O pronunciamento do dirigente político de uma nova esquerda que emerge na Europa, encarnado no processo grego, apresenta um ato de lucidez num ambiente político e teórico de grande confusão. Ele define muito claramente os termos da luta que se coloca em toda a Europa. Falta ainda compreender que a Europa tem que romper com o Atlantismo e recuperar sua condição histórica (a longa duração...) de ser parte de um continente EURO ASIÁTICO. Ela deve unir sua sorte à Ásia que não se encontra em crise mas, pelo contrário, está num fantástico auge econômico que se tornará muito mais sólido numa aliança com a Europa. A América Latina também é um possível aliado excepcional que gostaria de trabalhar em comum com a Europa, de continente democrático a continente democrático, numa luta comum contra a chantagem financeira que se lhes intenta impor.
Derrubar agora, nas ruas e nos governos a chantagem financeira. Fazer a auditoria da dívida grega e de todas as dívidas. Sobre estas coisas somos conhecedores escaldados na América Latina. Atuemos em comum.
A Europa se redefine financeiramente e nós salvamos nossas reservas construídas com a privação de consumo de nossos povos que se quer agora jogar fora em ajudas aos burocratas do FMI e o Banco Mundial entre outros.
Veja a reveladora entrevista de Alexis Tsipras publicada pelo site Dilma Presidente:
Alexis Tsipras, da Coalisão Syriza, Grécia (vídeo e entrevista transcrita e traduzida)
Conferência de Imprensa, Assembleia Nacional, Paris – 21/5/2012, Parti du Front de Gauche http://youtu.be/-4GKetiuRPo
Alexis Tsipras, da Coalizão Syriza, da esquerda radical grega, foi recebido na Assembleia Nacional Francesa, pela Frente de Esquerda, e saudado por Martine Billard, Jean-Luc Mélenchon e Pierre Laurent.
Em seguida, Tsipras falou à imprensa europeia:
“Não sei se estamos causando medo na Europa, mas acho que, sim, surpreendemos um pouco. Pelo menos, se se avaliar pelo número de jornalistas aqui [riso].
Esse é, mesmo, um dos nossos objetivos: forçar a inteligência europeia a considerar os fatos, a olhar de frente a realidade. É preciso que todos compreendam que a crise não é grega, não concerne exclusivamente à Grécia, concerne a todos os povos europeus. Trata-se portanto de encontrar solução europeia comum, para um problema que é comum.
Queremos que todos tomem consciência do fato de que povo algum, seja onde for, no planeta, na Europa, jamais se deixou levar, sem resistência, a uma espécie de suicídio induzido. O que se passa na Grécia há dois anos é uma espécie de indução ao suicídio do povo grego.
Ouve-se muito falar de programa de ‘austeridade’, mas o que está sendo implantado na Grécia não é simples programa de ‘austeridade’: trata-se de uma experiência, de uma experimentação europeia, do que possa vir a ser uma “solução neoliberal ‘de choque’”.
A Grécia vive hoje uma crise absolutamente sem precedentes, com características de crise humanitária. Estamos por isso hoje em Paris, e amanhã na Alemanha, para dizer aos povos europeus que absolutamente nada temos contra nenhum deles.
Na Grécia, estamos em pleno combate, uma luta que combatemos em nome do povo grego, do povo francês, do povo alemão e de todos os povos da Europa.
Porque, se prosseguir aquela experimentação, aquela experiência de aplicar na Grécia aquela “solução neoliberal ‘de choque’”, a experiência, imediatamente depois, será exportada para outros países europeus.
Mas a guerra que vivemos hoje na Europa não é guerra entre nós, os povos europeus: é guerra em que se enfrentam, de um lado, as forças do trabalho e, de outro lado, as forças invisíveis da finança e dos bancos. Para nós, é difícil afrontar para vencer esses nossos inimigos.
Nossos adversários políticos, como todos vimos durante a campanha eleitoral, não têm qualquer projeto, não têm programa, não estão representados por nenhum partido ou coalizão clara de projetos ou ideias. Apesar disso, são eles que governam.
“Eles”, os que governam, são o capital financeiro, os bancos, os que detêm os capitais, e que se aliaram, no seio de uma Europa que faz guerra à Europa, guerra aos europeus, guerra ao povo grego, para arregimentar os meios necessários para, amanhã, poder generalizar a sua ‘solução’ de choque neoliberal, contra outros povos europeus.
Mas, afinal, depois das eleições de 6 de maio, estamos às vésperas de um novo pacto, que o povo grego espera conseguir construir, para firmar sua vitória. Queremos mudar as coisas na Grécia, para, assim, emitir, bem clara, uma mensagem de esperança para toda a Europa. Para fazer lembrar, aos que esquecem a história, que o Memorando nos levou ao desastre.
E para buscar, com todos os povos europeus, uma refundação da Europa – outra Europa que, dessa vez, será criada sob princípios de solidariedade e coesão social.
Muito nos alegra constatar que, mesmo que ainda não tenhamos chegado aos cargos e responsabilidades de governo, já sopram ventos de mudança em todo o continente.
Prova disso é que haja aqui tantos jornalistas.
Prova disso, também, é que questões e ideias que, há bem pouco tempo, pareciam absolutamente extemporâneas, são hoje fatos que se veem e discutem-se por toda parte. Até nossos adversários são obrigados a discutir. E temos, sim, de obrigá-los a discutir, porque estamos sob chantagem, mas a verdadeira chantagem que se arma contra nós é outra, muito mais séria que a que vemos hoje à superfície.
A verdadeira chantagem não está em nos ameaçarem com o fim da Grécia, se não nos acomodarmos sob o imperativo do choque neoliberal.
A verdadeira chantagem, hoje, é ameaçarem toda a Europa com o fim do euro e da União Europeia enquanto tal.
Por tudo isso, acreditamos que, dia 17/6, na Grécia, as forças da esperança vencerão o medo. A esquerda grega alcançará vitória decisiva, histórica, contra o Sr. [ininteligível], que nada é além de simulacro, cópia, do que foi, na França, o Sr. Sarkozy.
Entendemos que nossa vitória será o começo de grandes mudanças em toda a Europa.
Estou à disposição dos senhores, se houver perguntas [fim do vídeo].