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sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Núcleo de Estudos Estratégicos Ruy Mauro Marini Brigadas Populares RJ

A cada dia surgem novos grupos de estudo que tomam a teoria da dependencia e particularmente a obra de Ruy Mauro Marini como referencia central para sua visão do  mundo.  Vejam a matéria segunte:


Uma proposta para discussão

Núcleo de Estudos Estratégicos Ruy Mauro Marini Brigadas Populares RJ



Quem somos e o que queremos...


Los intelectuales socialistas deben ocupar un territorio que sea, sin condiciones, suyo: sus propias revistas, sus propios centros teóricos y prácticos; lugares donde nadie trabaje para que le concedan títulos o cátedras, sino para la transformación de la sociedad; lugares donde sea dura la crítica y la autocrítica, pero también de ayuda mutua e intercambio de conocimientos teóricos y prácticos, lugares que prefiguren en cierto modo la sociedad del futuro.

E.P. Thompson



O Núcleo de Estudos Estratégicos Ruy Mauro Marini tem objetivo principal oferecer espaços de encontro e reflexão que unam intelectuais, educadores populares e lutadores e lutadoras sociais que tem como referencial político as Brigadas Populares. sejam eles militantes, apoiadores ou simpatizantes.

Pretendemos contribuir com a ampliação dos horizontes do debate acadêmico e político que no Brasil tem se restringido a contradição: Liberais e neoliberais X desenvolvimentistas e neodesenvolvimentistas. Romper com essa realidade significa apontar para o resgate de um pensamento crítico e marxista que sendo capaz de pensar a complexidade de nossa inserção no mundo contemporâneo assuma a acumulação histórica de nossa latino-americanidade entendendo-a como uma forma de nos vincularmos à humanidade e buscar nossa cidadania planetária.

Objetivamos desenvolver permanentemente atividades que visem refletir coletivamente e em profundidade os problemas fundamentais do homem e da sociedade brasileira à luz das sólidas reflexões contra-hegemônicas e de esquerda existentes no meio acadêmico brasileiro e mundial.

Desde um ponto de vista que englobe investigação e ação, pretendemos através de seminários, palestras, círculos de estudo, assessoria, difusão de textos e documentos e outras ações desenvolver atividades que promovam a comunicação entre os estudos e atividades da academia e a experiência da luta cotidiana desses lutadores e lutadoras sociais.

Somente uma atitude ousada e corajosa nesse sentido poderá combater o desarme teórico e, consequentemente ideológico, que vem impedindo o surgimento de alternativas diante da crise do capitalismo no Brasil do século XXI.

Apostamos que ao possibilitarmos esses espaços estaremos contribuindo para a compreensão da realidade brasileira e ao desenho de alternativas anticapitalistas desde a perspectiva dos dilemas e desafios enfrentados nas lutas cotidianas dos movimentos populares e classistas.


Atividades

A partir da realização de Seminários sobre temas específicos constituírem–se círculos de estudo que tenham como objetivo principal oferecer um espaço de encontro e reflexão.

Círculos de estudo sobre:

Globalização: Hegemonia e contra hegemonia.
Sindicalismo
Estudos Políticos
Reforma Agrária
Cidade e população urbana marginal
Políticas Públicas
Educação e Juventude

Publicações:

Revista Virtual trimestral
Revista impressa anual
Análises de conjuntura trimestrais
Banco de Artigos e Teses

Outras iniciativas:

Cursos:

História, Política e Sociedade.
Classe contra classe. Conhecendo a Sociedade Capitalista. (Economia Política).
Capacitação Política e Formação de Dirigentes e Militantes.
Planejamento do trabalho popular e classista. Uma introdução.
Formação de formadores.
Encontros Comunitários - Curso para lideranças comunitárias.

Em preparação:

Caminhando e Lutando. História do Brasil sob a ótica popular e classista.
Introdução ao marxismo.
Capacitação Política de Conselheiros.
Encontros Sindicais - Curso para sindicalistas.
Encontros Juvenis – Política para jovens.

Por que N.E.E. Ruy Mauro Marini...

Ruy Mauro Marini é um dos intelectuais mais importantes da América Latina da segunda metade do século XX. Nascido em Barbacena em 1932, formou-se em Administração de Empresas pela Escola Brasileira de Administração Pública (EBAP), no Rio de Janeiro, em 1957, onde recebeu a influência direta de Alberto Guerreiro Ramos em sua formação intelectual. Uma bolsa de estudos para a França permitiu-lhe completar essa formação e, no retomo ao Brasil, tomar contato com um grupo que formaria pouco tempo depois a Política Operária (POLOP), formação socialista crítica do marxismo soviético e da linha do Partido Comunista Brasileiro. Paralelamente, Ruy Mauro Marini desenvolveu atividades jornalísticas em O Metropolitano, suplemento dominical da União Metropolitana de Estudantes (UME) e na agência cubana de notícias Prensa Latina. Participa da criação da Universidade de Brasília, em 1962, sob a direção de Darcy Ribeiro, iniciando assim a sua atividade acadêmica.

No clima do “desenvolvimentismo” cepalino, dos “cinqüenta anos em cinco” de JK e da política de luta antiimperialista e antifeudal em aliança com a burguesia nacional do PCB, Ruy Mauro desenvolve uma visão crítica dessas visões, retomando o pensamento de Marx, de Lênin, de Rosa Luxemburgo, além da concepção crítica formulada por André Gunder Frank, que abriu caminho para a teoria marxista da dependência, de que Ruy Mauro se tomará um dos principais expoentes.

O golpe de 1964 o leva primeiro à clandestinidade, em seguida, à prisão e torturas no Cenimar e, posteriormente, ao exílio no Chile e no México, fazendo parte, junto com professores da Universidade de Brasília, do primeiro grupo condenado pela ditadura militar a 15 anos de prisão. Ainda no Brasil, Ruy Mauro elabora a interpretação mais influente nas novas gerações de militantes sobre as razões do golpe de 1964 e sua inserção no processo de acumulação capitalista no país, que circulou amplamente em várias versões, de forma clandestina: Dialética do desenvolvimento capitalista no Brasil.

No exterior, Ruy Mauro publicou, entre outras obras, Subdesenvolvimento e revolução, em 1969, Dialética da dependência, em 1973, O reformismo e a contrarrevolução e Estudos sobre o Chile, em 1976. A Dialética da dependência contém o fulcro de sua concepção sobre o capitalismo periférico, ao criticar as limitações — já evidentes nos anos 60 — da concepção cepalina e formular uma teoria que articula o processo de inserção das formações sociais periféricas no sistema capitalista mundial com as modalidades de acumulação e de exploração da força de trabalho. Competindo em inferioridade de condições, não apenas pela chegada tardia ao mercado internacional, como pelo grau menor de desenvolvimento das forças produtivas, as burguesias periféricas buscam compensar esse déficit com a superexploração do trabalho, uma combinação da mais-valia absoluta com a mais-valia relativa e com a intensificação na exploração da mão de obra. Por outro lado, radicaliza a separação entre a baixa e a alta esfera do consumo, privilegiando o mercado externo, o consumo suntuário e as encomendas estatais, deprimindo ainda mais o mercado interno.

A convergência desses fatores gera o processo de dependência que, ao contrário do catastrofismo que passou a caracterizar as teorias provenientes da Cepal ou sua versão de interdependência como saída para esse bloqueio, gera um desenvolvimento cada vez mais desigual e combinado, um desenvolvimento que só é possível aprofundando a dependência e com graus ainda maiores de desarticulações internas de toda ordem — econômicas, sociais, políticas e ideológicas.

Essa concepção, a que mais influência teve no continente sobre o tema, chegou a merecer um longo artigo de crítica da parte de Fernando Henrique Cardoso e José Serra, publicado na Revista Mexicana de Sociologia (em seu número extraordinário de 1978), que contém também a resposta de Ruy Mauro.

De volta ao Brasil, Ruy Mauro Marini, publicou artigos sobre a globalização e as novas formas da dependência num pequeno livro, já esgotado, da Editora Scritta. Atuando como simpatizante do PT e do PDT, pertenceu aos quadros do primeiro governo Brizola, e contribuiu para a formulação de vários programas de governo e análises de conjuntura do PDT e do PT, nunca se recusando a trocar reflexões sobre os desafios e as dificuldades da militância comprometida com a alternativa revolucionária do socialismo no Brasil.

Construir um Núcleo de Estudos Estratégicos com seu nome significa fazer justiça a um dos mais importantes intelectuais brasileiros contemporâneos que foi um dos raros homens deste país que tiveram a ousadia de pagar o preço pela coerência entre sua produção intelectual e sua prática política.