Theotonio dos Santos
Prêmio Mundial de Economista
Marxiano – WAPE 2013
com contribuições de David Gomes
Estudante de História da UERJ
Dois milhões de pessoas, segundo O
Globo, o que seguramente é uma informação inflada foram às ruas
em todo o país no dia 15 de março. Esta manifestação foi
convocada amplamente através das mídias sociais com apoio de toda
imprensa conservadora do Brasil e do Mundo, além dos partidos de
oposição e de facções de alguns partidos da base do Governo.
Poucos se dedicaram a localizar
perfeitamente os autores dessa convocatória e ainda restam muitas
incógnitas a esse respeito. Também foi extremamente difícil saber
exatamente quais são as palavras de ordem da manifestação já que
elas se apresentavam com distintas e até opostas propostas, ademais
de um forte exercício de ódio com
xingamentos racistas, machistas e ameaças fascistas.
Podemos fazer um primeiro exercício
de compreender quem são os organizadores desse evento, pois é
difícil acreditar que uma mobilização de massas programada em um
período tão grande e com apoios substanciais tenha se realizado de
uma maneira absolutamente espontânea. É verdade que nenhum setor
responsável politicamente quis comprometer-se com a convocatória e
suas palavras de ordem. Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, fez
declaração as vésperas da manifestação opondo-se claramente à
ideia do impeachment. Aécio Neves, candidato à Presidência pela
oposição e Presidente do PSDB, disse apoiar o movimento mas não
participar para que não seja acusado de propor um terceiro turno.
Informações dos Estados Unidos
indicam que a visita do Vice-Presidente Joe Biden é sempre um sinal
para as tentativas de mobilização de massa apoiadas nas técnicas
de "guerra psicológica" comandadas pela CIA e, neste caso,
apoiadas inclusive por setores do Departamento de Estado (Ministério
de Relações Exteriores dos EUA).
Também existem informações de que
um dos principais grupos que convocaram a reunião, o Movimento
Brasil Livre, recebe ajuda - entre outras fontes - da Atlas Economic
Research Foundation dos irmãos Koch (ver:
http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/03/quem-financia-os-meninos-do-golpe.html).
Como uma extensão do Movimento
Brasil Livre, participam também da convocatória os “Estudantes
Pela Liberdade”, também financiados pelos mesmos irmãos Koch, com
uma finalidade específica de convencimento dos jovens dos ideais
ultra liberais que são apontados como garantia econômica de
suas carreiras profissionais.
Grupos de "bloggeiros"
menos articulados como o "Vem Pra Rua" e o "Revoltados
Online" também participam da convocatória através de palavras
de ordem mal articuladas e pouco coerentes, reduzindo seu público a
um campo mais emocional do que político.
Em seguida estão também os grupos
voltados explicitamente para o impeachment como instrumento do
golpe de Estado. Há várias tentativas dos meios de
comunicação de isolar esses grupos dificultando sua clara
identificação.
Como se vê, trata-se de uma
convocatória aparentemente espontânea, mas na realidade é bastante
clara a fonte principal da mesma. O Jornal O Globo destaca a presença
de bandeiras verde e amarela no movimento, mas se vemos o setor
predominante da convocatória estaria mais adequado colocar a
bandeira dos EUA como, por sinal, vários manifestantes se
apresentaram (ver a foto que abre este Artigo). Ninguém pode pensar
que ajudas econômicas deste tipo tenham um caráter de
solidariedade. As ofensivas que os EUA está realizando no Mundo
inteiro no momento atual têm passado por convocatórias similares
que não deram nenhum resultado histórico positivo até hoje.
O último caso que se pode ver é o
da Venezuela. Não só se aplica nesse país as técnicas da "guerra
psicológica" como também da “guerra econômica” com apoio
de uma rede de comunicação das principais mídias da região. Nos
últimos anos os EUA desenvolveu uma tecnologia de exploração de
petróleo e gás, o “fracking”, que lhe permite ameaçar
com a diminuição de sua importação de petróleo buscando a
queda de seu preço no mercado mundial.
Contudo essa tecnologia é um dos
mais graves ataques ao ambiente no mundo contemporâneo, ela introduz
massivas quantidade de ácido nos lençóis freáticos trazendo
graves consequências para uma das mais raras riquezas naturais do
Mundo: a água. Essa tática, contudo, visava a queda das economias
não só da Venezuela, como do Irã, da Rússia e, inclusive, o
Brasil. Se alguém tem dúvida disto veja as campanhas movidas pelos
EUA nos últimos meses e anos, chegando a ameaçar uma guerra mundial
contra a Rússia. No caso brasileiro, os EUA não conseguiu nenhuma
participação na exploração do pré-sal e, no caso venezuelano, os
EUA não só está afastado das imensas reservas do Vale do Orinoco,
como se converte em um inimigo aberto através do seu envolvimento
profundo a favor da violenta oposição ao Governo do Partido
Socialista Unificado da Venezuela. Oposição esta marcada por
tentativas de golpe de Estado em 2002 e várias outras táticas entre
as quais as tentativas de negar a vitória do Presidente Maduro nas
últimas eleições.
Sabemos bastante como as denúncias
sobre as estratégias dos EUA são atribuídas a uma teoria
conspiratória da história, mas só não vê estas políticas e
esses objetivos estratégicos o conhecido personagem: o pior cego,
que é aquele que não quer ver.
Quando um país decreta que está
sendo ameaçado na sua segurança por outro país não existe nenhuma
dúvida de que pretende dar um conteúdo militar as relações mútuas
entre eles. Esta pretensão de estar ameaçado em sua segurança pela
Venezuela é muito mais ridícula do que a pretensão de que o
Governo do Iraque dispunha de armas terríveis capazes de ameaçar os
EUA. Provou-se que não existia. Vimos também EUA invadir o Iraque
para responder a uma ação de sabotagem realizada nos EUA derrubando
as Torres Gêmeas, quando ficou mais do que provado que a ampla
maioria dos que participaram nesses atentados foram cidadãos da
Arábia Saudita. Mais grave ainda, é o fato de que estes “agentes
terroristas” estavam liderados por um membro da nobreza que governa
esse país. Por sinal, não propriamente através de um regime
democrático.
A resposta à uma acusação tão
fantasiosa, tão despectiva, tão prepotente expressada pelo decreto
de Obama tem sido contundente. Rússia,
China e toda a América Latina se solidarizaram com a Venezuela.
Seguramente a grande maioria das Nações Unidas confirmará essa
oposição ao decreto estadounidense.
É extremamente importante ressaltar a declaração da UNASUL que reúne todos os países da América do Sul, inclusive aliados mais ou menos declarados dos EUA. Em reunião do seu Conselho de Ministros das Relações Exteriores a UNASUL não só critica o decreto executivo que declara que "a situação da Venezuela constitui uma ameaça incomum e extraordinária para a segurança nacional e a política externa dos EUA", assinada em 09/03/2015 pelo Presidente dos EUA Barack Obama, como solicita também a revogação do mesmo. Estamos as vésperas da Cúpula das Américas que reúne todas as Nações americanas, exceto Porto Rico, que é considerado um mero estado associado dos EUA. É necessário assinalar que todos os países da região se negaram a participar dessa Cúpula se não estivesse presente a República de Cuba, obrigando o Governo Americano a apressar o reconhecimento deste país.
É extremamente importante ressaltar a declaração da UNASUL que reúne todos os países da América do Sul, inclusive aliados mais ou menos declarados dos EUA. Em reunião do seu Conselho de Ministros das Relações Exteriores a UNASUL não só critica o decreto executivo que declara que "a situação da Venezuela constitui uma ameaça incomum e extraordinária para a segurança nacional e a política externa dos EUA", assinada em 09/03/2015 pelo Presidente dos EUA Barack Obama, como solicita também a revogação do mesmo. Estamos as vésperas da Cúpula das Américas que reúne todas as Nações americanas, exceto Porto Rico, que é considerado um mero estado associado dos EUA. É necessário assinalar que todos os países da região se negaram a participar dessa Cúpula se não estivesse presente a República de Cuba, obrigando o Governo Americano a apressar o reconhecimento deste país.
A ofensiva norte americana tem
encontrado graves restrições no Oriente Médio, na provocação na
Ucrânia, na consolidação do Iraque pós derrota norte americana,
no Afeganistão e, também, nas derrotas nas eleições brasileiras,
venezuelanas, chilenas, nicaraguenses, bolivianas, equatorianas e
salvadorenhas nos últimos anos. Agora quando a exploração do
“fracking” ameaça as águas norte americanas sem ter conseguido
quebrar os seus inimigos, mas sim provocando quebras de empresas
ligadas ao “fracking” dentro dos EUA, torna-se cada vez mais
urgente para Obama apresentar alguma vitória. Esperemos que as
ambições empresariais de privatizar a Petrobras ou pelo menos mudar
o regime de partilha não sejam atendidas por importantes setores do
povo brasileiro, mal informados, que seguramente são majoritários.
O governo brasileiro necessita
entender que uma política macro econômica baseada no aumento de
taxa dos juros pagos pelo Estado sobre uma dívida que não foi feita
para atender nenhuma necessidade do nosso povo não é certamente uma
política capaz de unificar as forças mais progressistas de nosso
país. A desculpa de que esses juros altos são necessários para
deter a inflação é absoluta e radicalmente contestada pelas
maiores autoridades em Economia Política do Mundo. O arrocho fiscal
que a direita está impondo ao governo popular é um erro
extremamente grave. Durante 3 anos tivemos o aumento da taxa de juros
acompanhado do aumento da inflação. Para manter esta situação
surge a desculpa de que o aumento da inflação obriga a aumentar a
taxa de juros para contê-la. O Governo se vê obrigado então a
cortar gastos, o que incide fundamentalmente sobre as grandes
maiorias, sobre o investimento e sobre a taxa de lucro médio que é
determinado em grande parte pela taxa de juros.
Enquanto os EUA reduz a zero a taxa
de juros de sua colossal dívida, o Japão faz o mesmo, a Europa a
diminui também em menor proporção, o nosso Banco Central pretende
salvar o país da inflação com o aumento desproporcional da taxa de
juros. Enquanto as principais economias do Mundo temem a deflação,
“o nosso Banco Central teme a inflação” e, pior ainda, provoca
uma inflação crescente. Enquanto persistir este enfoque econômico
profundamente anti popular e equivocado haverá razões para grandes
mobilizações contra o Governo, as quais podem ser aproveitadas pela
oposição, a qual estaria fazendo o mesmo se estivesse no Governo.
2 milhões de pessoas são 1% da
população brasileira. Isso mostra que as técnicas de "guerra
psicológica", com o apoio de todo o sistema de comunicação do
país, não consegue dominar totalmente a mente e as emoções do
povo brasileiro. Mas isto não quer dizer que a uma equivocada defesa
da política econômica do Governo não criará condições para que
essa "guerra psicológica" tenha maior apoio social. Os
outros erros são menores e sempre existem razões para que ocorram,
nenhum Governo é perfeito, mas uma questão grave que involucra a
metade dos gastos públicos e o empoderamento de um setor financeiro
inútil não pode ser a resposta de um governo popular e muito menos
de Partidos de Esquerda que tem compromisso com as forças populares
aos desafios articulados pelo poderoso sistema de poder da direita
mundial.
Continuidade das políticas sociais,
proteção à Petrobras, processos independentes aos corruptos, taxas
de juros voltadas para o desenvolvimento humano e sustentável,
garantias dos direitos dos trabalhadores, fim dos "ajustes
fiscais" a serviço do pagamento de juros, mobilização dos
trabalhadores em torno de princípios e objetivos que atendam às
suas necessidades, política de integração latino americana,
aliança com os BRICS, defesa da soberania das Nações oprimidas,
defesa de nossas riquezas naturais, esses são os caminhos para que
muito mais que 1% venha as ruas, mas dessa vez para defender os
objetivos históricos que levaram a constituição de um governo
popular no Brasil.
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