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terça-feira, 1 de setembro de 2015

ESCLARECIMENTOS SOBRE A IMPORTANCIA E ATUALIDADE DO PENSAMENTO DE SIMON BOLIVAR CUJOS TEXTOS ESTÃO SENDO PUBLICADOS EN LIVRO A SER LANÇADO PROXIMAMENTE.

BOLIVAR

THEOTONIO DOS SANTOS*


Simón Bolivar liderou a libertação do maior complexo colonial que conheceu o mundo moderno: as terras e povos de todas as Américas dominadas pelo grande Imperio Espanhol. Isto representava um continente inteiro, exceto o Brasil sob o domínio de Portugal que foi irmão e parceiro destas lutas independentistas e possível aliado desta gesta, exceto ainda o grupo de provincias que se libertou da Gran Bretanha já no século XVIII e alguns caso de menor impacto. Neste livro reunimos alguns textos fundamentais que refletem o pensamento polítido de Bolivar. Ele chegou a propor um verdadeiro projeto político que até hoje representa uma referência fundamental para nossos povos. Bolivar, o líder da gesta revolucionária que libertou toda a região do domínio do império espanhol se revela também como um pensador profundo, capaz de antecipar os caminhos da luta histórica ainda em marcha pela afirmação e independencia dos povos latinoamericanos.

Ele mostrou por exemplo os limites do nosso conhecimento sobre nós mesmos devido a debilidade de nossas fontes estatísticas e de estudos históricos e análises sobre a região. Por isto, ele tinha clareza de que só podia oferecer “conjeturas mais ou menos aproximadas” desta realidade pois temos que considerar também a diversidade geográfica, económica, social, política e cultural assim como as “vicissitudes da guerra e os cálculos da política”. Esta advertência não o impede contudo de realizar análises de uma atualidade espantosa sobre o conjunto da região.

Nestes textos Bolivar parte sobretudo da grande unidade problemática da região: a condição colonial. Depois de apresentar, com grande rigor analítico, a violência protagonisada pela aventura conquistadora imposta pela força, a destruição cultural, a sanha assassina para com os povos originários. Ele mostra contudo como os europeus mandados para as colônias foram incorporados a esta condição de inferioridade e subordinação que os impedia de alcançar o pleno desenvolvimento de sua capacidade de gestão e organização autónoma de sua realidade.

É especialmente elaborada a sua compreensão da complexidade da gesta independentista, das distintas fórmulas políticas e culturais que assume o processo histórico nestas condições muito particulares. Suas análises sobre as possíveis configurações nacionais e regionais que assumiria a luta pela independencia estão ainda hoje em marcha. Bolívar nos mostra inclusive que a oportunidade de avançar na direção de nossa completa soberania é a crise dos centros de poder mundial. Podemos entender os avanços que fizemos no começo do século XXI aos evidentes movimentos globais de queda do centro hegemônico estadunidense.

Por fim, gostaria de ressaltar as análises de Bolivar sobre a composição social das forças que apoiavam e ainda apoiam a manutenção da condição colonial e aquelas que se insurgem contra esta situação desmoralizadora que impede o pleno desenvolvimento do ser humano. Seja pela submissão internacional, seja pela submissão étnica, seja pela exploração através dos mecanismos sociais como o escravidão e formas de servidão, assim como a eliminação pura e simples dos povos que se recusam a adaptar-se às condições de dependência.

Poderíamos talvez apontar outros aspectos importantes e atuais de Bolívar, como a sua notável análise do papel da religiosidade como no caso da Virgem de Guadalupe no México. Temos realmente um líder histórico excepcional cuja leitura nos enche de conhecimentos através da compreensão de nossa realidade e a decisão de transformar em realidade as potencialidades que representa este impressionantes fenômeno histórico que representou a descoberta da América e o dominínio crescente da navegação marinha. Esta aventura violenta e abjeta muitas vezes termina abrindo caminho para um povo ou uns povos cujo papel histórico ele espera será fundamental para a criação de uma nova humanidade e uma nova civilização planetária na qual todas as civilizações e todos os povos encontrarão seu abrigo.

Bolivar é assim não só o líder militar, político e moral da libertação da América Latina que ganha um papel novo nos nossos dias com a criação da UNASUL, da CELAC e da ALBA, ele foi também o pensador mais consequente desta unidade. Uma luz intelectual, moral, política, estratégica e humana que ilumina o caminho desta saga que assume seu auge há 200 anos atráz, a favor dos mesmos povos explorados e atacados pelos mesmos herdeiros da submissão covarde aos poderosos de ocasião.

(*) Premio Mundial Economista Marxiano – 2013 - WAPE; Pesquisador visitante nacional senior da UERJ; Professor Emérito da UFF; Presidente da Cátedra UNESCO de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável – REGGEN – IFHT-UERJ; Presidente do Conselho do CEPPES.

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