Esquerda reflete sobre a crise
Realizou-se no último dia 2 de março passado, no auditório do Sindicato dos Professores do Rio de Janeiro, mais um encontro da série ‘Reflexão’ que vem sendo coordenada pelo ex-ministro Roberto Amaral desde novembro de 2014, reunindo acadêmicos, cientistas, professores, empresários, sindicalistas, estudantes, parlamentares – vinculadas ou não a partidos de esquerda –, com a finalidade de analisar a conjuntura político-institucional, a crise dos partidos e as alternativas da esquerda brasileira, hoje. Preparatórias desse encontro, haviam sido realizadas várias outras reuniões no Rio de Janeiro, em Brasília (sob a coordenação de Samuel P. Guimarães) e em Fortaleza (sob a coordenação dos professores Manuel Domingos e Valton Miranda). Outros eventos estão sendo planejados paras as cidades de S.Paulo e Santos.
No encontro dessa segunda-feira estiveram presentes, entre outros quadros da esquerda fluminense, os ex-ministros Luis Dulci (representando o Instituto Lula) e José Gomes Temporão, os deputados federais Glauber Braga (PSB/rj), e Jandira Feghalli (PCdoB/rj), o economista Theotonio do Santos, os empresários Nelson Rocha, Pedro Celestino e Márcio Girão, os dois últimos dirigentes do Clube de Engenharia, os cientistas Rex Nazaré, Reinaldo Guimarães, José Noronha, Odair G. Dias do Instituto de Física da UFRJ, os historiadores Epitacio Brunet e Linconl Pena, os cientistas sociais Luís Fernandes, Gisálio Cerqueira, Gizlene Neder, e Mônica Bruckmann, o vice-reitor da PUC-Rio, professor Pedricto Rocha, e os dirigentes sindicais Joilson Cardoso e Gustavo Cornélio.
A reunião e os debates foram precedidos de um documento – ‘Aonde vamos?’ – que, a partir da análise do processo eleitoral de 2014, ampliava a reflexão sobre os caminhos e perspectivas da esquerda.
Distintas intervenções deram ênfase a uma visão mais geral do processo em curso na América Latina e, notadamente na Europa, onde se estaria travando um embate no quando de uma crise política grave de realinhamento geo-político e geo-econômico – um processo coordenado e liderado pelos EUA – e que também se estaria expressando no Brasil como um dos ingredientes de nossa crise político-econômica. Viu-se, no conjunto de análises, que essa era uma avaliação, consensual.
Tema que igualmente centralizou as discussões foi a importância estratégica da luta pela defesa da democracia no Brasil frente aos riscos representados pela mobilização de setores majoritários da direita. Entendeu o Plenário que a defesa da democracia deveria ser um dos eixos da mobilização das esquerdas e dos setores sociais que apoiaram a eleição de Dilma Rousseff e daqueles que defendem a necessidade da preservação da ordem institucional, ameaçada pela campanha pró impedimento da Presidente. Considerou-se, porém, que não “bastava defender a democracia pela democracia, pois democracia é processo e não um ponto de chegada”. Outras intervenções expressaram ser fundamental a visão segundo a qual se a “democracia está ameaçada, e está, não se pode recuar dos avanços sociais já conquistados”. Foi dito que o acirramento “evidencia um quadro de lutas de classes e que esta não é um invenção das esquerdas, mas algo inerente à história do capitalismo”.
Segundo a visão majoritária expressa intervenções, a defesa da democracia é algo crucial nesse momento, no mesmo plano da necessidade de assegurar as conquistas sociais.
As forças progressistas – organizações, partidos de esquerda, e Governo – devem buscar o apoio de setores da sociedade que, mesmo militando na oposição, reagem às tratativas golpistas.
Foram feitas, também, avaliações críticas em relação à ausência de uma agenda clara tanto do governo (principalmente) que possa mobilizar as esquerdas quanto do PT, seu principal partido de sustentação.
Todavia, viu-se que elementos claramente ali expostos apontavam para uma agenda, especialmente quando se referiam a três pontos recorrentes nas intervenções:
1) a defesa da democracia;
2) a luta pela garantia dos avanços sociais conquistados nesses 12 anos; e
3) a defesa da soberania nacional.
Em geral, houve uma defesa da política econômica do primeiro governo Dilma e da administração Guido Mantega, em face do quadro internacional, buscando a proteção do emprego pela via do aumento do consumo interno.
Um conjunto de intervenções avaliou criticamente a formação do segundo ministério da presidente Dilma destacando-se a ausência de nomes reconhecidos pelos seus eleitores. Já no curso da avaliação desses dois meses de Governo, as críticas se estenderam, assim como já ocorrera ao longo dos debates, às iniciativas na área econômica; especificamente às ‘políticas de ajuste’ que estão para ser implementadas.
Um conjunto de intervenções avaliou criticamente a formação do segundo ministério da presidente Dilma destacando-se a ausência de nomes reconhecidos pelos seus eleitores. Já no curso da avaliação desses dois meses de Governo, as críticas se estenderam, assim como já ocorrera ao longo dos debates, às iniciativas na área econômica; especificamente às ‘políticas de ajuste’ que estão para ser implementadas.
Quanto aos próximos passos, foi sugerida a criação de um instrumento que pudesse canalizar tantas reflexões e mesmo apontar para a ação prática. A ideia é criar um Centro de Estudos (nos moldes do ISEB). Nesse sentido foram apresentadas duas sugestões, uma através de um portal na internet com a configuração da ação política que o grupo pretenda desempenhar. Outra ideia foi procurar um entendimento com, o CEBELA – Centro Brasileiro de Estudos Latinos Americanos. Não houve tempo para discussão.
A última intervenção ficou ao encargo do ex-ministro Luis Dulci informando que as intervenções ali realizadas seriam por ele levadas às instâncias políticas que, nas suas responsabilidades respectivas, entendem como fundamental o desdobramento desses debates e encontros. Luis Dulci, ecoando o sentimento de diversas intervenções, apontou para a necessidade de o Governo fazer a defesa da Petrobras e da atual política do pré-sal, da importância da política de fomento ao conteúdo nacional, das correções necessárias frente à crise econômica, mas forcejando para que o movimento social seja maior aliado.
Rio de Janeiro, 7 de março de 2014
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