RECEBI CENTENAS DE COMUNICAÇÕES SOBRE A MINHA CARTA ABERTA A FERNANDO HENRIQUE CARDOSO. MUITAS (A MAIORIA) FRANCAMENTE FAVORÁVEIS. OUTRAS CHEIAS DE RIDÍCULAS OFENSAS. OUTRAS BUSCANDO ESCLARECER ASPECTOS QUE FICARAM POUCO EXPLICADOS. ENTRE ESTAS DESTACO A CORRESPONDÊNCIA ENVIADA HÁ POUCO POR ORLANDO LIMA. QUE BUSQUEI RESPONDER POIS ME PARECIAM OBJEÇÕES HONESTAS. É LAMENTÁVEL CONTUDO VER A QUANTIDADE DE PROFESSORES DE ECONOMIA QUE DESCONHECEM A MINHA OBRA E ATÉ UM QUE ME ENVIAVA COSELHOS SOBRE COMO PODIA ACOMPANHAR A SITUAÇÃO ECONÔMICA MUNDIAL CITANDO REVISTAS INTERESSANTES DE GRANDE DIFUSÃO COMO THE ECONOMIST. SERIA CÔMICO SE NÃO FOSSE EXPRESSÃO DO NÍVEL DE NOSSAS FACULDADES DE ECONOMIA EM GERAL E DO BOICOT QUE SOFRE NOSSO PENSAMENTO NA ACADEMIA BRASILEIRA.
Caro Orlando
Você coloca sempre honestamente problemas importantes e merece minha atenção pois isto é uma raridade.
Mas vejamos bem o problema da chamada corrupção. Corrupção seria o uso ou desvio dos recursos públicos em benefício do patrimônio privado, Porém este desvio é definido por lei e não pela importância dos recursos utilizados. Ora, as leis e os mecanismos de sua interpretação são controlados exatamente pelos maiores beneficiários dos recursos públicos. Por exemplo: Segunda lei de responsabilidade fiscal, apresentada como um caso exemplr de combate à corrupção, se um governador destinar 1milhão de reais à construção de uma escola sem dispor dos recursos necessários, gerando uma dívida pública não coberta, el pode ir para a cadeia, segundo a lei. Contudo, 7 dirigentes do Banco Central podem DECIDIR aumentar a taxa de juros paga pelo governo em porcentagens não definidos sem nenhuma fonte de renda existente, aumentando assim radicalmente o gasto público em cerca de 10 BILHÕES DE REAIS e simplesmente obrigar o governo a diminuir os gastos públicos destinados à nossa precária educação, saúde, sanidade, pesquisa, et.,etc. para encontrar o financiamento desta decisão. Cabe uma pergunta imediata: a função do Estado é garantir educação, saúde e outras necessidades básicas da população ou é pagar juros. Creio que o pagamento de juros não é função do Estado e nenhum teórico ou filósofo político se atreveria a defender este ponto de vista. Mas você poderia dizer: O aumento da taxa de juros é necessário para garantir o chamdo equilíbio econômico... Cabe responder contestaondo cad item desta afirmação:
Não há nenhuma teoria econômica e nenhuma evidência empírica que prove esta afirmação de que os juros altos são uma maneira de combater a inflação. Ademais, a que altura? Segundo premio Nobel de economia neoliberal Allain, o maior especialista deles em taxas de juros, as taxas de juros pagas pelo Estado não podem estar próximas da taxa de crescimento do país, pois neste caso seriam uma simples transferência de recurso para o setor financeiro impedindo o desenvolvimento. Estas são palavras bonitas para descrever o roubo mais violento e descarado dos recursos públicos. Sabe quanto soma os gastos em pagamento de juros do Estado braileiro? Simplesmente eles representam em torno de 30% do gasto público. Sim, o povo brasileiro paga 1/3 dos impostos que desigualmente le cobram para sustentar em torno de 30.000 cidadãos brasileiros que vivem do pagamento dos absurdos juros da dívida pública. Grande parte deles extrangeiros que remetem estes lucros para o exterior obrigando os brasileiros a trabalhar brutalmente para exportarem mais do que importam para dispor de um superávit comercial que financie estas aventuras econômicas.
Repito: Os argumentos que eles usam para a defesa destes juros altos estão em choque com a boa teoria econômica (inclusive esta teoria de baixo nível neo liberal que eles dizem cultivar). Trata-se portanto de um roubo colossal e eles não podem ser declarados corruptos apesar de sair dos governos convertidos em banqueiros quase todos. Você nunca encontrará ma campanha na imprensa expondo esta situação. Pode até encontrar uma pequena nota aqui ou ali, mas nunca algo que fique na sua memória, pois há uma aliança inabalável entre o sistema de comunicação e o sistema financeiro. Não vou me aprofundar nisto pois já provei muitas vezes que em vez de combater a inflação, os altíssimos juros praticados pelo governo brasileiro são a principal fonte de inflação no nosso país. Mas tenho sido ouvido somente pela imprensa internacional ou por pequenos meios de comunicação no Brasil. Nas vezes que estive na televisão sempre me cortaram quando entro nestas questões, razão pela qual não me disponho mais a ir dizer o que eles querem. Ademais uma simples entrevista curta não pode contrarrestar horas e horas de mentiras.
Você dirá: Mas o Lula manteve a autonomia do Banco Central. Sim, foi um preço altíssimo para que limitassem seus ataques ao seu governo. Estiveram próximos da derrubada do governo durante a crise do chamado “mensalão”. Mas Fernando Henrique foi, como sempre, prepotente, subestimando o adversário, “Não vamos derrubá-lo. Vamos somente sangrá-lo”. E o iniciador do mensalão que era simplesmente o presidente do PSDB? Não só o mantiveram na presidencia mas ainda por cima fizeram uma sessão do senado de homenagem ao ilustre senador mineiro de ilustre família..E você crê realmente que a origem familiar ou de classe social não conta? O filho de Lula é acusado, e todo mundo sabe disto, de haver sido protegido por uma empresa privada, Escândalo. O filho de Fernando Henrique era marido com bens comuns, portanto dono também, do Banco Nacional que confessou ter criado 2.000 contas falsas (conhece crime maior que este nalgum banco? Digo, crime reconhecido) para beneficiar os acionistas do Banco que não sabiam (imagine isto na imprensa impiedosa com os que pretende derrubar) de onde vinham estes excedentes de benefícios. São bilhões de reais que estavam em jogo. O governo investiu alguns bilhões de reais (fala-se até em 14 bilhões de ajuda ao Banco presidido pela nora do presidente) e terminou negociando-o com o UNIBANCO e vendendo-o por 4 bilhões de reais... Você sabe disto. Tudo é público e “legal”. Bom: e quanto às privatizações: existe algum escândalo no governo Lula que se aproxime das comissões obtidas em uma só delas? Por favor meu caro amigo: Sua percepção dos acontecimentos está demasiado comandada pela imprensa. O PT poderá vir a ser um centro de corrupção à altura do nosso sistema mas são uns simples aprendizes. Não há um só escândalo do governo Lula que se aproxime de longe do menor escândalo do governo do Fernando Henrique. Não se adquire uma tecnologia tão sofisticada em 8 anos.
Neste sentido é impressionante ver como esta imprensa disposta a jogar tudo contra Dilma, pela honestidade da qual ponho meu braço direito 9 pois a conheço muito bem ) esta imprensa não pôde levantar nada contra ela. E o caso de sua secretária geral, francamente, é uma brincadeira de criança diante do que sabemos que ocorrem nos altos escalões do serviço público. A acusação máxima que conseguiram seria a possível cooperação dela com a comissão ou remuneração de 150.000 reais! Por uma intermediação que fracassou... Francamente, a Folha de São Paulo ganhou o premio de jornalismo do ano pela reportagem que descobriu este “tremendo” rombo do Estado... E ela caiu do governo por não ter apresentado seu cadastro... Francamente não sei como se pode ter criado na cabeça das pessoas de que se estava diante do maior escândalo da história do país.
Não quero defender estas pessoas que por acaso estão envolvidas em negócios escusos. Mas nunca me guiarei por esta imprensa e esta opinião pública hipócrita para determinar os verdadeiros problemas do Brasil. Por sorte a maioria de nossos eleitores não acredita nestas coisas. Eles são bem mais sábios que os chamados “formadores de opinião”.
vamos parar por aqui pois estão me desviando de outras questões que apesar de não estarem na ordem do dia desta opinião pública são muito mais importantes para o país. Obrigado pelas suas opiniões e pelo seu interesse. Meus livros publicados em português estão quase todos esgotados. Na verdade o único que ainda tem exemplares é o último sobre Do Terror à Esperança: Auge e Decadência do Neoliberalismo., Idéias e Letras, Aparecida, S.P. Você encontrará referências a eles e vários artigos e livros que poderá baixar no web site da Cátedra UNESCO/UNU que eu dirijo: www.reggen.org.br., além evidentemente do meu blog que é contudo muito insuficiente.
Abraços
Theotonio Dos Santos
23/02/2011.
De: Orlando Lima [mailto:guaxinindourado@hotmail.com]
Enviada em: terça-feira, 22 de fevereiro de 2011 19:09
Para: thdossantos@terra.com.br
Assunto: RE: RES: Carta aberta a Fernando Henrique Cardoso
Prezado Professor Theotonio,
Muito obrigado pela sua gentileza em responder a minha mensagem. Visitei o seu blog e a ele voltarei outras vezes pois contém assuntos interessantes. Busquei, via internet, localizar alguns dos seus livros para adquiri-los e, infelizmente não obtive êxito. Mesmo nos sebos não consegui localizá-los. Ficaria reiteradamente agradecido se o senhor puder me indicar algum local onde possa adquiri-los.
A sua resposta contemplou a minha dúvida com relação a ocorrências no campo da Economia. No que diz respeito a dívida pública dos governos FHC e Lula, embora concorde que FHC aumentou a dívida em 15 vezes o valor por ele herdado do governo anterior, enquanto que o governo Lula apenas duplicou o valor recebido de FHC, não podemos esquecer que o valor do aumento da dívida criada pelos dois governos foi bem próximo: cerca de 800 bilhões de reais. Assim, em termos de aumento da dívida pública, se equivaleram.
No que pese expressar o meu total acatamento à sua discordância quanto ao nível de corrupção no governo Lula, permita-me fazer uma pequena ponderação. Valendo-me ainda do que foi publicado na imprensa durante o período dos dois governos quanto ao quesito corrupção, embora não tenha feito um levantamento estatístico, acredito estar fora de dúvida que no governo Lula os jornais impressos e televisivos trouxeram a público maior número de casos ensejadores de possíveis atos de corrupção do que no governo FHC. Ressalte-se ainda a conduta aloprada do nosso ex-presidente em, ao ter programas do seu governo com várias irregularidades encontradas pelo TCU colocados sob suspeita e com a suspensão do seu andamento recomenndada, resolver dar carão nos ministros do TCU e até propor a necessidade de regramento jurídico limitando o alcance das ações daquele Órgão fiscalizador. No entendimento do ilustre ex-presidente, e o disse claramente em rede de televisão, o governo não pode ficar paralizado por uma decisão do TCU ou pela decisão de um juiz. Se é verdade, por um lado, que no governo Lula não tivemos corrupção próxima de um bilhão de reais, é igualmente verdade, por outro lado, que no seu governo tivemos numericamente muito mais casos denunciados como corrupção. Basta lembrar o balcão de favores e liberação de verbas em que se transformou o nosso Parlamento diante do Executivo, ao longo das legislaturas.
Não creio que nos últiimos 30 anos da nossa República o tema corrupção tenha se tornado um instrumento de luta da classe dominante contra os setores populares que ascendem a posições de poder e que não sabem manejar bem os mecanismos de corrupção tornando-se facilmente fonte de escândalo por pequenas quantias tentando muitas vezes imitar seus antagonistas das classes dominantes que manejam esses recursos colossais sem uma só acusação de corrupção. Ocorreu exatamente o contrário. A cognominada elite capitalista governou o país até 2002. Os partidos populares, pelo menos nos últimos 20 anos, fizeram campanha declarando à exaustão que o governo capitalista era corrupto e que a corrupção estava entranhada em vários setores do governo. Basta que se verifique o número de CPIs e denúncias públicas feitas pelos partidos populares, ou pequenos partidos. Realmente acredito que toda a história política brasileira está, infelizmente, tisnada de vários atos de corrupção. Em 2003, pela primeira vez na História do Brasil, os partidos populares elegeram um presidente. É de se imaginar que, considerando os vários anos em que o partido político do agora presidente fez campanha e denúncias contra a corrupção, estaria mais do que conhecedor de todas as veredas e engodos que levam a tal procedimento na política brasileira. Mesmo se isso não fosse verdade, o novo presidente, por dever de ofício e pelas promessas de campanha haveria de se cercar das melhores autoridades técnicas e administrativas, no sentido de evitar a continuidade da corrupção no Brasil. Ao contrário do que se esperva, a corrupção espraiou-se em todos os sentidos e atingiu todos os partidos, especialmente o do presidente recém-eleito. Uma pena!
Finalmente, não acredito que criticar ou denunciar atos condenáveis das pessoas signifique persegui-las. Todos nós vivemos, ou deveríamos viver, sujeitos às devidas punições legais aplicáveis a cada um dos atos ilegais que praticarmos. Esta parece ser, salvo erro ou engano, a forma adequada pela qual deve se reger qualquer sociedade, qualquer governo que deseje viver num Estado Democrático de Direito. Lamentavelmente, admito, os brasileiros ainda estão muito longe de alcançarem esta condição sócio-política.
Atenciosamente,
Orlando Lima
Subject: RES: Carta aberta a Fernando Henrique Cardoso
Date: Tue, 15 Feb 2011 21:58:32 -0200
ATENÇÃO: ISTO É MATÉRIA PARA O MEU BLOG. SOB O TÍTULO
ESCLARECIMENTOS SOBE A CARTA A FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Prezado Orlando Lima
Muito interessante e procedente seu e-mail e suas questões que vou responder de maneira sumária, recomendando que se você tem interesse em aprofundar nas mesmas que recorra aos meus livros ou artigos sobre o tema cujas referências pode encontrar no meu blog ( theotoniodossantos.blogspot.com) e no site da cátedra UNESCO-Universidade da Nações Unidas (UNU) que dirijo ( www.reggen.org.br). Você pode também abrir meu nome na wikipedia ou no google para obter mais informação. Vamos às questões:
Entre 1990 e 1994 chegava ao auge uma inflação mundial combinada com baixa de crescimento (conhecida como stagflação) cuja origem principal foi a crise do dólar em 1971 quando os Estados Unidos abandonou a convertibilidade do dólar, assegurada pelas resoluções do encontro de Bretton Woods em 1944 que estabeleceu uma ordem econômica mundial apoiada no valor fixo do dólar e da libra (que saiu fora na década de 50), na criação de um fundo monetário internacional, num órgão de ajuste de comércio (o GATT) e num Banco Mundial voltado para o apoio da reconstrução de pós-guerra e para o desenvolvimento. O abandono da convertibilidade do dólar era o começo de um aumento de preços mundiais que teve no petróleo seu ponto de inflexão em 1973 com uma elevação de +/- 8 vezes do preço do barril e a criação de um fantástico excedente financeiro conhecido como os petrodólares. Estes petrodólares foram “reciclados” pelos bancos privados originando um endividamento internacional colossal comandado por um sistema financeiro colossal que veio se desenvolvendo de lá para cá de maneira arrazadora. Se deseja conhecer meu ponto de vista sobre estes fatos recomendo-o, entre outros trabalhos meus, o livro Do Terror à Esperança- Auge e Decadência do Neoliberalismo. Idéias & Letras, Aparecida, S.P. . O Brasil, como os demais paises do Terceiro Mundo e uma parte importante do bloco soviético se converteram em grandes devedores internacionais, fato que se tornou extremamente grave nos anos de 1980 quando a taxa de juro destes empréstimos foi elevada bruscamente e unilateralmente (como o abandono da convertibilidade do dólar) pelo governo norte americano. No final da década as dívidas se mostravam impagáveis com a generalização de moratórias ou simples suspensão de pagamentos. Neste momento se criou o Plano Brady que iniciou a negociação destas dívidas pelos Estados Unidos que as assumiu transformando-as em bônus lançados pelos Estados Unidos e vendidos no mercado mundial, e perdoou parte delas para viabilizar o funcionamento da economia mundial. Neste momento todos ou quase todos (não me lembro de exceção neste momento) reorganizaram suas dívidas e eliminaram o fator inflacionário mundial que pesava sobre suas economias, levando-as à hiperinflação. Se você quer ver um retrato disto tome o gráfico organizado pela CEPAL sobre a queda das inflações no início da década de 1990:
Queda da inflação na América Latina – La hora de la Igualdad, Cepal 2010, p. 54 - OK
“A queda da inflação na América latina foi generalizada. Aliás, todos os 44 países do mundo que tinham hiperinflação nos anos 1990 a liquidaram em poucos anos. O plano real foi apenas um dos mecanismos.”
Diga-se de passagem, que eu já havia demonstrado isto desde 1994 sem nenhuma repercussão no Brasil, dominado por um partido da imprensa que exerce um monopólio incrível sobre a informação e sua análise no país. Venho apresentando junto com vários colegas dados sobre a inflação e sobretudo a deflação desde aquela época sem conseguir que a ciência econômica brasileira se detenha um minuto sobre o tema. Portanto não é absurdo que você não tenha se informado sobre isto.
As taxas de inflação baixaram em todo o mundo para próximo do zero enquanto o Brasil manteve perto de 10% anual (chegando a 12,5% em 2002). Tenho um gráfico sobre isto no meu livro citado. Você há de convir que entre 1% ou 2% ou mesmo 3% ou 4% e 10% (éramos um dos poucos países que chegavam tão alto no mundo) temos uma diferença de 5 a 3 vezes mais que a média mundial que estava extremamente baixa depois de 1994. A razão é simples: levamos ao paroxismo a idéia de que é necessário subir a taxa de juros para baixar a inflação... Durante o governo FHC chegamos a pagar 48% de juros por ano. O maior teórico neoliberal sobre o setor financeiro ( o premio nobel Alain) considera que a taxa de juros tem que ser bastante inferior à taxa de crescimento de um país pois se o juros iguala a taxa de crescimento ele anula o crescimento pois passa a ser simplesmente uma transferência do setor produtivo para o setor financeiro. Ao contrário do que “eles” dizem, a alta taxa de juros é um dos principais fatores inflacionários no país pois além de refletir sobre o custo dos produtos que inclue necessariamente os juros pagos obrigando a aumentar a taxa de lucro e consequentemente os preços, o pagamento de juros tão altos pelo estado cria um gasto público colossal, inflacionário e inútil. Tanto é assim que chegamos a pagar em juros a um grupo de cerca de 30.000 brasileiros um monto de juros que corresponde a 1/3 do gasto público. Você leu bem isto: de cada 3 reais que gasta o estado brasileiro, 1 real se destina a pagar juros. E não creia que isto tem nada a ver com o mercado pois um pais que tem superávit primário há várias anos ( isto é, gasta menos do que arrecada, com o fim de dispor de dinheiro para pagar os juros...) não necessita de dinheiro emprestado. As justificativas para pagar juros alto é diminuir a inflação e atrair capital estrangeiro para melhorar a balança de pagamentos com o exterior... Isto é pagamos os juros mais altos do mundo para satisfazer um grupo de inúteis baseados numa teoria econômica contestada por todos os teóricos sérios da economia e todos os dados econômicos...
Você há de convir que passar de 60 a 850 é um aumento de cerca de 15 vezes! E um aumento de 800 para 1.600 é um aumento de 2 vezes. Não concordo com a política do banco Central no governo Lula e o critiquei várias vezes. Mas pelo menos ele conseguiu fazer cair a taxa de juros para menos de 2 dígitos DIMINUINDO NECESSÁRIAMENTE A TAXA DE INFLAÇÃO. O Banco Central do Brasil conseguiu cometer o desafio a toda a teoria econômica, inclusive as mais reacionárias aumentando da taxa de juros no meio de uma crise mundial e criando um grave problema de gasto público numa situação em que o gasto público tinha que aumentar para destinar-se à produção. Isto é uma temeridade... uma irresponsabilidade....
Não concordo com você de que o governo Lula foi o mais corrupto do Brasil. Não tivemos nenhum caso de corrupção do governo próximo de um bilhão de reais. Nos governos anteriores estes escândalos abundavam apesar do interesse da imprensa de oculta-los, como conseguiu fazê-lo sobretudo no programa de apoio aos bancos em quebra, entre os quais se incluía o Banco Nacional da nora do Presidente da República e portanto do seus filho já que não eram casados com separação de bens. Não gosto de aprofundar este tema da chamada corrupção porque ele tem sido um instrumento de luta da classe dominante contra os setores populares que ascendem a posições de poder e que não sabem manejar bem os mecanismos de corrupção tornando-se facilmente fonte de escândalos por baixíssimas quantias tentando muitas vezes imitar seus antagonistas das classes dominantes que manejam estes recursos colossais sem uma só acusação de corrupção. Nesta eu não entro também porque não tenho gosto de estar perseguindo pessoas num sistema econômico basicamente corrupto contra o qual luto, como sistema e não como casos individuais.
Espero ter respondido pelo menos em parte suas inquietações e de muitos outros leitores. Houve um economista que me recomendou até leituras de imprensa não especializada como contribuição ao meu conhecimento. Ele não tinha idéia de que publiquei mais de 40 livros e centenas de artigos em 19 línguas e mais de 40 países que ele, sendo economista, desconhece. Coisas da vida e do nosso ambiente acadêmico...
Atentamente
Theotonio Dos Santos
NOTA: Vou publicar esta resposta no meu blog.
De: Orlando Lima
Enviada em: terça-feira, 15 de fevereiro de 2011 18:32
Para: thdossantos@terra.com.br
Assunto: Carta aberta a Fernando Henrique Cardoso
Prezado Professor Theotônio,
Nesta data li texto com o título supra citado, indicado como de sua autoria, em resposta à carta aberta que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso houvera dirigido ao Presidente Lula.
Se efetivamente o texto for de sua autoria, máximo respeito ao ponto de vista ali exposto, algumas questões aguçaram a minha curiosidade enquanto cidadão, o que leva ao encaminhamento da presente mensagem, solicitando a sua ajuda, se possível, no esclarecimento das dúvidas levantadas.
Entendo ser oportuno esclarecer-lhe que a minha mensagem não contém nenhum interesse político, de vez que, mesmo não considerando-me "dono da verdade", muito pelo contrário, considero, salvo melhor juízo, o governo do presidente Fernando Henrique como o pior governo da História da Repúbllica. Infelizmente creio que o Brasil não se recuperará dos prejuízos causados pelo governo FHC mesmo nos próximos 300 anos. Quanto ao governo do presidente Lula, por tudo que se publicou sobre ele, e ainda se publica, entendo ter sido o governo mais corrupto desde que o Brasil foi descoberto pelos portugueses.
Isto posto, vamos às questões para as quais gostaria do seu esclarecimento.
1 - O senhor afirmou que até 1993 os países passavam por uma hiperinflação. A partir de 1994, em rzão de um movimento planetários todos os países baixaram a sua inflação para menos de 10%. Quais as razões econômicas e políticas que levaram todos os países a, em um curto espaço de tempo, baixar a sua inflação?
2 - O senhor afirmou que o governo FHC manteve uma inflação das mais altas do mundo, próxima de 10%. Mas, se todos os países experimentaram também uma inflação próxima de 10% a inflação brasileira não estava destoante em comparação com a inflação mundial. Está correto o meu raciocínio?
3 - O senhor considerou ruim que o governo FHC aumentasse a dívida pública do Brasil de 60 bilhões de reais para 850 blhões de reais. Sou absolutamente neófito em matéria de economia mas também considero muito alto o valor da dívida pública brasileira passado ao presidente Lula. Entretanto, ao que se publicou, a dívida pública do Brasil no final do governo Lula ascendeu ao montante de 1 trilhão e 600 bilhões de reais. Neste quesito, os governos FHC e Lula se equivaleram. Ou não?
Certo da prestimosa atenção que o senhor dispensará à presente mensagem, despeço-me
Atenciosamente,
Orlando Lima
Muito boa a discussão. Orlando, parabéns por suas questões. E mais uma vez, obrigado professor!
ResponderExcluirPrezado prof Theotonio,
ResponderExcluirA melhor análise que já li sobre os mitos da economia durante FHC foi sua Carta Aberta ao ex-presidente, a qual tomei a liberdade de repercuti-la à época em meu blog
http://ofrioquevemdosol.blogspot.com/2010/10/desconstruindo-mitos-da-economia-na-era.html
Lhe agradeceria se pudesse me informar o nome completo do premio Nobel (especialista em taxas de juros) que o Sr cita em sua carta ao Sr. Orlando Lima.
Cordialmente,
Antonio Pralon