Cometi um grave erro ao referir-me às pesquisas do meu amigo Moniz Bandeira sobre a morte de João Goulart como meras “especulações”. Na verdade, seu ponto de vista sobre este dramático acontecimento está fundado em cuidadosas pesquisas sobre as circunstancias que envolveram o desaparecimento deste importante líder político brasileiro. Como é do seu feitio, Moniz levantou meticulosamente os passos de Goulart no dia de sua morte. É plenamente plausível sua hipótese de que tratou-se de uma morte por ataque cardíaco e não por um possível envenenamento. Também são muito ponderáveis suas considerações de caráter geral e político:
1- A hipótese de envenenamento está baseada, entre outras fontes, no depoimento de um individuo de péssimos antecedentes que não merece uma confiança irrestrita.
2- As referencias da existência de uma operação secreta a partir do governo Geisel também estão apoiadas neste depoimento e não parece sustentar-se politicamente.
3- As condições de saúde do presidente João Goulart permitem supor que se tratou de uma morte natural, sendo também muito difícil comprovar qualquer mudança dos remédios tomados pelo presidente.
As razões apontadas por Moniz Bandeira são evidentemente muito sérias, mas eu me permito considerar que elas não são conclusivas. Moniz deve compreender que a família Goulart tem profundas razões para averiguar até os últimos detalhes a hipótese do envenenamento. Sobretudo considerando os novos dados trazidos não só pelo depoimento assinalado, como também pela farta documentação que foi disponibilizada para a Fundação Goulart e a família.
O fato de que as pesquisas sobre este acontecimento histórico esteja sob a orientação do Prof. Dr. Oswaldo Munteal, cujo trabalho científico tem sido reconhecido amplamente nos dá segurança de que teremos resultados sólidos deste trabalho. Oswaldo me assegurou que dispõe realmente de uma massa de informações novas muito importantes, e que respeita muito o trabalho de Moniz. Ele pretende mesmo ser um continuador da obra histórica tão importante de Moniz.
Quanto à referência de uma mensagem de Getúlio a Jango, antes de sua morte, Oswaldo se baseia no testemunho da filha de Goulart, Denize Goulart, que se publicou na orelha do livro O Brasil de João Goulart: um projeto de nação, organizado por Oswaldo Munteal, Jaqueline Ventapane e Adriano de Freixo, Contraponto e Editora PUC-RIO 2006; que publicou um artigo meu entre vários outros analistas do período. O texto e Denize é o seguinte:
“Cada vez mais eu me convenço de que seu calvário começou mesmo foi com a morte de Getúlio. Um dia meu pai me contou que, na véspera da madrugada em que Getúlio se matou, mandou chamá-lo para uma conversa no Palácio do Catete. Entregou-lhe uma carta lacrada e disse-lhe o seguinte: “Toma Jango. Guarda contigo para ler em casa. Vai hoje mesmo para o Rio Grande. Depois de mim, eles vão sobre ti...”. Só em Porto Alegre abriu o envelope, que continha uma copia da carta-testamento. Poucas horas depois tinha conhecimento da tragédia.”
Um comentário:
Sempre que este tema vem à tona, e depois de haver prestado ao Moniz inúmeros documentos para o relançamento de seu livro "0 Governo João Goulart", hoje estou a me perguntar: o porque Moniz está fazendo uma verdadeira "campanha" em favor de sua tesis sobre a morte de meu pai. Está bem que tenha os seus pontos de vista e opiniões a este ou aquele respeito, mas sinceramente, se realmente houve algo e que nós da familia estamos tentando tirar a limpo com um pedido de abertura de ação civil pública que envolvesse a CIA ou outros agentes, sem dúvidas encontraram em Moniz um ótimo defensor.
Os americanos devem estar faceiros com o novo defensor,não precisam sequer de vir a responder diante de possíveis tribunais.
João Vicente Goulart.
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