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domingo, 11 de abril de 2010

Boletim Semanal - Crônicas

UMA NOTA SOBRE AS TRAGÉDIAS.

É triste ver os meios de comunicação acossando os políticos para que aproveitem a tragédia em marcha para satanizar a ocupação em favelas e abrir caminho para a “realocação” das moradias faveladas em geral. Em vez de buscar soluções para os problemas dos favelados, busca-se abrir caminho para a especulação imobiliária que é a grande culpada pelas urbanizações a serviço dos autos individuais que obrigam o estado a investir nessas zonas ricas para valorizar os seus terrenos. De outro lado, para as populações miseráveis, expulsas do campo e amontoadas nas cidades, só se deixa para elas o desespero e a aceitação de espaços abandonados, como lixeiras, que como está claro não são um fenômeno de Niterói, mas de todo o Rio de Janeiro e de todo o pais. Na cidade do México existe um bairro inteiro construído sobre uma lixeira com aproximadamente 2 milhões de habitantes. Mais do que toda a população favelada da cidade do Rio de Janeiro.
Toda vez que se quer desviar dinheiro do pagamento de juros para financistas inúteis, a imprensa protesta. São 1/3 do orçamento público... Toda vez que se quer desviar dinheiro deste urbanismo consumista que ameaça o meio ambiente para a urbanização digna das zonas populares, a imprensa se mobiliza contra em grandes campanhas. Trata-se de mudar a cultura individualista do povo brasileiro, o que nunca será possível com a hegemonia desta imprensa. Que dizer dos 15 a 20 anos de pagamento de juros internacionais absurdos sobre uma dívida pública inexistente e outras políticas estancacionistas do FMI e do Banco Mundial ao qual nos subjugamos com o apoio ostensivo dessa imprensa reacionária.

Fonte da foto: EFE / extraído do SITE www.terra.com.br


Nota de esclarecimento dos moradores de Niterói

Nós, moradores de favelas de Niterói, fomos duramente atingidos por uma tragédia de grandes dimensões. Essa tragédia, mais do que resultado das chuvas, foi causada pela omissão do poder público. A prefeitura de Niterói investe em obras milionárias para enfeitar a cidade e não faz as obras de infra-estrutura que poderiam salvar vidas. As comunidades de Niterói estão abandonadas à sua própria sorte.

Enquanto isso, com a conivência do poder público, a especulação imobiliária depreda o meio ambiente, ocupa o solo urbano de modo desordenado e submete toda a população à sua ganância.

Quando ainda escavamos a terra com nossas mãos para retirarmos os corpos das dezenas de mortos nos deslizamentos, ouvimos o prefeito Jorge Roberto Silveira, o secretário de obras Mocarzel, o governador Sérgio Cabral e o presidente Lula colocarem em nossas costas a culpa pela tragédia. Estamos indignados, revoltados e recusamos essa culpa. Nossa dor está sendo usada para legitimar os projetos de remoção e retirar o nosso direito à cidade.

Nós, favelados, somos parte da cidade e a construímos com nossas mãos e nosso suor. Não podemos ser culpados por sofrermos com décadas de abandono, por sermos vítimas da brutal desigualdade social brasileira e de um modelo urbano excludente. Os que nos culpam, justamente no momento em que mais precisamos de apoio e solidariedade, jamais souberam o que é perder sua casa, seus pertences, sua vida e sua história em situações como a que vivemos agora.


Nossa indignação é ainda maior que nossa tristeza e, em respeito à nossa dor, exigimos o retratamento imediato das autoridades públicas. Ao invés de declarações que culpam a chuva ou os mortos, queremos o compromisso com políticas públicas que nos respeitem como cidadãos e seres humanos.

Comitê de Mobilização e Solidariedade das Favelas de Niterói
Associação de Moradores do Morro do Estado
Associação de Moradores do Morro da Chácara
Associação dos Profissionais e Amigos do Funk (APAFUNK)
Movimento Direito pra Quem
Coletivo do Curso de Formação de Agentes Culturais Populares

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