dependência da região para com o capital estrangeiro. Os empresários nacionais descobriram que não poderiam liderar o processo de industrialização, que estava já dominado pelas empresas multinacionais, que não transferiam tecnologia senão sob a forma do investimento direto que as permitia controlar a produção dos países onde investiam. Isso foi se intensificando em países como o Brasil, que estavam na ponta do desenvolvimento e obrigou a uma revisão na perspectiva do pós-guerra, sobretudo, com o ingresso de novas nações independentes. Por outro lado, a economia neoclássica pregava que cada economia do mundo se especializasse num tipo de produção para que pudesse obter o máximo de vantagem.
MM - Esta tese continua atual, não é?
TS - Voltou porque todo esse contexto de dependência aumentou muito. Nos anos 50 pelo menos havia uma aspiração nacional democrática. O golpe de Estado no Brasil mostrou que a classe dominante estava disposta a chegar a uma condição de sócia menor do capital internacional, ao invés de pretender uma autonomia e uma proposta própria. Um segundo aspecto ligado ao golpe de 64 é que o caminho para esse ajuste com o capital internacional parecia ser fundamentado em uma fórmula ditatorial, de tendência fascista. Começamos a ver que o golpe não era de setores atrasados da economia, como latifundiários. Eram setores da indústria avançada, orientados pelo capital internacional, o que indicava que a forma de violência organizada e de terror não vinha de setores que estavam perdendo poder. Isso também ia contra a noção de que desenvolvimento deveria gerar democracia. Houve um refinamento e uma institucionalização da repressão fora do comum, tanto internamente como externamente.
MM - As antigas colônias ainda eram vistas como pré-capitalistas, na época?
TS - A idéia é de que os países subdesenvolvidos ainda não teriam ingressado no capitalismo e que teriam que passar por todas as etapas de desenvolvimento que os demais. Os fatos, desde a década de 40, já estavam demonstrando, no entanto, que os países do Terceiro Mundo teriam que passar por fórmulas políticas novas para atingirem a modernização. A maior parte das economias do Terceiro Mundo teve papel muito importante no desenvolvimento mundial, como o caso do Brasil. Pensar essas economias como feudais e exteriores ao capitalismo era de uma ignorância histórica colossal. Contudo, era a idéia dominante. Pensar que essas economias poderiam refazer o caminho do capitalismo também era uma idéia totalmente falsa. Então, se começa a buscar um caminho alternativo. No caso da revolução cubana, por exemplo, o objetivo era a democracia, mas o país foi obrigado a buscar novas formas econômicas, sociais, políticas que apontavam na direção do socialismo, o que era um fato novo na América Latina. Era preciso adaptar-se em primeiro lugar à resistência que o capital internacional oferecia e dar soluções abrangentes para sustentar as transformações sem contar com as lideranças empresariais. O grande salto da Teoria da Dependência foi ver esse conjunto de transformações como parte da economia mundial, num enfoque global.
MM - O que mudou hoje e que o levou a atualizar a teoria?
TS - A evolução que houve foi a ampliação para uma análise de uma teoria do sistema mundial, que explique inclusive o processo de globalização e a tendência da economia capitalista de cada vez mais condensar o seu espaço numa forma mais densa de integração do sistema capitalista mundial. A articulação entre as várias partes da economia mundial avançou muito mais, apesar de outros fatores terem se desarticulado. Isso exigiu mais clareza sobre a análise da economia mundial, desenvolvida sobretudo na década de 70, em conjunto com colegas norte-americanos, europeus, etc., que assumiram nosso ponto de vista e, como desdobramento da Teoria da Dependência, passaram a trabalhar a idéia de um sistema econômico mundial. Infelizmente, no Brasil há um desconhecimento muito grande de toda essa evolução da teoria social contemporânea.
MM - No livro, o senhor destaca 18 países, entre eles o Brasil, que seriam fundamentais até para a manutenção da paz. Qual seria essa função no sistema mundial?
TS - O sistema mundial, do ponto de vista político, não resolveu bem a questão da participação dos centros de poder mais importantes do mundo na estruturação da política mundial. Do ponto de vista econômico, o G-7 reuniu as sete grandes potências, tendo que integrar a Rússia depois. Mas deixou de lado China, Índia e Brasil, que são potências extremamente significativas. Se nós medirmos a renda nacional do ponto de vista do poder de compra, que é a nova metodologia do Banco Mundial, vamos constatar que a maior renda nacional é realmente os EUA, com US$ 8 trilhões, mas logo em seguida vem a China, com US$ 4,5 trilhões. Depois vêm Alemanha, Japão e Índia. O Brasil seguramente está entre as 10 grandes potências. Então o sistema de decisão econômica de integração de políticas exclui algumas das potências mais importantes do mundo. O Conselho de Segurança da ONU exclui Alemanha e Japão, países derrotados na Segunda Guerra, inclui a China, mas não inclui a Índia, que é uma potência militar muito importante como também Irã ou Paquistão, que têm um peso militar enorme. Tudo isso sem falar nos países que não são potências. Estes estão excluídos totalmente, já que a Assembléia Geral da ONU não consegue fazer valer suas decisões. O problema se agrava com o fato de que as empresas multinacionais atuam hoje no mundo inteiro com estratégias de ação micro e macro sem que haja nenhum controle global sobre elas.
MM - Neste contexto, qual o papel dos acordos regionais tipo Mercosul e Alca?
TS - Eles consolidam uma realidade geopolítica, apesar de que o imperialismo tende a pôr cada uma das economias nacionais muito mais em relação com o centro do que com seus vizinhos, numa irracionalidade econômica muito grande. Na medida em que nos últimos 20 anos tivemos uma crise muito séria, essas forças regionais foram aumentando sua presença. No caso Europeu, destruído o sistema colonial, a Europa teve de voltar-se para dentro de si mesma e contrabalançar a influência norte-americana e a expansão russa. Quanto à América Latina, os EUA sempre impediram qualquer política até o final da década de 80, mas não puderam impedir a integração Ibero-Americana, que, apoiada na integração européia, incluía Portugal e Espanha. A América Latina precisou criar condições políticas para que pudesse se integrar e o Mercosul se desenvolveu com mais facilidade porque Brasil e Argentina pela primeira vez puderam entrar numa política de cooperação em meados da década de 80, com a redemocratização da região. Sem maiores investimentos, passamos de 6% para 22% de comércio com a América Latina. A Alca é uma resposta a isso, procurando manter a região sob comando norte-americano, mas de qualquer maneira ela já reconhece o desenvolvimento de movimentos sub-regionais.
MM - A Teoria da Dependência é uma expressão do pensamento autônomo latino-americano. Hoje esse grau de autonomia diminuiu?
TS - Houve um retrocesso no pensamento latino-americano. Tínhamos toda uma geração de economistas formada nos EUA através de vários mecanismos. No princípio não era tão grave porque o grupo neoliberal não tinha um controle tão grande sobre as universidades americanas. O pensamento liberal sempre foi associado ao fascismo, que é o regime de terror do grande capital, e todo esse movimento ressurgiu a partir de Pinochet, no Chile. Hitler, Mussolini, Franco ou Salazar chegaram ao poder em situações inflacionárias fortes, impondo políticas de inspiração liberal, monetarista, com várias formas de maquiar uma forte intervenção estatal. Um contexto de política anti-estatal que termina fortalecendo o Estado, como o golpe de 64, com a concentração e centralização do capital para desenvolver um capitalismo de Estado, fundado no capital financeiro. A América Latina precisou dessas soluções especialmente na década de 60. Pouca gente compreende o conteúdo global do fenômeno do fascismo. Se olharmos a Europa dos anos 40 veremos que era toda fascista. Houve também uma experiência asiática, liderada pelo Japão. Fora o caso alemão, a repressão do Estado no fascismo não precisou de uma organização político-partidária para se sustentar. No pensamento neoliberal, o Estado deixa de entrar na parte econômica mas passa a ser absolutamente necessário para regular a força de trabalho ou a oferta de moeda. Quer um bom exemplo disto? O grupo que fez o plano Real foi quem traduziu, com introdução de Gustavo Franco, o livro de memórias do ministro da economia de Hitler e o apresenta como inspirador do plano Real.
MM - Em seu livro, o senhor surpreende ao dizer que o presidente Fernando Henrique não renegou o que tinha escrito, como ele próprio afirmou. Porquê?
TS - Desde 1973, Fernando Henrique começa a romper com as correntes da Teoria da Dependência que procuravam caracterizar a dependência como um limite para o desenvolvimento integral, capaz de corresponder às necessidades da população, para demonstrar que era possível o desenvolvimento dependente. Nós concordávamos que na dependência há um desenvolvimento, mas ele é extremamente concentrador e excludente, que não resolve os problemas da população, pois cria mecanismos de exclusão extremamente violentos, que inspira fórmulas fascistas. Fernando Henrique procurou mostrar que não. De fato, na década de 70 o imperialismo americano entrou em choque com os regimes militares que ele mesmo criou na década de 60, pois esses regimes estavam inspirando propostas nacionalistas de direita que não interessavam para a expansão do sistema mundial, representavam um problema para a globalização.
MM - Mas, por conta disto, não houve um movimento de redemocratização?
TS - Nesse sentido, a análise de Fernando Henrique parecia correta. Acontece que o que se chamava de democratização nesse processo é uma coisa muito limitada. O que se tentou criar realmente foram regimes muito controlados. Fernando Henrique não viu que não há democracia sem soberania nacional, sem que o Estado tenha meios para decidir sobre a própria vida nacional. Desde 79, em artigo contra Ruy Mauro Marini (cientista social), cuja resposta não foi divulgada pela imprensa brasileira, Fernando Henrique já tinha manifestado uma tendência pró manutenção da dependência. A resposta de Marini dizia: "Fernando Henrique Cardoso ou Porque eu amo a minha burguesia". O texto mostrava que Fernando Henrique estava reivindicando uma condição subordinada das burguesias latino-americanas e do Estado como uma fórmula de convivência com a economia mundial. Na verdade ele já estava nessa posição há muito tempo atrás. Não foi uma coisa de última hora e ele chegou a formar toda uma geração de pensadores econômicos e sociais com essa linha. Ele conseguiu, segundo declarou, "trancar uma porta da juventude brasileira para os pensamentos radicais". Conseguiu impedir realmente que as outras correntes fossem estudadas. Suas posições conduziam à sua postura atual, que é uma posição de conciliação com os setores mais conservadores e com a situação de dependência, sem nenhuma pretensão de transformação social profunda, sem nenhuma reforma estrutural.
MM - Na prática, o que isto significou?
TS - Simplesmente um ajuste à condição de dependência, para que ela flua mais e possa haver maior dinamismo. Mas nem isso ele alcançou porque na verdade essa abertura não gerou dinamismo econômico como em outras partes do mundo, como no Chile. Mas lá tinha havido a reforma agrária no governo Allende e o golpe de Estado não pôde recuar. No Brasil, o golpe impediu a reforma agrária. Então não se gerou uma burguesia agrária dinâmica como a classe média chilena que assumiu o setor agrário. O Chile também estatizou as reservas de cobre, mais de 60% da exportação chilena. Em 1982, a crise financeira no Chile era tal que mesmo o regime militar teve que estatizar o sistema financeiro. Aqui o governo está tentanto passar um crescimento de 3,5% como uma coisa fantástica, depois de passar dois anos estagnado. É uma coisa pífia.
"Nunca fomos externos ao capitalismo e cumprimos um papel importante na evolução do sistema de comércio atual". A frase é de Teothônio dos Santos, autor da Teoria da Dependência, formulada em meados da década de 60, que vê a expansão da economia capitalista mundial como geradora, simultaneamente, de desenvolvimento e subdesenvolvimento e que rompeu com a visão dominante no pós-guerra, segundo a qual as economias das antigas colônias, subdesenvolvidas, se encontrariam em estágio feudal ou pré-capitalista, necessitando passar por uma revolução industrial para chegarem à "modernidade".
A Teoria da Dependência, que tem em Theotônio dos Santos, do Conselho Editorial do MONITOR MERCANTIL, um dos principais pensadores, analisa os países hegemônicos (desenvolvidos) como captadores dos excedentes econômicos das nações periféricas (subdesenvolvidas). Essa teoria conta, inclusive, com o sociólogo Fernando Henrique entre seus mais destacados adeptos. No entanto, no livro Teoria da Dependência - Balanço e Perspectivas, que Theotônio dos Santos acaba de lançar pela editora Civilização Brasileira, o autor, ao tempo em que faz um balanço e uma atualização do tema, deixa claras suas profundas divergências com as conclusões de FH.
MONITOR MERCANTIL - Como surgiu a Teoria da Dependência?
Theotônio dos Santos - A teoria foi formulada nos anos 60, quando o golpe de Estado no Brasil chamou a atenção para questões fundamentais. As aspirações por um desenvolvimento nacional independente como conseqüência do desenvolvimento industrial da região latino-americana, que vinha se industrializando da década de 30 para cá, foram frustadas devido ao aumento da dependência da região para com o capital estrangeiro. Os empresários nacionais descobriram que não poderiam liderar o processo de industrialização, que estava já dominado pelas empresas multinacionais, que não transferiam tecnologia senão sob a forma do investimento direto que as permitia controlar a produção dos países onde investiam. Isso foi se intensificando em países como o Brasil, que estavam na ponta do desenvolvimento e obrigou a uma revisão na perspectiva do pós-guerra, sobretudo, com o ingresso de novas nações independentes. Por outro lado, a economia neoclássica pregava que cada economia do mundo se especializasse num tipo de produção para que pudesse obter o máximo de vantagem.
MM - Esta tese continua atual, não é?
TS - Voltou porque todo esse contexto de dependência aumentou muito. Nos anos 50 pelo menos havia uma aspiração nacional democrática. O golpe de Estado no Brasil mostrou que a classe dominante estava disposta a chegar a uma condição de sócia menor do capital internacional, ao invés de pretender uma autonomia e uma proposta própria. Um segundo aspecto ligado ao golpe de 64 é que o caminho para esse ajuste com o capital internacional parecia ser fundamentado em uma fórmula ditatorial, de tendência fascista. Começamos a ver que o golpe não era de setores atrasados da economia, como latifundiários. Eram setores da indústria avançada, orientados pelo capital internacional, o que indicava que a forma de violência organizada e de terror não vinha de setores que estavam perdendo poder. Isso também ia contra a noção de que desenvolvimento deveria gerar democracia. Houve um refinamento e uma institucionalização da repressão fora do comum, tanto internamente como externamente.
MM - As antigas colônias ainda eram vistas como pré-capitalistas, na época?
TS - A idéia é de que os países subdesenvolvidos ainda não teriam ingressado no capitalismo e que teriam que passar por todas as etapas de desenvolvimento que os demais. Os fatos, desde a década de 40, já estavam demonstrando, no entanto, que os países do Terceiro Mundo teriam que passar por fórmulas políticas novas para atingirem a modernização. A maior parte das economias do Terceiro Mundo teve papel muito importante no desenvolvimento mundial, como o caso do Brasil. Pensar essas economias como feudais e exteriores ao capitalismo era de uma ignorância histórica colossal. Contudo, era a idéia dominante. Pensar que essas economias poderiam refazer o caminho do capitalismo também era uma idéia totalmente falsa. Então, se começa a buscar um caminho alternativo. No caso da revolução cubana, por exemplo, o objetivo era a democracia, mas o país foi obrigado a buscar novas formas econômicas, sociais, políticas que apontavam na direção do socialismo, o que era um fato novo na América Latina. Era preciso adaptar-se em primeiro lugar à resistência que o capital internacional oferecia e dar soluções abrangentes para sustentar as transformações sem contar com as lideranças empresariais. O grande salto da Teoria da Dependência foi ver esse conjunto de transformações como parte da economia mundial, num enfoque global.
MM - O que mudou hoje e que o levou a atualizar a teoria?
TS - A evolução que houve foi a ampliação para uma análise de uma teoria do sistema mundial, que explique inclusive o processo de globalização e a tendência da economia capitalista de cada vez mais condensar o seu espaço numa forma mais densa de integração do sistema capitalista mundial. A articulação entre as várias partes da economia mundial avançou muito mais, apesar de outros fatores terem se desarticulado. Isso exigiu mais clareza sobre a análise da economia mundial, desenvolvida sobretudo na década de 70, em conjunto com colegas norte-americanos, europeus, etc., que assumiram nosso ponto de vista e, como desdobramento da Teoria da Dependência, passaram a trabalhar a idéia de um sistema econômico mundial. Infelizmente, no Brasil há um desconhecimento muito grande de toda essa evolução da teoria social contemporânea.
MM - No livro, o senhor destaca 18 países, entre eles o Brasil, que seriam fundamentais até para a manutenção da paz. Qual seria essa função no sistema mundial?
TS - O sistema mundial, do ponto de vista político, não resolveu bem a questão da participação dos centros de poder mais importantes do mundo na estruturação da política mundial. Do ponto de vista econômico, o G-7 reuniu as sete grandes potências, tendo que integrar a Rússia depois. Mas deixou de lado China, Índia e Brasil, que são potências extremamente significativas. Se nós medirmos a renda nacional do ponto de vista do poder de compra, que é a nova metodologia do Banco Mundial, vamos constatar que a maior renda nacional é realmente os EUA, com US$ 8 trilhões, mas logo em seguida vem a China, com US$ 4,5 trilhões. Depois vêm Alemanha, Japão e Índia. O Brasil seguramente está entre as 10 grandes potências. Então o sistema de decisão econômica de integração de políticas exclui algumas das potências mais importantes do mundo. O Conselho de Segurança da ONU exclui Alemanha e Japão, países derrotados na Segunda Guerra, inclui a China, mas não inclui a Índia, que é uma potência militar muito importante como também Irã ou Paquistão, que têm um peso militar enorme. Tudo isso sem falar nos países que não são potências. Estes estão excluídos totalmente, já que a Assembléia Geral da ONU não consegue fazer valer suas decisões. O problema se agrava com o fato de que as empresas multinacionais atuam hoje no mundo inteiro com estratégias de ação micro e macro sem que haja nenhum controle global sobre elas.
MM - Neste contexto, qual o papel dos acordos regionais tipo Mercosul e Alca?
TS - Eles consolidam uma realidade geopolítica, apesar de que o imperialismo tende a pôr cada uma das economias nacionais muito mais em relação com o centro do que com seus vizinhos, numa irracionalidade econômica muito grande. Na medida em que nos últimos 20 anos tivemos uma crise muito séria, essas forças regionais foram aumentando sua presença. No caso Europeu, destruído o sistema colonial, a Europa teve de voltar-se para dentro de si mesma e contrabalançar a influência norte-americana e a expansão russa. Quanto à América Latina, os EUA sempre impediram qualquer política até o final da década de 80, mas não puderam impedir a integração Ibero-Americana, que, apoiada na integração européia, incluía Portugal e Espanha. A América Latina precisou criar condições políticas para que pudesse se integrar e o Mercosul se desenvolveu com mais facilidade porque Brasil e Argentina pela primeira vez puderam entrar numa política de cooperação em meados da década de 80, com a redemocratização da região. Sem maiores investimentos, passamos de 6% para 22% de comércio com a América Latina. A Alca é uma resposta a isso, procurando manter a região sob comando norte-americano, mas de qualquer maneira ela já reconhece o desenvolvimento de movimentos sub-regionais.
MM - A Teoria da Dependência é uma expressão do pensamento autônomo latino-americano. Hoje esse grau de autonomia diminuiu?
TS - Houve um retrocesso no pensamento latino-americano. Tínhamos toda uma geração de economistas formada nos EUA através de vários mecanismos. No princípio não era tão grave porque o grupo neoliberal não tinha um controle tão grande sobre as universidades americanas. O pensamento liberal sempre foi associado ao fascismo, que é o regime de terror do grande capital, e todo esse movimento ressurgiu a partir de Pinochet, no Chile. Hitler, Mussolini, Franco ou Salazar chegaram ao poder em situações inflacionárias fortes, impondo políticas de inspiração liberal, monetarista, com várias formas de maquiar uma forte intervenção estatal. Um contexto de política anti-estatal que termina fortalecendo o Estado, como o golpe de 64, com a concentração e centralização do capital para desenvolver um capitalismo de Estado, fundado no capital financeiro. A América Latina precisou dessas soluções especialmente na década de 60. Pouca gente compreende o conteúdo global do fenômeno do fascismo. Se olharmos a Europa dos anos 40 veremos que era toda fascista. Houve também uma experiência asiática, liderada pelo Japão. Fora o caso alemão, a repressão do Estado no fascismo não precisou de uma organização político-partidária para se sustentar. No pensamento neoliberal, o Estado deixa de entrar na parte econômica mas passa a ser absolutamente necessário para regular a força de trabalho ou a oferta de moeda. Quer um bom exemplo disto? O grupo que fez o plano Real foi quem traduziu, com introdução de Gustavo Franco, o livro de memórias do ministro da economia de Hitler e o apresenta como inspirador do plano Real.
MM - Em seu livro, o senhor surpreende ao dizer que o presidente Fernando Henrique não renegou o que tinha escrito, como ele próprio afirmou. Porquê?
TS - Desde 1973, Fernando Henrique começa a romper com as correntes da Teoria da Dependência que procuravam caracterizar a dependência como um limite para o desenvolvimento integral, capaz de corresponder às necessidades da população, para demonstrar que era possível o desenvolvimento dependente. Nós concordávamos que na dependência há um desenvolvimento, mas ele é extremamente concentrador e excludente, que não resolve os problemas da população, pois cria mecanismos de exclusão extremamente violentos, que inspira fórmulas fascistas. Fernando Henrique procurou mostrar que não. De fato, na década de 70 o imperialismo americano entrou em choque com os regimes militares que ele mesmo criou na década de 60, pois esses regimes estavam inspirando propostas nacionalistas de direita que não interessavam para a expansão do sistema mundial, representavam um problema para a globalização.
MM - Mas, por conta disto, não houve um movimento de redemocratização?
TS - Nesse sentido, a análise de Fernando Henrique parecia correta. Acontece que o que se chamava de democratização nesse processo é uma coisa muito limitada. O que se tentou criar realmente foram regimes muito controlados. Fernando Henrique não viu que não há democracia sem soberania nacional, sem que o Estado tenha meios para decidir sobre a própria vida nacional. Desde 79, em artigo contra Ruy Mauro Marini (cientista social), cuja resposta não foi divulgada pela imprensa brasileira, Fernando Henrique já tinha manifestado uma tendência pró manutenção da dependência. A resposta de Marini dizia: "Fernando Henrique Cardoso ou Porque eu amo a minha burguesia". O texto mostrava que Fernando Henrique estava reivindicando uma condição subordinada das burguesias latino-americanas e do Estado como uma fórmula de convivência com a economia mundial. Na verdade ele já estava nessa posição há muito tempo atrás. Não foi uma coisa de última hora e ele chegou a formar toda uma geração de pensadores econômicos e sociais com essa linha. Ele conseguiu, segundo declarou, "trancar uma porta da juventude brasileira para os pensamentos radicais". Conseguiu impedir realmente que as outras correntes fossem estudadas. Suas posições conduziam à sua postura atual, que é uma posição de conciliação com os setores mais conservadores e com a situação de dependência, sem nenhuma pretensão de transformação social profunda, sem nenhuma reforma estrutural.
MM - Na prática, o que isto significou?
TS - Simplesmente um ajuste à condição de dependência, para que ela flua mais e possa haver maior dinamismo. Mas nem isso ele alcançou porque na verdade essa abertura não gerou dinamismo econômico como em outras partes do mundo, como no Chile. Mas lá tinha havido a reforma agrária no governo Allende e o golpe de Estado não pôde recuar. No Brasil, o golpe impediu a reforma agrária. Então não se gerou uma burguesia agrária dinâmica como a classe média chilena que assumiu o setor agrário. O Chile também estatizou as reservas de cobre, mais de 60% da exportação chilena. Em 1982, a crise financeira no Chile era tal que mesmo o regime militar teve que estatizar o sistema financeiro. Aqui o governo está tentanto passar um crescimento de 3,5% como uma coisa fantástica, depois de passar dois anos estagnado. É uma coisa pífia.
quarta-feira, 17 de junho de 2009
Globalização, dependência e neoliberalismo
Theotonio dos Santos
www.monitormercantil.com.br - 08/05/2003 - 19:05
A Universidade vive hoje em dia uma situação muito dramática. As empresas de tecnologia de ponta têm absorvido boa parte da pesquisa básica, à medida em que a revolução científico-técnica transformou o conhecimento científico no insumo imediato dos produtos e serviços vendidos por estas empresas.
As ciências humanas têm sido cada vez mais absorvidas pelos meios de comunicação, que apresentam os cientistas sociais e humanistas como espetáculos do conhecimento, assim como absorveram boa parte dos artistas e escritores.
O mundo acadêmico parece ter ficado com as tarefas medíocres e desinteressantes, exceto pela militância de alguns que todavia acreditam na Universidade como centro de reflexão e de pensamento. É pois reconfortante participar de uma banca de doutorado na qual se entrega uma tese que representa um verdadeiro passo adiante para o avanço do conhecimento.
Melhor ainda é constatar que este trabalho cuidadoso e árduo se inscreve num campo teórico e analítico no qual tive um papel bastante significativo. Me refiro à tese de doutorado apresentada no Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP) no dia 5 de maio, por Carlos Eduardo Martins, de cuja banca faço parte.
A tese enfrenta com vigor teórico exemplar uma temática de grande atualidade e toma pelos chifres três conceitos chaves para o pensamento social contemporâneo: a globalização, a dependência e o neoliberalismo. Mas o mais significativo é que inscreve esta vasta tarefa intelectual no quadro da análise do moderno sistema mundial, cuja crise discute com rigor.
O autor parte dos estudos de Inmanuel Wallerstein sobre o capitalismo histórico. Trata-se de conhecer que as tentativas de compreender o capitalismo como um modo de produção puro, como Marx realizou com enorme êxito, não esgotam a compreensão do mesmo, na medida em que sua constituição histórica determina em grande parte elementos chaves do sistema econômico, social e político que fazem parte de sua própria essência.
Entre estes elementos históricos está o moderno sistema mundial que se constituiu no século XVI, com o início das navegações oceânicas. Aprovadas financeiramente pelos genoveses, mas organizadas por Portugal e Espanha, estas navegações incorporam as Américas no circuito comercial mundial e abre o comércio com o Oriente dominado até então pelos Árabes.
Mas este sistema se estabelece mais firmemente com o pacto de equilíbrio europeu implantado pela Holanda no século XVII e finalmente pela hegemonia mundial estabelecida pelo Reino Unido, apoiado firmemente na revolução industrial que permitiu a integração entre o modo de produção capitalista e a base material que entregou ao novo sistema mundial os meios de conquista de todo o planeta.
Cada um destes períodos se caracterizou por um movimento cíclico que Fernand Braudel estudou com enorme rigor e que Inmanuel Wallerstein se deu a tarefa de pesquisar nos três volumens de seu Moderno Sistema-Mundo. Falta colocar alguns mais que analisarão o surgimento de um novo ciclo mundial no final da Segunda Guerra Mundial sob a hegemonia do sistema financeiro, monetário e geopolítico internacional estabelecido pelos Estados Unidos e seus aliados, vencedores da guerra.
O autor fez um balanço bastante sério das propostas de análises dos ciclos longos de Inmanuel e de Giovanni Arrigui, que se caracterizam pelo estabelecimento de um poder hegemônico, as zonas periféricas e semiperiféricas que constituem este sistema. O importante de seu enfoque é a demonstração da necessidade desta visão secular para dar sentido às análises das conjunturas atuais e seus possíveis desdobramentos.
É assim que o conceito de globalização ganha um sentido muito mais concreto quando é inserido no amplo contexto da formação deste moderno sistema mundial. O autor incorpora, contudo, um elemento explicativo fundamental para a compreensão do processo de globalização. Trata-se do papel da revolução científico-técnica na caracterização das mudanças qualitativas que conduziram aos fenômenos que se inserem neste conceito tão amplo.
A tese se dá o trabalho de analisar os diferentes enfoques da globalização, entre os quais distinguem-se:
a - a interpretação globalista, que observa a globalização como uma realidade totalmente nova que constitui um novo objeto de análise para as ciências sociais, com novos atores (as empresas e o mercado global) que subjulgariam os Estados Nacionais; um novo paradigma tecnológico que serviria de base para um novo sistema mundial desterritorializado;
b - as teorias da hegemonia compartilhada, que vêem na revolução microeletrônica uma mudança no grau de internacionalização sem destruir o papel fundamental dos Estados Nacionais;
c - o enfoque neodesenvolvimentista, que vê a globalização como um fenômeno essencialmente financeiro, baseado na integração mundial dos mercados financeiros que se impõemsobre o sistema produtivo, o qual tem que liberar para retomar o desenvolvimento econômico enquanto os Estados Nacionais podem ainda conduzir o desenvolvimento;
d - a interpretação dos teóricos do sistema-mundo que identificam um único sistema a nível global. Entre eles se distingue a posição que pretende existir uma continuidade secular neste sistema único, ou aqueles que acentuam as discontinuidades de sua evolução, inscrita em ciclos de longa duração; por fim analisa a teoria da dependência, que apesar de suas ligações históricas com a teoria do sistema mundial, se distingue pela caracterização da globalização como um período de crise do modo de produção capitalista que incorpora contraditoriamente a revolução científico-técnica e promove o máximo desenvolvimento da lei do valor no plano mundial.
Somente a descrição detalhada destas correntes já é uma contribuição importante para a sistematização de uma problemática cuja compreensão se encontra em fase de grande confusão. Mas o autor nos brinda ainda com uma análise detalhada do caráter da crise do sistema mundial e da hegemonia norte-americana, tão contestada mas tão evidente quando analisada desde um ângulo histórico.
O balanço da questão da hegemonia e das perspectivas do século XXI permite ao autor abordar um capítulo extremamente novo na história das idéias sociais ao estudar as relações entre a teoria da dependência e a teoria do sistema mundial. Eu tratei este tema no meu livro sobre A Teoria da Dependência: Balanço e Perspectivas, publicado no Brasil pela Editora Civilização Brasileira, e no meu artigo para o livro eletrônico em homenagem a Inmanuel Wallerstein, mas o autor adiciona elementos novos ao enfoque desta continuidade teórica e analítica que podem ser encontrados no livro da Unesco Los Retos de la Globalización - Ensayos em Homenaje a Theotonio dos Santos.
Considero extremamente importante também o capítulo dedicado ao tema da dependência e desenvolvimento no moderno sistema mundial. O enfoque do autor situa o debate sobre o desenvolvimento no seu contexto histórico e mostra o papel crítico da teoria da dependência ao analisar os limites históricos do desenvolvimentismo. A ofensiva do pensamento neoliberal desde a década de oitenta do século passado derrubou o desenvolvimentismo apoiando-se em parte nas suas debilidades, mas sobretudo buscou eliminar as conquistas sociais e civilizacionais que tinha alcançado.
O autor mostra como o fracasso histórico do neoliberalismo abre caminho em nossos dias para uma retomada da temática do desenvolvimento e dos debates sobre a dependência, aprofundados pela teoria do sistema mundial.
Mas Martins dedica um capítulo especial ao tema da superexploração do trabalho, desenvolvido por nós, mas em particular por Ruy Mauro Marini na sua dialética da dependência recém publicada pela Editora Vozes em português. A relação entre a expropriação internacional dos excedentes gerados em nossos países e a busca de superexploração dos trabalhadores por parte das classes dominantes locais para compensar estas perdas está no coração do fenômeno da dependência. É extremamente auspicioso ver um grupo de jovens pesquisadores retomar estas questões com grande rigor teórico.
Este caminho teórico permite ao nosso doutorando apontar caminhos sólidos para uma retomada do desenvolvimento em nossos países depois de analisar em detalhe o fracasso histórico do neoliberalismo, com o estudo dos casos do Brasil, Argentina e México. Vale a pena seguir a pista deste rigoroso esforço teórico, analítico e empírico. A Universidade ainda tem o que dizer.
www.monitormercantil.com.br - 08/05/2003 - 19:05
A Universidade vive hoje em dia uma situação muito dramática. As empresas de tecnologia de ponta têm absorvido boa parte da pesquisa básica, à medida em que a revolução científico-técnica transformou o conhecimento científico no insumo imediato dos produtos e serviços vendidos por estas empresas.
As ciências humanas têm sido cada vez mais absorvidas pelos meios de comunicação, que apresentam os cientistas sociais e humanistas como espetáculos do conhecimento, assim como absorveram boa parte dos artistas e escritores.
O mundo acadêmico parece ter ficado com as tarefas medíocres e desinteressantes, exceto pela militância de alguns que todavia acreditam na Universidade como centro de reflexão e de pensamento. É pois reconfortante participar de uma banca de doutorado na qual se entrega uma tese que representa um verdadeiro passo adiante para o avanço do conhecimento.
Melhor ainda é constatar que este trabalho cuidadoso e árduo se inscreve num campo teórico e analítico no qual tive um papel bastante significativo. Me refiro à tese de doutorado apresentada no Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP) no dia 5 de maio, por Carlos Eduardo Martins, de cuja banca faço parte.
A tese enfrenta com vigor teórico exemplar uma temática de grande atualidade e toma pelos chifres três conceitos chaves para o pensamento social contemporâneo: a globalização, a dependência e o neoliberalismo. Mas o mais significativo é que inscreve esta vasta tarefa intelectual no quadro da análise do moderno sistema mundial, cuja crise discute com rigor.
O autor parte dos estudos de Inmanuel Wallerstein sobre o capitalismo histórico. Trata-se de conhecer que as tentativas de compreender o capitalismo como um modo de produção puro, como Marx realizou com enorme êxito, não esgotam a compreensão do mesmo, na medida em que sua constituição histórica determina em grande parte elementos chaves do sistema econômico, social e político que fazem parte de sua própria essência.
Entre estes elementos históricos está o moderno sistema mundial que se constituiu no século XVI, com o início das navegações oceânicas. Aprovadas financeiramente pelos genoveses, mas organizadas por Portugal e Espanha, estas navegações incorporam as Américas no circuito comercial mundial e abre o comércio com o Oriente dominado até então pelos Árabes.
Mas este sistema se estabelece mais firmemente com o pacto de equilíbrio europeu implantado pela Holanda no século XVII e finalmente pela hegemonia mundial estabelecida pelo Reino Unido, apoiado firmemente na revolução industrial que permitiu a integração entre o modo de produção capitalista e a base material que entregou ao novo sistema mundial os meios de conquista de todo o planeta.
Cada um destes períodos se caracterizou por um movimento cíclico que Fernand Braudel estudou com enorme rigor e que Inmanuel Wallerstein se deu a tarefa de pesquisar nos três volumens de seu Moderno Sistema-Mundo. Falta colocar alguns mais que analisarão o surgimento de um novo ciclo mundial no final da Segunda Guerra Mundial sob a hegemonia do sistema financeiro, monetário e geopolítico internacional estabelecido pelos Estados Unidos e seus aliados, vencedores da guerra.
O autor fez um balanço bastante sério das propostas de análises dos ciclos longos de Inmanuel e de Giovanni Arrigui, que se caracterizam pelo estabelecimento de um poder hegemônico, as zonas periféricas e semiperiféricas que constituem este sistema. O importante de seu enfoque é a demonstração da necessidade desta visão secular para dar sentido às análises das conjunturas atuais e seus possíveis desdobramentos.
É assim que o conceito de globalização ganha um sentido muito mais concreto quando é inserido no amplo contexto da formação deste moderno sistema mundial. O autor incorpora, contudo, um elemento explicativo fundamental para a compreensão do processo de globalização. Trata-se do papel da revolução científico-técnica na caracterização das mudanças qualitativas que conduziram aos fenômenos que se inserem neste conceito tão amplo.
A tese se dá o trabalho de analisar os diferentes enfoques da globalização, entre os quais distinguem-se:
a - a interpretação globalista, que observa a globalização como uma realidade totalmente nova que constitui um novo objeto de análise para as ciências sociais, com novos atores (as empresas e o mercado global) que subjulgariam os Estados Nacionais; um novo paradigma tecnológico que serviria de base para um novo sistema mundial desterritorializado;
b - as teorias da hegemonia compartilhada, que vêem na revolução microeletrônica uma mudança no grau de internacionalização sem destruir o papel fundamental dos Estados Nacionais;
c - o enfoque neodesenvolvimentista, que vê a globalização como um fenômeno essencialmente financeiro, baseado na integração mundial dos mercados financeiros que se impõemsobre o sistema produtivo, o qual tem que liberar para retomar o desenvolvimento econômico enquanto os Estados Nacionais podem ainda conduzir o desenvolvimento;
d - a interpretação dos teóricos do sistema-mundo que identificam um único sistema a nível global. Entre eles se distingue a posição que pretende existir uma continuidade secular neste sistema único, ou aqueles que acentuam as discontinuidades de sua evolução, inscrita em ciclos de longa duração; por fim analisa a teoria da dependência, que apesar de suas ligações históricas com a teoria do sistema mundial, se distingue pela caracterização da globalização como um período de crise do modo de produção capitalista que incorpora contraditoriamente a revolução científico-técnica e promove o máximo desenvolvimento da lei do valor no plano mundial.
Somente a descrição detalhada destas correntes já é uma contribuição importante para a sistematização de uma problemática cuja compreensão se encontra em fase de grande confusão. Mas o autor nos brinda ainda com uma análise detalhada do caráter da crise do sistema mundial e da hegemonia norte-americana, tão contestada mas tão evidente quando analisada desde um ângulo histórico.
O balanço da questão da hegemonia e das perspectivas do século XXI permite ao autor abordar um capítulo extremamente novo na história das idéias sociais ao estudar as relações entre a teoria da dependência e a teoria do sistema mundial. Eu tratei este tema no meu livro sobre A Teoria da Dependência: Balanço e Perspectivas, publicado no Brasil pela Editora Civilização Brasileira, e no meu artigo para o livro eletrônico em homenagem a Inmanuel Wallerstein, mas o autor adiciona elementos novos ao enfoque desta continuidade teórica e analítica que podem ser encontrados no livro da Unesco Los Retos de la Globalización - Ensayos em Homenaje a Theotonio dos Santos.
Considero extremamente importante também o capítulo dedicado ao tema da dependência e desenvolvimento no moderno sistema mundial. O enfoque do autor situa o debate sobre o desenvolvimento no seu contexto histórico e mostra o papel crítico da teoria da dependência ao analisar os limites históricos do desenvolvimentismo. A ofensiva do pensamento neoliberal desde a década de oitenta do século passado derrubou o desenvolvimentismo apoiando-se em parte nas suas debilidades, mas sobretudo buscou eliminar as conquistas sociais e civilizacionais que tinha alcançado.
O autor mostra como o fracasso histórico do neoliberalismo abre caminho em nossos dias para uma retomada da temática do desenvolvimento e dos debates sobre a dependência, aprofundados pela teoria do sistema mundial.
Mas Martins dedica um capítulo especial ao tema da superexploração do trabalho, desenvolvido por nós, mas em particular por Ruy Mauro Marini na sua dialética da dependência recém publicada pela Editora Vozes em português. A relação entre a expropriação internacional dos excedentes gerados em nossos países e a busca de superexploração dos trabalhadores por parte das classes dominantes locais para compensar estas perdas está no coração do fenômeno da dependência. É extremamente auspicioso ver um grupo de jovens pesquisadores retomar estas questões com grande rigor teórico.
Este caminho teórico permite ao nosso doutorando apontar caminhos sólidos para uma retomada do desenvolvimento em nossos países depois de analisar em detalhe o fracasso histórico do neoliberalismo, com o estudo dos casos do Brasil, Argentina e México. Vale a pena seguir a pista deste rigoroso esforço teórico, analítico e empírico. A Universidade ainda tem o que dizer.
terça-feira, 16 de junho de 2009
Crise: o pior ainda está por vir
Jornal Monitor Mercantil online - 24/04/2009 - 20:04
Crise: o pior ainda está por vir
Na opinião do Coordenador da Cátedra e Rede Unesco/UNU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen), Theotonio dos Santos, ninguém deve acreditar que o pior da crise mundial já passou. "O impacto negativo das intervenções que estão fazendo ainda não são perceptíveis. O que aparece são as medidas para deter a falta de liquidez, não a da população, mas do setor financeiro. Isso gerou uma massa colossal de dinheiro fictício", comenta Theotonio, que é integrante do Conselho Editorial do MM.
No médio prazo, o coordenador do Reggen avalia que o dólar sofrerá forte desvalorização, enquanto a China emergirá como o país mais beneficiado pela crise. O país asiático, que já publicou seis livros de Theotonio, pretende acentuar sua influência no setor financeiro.
Nesta entrevista exclusiva, ele traz suas impressões sobre as diversas reuniões voltadas para a crise das quais participou, em vários países. Em alguns deles, como no México, foi homenageado com o título de doutor honoris causa pela Universidade de São Marcos, a mais antiga das Américas.
Por que o senhor afirma que os setores financeiros dos países centrais deixaram o mundo a mercê da crise?
Está claro que este não é o ciclo final do capitalismo nem a repetição da crise de 1929. O que está acontecendo agora reflete uma crise estrutural do sistema e as iniciativas para resolvê-la na verdade estão agravando suas causas. Uma vez resolvida a fase da recessão, iremos para um período muito pior. A utilização de recursos do Tesouro aumenta a intervenção do Estado na economia, mas não para favorecer a população, e sim para aumentar a concentração da renda e o desequilíbrio econômico mundial.
Quando essas distorções ficarão mais evidentes?
Os cenários de evolução são graves a médio e longo prazo. Imediatamente, o que aparece são as medidas para deter a falta de liquidez, não a da população, mas do setor financeiro, o que gerou uma massa colossal de dinheiro fictício. O Estado sustenta isso com emissões, pois não poderá cobrar da população através de impostos. Em dez anos, virá o fenômeno da desvalorização do dólar. Até aqui a venda de títulos do Tesouro americano tem subsidiado o déficit comercial. Isso está chegando ao fim. A China, por exemplo, como bom credor, avança para fazer exigências.
Concorda com as previsões de que a China sairá mais forte da crise?
Seguramente, a China será o país mais beneficiado. Há quatro anos eles estão se preparando para a crise. Estive num centro de estudos do comitê central e constatei que tomaram posição muito clara: apostam no mercado interno. Nesta semana, o primeiro ministro anunciou que a destinação de recursos para ampliação do mercado interno está trazendo resultados muito melhores que o esperado, porque o dinheiro vai para as regiões mais pobres, sobretudo para o campo. Os setores mais populares geram mais empregos com menos investimento. É um encaminhamento muito correto de política anti-cíclica. O pacote chinês, de US$ 600 bilhões, é quase igual ao que Obama está destinando para suas políticas, se for excluída a ajuda aos bancos.
Qual o objetivo da China ao colocar recursos no FMI?
Ao aportar recursos no FMI, os líderes chineses pensam que terão influência maior. Certamente haverá uma reestruturação, com maior peso para os Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China), porém os economistas serão os mesmos. Além do problema da limitação dos técnicos, os recursos mal geridos, do ponto de vista da corrupção. Joseph Stiglitz (economista, Prêmio Nobel) aponta vários casos em um de seus livros. Há casos também de estudos feitos para um país que são repassados para outros. Recomendam, por exemplo, a formação de bancos populares, mas os empréstimos são pequenos e os gerentes ganham muito. Esse padrão inviabiliza ações tipo luta contra a pobreza. O melhor negócio para ganhar dinheiro ultimamente é estudar a pobreza.
De que maneira a China exercerá o poder adquirido com a crise?
Até aqui os chineses têm atuado sob perspectiva mais comercial, mas terão que se preparar também para o financeiro. Por isso estão querendo entrar no FMI. Já conseguiram nomear o vice-presidente de pesquisa do Banco Mundial (Bird). Há mais de dez anos venho os alertando para o fato de que a China iria se converter numa potência financeira. De início jogaram no mercado financeiro mundial, até que veio a crise de 1997. Depois o debate passou a ser como usar essa liquidez, principalmente agora quando os maiores países estão com problemas de liquidez. Os Árabes também têm excedentes e os estão usando na compra de empresas com perspectiva futura de converter essa liquidez em domínio de capacidade produtiva.
Mas os chineses acumularam reservas com títulos do Tesouro americano...
Ser o principal credor dará à China um grande poder de influência sobre os EUA. No entanto, parte da liquidez também será investida em países fornecedores de matérias-primas, como a África. É uma pena que o Brasil não tenha sido capaz de absorver investimentos chineses e tenha que remeter US$ 50 bilhões por ano em dinheiro especulativo.
O Brasil vai ganhar influência ajudando o FMI?
Não há nenhuma razão para ajudar o FMI. Por que não investir no Banco do Sul?
Não temos nenhum brasileiro ocupando a presidência de uma instituição de pensamento mundial. Perdemos até a presidência da Cepal para o México.
Que outros países poderão influir no mundo pós-crise?
Observar a Índia também é muito importante. A grande alternativa para a crise é uma renovação civilizatória profunda, que não apenas mude hábitos de consumo e o papel do setor privado na organização da vida coletiva, mas também cultive o respeito pelos povos. No debate sobre Cuba, Obama só diz que o país tem que trocar o regime por democracia. Ora, Cuba é uma das democracias mais avançadas, que funciona muito bem. Qual ditadura agüentaria uma restrição econômica tão grande? Pinochet, com toda ajuda americana, não agüentou 15 anos. Cuba está fora das acusações da ONU quanto a direitos humanos. Quem está são os EUA. Não dá para comparar as prisões cubanas com as brasileiras, por exemplo. Na época da revolução houve condenações, mas após julgamento. Temos que caminhar para um processo civilizatório que respeite todos os povos.
Como os indianos podem nos ajudar?
Eles conseguiram resistir à civilização ocidental de forma brilhante. Os chineses começaram a trabalhar nisso nos últimos 15 anos e agora estão acelerando. Índia e China são civilizações milenares, não têm porque se converterem a um projeto ocidental, nem mesmo ao marxismo, que é uma grande proposta, representa um avanço muito grande no conhecimento, porém, pretender substituir cinco mil anos de História com propostas teóricas é um absurdo.
Que impressão lhe causou o México?
A situação é dramática. Dependente da demanda americana, o México vem sofrendo duramente efeitos da crise. A droga virou uma das salvações. E a briga na fronteira não é porque os EUA não querem comprar drogas. Na verdade, eles querem comandar o mercado da droga.
Crise: o pior ainda está por vir
Na opinião do Coordenador da Cátedra e Rede Unesco/UNU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen), Theotonio dos Santos, ninguém deve acreditar que o pior da crise mundial já passou. "O impacto negativo das intervenções que estão fazendo ainda não são perceptíveis. O que aparece são as medidas para deter a falta de liquidez, não a da população, mas do setor financeiro. Isso gerou uma massa colossal de dinheiro fictício", comenta Theotonio, que é integrante do Conselho Editorial do MM.
No médio prazo, o coordenador do Reggen avalia que o dólar sofrerá forte desvalorização, enquanto a China emergirá como o país mais beneficiado pela crise. O país asiático, que já publicou seis livros de Theotonio, pretende acentuar sua influência no setor financeiro.
Nesta entrevista exclusiva, ele traz suas impressões sobre as diversas reuniões voltadas para a crise das quais participou, em vários países. Em alguns deles, como no México, foi homenageado com o título de doutor honoris causa pela Universidade de São Marcos, a mais antiga das Américas.
Por que o senhor afirma que os setores financeiros dos países centrais deixaram o mundo a mercê da crise?
Está claro que este não é o ciclo final do capitalismo nem a repetição da crise de 1929. O que está acontecendo agora reflete uma crise estrutural do sistema e as iniciativas para resolvê-la na verdade estão agravando suas causas. Uma vez resolvida a fase da recessão, iremos para um período muito pior. A utilização de recursos do Tesouro aumenta a intervenção do Estado na economia, mas não para favorecer a população, e sim para aumentar a concentração da renda e o desequilíbrio econômico mundial.
Quando essas distorções ficarão mais evidentes?
Os cenários de evolução são graves a médio e longo prazo. Imediatamente, o que aparece são as medidas para deter a falta de liquidez, não a da população, mas do setor financeiro, o que gerou uma massa colossal de dinheiro fictício. O Estado sustenta isso com emissões, pois não poderá cobrar da população através de impostos. Em dez anos, virá o fenômeno da desvalorização do dólar. Até aqui a venda de títulos do Tesouro americano tem subsidiado o déficit comercial. Isso está chegando ao fim. A China, por exemplo, como bom credor, avança para fazer exigências.
Concorda com as previsões de que a China sairá mais forte da crise?
Seguramente, a China será o país mais beneficiado. Há quatro anos eles estão se preparando para a crise. Estive num centro de estudos do comitê central e constatei que tomaram posição muito clara: apostam no mercado interno. Nesta semana, o primeiro ministro anunciou que a destinação de recursos para ampliação do mercado interno está trazendo resultados muito melhores que o esperado, porque o dinheiro vai para as regiões mais pobres, sobretudo para o campo. Os setores mais populares geram mais empregos com menos investimento. É um encaminhamento muito correto de política anti-cíclica. O pacote chinês, de US$ 600 bilhões, é quase igual ao que Obama está destinando para suas políticas, se for excluída a ajuda aos bancos.
Qual o objetivo da China ao colocar recursos no FMI?
Ao aportar recursos no FMI, os líderes chineses pensam que terão influência maior. Certamente haverá uma reestruturação, com maior peso para os Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China), porém os economistas serão os mesmos. Além do problema da limitação dos técnicos, os recursos mal geridos, do ponto de vista da corrupção. Joseph Stiglitz (economista, Prêmio Nobel) aponta vários casos em um de seus livros. Há casos também de estudos feitos para um país que são repassados para outros. Recomendam, por exemplo, a formação de bancos populares, mas os empréstimos são pequenos e os gerentes ganham muito. Esse padrão inviabiliza ações tipo luta contra a pobreza. O melhor negócio para ganhar dinheiro ultimamente é estudar a pobreza.
De que maneira a China exercerá o poder adquirido com a crise?
Até aqui os chineses têm atuado sob perspectiva mais comercial, mas terão que se preparar também para o financeiro. Por isso estão querendo entrar no FMI. Já conseguiram nomear o vice-presidente de pesquisa do Banco Mundial (Bird). Há mais de dez anos venho os alertando para o fato de que a China iria se converter numa potência financeira. De início jogaram no mercado financeiro mundial, até que veio a crise de 1997. Depois o debate passou a ser como usar essa liquidez, principalmente agora quando os maiores países estão com problemas de liquidez. Os Árabes também têm excedentes e os estão usando na compra de empresas com perspectiva futura de converter essa liquidez em domínio de capacidade produtiva.
Mas os chineses acumularam reservas com títulos do Tesouro americano...
Ser o principal credor dará à China um grande poder de influência sobre os EUA. No entanto, parte da liquidez também será investida em países fornecedores de matérias-primas, como a África. É uma pena que o Brasil não tenha sido capaz de absorver investimentos chineses e tenha que remeter US$ 50 bilhões por ano em dinheiro especulativo.
O Brasil vai ganhar influência ajudando o FMI?
Não há nenhuma razão para ajudar o FMI. Por que não investir no Banco do Sul?
Não temos nenhum brasileiro ocupando a presidência de uma instituição de pensamento mundial. Perdemos até a presidência da Cepal para o México.
Que outros países poderão influir no mundo pós-crise?
Observar a Índia também é muito importante. A grande alternativa para a crise é uma renovação civilizatória profunda, que não apenas mude hábitos de consumo e o papel do setor privado na organização da vida coletiva, mas também cultive o respeito pelos povos. No debate sobre Cuba, Obama só diz que o país tem que trocar o regime por democracia. Ora, Cuba é uma das democracias mais avançadas, que funciona muito bem. Qual ditadura agüentaria uma restrição econômica tão grande? Pinochet, com toda ajuda americana, não agüentou 15 anos. Cuba está fora das acusações da ONU quanto a direitos humanos. Quem está são os EUA. Não dá para comparar as prisões cubanas com as brasileiras, por exemplo. Na época da revolução houve condenações, mas após julgamento. Temos que caminhar para um processo civilizatório que respeite todos os povos.
Como os indianos podem nos ajudar?
Eles conseguiram resistir à civilização ocidental de forma brilhante. Os chineses começaram a trabalhar nisso nos últimos 15 anos e agora estão acelerando. Índia e China são civilizações milenares, não têm porque se converterem a um projeto ocidental, nem mesmo ao marxismo, que é uma grande proposta, representa um avanço muito grande no conhecimento, porém, pretender substituir cinco mil anos de História com propostas teóricas é um absurdo.
Que impressão lhe causou o México?
A situação é dramática. Dependente da demanda americana, o México vem sofrendo duramente efeitos da crise. A droga virou uma das salvações. E a briga na fronteira não é porque os EUA não querem comprar drogas. Na verdade, eles querem comandar o mercado da droga.