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sexta-feira, 30 de março de 2012

Técnico do IPEA compara debate nas universidades americanas ( "rico") com o debate na academia brasileira (não-existente, segundo ele)‏

Há muito chamamos a atenção para esta situação dramática e perigosa sobretudo quando o Brasil pretende ter um papel internacional mais importante. Nossa Academia tem que estar à altura da geração de conhecimento sobre o mundo contemporâneo.

O rico debate da academia americana

17/03/2012 por Mansueto Almeida (IPEA)

Depois de duas viagens aos EUA (volto hoje para o Brasil) em menos de duas semanas para dois debates sobre política industrial, um no BID e outro no MIT, tenho certeza de uma coisa. Não há nada parecido no Brasil seja nas universidades seja nos institutos de pesquisa. Isso eu já sabia, mas essa percepção foi reforçada.

A primeira grande diferença é que, no Brasil, as pessoas tem o péssimo hábito de achar que o Brasil é o centro do mundo. As discussões sempre giram em torno do Brasil com pouco ou nenhuma comparação com resto do mundo e muitas vezes nem mesmo com América Latina. Isso porque a academia brasileira ainda tem o péssimo hábito de não estimular que seus alunos façam pesquisa de campo e teses em outros países. As teses são feita sobre o Brasil e no Brasil. Aqui nos EUA, os alunos são incentivados com bolsas para ir a China, Vietnam, Malásia, Singapura, Índia, Brasil, etc. para fazer pesquisa de campo e suas teses.

Nas universidades grandes como MIT e Harvard se encontram pessoas que estão viajando para diferentes locais do mundo, professores nos departamentos que são especialistas em certos países e que efetivamente viajam frequentemente para esses países e falam a língua do país. Eu não conheço nada parecido no Brasil. Quais são os professores da USP, UNICAMP, FGV ou PUC que estudam China, têm escrito sobre a China e falam chinês fluentemente? Ou quais são aqueles que estudam o México ou Argentina? Quais livros eles publicaram sobre esses países?

Segundo, há outra grande diferença aqui na academia americana. No Brasil, nos seminários internacionais há uma preocupação enorme com “propaganda”. Várias instituições de pesquisa, inclusive o IPEA do qual participo, organizam seminários internacionais no qual as pessoas se encontram em um dia e depois todas perdem o contato. Esses seminários não resultam de um projeto de pesquisa conjunto nem tampouco dão origem a um projeto de pesquisa conjunto. É um encontro no qual os convidados mostram seus trabalhos e vão embora. Aqui nos EUA é diferente.

Os seminários na academia entre diversas instituições internacionais tem o objetivo real de promover estudos comparativos, como o que participei ontem. É isso que falta ao Brasil. Dado o interesse crescente do mundo pelo Brasil, era para os pesquisadores de um grande centro de pesquisa no Brasil estar com uma agenda de viagens lotadas e com vários trabalhos comparativos em andamento. Mas não é isso que vejo em nenhum instituto de pesquisa do Brasil. Há exceções individuais de pesquisadores que conseguem fazer esses vínculos, mas são muito mais exceções que confirmam a regra.

É triste reconhecer isso, mas espero que a academia brasileira e as instituições de pesquisa no Brasil comecem a pensar um pouco mais em entender o Brasil estudando outros países, caso contrário, nunca vamos chegar próximo da qualidade de pesquisa que é feita aqui nos EUA.

Uma terceira diferença é que nos EUA, mais do que respostas imediatas, a academia está preocupada em formular perguntas. Em um bom debate como o que participei ontem (e depois vou resumir neste blog) os pesquisadores saíram do debate com várias perguntas para as quais não tinham respostas. Todos nós apresentamos papers quase na sua versão final, mas todos saíamos com perguntas para as quais não tínhamos as respostas. No Brasil, há um viés excessivo em ter respostas imediatas para tudo.

Ontem soube conversando aqui com os professores que a presidenta Dilma vai fazer uma visita ao MIT e Harvard agora em abril ou maio. Espero que os bons ventos aqui de Cambridge (MA) sirvam de inspiração para a presidenta entender que, para o Brasil ser grande, precisa olhar para fora e não apenas para o “nosso quintal”.

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