THEOTONIO
DOS SANTOS*
*PREMIO
MUNDIAL DE ECONOMISTA MARXIANO (2013) DA WORLD ASSOTIATION FOR
POLITICAL ECONOMY(WAPE).
Há
uma forte tensão internacional em torno da eleição no Brasil.
Inclusive uma publicação conservadora e portanto moderada na sua
linguagem política - como o The Economist - perdeu o controle e destinou um artigo de capa a
favor do candidato do PSDB Aécio Neves. É impressionante notar que
uma publicação que apoia grande parte de suas análises em dados
muitas vezes inéditos tenha publicado um artigo que parece copiado
da imprensa de oposição do Brasil. Seus argumentos não acrescentam
nada a uma sucessão de afirmações capciosas manejadas pelos meios
de comunicação da grande imprensa brasileira. Contudo o The Economist não deixa de assinalar para seus leitores, em geral conservadores, a essência da disputa eleitoral.
Vejamos
alguns deles:
1
- Segundo o The Economist o primeiro lugar alcançado por Dilma
Rousseff se explica pelo fato de que a maioria dos brasileiros não
sentiu ainda na sua vida diária "a desgraça econômica que está por
vir proximamente". Isto porque o candidato do PSDB tem lutado para
persuardir os brasileiros mais pobres de que "as reformas que ele
defende e que o país urgentemente necessita os beneficiará mais em
vez de prejudicá-los". O leitor deve convir que o The Economist não tem
a capacidade de previsão que ele invoca, seguindo a tradição arrogante dos
conservadores. Nisto coincide com a linguagem do candidato do PSDB. Ele
apresenta seus colegas de governo como um grupo de pensadores,
intelectuais e técnicos absolutamente superiores e únicos capazes
de salvar o Brasil da barbárie representada pela influência desses
pobres na decisão democrática da luta presidencial. É natural pois:
Aécio Neves é filho de um Deputado Federal do ARENA e posteriormente do PDS e parente de vários
outros membros da oligarquia mineira entre os quais se ressalta a
figura de Tancredo Neves, seu avô e seu maestro político. Lembremo-nos que todos os estudos indicam que 200 famílias mantém o controle de Minas por mais de 200 anos. É interessante notar que depois dos pretensamente "exitosos" governos do último filho mimado desta oligarquia tenha perdido as eleições para um candidato do PT. Algo está passando.
2
– Segundo o The Economist Dilma Rousseff tem um patrimônio político
que leva a uma gratidão popular como: "o pleno emprego, salários
mais elevados e uma sucessão de programas sociais, não só as
transferências do Bolsa Família, mas também habitações a custo
barato, bolsas para os estudantes, eletricidade rural e programas de
água para os estados pobres do Nordeste. Essas são conquistas
reais". Teria que haver um “mas”. Ei-lo: “mas ao lado deles
existe um maior, mas menos paupável fracasso tanto na economia
quanto na política”. Para o The Economist os problemas da economia mundial e
o fim do grande boom de commodities (preços de matérias-primas)
prejudicaram o Brasil, mas ele teve um resultado inferior aos seus
vizinhos latino-americanos. Para sustentar essa tese o The Economist se
apoia num artigo de um grupo de pesquisadores da Fundação Getúlio
Vargas que pretende provar que o Brasil teve um desempenho bastante
bom, mas poderia ter sido muito mais alto se compararmos com os
demais países dos BRICS e dos chamados emergentes. Por sorte, os
pobres brasileiros não acompanham estas aventuras acadêmicas que
não conseguem ocultar o seu sentido ideológico e político.
3 - Mas por que o Brasil não teria tido esses resultados tão positivos na mesma proporção de outros países ? Ora, seguramente temos ai um argumento novo e importante: este fracasso se explica, segundo a revista, pelo caráter corporativo do seu Estado que favorece certos setores com empréstimos subsidiados através dos Bancos Estatais. Até a Petrobras teria sido danificada e consignam também o abandono da indústria do Etanol. Ao The Economist não lhes ocorre de nenhuma forma o que é realmente negativo: o pagamento dos juros mais altos do Mundo por um Estado que tem superavit fiscal há décadas. A consequência é o corte de gastos públicos que poderiam atender importantes necessidades do povo brasileiro para favorecer menos de 1% da população e a desastrosas práticas de especulação subsidiada pelo setor público.
4 - Contudo o Ministro da Economia, Guido Mantega, acaba de iniciar uma autocrítica sobre o desastroso aumento da taxa de juros nos últimos dois anos. O país vinha numa alta taxa de crescimento de 6.9% e a Presidenta Dilma ganhava um apoio de mais de 60% quando os “técnicos” do Banco Central descobriram que isso provocava uma terrível ameaça inflacionária que obrigava a aumentar a taxa de juros levando à redução do crescimento sem provocar a queda da inflação. Tivemos dois anos desse remédio com a queda do crescimento econômico, a queda do prestígio da presidência, a emergência de Movimentos Sociais, a perda de energia social que vinha se acumulando no período anterior.
3 - Mas por que o Brasil não teria tido esses resultados tão positivos na mesma proporção de outros países ? Ora, seguramente temos ai um argumento novo e importante: este fracasso se explica, segundo a revista, pelo caráter corporativo do seu Estado que favorece certos setores com empréstimos subsidiados através dos Bancos Estatais. Até a Petrobras teria sido danificada e consignam também o abandono da indústria do Etanol. Ao The Economist não lhes ocorre de nenhuma forma o que é realmente negativo: o pagamento dos juros mais altos do Mundo por um Estado que tem superavit fiscal há décadas. A consequência é o corte de gastos públicos que poderiam atender importantes necessidades do povo brasileiro para favorecer menos de 1% da população e a desastrosas práticas de especulação subsidiada pelo setor público.
4 - Contudo o Ministro da Economia, Guido Mantega, acaba de iniciar uma autocrítica sobre o desastroso aumento da taxa de juros nos últimos dois anos. O país vinha numa alta taxa de crescimento de 6.9% e a Presidenta Dilma ganhava um apoio de mais de 60% quando os “técnicos” do Banco Central descobriram que isso provocava uma terrível ameaça inflacionária que obrigava a aumentar a taxa de juros levando à redução do crescimento sem provocar a queda da inflação. Tivemos dois anos desse remédio com a queda do crescimento econômico, a queda do prestígio da presidência, a emergência de Movimentos Sociais, a perda de energia social que vinha se acumulando no período anterior.
Eis
ai uma questão substancial: a “Teoria” Econômica que pretende
que toda inflação é resultado de um excesso de demanda não tem
nenhum fundamento científico. Somos muitos os que provamos essa tese em
várias oportunidades. Inclusive, com a crise de 2008, contamos com a
compania que vários prêmios nobel e até o ex-presidente do Banco
Central dos EUA, Alan Greenspan. Que o povo brasileiro pague com seu
trabalho essa transferência brutal de rendas para o setor financeiro
é, na verdade, o ponto fraco da política macro econômica do governo.
Mas
eles os opositores não pretendem corrigir este equívoco que serve
somente a uma minoria de menos de 1% da população que não cumpre
nenhum papel positivo para o povo brasileiro. Mas que dispõe de um
poderoso controle dos meios de comunicação e da política do país. Eles contam ainda com um gigantesco apoio internacional organizado pelos grandes grupos econômicos que ainda controlam a economia mundial.
5 - Já
vimos em artigos anteriores como existe pronunciamentos favoráveis
ao deficit fiscal dos países amigos dos donos da economia mundial.
Citei por exemplo o recente apoio do FMI ao deficit fiscal do México como compensação à privatização do petróleo.
Hoje, Segunda-feira, dia 20/10, foi publicada uma entrevista no Jornal O
Globo do Secretário-Geral da OCDE. Citemos suas palavras: “o
Brasil fez uma mudança muito importante na composição em termos de
renda. Incorporou milhões de brasileiros à classe média e criou
uma sociedade mais justa. O país ainda é uma das sociedades de
Indice de Gini elevado, isto é, o nível de desigualdade é alto até
para a América Latina. Não é um problema novo. Há uma tendência
secular de desigualdade e uma aceleração disto por conta da crise.
Há recuperação em alguns países. O Brasil ainda não está em
recuperação. A primeira coisa da fase de recuperação não é a
criação de emprego. Primeiro há crescimento sem emprego, no caso
de não ter havido reformas suficientes, quando reformas são feitas
há recompensas”.
O
Brasil está com 5% de desemprego, é uma das taxas mais baixas do
mundo capitalista atual. O Secretário-Geral Angel Gurria, um dos
melhores economistas keynesianos, não crê que este baixo desemprego
é um antecedente favorável para o Brasil ? Ele
sugere que as eleições enturvam o debate: “as incertezas
relacionadas à mudança de governo ou período eleitoral existe por
todo lado. O Brasil não é exceção. Isto acontece ainda mais
quando há muitas diferenças entre os candidatos em termos de
filosofia (de governo)”. (...) “no caso do Brasil há duas
plataformas econômicas bem diferentes. As pessoas estão esperando
para ver o que acontece quando a eleição acabar e o novo governo,
seja lá qual for, der os sinais do que vai fazer, a economia vai
voltar a crescer logo. Não entrem em pânico. Cabeças frias devem
prevalecer na política e na guerra, mas também na economia. Isto
permitirá focar nas posições certas".
Talvez
por sua origem latino americana Gurria coloca as coisas no seu lugar,
não há fracasso econômico. Há erros que podem e devem ser
corrigidos. Resta saber qual é a filosofia de governo das duas
grandes correntes políticas que se enfrentam no Brasil.
Num
segundo artigo dessa edição do The Economist seus redatores parecem dar-nos a
solução. Este artigo começa com uma entrevista com a senhora Da Silva
no interior do Nordeste brasileiro. Depois de ouvir seu total apoio à
Dilma pelas mudanças que realizou na sua pequena cidade do interior,
o The Economist tenta outra vez desestruturar este apoio e nos coloca
diante do seguinte dilema: para eles “se o Brasil quer prosperar e
atender as espectativas crescentes de seu povo o próximo governo vai
ter que assumir muitas tarefas que o atual não realizou. Em Serrinha
uma agradecida senhora, Da Silva, pensa que a senhora Rousseff é a
pessoa certa para esse trabalho: se eu pudesse votar por Dilma mil
vezes eu o faria, disse ela. Milhões de outros compatriotas acreditam que o senhor Neves oferecerá um melhor prospecto de
mudanças que o Brasil necessita e acreditam que ela não poderá fazê-lo”.
Trata-se portanto das forças políticas que comandarão o destino do Brasil com importantes consequências internacionais, se não o The Economist não estaria tão interessado nesta eleição. Decida, meu caro leitor, de que lado do povo brasileiro você está: da senhora Da Silva e seus companheiros atendidos pela primeira vez na vida ou do lado do filho do Deputado e neto do Presidente que nunca nem soube das suas necessidades.
Trata-se portanto das forças políticas que comandarão o destino do Brasil com importantes consequências internacionais, se não o The Economist não estaria tão interessado nesta eleição. Decida, meu caro leitor, de que lado do povo brasileiro você está: da senhora Da Silva e seus companheiros atendidos pela primeira vez na vida ou do lado do filho do Deputado e neto do Presidente que nunca nem soube das suas necessidades.
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